P/1 – Inicialmente eu queria agradecer muito em nome do Museu da Pessoa e dos Correios pela sua participação. Pra identificação do nosso vídeo, eu queria que você falasse qual é o seu nome, o local e a data do seu nascimento
R – O nome completo é Francisca Amélia Batista Alencar. Prefiro ser chamada de Amélia. Eu nasci aqui em Fortaleza, no Ceará, em 1957
P/1 – Perfeito
R – Tenho 56 aninhos. Beautiful
P/1 – Antes de entrar na sua história pessoal mesmo, eu queria que você me falasse um pouco dos seus pais, o nome deles, de onde eles vieram, o que eles faziam
R – Meu pai tem uma longa história, se eu for me prender a ele. Ele era motorista, na Associação dos Motoristas do Sindicato aqui do Estado do Ceará ele é o número cinco, ele foi um dos fundadores, história do caminhão, andava na boleia, uma coisa bem antiga. A minha mãe também trabalhou nos Correios pouco tempo, aí ela saiu porque o pessoal que estava mudando de DCT pra ECT, teve que sair muitas pessoas, ela ficou afastada. Aí foi trabalhar no Denox. Aí depois eu fiz concurso, passei aqui pra empresa. Meu pai é de Pernambuco. Minha mãe é daqui de Fortaleza. Meu pai é de Bodocó, lá nas brenhas, muito longe. Ele veio aqui pra Fortaleza aos 17 anos, lutou sozinho, aprendeu tudo e hoje ele está completando 91 anos
P/1 – Hoje?!
R – Isso
P/1 – Olha, que legal! Parabéns
R – Meus pais, resumindo, é isso
P/1 – Eles se conheceram aqui, você sabe como?
R – Eles se conheceram aqui porque meu pai trabalhava em ônibus na época, começou na extinta empresa Iracema. E o itinerário era na Avenida Visconde do Rio Branco, que hoje é mão única, antigamente era duas mãos, ida e volta. O ônibus tinha uma parada em frente da casa da minha mãe. Aquele lance, antigamente ficava muito na janela, eu me lembro que nos meus dez anos eu ficava muito na janela olhando os carros, a rua. E de repente a parada era em frente, ele parou pra beber uma água. Porque não tinha esse movimento de veículos que tem hoje, que você não pode parar. Ele pegava água. Ele e minha mãe, a diferença é de 15 anos, realmente eles estão cumprindo aquele tema: até que a morte os separe (risos). Pegou água, começou a pegar amizade, tinha concorrência das amigas dele que também queriam ele, mas de repente ele ficou. E ele ainda fez mais, ele disse assim. As três queriam ele, ele decidiu um dia: “A que se apresentar primeiro hoje eu vou casar” (risos). Ele conta muito essa história. De repente foi mamãe que saiu primeiro: “É essa que eu vou ficar”, e ficou até hoje. É por aí
P/1 – Legal! Você nasceu aqui. Qual o bairro? Qual o bairro que você passou sua infância? Você tem irmãos?
R – Engraçado as coincidências da vida. Eu nasci no bairro Joaquim Távora, Visconde do Rio Branco. Minha avó era parteira profissional, viajava pelo interior pra fazer parto. E minha mãe, depois que casou e teve o terceiro, quarto filho, nós fomos pra Avenida Pontes Vieira, onde minha mãe me levou, eu tinha dois anos de idade, por aí. O começo do casamento da minha mãe foi todo no Pontes Vieira, onde eu estou morando. Não na mesma casa, óbvio, mas no mesmo bairro, muito próximo de onde ela morou, de vez em quando a gente passa lá e ela diz: “Ah, eu comecei minha vida com teu pai aqui. Não tinha avenida, era areia mesmo, areia brava”. Quer dizer, do casamento da minha mãe, eu tenho 56 anos, bote mais 20 da mamãe, foi a origem da Pontes Vieira. Minha mãe viu Fortaleza nascer e eu vi Fortaleza se transformar no que é hoje. Eu tenho cinco irmãos, dois homens e três mulheres. Duas irmãs são professoras de inglês, minha outra irmã trabalha no hospital e meus dois irmãos são autônomos, mora cada qual num canto diferente. Aí domingo se junta todo mundo pra conversar, matar a saudade, é por aí
P/1 – Religiosamente
R – Religiosamente
P/1 – Você disse que você voltou anos depois pro mesmo bairro, na rua ou perto de
R – Isso
P/1 – A casa que vocês moravam ainda existe?
