Natálio Stica

Projeto Memória da Petrobras

Realização Instituto Museu da Pessoa

Depoimento de Natálio Stica

Entrevistado por Ana Maria Bonjour e Eliana Santos

Rio de Janeiro, 10 de Dezembro de 2004

Código: HV/2004-11-01

Transcrito por Maria Luiza Pereira

Revisado por Marina Cioban dos Santos

P/1 – Boa tarde!

R- Boa tarde!

P/1 - A gente gostaria de começar com você dizendo o seu nome completo, local e data de nascimento.

R – Meu nome é Natalio Stica. Nasci na Cidade da Lapa, no Paraná, no Natal em 1952 - dia 25 de dezembro de 1952.

P/1 – Legal! Fala para a gente o nome dos seus pais, dos seus avós, o que que eles faziam, um pouquinho da sua infância.

R – Meu avô paterno veio da Itália com 11 anos, José Pisteka. E aqui mudou para Stica, quando chegou no Brasil. Meu pai, José Stica, e minha mãe, Joaquina Diniz Stica, filhos de agricultores. E meu pai, depois, trabalhou sua vida toda numa olaria, onde eu também, como criança, comecei trabalhando, até os 17 anos de idade, na cidade da Lapa.

P/1 – E sua mãe?

R – Minha mãe sempre ajudando em casa, no quintal, no trabalho doméstico. Criou oito filhos, então, muito trabalho a vida toda dela.

P/1 – Imagino! Conta um pouquinho para gente então como que era a sua infância, o seu cotidiano, o seu trabalho...

R – Minha infância foi, do ponto de vista da molecagem de criança, foi muito boa, porque eu morava do lado de uma olaria. Então, lugar para a gente poder também fazer as bagunças de criança, mas uma infância muito sofrida. A minha família, uma família muito pobre. Eu tive que trabalhar desde novo. Meus irmãos todos trabalharam desde muito novo e muito difícil. Nós morávamos a mais ou menos quatro a cinco quilômetros da escola, em que a gente ia a pé para estudar, ou depois, mais tarde, de bicicleta. Então, uma infância assim, muito, muito difícil. Aos 17 anos de idade, eu saí da cidade que eu morava, na Lapa. E fui aventurar a vida na cidade de Curitiba, na capital do Paraná, onde acabei trabalhando como frentista de posto de gasolina. Veja que o combustível já me provocava desde de novo, né?

P/2 – Senhor Stica, o Senhor falou que começou a trabalhar desde novo. Com quantos anos que começou a trabalhar?

R – Eu? Aos 10 anos de idade eu comecei a trabalhar na olaria. Aí meu pai... Eu fiz uma promessa lá, que se minha mãe sarasse, eu ia ser padre. Fui para o seminário, mas fiquei 1 ano e meio e não deu certo. A minha vocação não era de ser padre. Eu voltei e aí meu pai falou: “Bom, já que você não quer estudar, você vai trabalhar.” Aí eu peguei para valer na olaria, onde eu fiquei até os 17 anos de idade. Daí quando saí, falei: “Ó, tô indo embora. Vou para Curitiba e vou tentar outra vida. Aqui está muito pesado.” [risos].

P/2 – Você tinha sete irmãos, foi isso?

R – É, nós éramos em oito. Meu irmão caçula já faleceu num acidente de carro. Tenho mais seis irmãos agora, em vida.

P/2 – Como é que eram as brincadeiras de vocês, como vocês se divertiam?

R – Olha, eu posso contar aqui porque está longe dos meus filhos, porque eu não quero que os meus filhos façam o que eu fiz. Nós éramos terríveis, né? Uma olaria é um lugar muito perigoso para brincadeiras, se você pensar que tem, por exemplo, um elevador que trabalha com contra-peso. Eu quase matei a minha irmã quando eu tinha seis anos de idade, no elevador, porque não conhecia do perigo que era. Nós pegávamos cavalo que trabalhavam na fazenda do lado da olaria e íamos andar a cavalo, molequinho, no pêlo. Então, era descer com carrinhos em ladeiras. Umas brincadeiras, assim, uma mais perigosa do que a outra, que eu nunca contei em casa [risos].

P/1 – E que agora ele vão ficar sabendo [risos]! E como que era no trabalho, seus irmãos também trabalhavam lá, né? Como que era essa relação de família no trabalho, vocês crianças ainda...?

R – A relação nossa familiar era muito boa. Minha família, uma família italiana e muito unida. O meu pai obrigava irmos à missa aos domingos todo mundo junto. Trabalhávamos, íamos para a aula, horário de jantar todo mundo tinha que estar à mesa juntos. Então, era uma família muito unida sempre e meu pai muito duro, muito enérgico. Ele era o gerente dessa olaria, onde eu era o empregado e quando tinha alguém... Mesmo sendo ainda uma criança, porque eu trabalhei a partir dos 12 anos, 13 anos, 14 anos, eu fazia o mesmo serviço que um adulto fazia. E quando reclamava que não agüentava, porque o serviço de olaria é muito pesado, e dizia: “Ah, mais o teu filho não está fazendo esse serviço.” Meu pai me chamava e mandava eu fazer, e mandava a pessoa ficar olhando. Depois, mandava embora; dizia: “Você não serve.”. E eu tinha que fazer para não deixar ele passar vergonha [risos]. Então, ele era muito duro. Mas isso acaba, de certa maneira, valorizando também no resto das nossas vidas. A gente tem que acabar dando valor para esses valores que as pessoas, principalmente os mais antigos, eles tinham.

