NOITE SEM MÃE
Tony Antunes
Quando tornei-me adolescente a minha mãe já havia falecido no dia 31 de dezembro. Daí por diante fui morar de favor nas casas de alguns dos conhecidos da gente. Mas, por ser humilhado e xingado, a cada gota d\'água de humilhação por um pedaço de pão que colocava na boca, aquilo me dava um nó no meio da garganta, não aguentei. Achei que morar nas ruas seria bem melhor. Foi aí, que na minha primeira noite de natal nas ruas, fiquei puto da vida com minha mãe, pobre e escrava da burguesia, que alimentou em mim a imagem de um bom velhinho, que distribuía presentes para as crianças. Foi assim, às duras penas, que vi ser tudo mentira.
Arretei-me com ela. Praguejei, esculachei com a alma dela. E, naquela noite do dia 24 para o dia 25 de dezembro, minha primeira noite sem mãe, enquanto eu via, pelas janelas das casas, as famílias se confraternizando rodeadas de comida, amor de mãe e de pai, vi que eu estava só. Alí a ficha caiu. Pela primeira vez a dor da saudade pegou-me \"dicunforça\". Eu não tinha mais a minha mãezinha!
Nessa hora comecei a chorar. Aos prantos, com lágrimas na alma e no rosto, gritei bem alto à beira do Rio Capibaribe:
— Mainhaaaa, a senhora mentiu pra mimmmm. A senhora que disse pra eu nunca mentir, mas mentiu pra mimmmm!! Cadê o Papai Noel, que tirou a senhora mim e me deixou sonzinho? Por que ele não me traz a senhora de presente? Por quê? Por quê? Por quêêêêê? Sua mentirosaaaaa?
Revoltado com Deus e com o fato de sentir na pele que ele não ligava pra mim e que o segundo (Papai Noel) não existia, naquela noite, enroletei-me na lama daquele Rio, porque sentia-me um nada, pois que até o rio ria da minha cara, por eu acreditar numa mentira desgraçada - Papai Noel – o ídolo dos ricos!
Por isto, sempre alimentei na cabeça dos meus filhos que o Papai aqui é que é o Papa Noel deles, e que durante a vida toda eu é que lhes dei e dou, a todo instante, o maior...
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NOITE SEM MÃE
Tony Antunes
Quando tornei-me adolescente a minha mãe já havia falecido no dia 31 de dezembro. Daí por diante fui morar de favor nas casas de alguns dos conhecidos da gente. Mas, por ser humilhado e xingado, a cada gota d\'água de humilhação por um pedaço de pão que colocava na boca, aquilo me dava um nó no meio da garganta, não aguentei. Achei que morar nas ruas seria bem melhor. Foi aí, que na minha primeira noite de natal nas ruas, fiquei puto da vida com minha mãe, pobre e escrava da burguesia, que alimentou em mim a imagem de um bom velhinho, que distribuía presentes para as crianças. Foi assim, às duras penas, que vi ser tudo mentira.
Arretei-me com ela. Praguejei, esculachei com a alma dela. E, naquela noite do dia 24 para o dia 25 de dezembro, minha primeira noite sem mãe, enquanto eu via, pelas janelas das casas, as famílias se confraternizando rodeadas de comida, amor de mãe e de pai, vi que eu estava só. Alí a ficha caiu. Pela primeira vez a dor da saudade pegou-me \"dicunforça\". Eu não tinha mais a minha mãezinha!
Nessa hora comecei a chorar. Aos prantos, com lágrimas na alma e no rosto, gritei bem alto à beira do Rio Capibaribe:
— Mainhaaaa, a senhora mentiu pra mimmmm. A senhora que disse pra eu nunca mentir, mas mentiu pra mimmmm!! Cadê o Papai Noel, que tirou a senhora mim e me deixou sonzinho? Por que ele não me traz a senhora de presente? Por quê? Por quê? Por quêêêêê? Sua mentirosaaaaa?
Revoltado com Deus e com o fato de sentir na pele que ele não ligava pra mim e que o segundo (Papai Noel) não existia, naquela noite, enroletei-me na lama daquele Rio, porque sentia-me um nada, pois que até o rio ria da minha cara, por eu acreditar numa mentira desgraçada - Papai Noel – o ídolo dos ricos!
Por isto, sempre alimentei na cabeça dos meus filhos que o Papai aqui é que é o Papa Noel deles, e que durante a vida toda eu é que lhes dei e dou, a todo instante, o maior presente que alguém pode dar a filho - a minha vida de pai sempre presente!
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