R – Não não, tá bem diferente. Hoje é fábrica. Porque antigamente eram só casas, hoje os bairros se transformam em comércio. Não existia comércio assim. É um gabinete, foi um terreno baldio, não existe mais
P/1 – Você diz que viu a transformação da cidade, né?
R – É
P/1 – Eu queria que você me contasse um pouco. Como era a Joaquim Távora? Descreve pra mim quem morava lá, como era a rua, o que tinha, se tinha comércio, quem era o dono?
R – Não, não tinha comércio. Tinha um bodega, inclusive o bodegueiro é padrinho da minha irmã mais velha. Era da bodega daquela época que você pegava o açúcar, farinha, botava dentro de um papel deitado assim na pedra da bodega, aí fechava. O cara tinha uma prática de fechar assim, entendeu? Tipo dobrando assim. Um quilo de farinha. A manteiga, a gente comprava uma taiada de manteiga. Chegava lá, catava um papel de manteiga, tirava o que tava em cima, dobrava. Eu me lembro da época da primeira televisão, era preto e branco. Aí surgiu um negócio de colocar uma tela colorida (risos) sobre a televisão. E tinha horário de fechar, fechava cedo, seis horas. Porque realmente acabava, não tinha programação noturna. Eu me lembro que a programação começava meio-dia, depois passou pra oito horas. Eu me lembro que mamãe falava: “Como é que pode? Durante o dia o pessoal em vez de estar trabalhando tá assistindo televisão”. Foi um absurdo na época. Mas hoje em dia é 24 horas, né? As coisas mudaram muito. Eu acho muito bom eu ter acompanhado isso, eu não me arrependo. Se Deus dissesse assim: “Você queria nascer hoje?” Não, não queria nascer hoje. É bom nascer quando as coisas se transformaram, começaram a acontecer. Então a gente vê, significativamente, a diferente das coisas, de cada momento e o impacto que isso está gerando na história, gerando nas pessoas, gerando no comportamento. Isso eu acho muito interessante. Eu não perderia momento da história que se eu fosse escolher escolheria de novo a mesma data
P/1 – Legal. Conta um pouquinho quais eram as suas brincadeiras nessa sua infância? Nesse bairro que era mais areia do que qualquer outra coisa
R – Era mais areia. Mas as brincadeiras, se você bem pensar, eram as mesmas em qualquer bairro, acredito que em qualquer estado. Nós não tínhamos vídeo-game, não tínhamos televisão, não tínhamos computador, então era de rua mesmo, brincadeira de pedra. Eu era perita naquela brincadeira de pedra. Fazia assim. Brincadeira de roda a gente pegava muito, que tinham músicas. Queria fazer um museu dessas brincadeiras assim, rebuscar na história a origem das coisas, a transformação. Era mais brincadeira de roda pra turma, não tinha tanta brincadeira, não tinha esse negócio de tanto namorar. A gente começa a namorar quando a gente entra na escola, né? (risos) Do bairro a gente já conhece, é amigo. E lance de namorar é mais quando começa a escola
P/1 – E a escola? Como foi?