P/1 – Desculpa, são quantas irmãs... Quantas meninas e quantos meninos seus irmãos?

R – Eu tenho três irmãos homens e três irmãs mulheres que continuam vivos. E o meu irmão caçula, que faleceu. Mas éramos em cinco homens e três mulheres.

P/1 – E elas também trabalhavam?

R – Todas elas, todas. Minhas irmãs mais velhas, elas ajudavam inclusive a lavar roupa para fora, para ajudar na sobrevivência.

P/1 – E como é que era a escola? Fala um pouco desse negócio de ter que andar cinco quilômetros, ir para a escola. Como é que era essa escola? Fala um pouquinho da escola para a gente.

R – Então, começava... Na época lá, o grupo escolar era na cidade da Lapa e nós morávamos na olaria, que era retirado da cidade. Então, esse trajeto era feito a pé ou mais tarde de bicicleta. E lá é que a gente fazia um círculo maior de amizade, porque daí tinham as crianças da cidade, né, que a gente acabava tendo um maior entrosamento. Eu sou de uma época em que onde eu morava não tinha luz e naquela época começou a aparecer a televisão. Então, a gente saía aos domingos com a família toda a pé, andando 5 quilômetros para se chegar na casa de um amigo nosso na cidade, para assistir televisão aos domingos. E à noite, na nossa casa, nós tínhamos um rádio que era com bateria. Nós apagávamos o lampião a querosene para ficar a sala escura e vendo aquela luzinha do rádio. Imaginando as pessoas dentro do rádio, como se fosse a tv, que a gente viu no domingo passado. Veja que foi uma infância muito difícil, não é?

P/1 – E interessante! Fala um pouquinho da escola: como era, como eram os seus amigos, como eles se vestiam, como que vocês se divertiam na escola...

R – Olha, tem coisas que se a gente for falar, começa a emocionar. Eu me lembro que a gente usava um guarda-pó feito de saco de açúcar [pausa].

P/1 – E?

R – Eu queria que você me poupasse um pouco [risos]!

P/1 – Não, tudo bem, fica à vontade!

P/2 – O Senhor fique à vontade, Senhor Stica. Para contar precisa se sentir à vontade.

R – Tem coisas que não é bom lembrar.

P/1 – Então você ficou nessa escola, você fez o primeiro e o segundo grau nessa mesma escola?

R – Aí eu fiz o ginásio na Lapa e depois eu vim para Curitiba, onde fiz um curso supletivo. E daí que eu comecei fazendo curso de eletrônica na Escola Técnica. Terminei um curso de eletrônica básica para me dar sustentação depois num outro emprego, já na Siemens - onde eu trabalhei como técnico em eletrônica. E foi o que me deu a sustentação para, bem mais tarde, entrar na Petrobras, como instrumentista, né? Mas teve um longo caminho antes disso.

P/1 – É, imagino! E como que foi esse seu primeiro trabalho, você trabalhava e estudava, né? Conta para a gente.

R – É, na olaria a gente fazia metade do expediente trabalhando, e metade ia para a escola. Meu pai não queria que eu estudasse à noite. Ele achava que era muito perigoso e que não era de bom alvitre naquela época acontecer isso. Em Curitiba, eu tive também algumas dificuldades. Eu vim em 1970, em janeiro de 1970. Eu cheguei a morar em pensão lá em Curitiba. Trabalhei de frentista de posto de gasolina; e trabalhava e estudava. Até que depois eu fui fazer um... Aí entrei no quartel, na base área. Fiquei dois anos na Aeronáutica. Depois fui para São Mateus do Sul, na unidade da Petrobras, o Xisto, onde eu queria trabalhar na Petrobras. Tinha um sonho em trabalhar na Petrobras, desde muito novo. Meu irmão trabalhou na Petrobras, aposentou-se na Petrobras - meu irmão mais velho. E eu tinha um sonho em trabalhar na Petrobras. E eu fui, entrei na Petrobras em São Mateus do Sul como motorista de uma empreiteira. Fiquei praticamente um ano. Quando saiu um concurso na Petrobras, em Araucária, na Repar, de operador, eu fiz esse concurso. Passei no concurso, fiz o curso. Estava terminando o curso quando me cortaram. Recebi um aviso que eu estava eliminado porque eu tive cadeias no quartel, várias cadeias. Eu era muito rebelde. Eu brigava, eu discutia. Eu não aceitava ordem que eu considerava absurda. E no quartel você tem que ouvir e dizer “Sim senhor!” toda hora.

P/2 – E o Senhor sempre foi assim, Senhor Stica, na juventude? Como é que foi a sua juventude?