R – A minha escola eu tenho muitas travessuras. Eu comecei a estudar aqui no Farias Brito. E eu gazeava muita aula. Gazear é um termo que se chama faltar à aula. Antigamente, pelo menos antigamente, ou em Fortaleza, chamava gazear aula. Então eu faltava muito. Eu morava na Aerolândia, passei um tempo morando na Aerolândia, aí minha vó deixava a gente lá, saía e a gente saía atrás (risos). Aí ficava gazeando, ia pro parque, ia conversar e tal. Teve uma vez que eu fugi de casa, eu comecei a namorar um rapaz que meu pai não queria. Hoje ele é bom, é vereador, mas tudo bem. Na época o pai não queria de jeito nenhum porque era vizinho e o tio dele tinha matado alguém. Quando ele foi preso meu pai tinha vergonha naquela época, não tinha nada a ver a família, mas... Aí ele me pegou no parque, faltei à aula. Aí quando cheguei em casa ele disse: “Se prepara pra pisa”, eu apanhei muito de palmatória, de fio elétrico de coisa. Quando eu cheguei em casa as meninas: “Se prepara pra pisa que tu vai levar”. Quando ele foi chegando em casa eu pulei o muro, fugi de casa. Fui pra igreja. Andei, andei, andei. Sou muito católica, minha vida toda e espero morrer assim. Fui pra igreja, terminou a missa, todo mundo indo embora e o padre: “Você não vai embora?” “Vou não, lá em casa tem uma pisa me esperando, não vou nada” (risos). Aí o padre me convenceu a ir: “Eu vou com você, eu não vou deixar”. Nessa época eu deveria ter uns 12 pra 13 anos. “Se o senhor for, me der a guarda, eu vou”. E meu pai é muito de palavra. Meu pai deu a palavra, acabou-se. Aí quando o padre chegou lá em casa comigo, ele já tinha ido na esquina, já tinha me procurado, aquele zuê todo. Os meninos já tinham dito que eu tinha fugido. Eu esperei no carro. Aí ele saiu, falou com papai, disse: “Pode ir que ele não vai bater em você, não”. Aí fui pra casa, ficou tudo bem, aí passou (risos)
P/1 – E me fala um pouquinho dessa sua trajetória profissional como foi. O seu primeiro emprego, por exemplo, você se lembra?
R – Meu primeiro emprego foi os Correios
P/1 – Sempre Correios?
R – Foi. Na época eu tinha 18 anos. Assim, depois dessa reviravolta de não fazer nada na escola eu resolvi estudar. De repente resolvi estudar, tirava só nota boa, sempre gostei muito de Matemática e poesia. Eu escrevo muito, eu tenho até um livro que eu ganhei um concurso aí. Eu me lembro que quando eu terminava a aula, que eu estudava no Justiniano de Serpa, eu escrevia poesia, essas coisas. Eu me lembro que uma vez tinha cinco pessoas esperando, sentavam aqui: “Amélia, eu briguei com meu namorado coisa, tal e tal”, eu escrevia por ela, sabe? Pedindo desculpa em forma de poesia, não sei o quê. Menino, fiz muito namoro assim, muita gente voltar. Eu fico olhando às vezes: “Olha, podia ter montado era um consultório”. Quando terminava a aula eu ficava. Teve um dia que eu olhei, ai meu Deus olha a fila. E aí chegava outro: “Me conta teu problema”, aí contava o problema, eu escrevia a carta e ela levava pro namorado dela. Era assim que eu fazia. E ao mesmo tempo na época que eu estudava, minha mãe não tinha condições financeiras, aí no colégio passava aqueles livros Machado de Assis, minha mãe nunca comprava porque não tinha dinheiro. Mas aí eu pegava aquelas meninas mais ricas que compravam livro, quando era um dia ou dois antes da prova eu chamava ela: “Venha me contar a história”. Ela me contava a história do livro e eu fazia a minha prova pelo que ela contava, fazia meu resumo e só tirava oito. É incrível, depois quando eu disse pro professor, ele: “Não acredito” “Pois é, nunca li o livro”. A pessoa me contava a história. Porque sempre tem as coisas do próprio punho, né? Aí o professor sempre gostava do que eu fazia
P/1 – E que história é essa de livro, publicação? O que é?
R – É um conto que eu tenho. Porque eu sou roteirista profissional nas horas vagas, eu também faço show de humor. Aí eu sou roteirista. Muitas peças aqui da empresa, muitas histórias que o Serviço Social... Teve um problema uma vez na Gerência Financeira, que ela queria remodelar as coisas. Aí a pessoa me conta um problema e eu escrevo a história. Quantos atores têm? Tem cinco. Então eu escrevo sobre os cinco. Teve uma vez uma história que eu escrevi do Descobrimento do Brasil. Aí quando tava tudo pronto, todo mundo ensaiado, aí chegou não sei quem que era filho de não sei quem tinha que entrar. Eu arranjo um personagem, encaixo e não mudo a história, dá até mais vida. Eu gosto muito de escrever. E na escola que eu estudei, eu estudei no Farias Brito, estudei no Justiniano de Serpa, escola pública. E depois comecei a jogar handball, eu sempre fui goleira. Eu sempre joguei futebol de salão e handball, até atualmente ainda jogo futebol de salão no sábado com uma turma aí. Como eu jogava bem tinha duas escolas que brigaram por mim, pelo meu passe. Só que antigamente não pagava dinheiro, era os estudos, então estudei, fiz meu segundo grau, fiz dois anos de cursinho com bolsa de atleta no extinto Colégio Brasil, que eu jogava handball e futebol de salão
P/1 – E você conseguiu a bolsa de estudos pra fazer...