R – Sempre! Eu tenho uma história da minha vida que eu acho que é interessante contar. Eu fiz a primeira greve da minha vida - não sei se por isso que eu fui sindicalista - mas eu fiz a primeira greve da minha vida aos quase 13 anos de idade. Um pouco antes de sair do seminário, e isso foi um dos motivos que eu saí e voltei para casa, porque teve um período que eu fiquei um ano e meio no seminário. Entre os 12, 13 anos eu fui para o seminário e voltei. Fiquei um ano e meio. Eu fiz uma greve porque aos sábados, às 3:00 horas da tarde, os meninos que moravam nas proximidades iam para casa. Quem morava longe, como era o meu caso e outros, ficava até às seis ou trabalhando ou estudando. E eu disse: “Olha, isso não é justo! Por que quem mora perto tem uma regalia de ir embora às três e parar?” E conversei com os garotos que ficaram e disse: “Olha, 15:00 horas nós vamos fazer uma greve. Nós vamos pedir estudo livre, que faz o que quiser.” E aí se você me perguntar:“ Mas então você já sabia alguma coisa de greve, de política?” “Não, não sabia nada.” Eu sabia porque eu escutava, meu pai escutava muito um programa chamado Repórter Esso, que tinha sempre à noite, que era uma espécie de noticiário. E nesse programa falavam e eu ficava escutando com meu pai no rádio a bateria, nosso lá. Então, eu desde muito novo escutava esse programa, era um noticiário, onde dizia: “Greve dos têxteis não sei aonde”, “Greve dos metalúrgicos reivindicando tal coisa.” Até 1964 tinha muita greve no nosso país, muita luta. E isso foi entrando, então eu aprendi que para você reivindicar alguma coisa tinha que fazer greve, né? E daí, quando eu estava no seminário, eu armei essa greve. Daí chegou no sábado, quando deu as 15:00 horas, que tocou o sinal para o pessoal ir embora, aí... Eu também não sei porque eu fiz uma cartolina branca com uma cruz vermelha, escrevi: “Estamos em greve e queremos estudo livre!” Colei numa daquelas réguas de desenho que a gente usava antigamente, grande. Colei umas fitas crepe e botei na minha carteira, que você abria. Deixei pendurado aquela lá, e parei de... Guardei todo o material e todo mundo que ficou guardou também. Aí chegou o Padre Luciano, que ainda é vivo lá em Curitiba, um alemão, e rasgou aquela cartolina. Me ergueu pelo... Eu era ainda garotinho, muito novo e perguntou...

P/2 – Quantos anos?

R – Eu tinha 13 anos, por aí. E perguntou – entre 12 e 13 – e perguntou se eu sabia que regime estávamos, porque isso já era em 1965. Eu tinha 13 anos, foi em 1965. Foi logo depois do golpe militar de 1964! E aí eu disse: “Olha, eu não sei em que regime estamos, mas eu sei que não é justo o que vocês estão fazendo. Eu estou aqui, estou aprendendo que aqui prega igualdade e não tem igualdade.” E aí foi a única greve da minha vida assim, que deu bem certo porque nós conseguimos o estudo livre. Mas custou caro para mim, porque depois eles me convenceram que eu não tinha vocação. Acharam que era melhor eu voltar para casa, e eu acabei voltando.

P/2 – E o que que o Senhor achou, o Senhor realmente achava que não tinha vocação?

R – Para padre não. Eu tenho muito amigos padres, respeito; mas não tinha vocação [risos].

P/1 – Mas para fazer greve [risos]...

R – Sou muito, sou muito crente. Eu sou uma pessoa que creio em Deus e... Mas para padre eu não tenho esse potencial todo não [risos]. E isso me deu base para depois… Porque eu sempre fui uma pessoa que busquei a justiça. Nunca eu deixei... As minhas cadeias no quartel tem muito com isso. Tinha alguma ordem absurda e eu não atendia, dizia: “ Não, isso eu não vou fazer. Isso não é justo!” Aí me davam lá uma detenção. Uma delas eu tive que fugir para fazer uma prova, que eu pedi, falei: “ Eu tenho uma prova. É a última. Se eu não for, eu não passo e tal...” “ Não, não vai!” Eu falei: “ Vou!” “ Não vai!” Eu fugi e fui. No outro dia, ele falou: “Foi?” - eu falei: “ Fui!” “Passou?” - eu falei: “ Passei!” “Então agora você passa oito dias de cadeia.” Eu falei: “ Passo. Mas passo como homem, não como rato.” Aí deu mais oito. Então acabou somando muito, por isso que a Petrobras não me quis quando eu fiz o primeiro concurso. Acharam que eu... Fui taxado, no serviço que tinha da investigação da Petrobras, como um líder negativo e foi esse o nome que me deram. Me falaram: “Nunca mais tente nada!” Aí eu saí desesperado. Imagina, todo um sonho assim ruído. E eu comecei daí a trabalhar na Siemens, depois que eu saí desse curso que me cortaram. E passei até 1976, quando abriu concurso de novo para a Petrobras para instrumentista.

P/2 – Para a Siemens o Senhor entrou com quantos anos?

R – Eu entrei na Siemens em 1975, aí eu já tinha 22 para 23 anos.

P/2 – E o Stica na juventude, como que ele era? Tinha amigos, tinha grupos de amigos, gostava de sair, gostava de debates, como era?