R – A bolsa de estudos que não é como hoje, você paga mesmo, é cachê, essas coisas. Lá pagava o estudo. Eu ficava no colégio particular como aluna, o diretor abonava e eu ficava participando dos jogos. Joguei no Paulo Sarasate, na Aécio de Borba. Eu me lembro que quando eu engravidei do meu primeiro filho eu ainda jogava futebol de salão. Aí parei de jogar porque engravidei do meu primeiro filho. Depois que eu engravidei parei de jogar. Quando ele já tinha um ano eu voltei a jogar. Eu levava ele pro banco no dia de jogo mesmo, dois anos, as meninas ficavam olhando ele enquanto eu jogava (risos). Eu tenho dois filhos, uma mora nos Estados Unidos, a Ana Carolina, já tá lá há sete anos, casou, vai inteirar agora em novembro sete anos. E tem outro filho, que esse tá quase casado, mora perto de mim. Teve um ano que ele passou um ano na Espanha. Quando eu viajei pra Europa, eu fiz uma turnê e levei ele, né? Ele tava terminando o namoro, tinha muita coisa. Aí eu disse: “Vou levar você”. Ele disse: “Mãe, eu aproveitei e vou ficar na Espanha, vou fazer um ano”. Ele queria até na França porque ele fala francês e lá em casa tem um costume desde pequeno, eu falo um pouco de alemão, de francês, de inglês e de espanhol. E em casa eu to sempre conversando com eles quando eu uso o WhatsApp, que eu escrevo em inglês, ele me responde em inglês. Às vezes eu falo em francês e ele responde em francês. E lá em casa eu e meus dois filhos sempre tivemos o hábito de estar falando em inglês ou francês ou espanhol. Eu tenho esse costume
P/1 – De onde veio esse gosto pela Letras, essas coisas. Veio de onde, da escola? Você sempre escreveu, gosta de línguas, de onde vem isso?
R – Eu tinha uma tia que era professora, ela escreveu livro mesmo, de publicar, noite de autógrafo, eu ainda não tive, né? Aí talvez seja disso, tem que ter hereditário. Se não foi por aí eu não conheço outra explicação não
P/1 – Entendi. Qual foi o seu melhor conto? Esse que você ganhou? Qual é a história
R – Foi o prêmio na Academia Cearense de Letras que eu ganhei. Conta a estória de uma menina que aos 15 anos se apaixonou pelo rapaz. E aos 15 anos toda família tinha uma doença, que se desse 15 anos ela ficava cega. De repente ela ficou cega. O nome do conto é “O Conto da Rua 22”. Ela ficou cega, começa a história ela contando. Ela conhecia todo mundo da rua, conhecia pela voz. Conheceu esse rapaz e aos 15 anos eles se separaram porque ela ficou cega, ele foi pra outra cidade, tal. De repente, depois de toda uma vida, seus 30, 50 anos, ele volta. Ele localiza ela. Ele fica viúvo, volta e de repente uma noite ele bate à porta e ela deduz, antes dele falar, ela deduz que era ele. Eles se encontram e volta aquele amor antigo
P/1 – Legal!
R – Já participei do Silvio Santos e do Tom Cavalcante que eu faço humor
P/1 – Ah, como foi esse dia? De esquetes?
R – Não, não foi esquete, não. No Silvio Santos foi contar piada em um minuto
P/1 – Você foi lá e contou a piada em um minuto
R – É. Aí o do Tom Cavalcante eu fiquei na segunda rodada e no Silvio Santos também a segunda rodada, só alcancei a segunda rodada. Foi bom, foi divertido. Eu tê-lo conhecido pessoalmente foi uma coisa incrível, os estúdios, as coisas. Pra mim pagou tudo
P/1 – Conta como foi esse dia. Como você chegou lá?
R – Porque é o seguinte, como eu já tinha participado do Tom Cavalcante eles chamaram as pessoas que já tinham participado da outra emissora. Aí eu vou, só diga que hora eu tenho que estar no aeroporto, eu odeio viagem, pra não dizer o contrário. Se for pra viajar diga só que horário tenho que estar lá no aeroporto que eu chego junto, não tem isso não
P/1 – Que legal! Só retomando um pouquinho. Você disse que seu primeiro emprego foi nos Correios
R – Sim!
P/1 – Conta pra mim como foi
R – Na época que eu tinha 18 anos, que retomei minha vida e resolvi estudar, eu passei no Banco do Brasil, na Ematerce, nos Correios e na Polícia Federal. Passei em quatro concursos. Aí na Polícia Federal, que era o que eu queria mesmo, como era pra agente eu fui reprovada nos exames médicos porque eu não tinha cava no pé. Passei no psicotécnico, passei em tudo. Na Ematerce eu tirei o primeiro lugar, só que quando eu fui pra entrevista era pra trabalhar no interior do interior de Sobral, então eu não foi porque já tava na agura dos correios me chamar. No Banco do Brasil eu passei também, mas eu fiquei em datilografia, que eu não tinha na época, foi a segunda prova, datilografia. Era a informática da época, né? Foi quando meu pai me inscreveu no curso de datilografia. Aí eu fui, passei nos Correios e estou aqui até hoje
P/1 – Quanto tempo já?
R – Eu entrei no dia 16 de maio de 1975. Mas eu pretendo sair em 2016, é a minha meta
P/1 – Me conta, como era trabalhar aqui nesse período? Mudou muito?
R – Demasiadamente
P/1 – É? Conta um pouco como era
R – Na época que eu entrei era na época de hoje, as coisas mudança. Essa modernização, eu entrei na modernização em 75 do mesmo jeito. Tava acabando o Morse pra telegrafia, então era todo um processo. Eu me achava chique, moderna na época. Hoje aquilo ali não é nada, eu me sinto um museu, mas eu sou muito feliz, também, por ter acompanhado essa transformação dos Correios, essa modernização, essa história dos Correios. Eu me sinto muito dentro, inserida, nesses 350 anos (risos). Eu me sinto uma história viva
P/1 – Mas me conta um causo aqui dos Correios que você viu. Um dia diferente, alguma história
R – Não, tem muitos. Tem uma do interior porque precisava idealizar. É uma fita, quando você digitava você não tinha visão, tava o telegrama aqui e você digitava e saía uma fitinha amarela, com aqueles furinhos. E eu costumava ler, eu lia a fita, eu nem olhava, eu já tava acostumada, conhecia o alfabeto todinho. Aí teve no interior, o cara começou a soltar, soltar, que a máquina recebia direto. E aí a fita ficou enganchada, muitas fitas. Ele saiu, não veio pra terminar de noite, quando chegou lá entrou uma cabra pela janela e comeu as fitas todinhas (risos). Aí teve de ligar pra cá pra mandar de novo, foi um sufoco (risos). Começar tudo de novo. Interessante, esse caso é verdade
P/1 – E esse período militar nos Correios, como foi aqui?
R – Militar como?
P/1 – Você pegou desde 75
R – Mas eu peguei na saída, já foi no final, o que tinha que acontecer já aconteceu. Eu não acompanhava muito a parte política, não
P/1 – E me fala. Bom, você está aqui há anos e eu sei que os Correios têm algumas iniciativas culturais, teatro, você já participou?
R – Tem. Eu sempre participei muito do grupo de teatro como escritora, como eu lhe disse, e atriz. Tem um grupo de coral, nós tínhamos um grupo de folclore também. Mas o pessoal da minha idade pra pior vai saindo, aí os jovens é outro know-how, outra coisa, aí fica meio complicado. Mas hoje em dia existe o grupo de coral e de vez em quando tem o teatro
P/1 – Mas você já participou disso. Conta uma pra gente, uma história do teatro
R – A história do teatro nós fizemos um trabalho muito bonito sobre os Correios. Não foi 350 anos, mas foi a história dos Correios. Nós fizemos essa história aqui que deu muito sucesso, sobre o atendente. Essa história foi para São Luís do Maranhão, foi a nossa primeira viagem. Esse carro foi a primeira viagem dele. De repente quando a gente chegou lá tinha a trilha sonora, desapareceu das malas todinhas, aí nós fizemos sem trilha sonora. Quando chegou aqui que descarrega, a trilha sonora estava lá dentro e ninguém viu. Foi uma coisa assim, incrível (risos). E teve outra cena também que eu fiz, eu até ganhei o prêmio de melhor atriz nesse festival. Era um caso que eu enganchava a camisa no cinto do rapaz. O cinto ficava lá, a roupa. Quando tava tudo escuro no camarim, que o outro grupo chegou pra se chegar que era a próxima apresentação tirou as coisas do lugar. Quando eu entrei cadê o cinto? Aí eu tive que voltar em cena. Quando eu voltei em cena, que eu tropecei no cara, eu fiquei a cena todinha segurando como se estivesse enganchado o cinto e o meu dedo. Aí terminei a cena assim, entendeu? Foi incrível que a história concluiu, ninguém percebeu, como se fizesse parte da cena. Ficou engraçado e ainda ganhei prêmio de melhor atriz (risos). Acho que foi por causa da improvisação, deve ter sido
P/1 – Me fala uma coisa, Amélia, você tem uma história que envolve uma carta ou que você enviou, que você recebeu, uma encomenda? Você tem um causo?