R – Eu tinha muitos amigos. E mesmo sendo de uma família muito pobre, eu tinha amigos que era da considerada média e até da alta sociedade da Lapa. Não tinha grande alta sociedade numa cidade do interior, mas os filhos de família mais... de uma outra classe de vida aí, né? Mas eu tinha muitos amigos. E eu tinha amigos que eu ia, quando estudava no grupo, eu passava na casa para poder andar naquele jipinho de pedalinho, porque eu não nunca tive oportunidade de ter um jipinho daquele. Então, eu acabei fazendo... Eu sempre fui uma pessoa que consegui ter boa comunicação. Sempre tive muitos amigos na minha infância que preservo até hoje na minha cidade natal.

P/2 – E vocês discutiam, debatiam, estavam envolvidos com o que estava acontecendo?

R – Em 1968, nós começamos um debate no ginásio, lá na Lapa, onde eu fiz parte de um grêmio estudantil. Em 1968 estava na efervescência do regime militar ainda, não se podia falar nada. O grêmio estudantil se tornava apenas um grêmio para fazer torneio de futebol, essas coisas. E eu comecei a querer discutir e mesmo lá, na cidade do interior, eu senti que era difícil. Fui entender mais o que era o regime que vivíamos quando entrei no quartel, na base aérea, em 1971. Fiquei 1971 e 1972. Eu digo que eu fiquei 2 anos. Um no facho: eu era atleta, então era uma vida tranqüila; você só corria e fazia exercício físico. E o outro ano eu fiquei na cadeia, porque daí era o ano em que eu saí do facho [risos] e comecei a discutir. Então, foram 2 anos no quartel. Mas lá eu comecei a aprender um pouco mais. Até eu brinco que quem me jogou para a esquerda foi o Exército, foi a Aeronáutica, porque eles tinham nas quintas, todas as quintas-feiras tinha uma aula que eu disse que era uma verdadeira lavagem cerebral. Eles estavam caçando o Carlos Lamarca na época. E eles mostravam toda quinta-feira a foto do Capitão Lamarca e diziam, dos soldados e sargentos que o acompanhavam, dizia: “Olha, este é um ex-militar que ele está atacando os quartéis para roubar equipamento, munição, arma e ele primeiro atira, depois pergunta quem é.” Quer dizer, fazia, pintava uma imagem e aquilo começou a me intrigar. Eu que era um soldado, pensei: “Por que é que um Capitão que está bem posto na vida sai, rouba um caminhão de armamento e vai se embrenhar no meio da mata, sofrer. Tem que ter um motivo para isso!” Daí foi que eu comecei a buscar, muito escondido, com muita cautela, para poder descobrir, através de livros. Então, na verdade, a Aeronáutica acabou me jogando para a esquerda, daí eu aprendi o que é que foi a luta, né, do chamado. Na época, o pessoal de esquerda aqui no Brasil era chamado até terrorista aqui, né, um absurdo! E comecei fazer algumas amizades e foi o que me deu a primeira base para começar a militar. Depois, mais tarde, entregue a pastoral operário onde eu aprendi é... O meu primeiro confidente, amigo, que me ensinou política, hoje é o Assessor do Lula lá, o Gilberto Carvalho, que era amigo nosso no Paraná. O Gilberto Carvalho tem uma história de vida fantástica. Ele era quase padre e saiu do seminário para morar numa favela, porque ele não achava justo. Ele fazia um trabalho na favela, depois voltava para o seminário e dizia: ”Não está compatível.” Quando faltava 2, 3 anos para se ordenar padre, eles foram em quatro morar numa favela. E no último ano Dom Fidalto disse que não aceitava, eles tinham que voltar para o seminário e eles saíram do seminário. E ele começou a trabalhar em indústrias metalúrgicas e fundou a primeira oposição sindical dos metalúrgicos lá no Paraná, chamada “Chapa Zé Bigorna”, em 1979. E eu já estava na Petrobras daí esse ano, né? E ele foi o primeiro que começou a me dar as orientações. E eu fui o primeiro na Refinaria de Araucária, a primeira pessoa que discutiu mudar o sindicalismo fui eu, através desse meu amigo Gilberto Carvalho. E depois comecei com outros amigos que estão inclusive, até hoje no sindicalismo.

P/1 – Agora vamos voltar mais um pouquinho. Fala para a gente como foi essa sua mudança da Lapa para Curitiba. Você já tinha trabalho? Como foi a sua chegada na cidade? Se você foi só, conta um pouquinho.

R – Eu tinha uma das minhas irmãs que morava em Curitiba. E eu não queria mais continuar na cidade da Lapa porque o trabalho na olaria é um serviço extremamente pesado e sem nenhuma condição de melhorar na vida. Um serviço, para quem não conhece, fazer telha e fazer tijolo, trabalhar amassando barro. Além de pesado, você não tem nenhum futuro. E eu falei: “Ó, vou embora!” Eu falei para essa minha irmã, eu falei: “Olha, eu preciso ficar alguns dias na sua casa até que eu arrume um emprego.” E ela me deu guarida. Eu vim logo na primeira semana de janeiro de 1970. Fiquei na casa dela alguns meses - não lembro - dois, três meses, até que eu já consegui morar numa pensão e trabalhava nos postos de gasolina. E dali para frente toquei a minha vida.

P/1 – Aí o Senhor disse que fez o primeiro concurso para a Petrobras, não foi aceito...

R – Esse foi em 1974, quando me cortaram. Daí depois 1976 saiu novo concurso. Eu falei: “Vou fazer de novo.” Fiz o concurso, passei. Na hora de fazer o curso fiquei com medo de fazer e me cortarem de novo, e eu perder o emprego porque eu ia ter que sair da Siemens. Aí eu fui na Cidade de São Mateus do Sul, onde tem a usina do Xisto, e falei com os diretores da Petrobras, Oswaldo e tantos outros que naquela época trabalhavam e me conheciam, conheciam o meu trabalho e disse: “Olha, quero saber se eu posso fazer ou não, porque eu estou com medo.” Eles me indicaram o Senhor Palmeira - já deve ser falecido - que era o responsável pelo serviço de investigação da Petrobras, do Paraná. E fui falar com ele, ele disse: “Olha, você tem alguém lá na base aérea que eu possa perguntar de você, porque se eu mandar a tua ficha de cadeia como é, você não vai entrar de novo.” Eu falei: “Tenho.” Daí dei o nome dos Oficiais que na época me conheciam e todos, sem exceção, falaram bem: “Cadeia é coisa de criança, de bobagem, tal, tal, tal.” E ele anotou tudo isso e falou: “Ó, estou mandando essa ficha para o Rio. Pode fazer o curso, passa, que se você passar você está garantido. Com essa ficha você entra.” E eu fui fazer. Fiz o curso, com medo danado. Eu, muito católico, todo dia eu passava na Igreja Nossa Senhora do ______, do lado do curso que eu fazia, e conversava lá com Cristo. Eu botava ele na parede, ele já estava na cruz, eu dizia: “Olha, você tem que me ajudar. Você tem que fazer os homens entenderem que eu tenho que entrar na Petrobras, que eu quero entrar na Petrobras...” Todo dia. Mesmo atrasado eu dava um “Oi” lá e... Eu fui o primeiro colocado do curso de instrumentação.

P/1 – Ele ouviu , né [risos]?

R – E foi isso que me salvou. Foi isso que me garantiu entrar na Petrobras. Porque uma semana antes de terminar o curso, no dia que terminou, o Vitor, que era na época o coordenador do curso, me chamou e disse: “Você teve cadeias no quartel?” “Tive.”- eu falei. E pensei: “Tudo de novo.” Ele falou: “É, mandaram te cortar. Por que é que você não me contou?” Eu disse: “Ó, não te conhecia quando entrei aqui. Como é que eu ia te contar?” Ele falou: “É, mandaram te cortar! Mas não se preocupe, você foi o melhor aluno nosso, melhor aproveitamento. E nós fizemos uma mesa redonda e mandamos para o Rio dizendo que nós não aceitávamos o teu corte, que era uma injustiça e era ruim para a Petrobras. Nós achávamos que você tinha que continuar e eles acabaram aceitando e você, parabéns, é o primeiro colocado! Você agora já pode... é petroleiro.” Aí eu vibrei, né, aí eu vibrei.

P/1 – Conseguiu, né? Mas seu Stica, explica para a gente: porque essa vontade tão grande de ir para a Petrobras?

R – Olha, o meu irmão trabalhou na Petrobras e eu achava assim uma Empresa muito... Para quem veio de tanto serviço pesado e ruim e sem organização, empresas pequenas, quando eu ia no meu irmão, eu via como é que funcionava a Petrobras. Eu achava uma coisa fantástica. Além do que eu ouvia falar da luta do monopólio do petróleo, lá atrás, né, e também não sabia de nada, era uma coisa assim que entrava e... Mas aquilo ficou gravado. Tanto é, que depois que eu entrei na Petrobras, eu fui um ferrenho defensor dessa Empresa e do monopólio estatal do petróleo. Eu pude numa época, que talvez a gente vá falar ainda, fazer muitas viagens fazendo palestras em defesa do monopólio estatal do petróleo. No Paraná, eu levei saudoso Eusébio Rocha, que é o autor da lei do substitutivo da lei 2004. Eu o levei várias vezes lá no Paraná, para fazer palestras em todo o Estado do Paraná, para poder defender o monopólio que já era interesse de quebrá-lo, né? E inclusive dei um título de Cidadão Honorário mais tarde, quando fui Vereador de Curitiba, para o Eusébio Rocha, pouco antes dele morrer, por felicidade minha. Então tinha esse desejo. Eu visto a camisa desta empresa. Tenho orgulho de ser petroleiro.

P/2 – E conta para a gente, Senhor Stica, quando na Petrobras, o Senhor foi para qual setor?

R – Eu fui para instrumentação, né, instrumentista da Petrobras. Setor técnico lá. Lá no Sul, até tem uma brincadeira que lá no Rio Grande do Sul, quando foram fazer a refinaria saiu no Zero Hora lá: “Tem dez vagas para instrumentista montador”. Porque tem montador, que monta o equipamento, e o instrumentista, que faz a manutenção, que era o meu caso, né? Aí apareceu 20 gaúchos a cavalo, com a gaita nas costas, pensando que era instrumentista que tocava [risos]. Mas não era. Instrumentista é o cara que faz a manutenção nos equipamentos que mede pressão, que mede temperatura, que mede vazão, que mede nível. Enfim, tudo que acontece numa unidade, numa refinaria. Por exemplo, o instrumentista que faz a calibragem dos equipamentos, que deixa em dia, né?