R – Tenho casos com fax que aconteceram. Que foi pra um lugar diferente, era pra ter ido pra outro. Aí o rapaz chegou aqui pra resolver esse problema, que ia pra Justiça e que ia resolver. Aí eu tentei ligar lá pra agência de Sobral. Aí o rapaz: “Não, to já mandando”. Eu conversando com ele. Chegou lá pra mandar não tinha bobina. E o rapaz não sabia trocar a bobina. Teve que buscar o rapaz em casa e o cara aqui esperando. Eu só sei que quando conseguiu, é um cara importante, o cara ia processar os Correios, tudinho. “Aí é aqui pertinho, vou lá chamar”. Só que o cara foi chamar o cara da bobina e, coincidentemente também chamou esse rapaz, era da empresa dele. “Nós estamos mandando inclusive Fulano de tal, ele já tá lá pra recebe o fax” “É ele mesmo, eu quero falar com ele” “Tome o telefone!”, passei o telefone pro cara. O cara ficou tão feliz que o cara recebeu, falou, passou o recado, passou a raiva do homem (risos). Mas foi um sufoco pra conciliar. Eu não podia explicar pra ele que tava sem bobina e o rapaz não sabia mudar a bobina e que tinha que chamar alguém em casa. Aí nessa ida favoreceu porque ele já trouxe o rapaz e tudo saiu da melhor forma. E também tinha um problema aqui quando nós mandávamos os telegramas para navio. E a gente tinha que identificar qual era a água, qual era a bandeira do navio pra poder cobrar a taxa. O pessoal me chamava porque eu sempre resolvia esse problema. Mas não era que eu soubesse não, é que eu tinha um amigo na Embratel. Quando eu não sabia, não adivinhava o navio, nem a bandeira, nem que água estava, eu ligava pro meu amigo, ele localizava e resolvia (risos). Eu era a chave pra resolver o problema
P/1 – Hoje é tudo computador, né?
R – É
P/1 – Você lembra quando começou a chegar os computadores?
R – Ave maria, a mudança é grande, mas é paulatina. Não chega de uma vez, puf, não sofre aquele impacto, entendeu? É tudo acomodando. Pela idade já tá na hora de eu sair, quando eu vejo muita gente jovem ao meu redor: “Tá na hora de ir embora”. Mas eu sempre fui feliz e sou feliz
P/1 – E hoje, Amélia, como é o seu dia a dia. Conta um dia, como está sua função, o que você faz
R – Eu sempre trabalhei no setor de eventos. Aliás, eu entrei nos Correios, até hoje eu não sei o que é exatamente os Correios porque eu trabalhei com eventos, contratação, essas coisas e é o que eu faço até hoje
P/1 – Você sempre trabalhou com eventos?
R – Sempre trabalhei com eventos, no setor de eventos. E agora estou na Gerência de Vendas e continuo trabalhando com contratação, montar evento pra encontros, essas coisas. Eu faço evento dentro e fora da empresa porque eu também faço meus shows, essas coisas. Minha vida é um evento
P/1 – Tá certo. Bom, Amélia, devido a essa pressão externa eu queria agradecer em nome dos Correios, em nome do Museu da Pessoa
R – Espero que tenha contribuído muito
P/1 – Com certeza. Muito obrigado
R – Tá ok, valeu. Obrigada
FINAL DA ENTREVISTA
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