P/2 – E o Senhor passou por outro setor?

R – Não, só instrumentação.

P/2 – Então conta para a gente mais um pouquinho, como é que era esse dia-a-dia no trabalho, como é que era esse ambiente que o Senhor tanto desejou estar presente. Como é que era?

R – Eu quando entrei na Petrobras, na época, comecei a conhecer um pouco do sindicato dos petroleiros, porque vinham os diretores, entregavam muito escondido, um papel, um jornalzinho. Não era nem feito (o papel) no Paraná, era do Sindipetro Sul, lá do Rio Grande do Sul, que eles tinham uma afinidade e entregavam o jornal do Sindipetro Rio Grande do Sul, escondido. E é verdade! A gente estava numa época ainda sob muito olho em cima, né?

P;1 – Isso em que ano?

R – Isto em 1976, quando eu entrei, 1977. Mas eu não aceitava, né, eu dizia: “Não é possível!” Eu falava para os Diretores: “Por que que vocês vêm escondidos?” Eles chegavam e diziam para mim assim... Eu acabei me tornando um líder desde muito novo lá na Petrobras. Eles diziam assim: “Olha, o meu carro está ali na frente.” - O carro do sindicato era um fusca - “Nosso carro está... Atrás do banco tem um jornalzinho. Pegue escondido e traga”. No início eu ia lá, pegava escondido, embaixo de camisa. Trazia e aí punha para o pessoal, escondido. Depois disse: “Mas por quê? Não estou fazendo nada errado. Por que é que eu tenho que entregar escondido?” E comecei a questionar, falei: “Por que é que vocês não fazem jornal aqui? Por que é que vocês não fazem isso e aquilo?” E aí comecei a ver que eles tinham muito medo. E eu comecei a participar das assembléias do sindicato quando era campanha salarial. Comecei a perceber, comecei a falar, comecei a dar minha opinião, comecei a discordar. O meu setor, a instrumentação, pelo menos na Refinaria em Araucária, até hoje a instrumentação é o setor que mais as pessoas participam da vida sindical. E eu levava todo mundo. E chegava no outro dia, tinha assembleia: “Que é que aconteceu lá?” “Você não foi não precisa saber. Por que você não foi na assembléia?” Então, começava a jogar duro mesmo. E comecei a montar a primeira chapa de oposição no Paraná. Achei que a diretoria que estava não funcionava e a gente tinha medo também. Então, o que é que nós fazíamos? Primeiras reuniões nossas eram escondidas. Tinha um setor que hoje não funciona mais na Petrobras, porque é proibido usar o chumbo tetraetila na gasolina. Mas antigamente se misturava o chumbo com a gasolina para poder aumentar a octanagem da gasolina. Porque o chumbo é um produto altamente tóxico, é um produto terrível. Então, o operador que trabalhava nessa unidade, ele trabalhava completamente de branco, porque o chumbo tinha um componente que se ele pingasse, ele fazia uma mancha cor de rosa e você tinha que lavar rápido para não deixar ele pegar na tua pele. Se derrubar o chumbo tetraetila na pele, ele penetra no teu organismo, vai para o teu sangue e nunca mais sai. E se chegar a um acúmulo tal, ele te mata ou te deixa com seqüelas. Então, como era um setor que todo mundo tinha medo de entrar e principalmente os chefes tinham medo de entrar no setor, eu falei: “Lá é que nós vamos fazer as reuniões nossas escondidas.” E às vezes, durante o expediente e principalmente quando eu pegava serviço para fazer de manutenção lá, eu chamava mais um caldeireiro, mais um mecânico, que eram as pessoas de contato. E nós nos reuníamos às vezes na hora do almoço, dentro de uma vala onde tinha os equipamentos. Ou às vezes até na hora do serviço, trabalhando ali e discutindo para formar a chapa nossa, porque lá eu tinha certeza que os chefes não iam. Eles tinham medo. Então, lá a gente fazia as primeiras reuniões nossas.

P/1 –E eram tranqüilos, nunca teve nenhum perigo de...?

R –Não, nunca teve. Só que daí acabou que... Porque uma chapa para concorrer ao sindicato você tem que ir aumentando. Nós tínhamos um número de 24 pessoas, no total. Nós nunca chegamos a esse número da primeira vez, mas tinham lá dez, 12, que a gente já estava organizado e cada vez ampliando mais. Só que ao ampliar mais, aí começam a vir os conselhos, né: “Olha, deixa disso. Isso é perigoso.” E muita gente estava com medo. Resumindo: chegou na época da eleição e eu fui convidado pelos atuais dirigentes para fazer parte da diretoria. Eu falei que eu não queria, que eu não podia, porque eu estava formando a chapa. Eu não podia dizer isso. Só que, de certa maneira, eu não digo que fui traído porque eu entendo que havia um medo e nós não estávamos conseguindo montar de fato a nossa chapa completa. Mas os meus maiores companheiros aceitaram ir para a chapa do pessoal que estava no sindicato. E quando eu fui bater o martelo para registrar, todo mundo falou: “Não, eu já estou na chapa. Eu já estou na chapa. Nós não conseguimos mesmo e tal...” E eu acabei ficando sozinho. Aí eu fui aconselhado por um técnico, um senhor já na época, muito coerente, muito participativo, ele falou: “Stica, vá porque está todo mundo de olho em você. Vá para a chapa do sindicato que você... Está todo mundo de olho. Terminado aqui você vai ser mandado embora.” Aí eu falei: “Poxa, mas eu disse que não ia. Como é que eu vou agora?” Aí veio de novo. Ele falou com os diretores. Vieram me provocar lá para eu fazer parte; acabei entrando. Então, eu entrei no sindicato na primeira chapa em 1981, como diretor de base. Fiquei três anos como diretor de base, mas não me acomodou. Entrei na direção e continuei fazendo trabalho. Falei: “Olha, não dá!” Até tentamos trabalhar junto com o pessoal que nós ganhamos a eleição. Tentamos democratizar... Mas não deu, não foi possível. Era uma outra mentalidade. Aí eu, já como diretor, comecei a formar chapa. Foi um sucesso. Em 1984, ganhamos com uma chapa completamente pura - já filiada a CUT [Central Única dos Trabalhadores], porque a CUT... Eu ajudei a fundar a CUT no Paraná. Ajudei a fundar lá no Paraná e o nosso sindicato foi um dos primeiros dos petroleiros, junto com São José dos Campos, na época, e com Campinas. Entramos na CUT e no sindicato da Bahia - que depois acabou saindo, depois daquela greve de 1983. Aquela greve também foi um carro chefe para nós ganharmos a eleição lá no sindicato do Paraná, para mudar a vida lá, né?

P/1 – O que eu queria entender um pouco é que você diz que do início você quis fazer uma chapa de oposição ao sindicato. Por quê? Você não chegou a especificar o que é que naquele sindicato não estava de acordo, o que é que te desagradava aos companheiros, como é que era esse outro sindicato?

R – Nós chamávamos de “pelegos” [risos] os diretores que tinham medo, que não queriam exercer o seu papel. Tinham medo de entregar o jornal. Tinham medo de discutir. Negociavam com a Empresa. Não contavam a verdade na base. Uma época eu escutei num jornal do meio-dia - eu estava de férias - o nosso presidente do sindicato dizendo que o acordo já estava... “Fechamos o acordo a bom termo.” E nós íamos fazer uma assembléia a noite para dizer se aceitávamos ou não a proposta. Quer dizer, era toda uma falsidade e eu não podia concordar com isso. Então, por isso que eu fiz a primeira oposição e depois pudemos todos... E o sindicato dos petroleiros me deu uma condição muito... de grande aprendizado na minha vida. Porque uma coisa é ser sindicalista, que você tem que defender a tua categoria agora. Outra coisa é ser sindicalista de uma empresa estatal, de uma Petrobras. Petrobras ainda mais difícil porque você é sindicalista e tem que defender o interesse da categoria. É sindicalista da Petrobras, que é uma empresa pública e você não pode... Não é a mesma coisa que você ser sindicalista da metalúrgica ali da esquina, que você faz a discussão com o teu patrão, dizendo “Eu quero isso” e acabou-se. Não. E nós não... Nós tínhamos que fazer a defesa dos trabalhadores e fazer a defesa da empresa, que era estatal e é pública, do povo brasileiro. E mais do que isso, num momento que tínhamos o monopólio estatal do petróleo. Quer dizer, todos os que vinham pregar a quebra do monopólio se aproveitavam... Que uma greve... Eu fiz várias greves, para dizer: “Olha, tá vendo? Tem que acabar com o monopólio do petróleo.” Então, tinha que ter um cuidado muito danado para fazer isso. Foi um aprendizado na minha vida que hoje me dá assim uma condição de negociador, de... Na minha vida, hoje, profissional me ajudou muito. E a relação que eu tenho com a direção da Petrobras até hoje, por conta do respeito que eu tinha e que eu dava. Porque respeito não pode ser de um lado só e o ensinamento que eu aprendi, né? Mesmo fazendo as várias greve que eu fiz, mas também fazia as minhas defesas do monopólio estatal da Petrobras, da Empresa. Enfim, foi um grande aprendizado na minha vida.

P/2 – Quais eram as suas expectativas no momento em que o Senhor ingressou na Petrobras, Senhor Stica? O que o Senhor pensava?

R – Quando eu entrei na Petrobras na verdade, pode ser egoísmo meu, mas eu pensei em mim, né? Eu pensei numa empresa sólida que eu ia trabalhar sem correr o risco de ser mandado embora por questões de oscilação do mercado. Uma empresa sólida e se eu fizesse o meu serviço eu estaria até me aposentar, como de fato aconteceu. Essa era a minha primeira expectativa. Mas, depois que eu entrei na Petrobras, eu comecei a aprender que não, que eu tinha um papel maior a fazer e que essa Empresa é uma Empresa muito atacada. Ela foi muito atacada e é ainda até os dias de hoje. Então, eu comecei a fazer a defesa dessa Empresa. Eu comecei a pensar no coletivo. Tanto é que eu entrei como instrumentista e saí como instrumentista. Não tive nem uma promoção. Assumi o sindicato logo, sabendo que no sindicato eu tinha a minha carreira de certa maneira ceifada. Mas aí o meu objetivo já não era mais o meu objetivo e sim de um conjunto, de uma categoria. Defendendo sempre o que de melhor para a categoria. Procurando fazer com que a Empresa fosse respeitada. E estamos aí. Essa Empresa que é o nosso orgulho.

P/2 – Como se deu a sua indicação para ser diretor de base?

R – Aí foi o... Desde que eu entrei na Petrobras, o espírito de liderança que eu já tinha e que acabou... Os diretores me procuravam para pedir para que eu entregasse aquele jornalzinho escondido e eu comecei a levar o pessoal para o sindicato. Foi uma coisa natural, né, não foi nada de... Não teve nenhuma indicação assim. Foi uma coisa natural da vida. Acho que do meu ser mesmo, né?

P/1 – Explica para a gente assim, eu não entendo muito, como é o trabalho de diretor de base no sindicato? O que que você fazia na época?

R – Diretor de base ele trabalha na unidade fazendo o seu trabalho normal e representa o sindicato. Então, por exemplo, tem lá uma situação que ela está pondo em risco os trabalhadores. Eu, como diretor do sindicato, tenho obrigação de ser o primeiro a dizer: “Olha, isso não pode acontecer. Temos que rever isso e já ligar para o sindicato. Pedir para o diretor vir ali, para negociar.” Tem uma situação em que a hora extra, numa parada de manutenção, termina às 8:00 horas e demora mais meia para o pessoal sair. O diretor de base está lá e está vendo isso. Ele tem que levar para o sindicato ou ele discutir com a diretoria para ver o que mudar para melhorar. É o representante da categoria, trabalhando no local, no local de trabalho. E os diretores liberados, os que estão no comando do sindicato só que fora da unidade, lá na sede do sindicato.

P/1 – Entendi! E nessa época em que o Senhor foi diretor de base tem alguma história que o Senhor lembre, algum momento marcante de uma dificuldade que você teve que levar até o sindicato?

R – Não lembro assim de nenhum... Lembro de uma, mas não sei se chega a ser tão relevante. Era uma parada de manutenção e parada de manutenção você trabalha num outro regime, né, é 24 horas por dia. Então, nós... Doze horas de cada turma, daí passa a trabalhar, porque é em prazo limitado. É cronograma feito, não pode atrasar. E nós estávamos trabalhando até as 20:00 horas, a minha equipe. E uma outra equipe entrava a noite, das 20h até o outro dia. E nós estávamos fazendo um trabalho em cima de uma torre, na troca de um LI - LI é um equipamento que mede nível. E esse equipamento lá em cima da torre, ele fica um LI e um LR que é um registrador. Então, no painel você tem a indicação, que é aquele instrumento eletrônico que manda e te dá indicação, e tem um que registra. Dois equipamentos. Tinha ... Eu não lembro agora qual dos dois que nós estávamos para instalar, mas um estava funcionando, né? E a nossa equipe tinha que subir na torre para instalar, mas já estava chegando perto das 20:00 horas. E aí eu cheguei na... O rapaz que estava junto comigo para fazer, para dar baixa na nossa PT; PT não é partido dos trabalhadores, PT é permissão de trabalho [risos]. E nós fomos dar baixa na permissão de trabalho. E, quando ele foi dar baixa no serviço dele, o operador chefe, e do lado estava o engenheiro, falou: “Não, este LI não pode deixar de ser colocado. Você tem que terminar o trabalho. Você não pode ir embora agora. Nós vamos precisar dele hoje à noite.” Daí eu falei: “Sim. Vocês vão ter ele colocado. O outro instrumentista está chegando, ele começa depois das 20:00 e ele vai continuar.” O engenheiro que estava do lado se meteu no meio e falou: “Não, não! É você que vai fazer e pronto!” Falou para o rapaz que estava com a permissão. Eu falei: “Não, não é ele que vai fazer não. Quem vai fazer vai ser o que vai entrar. Ele está indo embora.” “Não, ele não vai embora não.” Eu falei:“Vai embora sim!” Aí começou a discussão. Daí ligaram para o nosso chefe, que não era o engenheiro chefe do setor, o Adriano, e sim um outro engenheiro que estava de... Prefiro não dizer o nome dele aqui, ele estava de substituto e ele disse: “Não, vai ficar sim.” Mandou ficar e o rapaz ficou. Eu falei: “Então ninguém vai embora enquanto ele não for.” E nós estávamos em oito instrumentistas para ir embora e ele ficaria sozinho para ir mais tarde. E ninguém foi embora. Eu segurei todos os instrumentistas e ficamos lá. E não batemos o cartão. Ficamos esperando até ele terminar o serviço dele, mesmo chegando o instrumentista da noite. E ficamos junto. Lá por 9:00 da noite, não me lembro agora o horário certo, terminou. Nós fomos... Levei um carro. Tiveram que levar todo mundo em casa porque nós ficamos esperando. E no outro dia eu cheguei de manhã e o engenheiro chefe dele já estava voltando para trabalhar, que tinha acabado as férias. E aí eu falei para ele: “Adriano, quero uma conversa com você, na hora do almoço, com todos os instrumentistas aqui e o engenheiro teu substituto também.” Aí, quando chegou na hora da conversa ele falou assim: “Vamos lá, o que é que é? Está tudo bem?” Eu falei: “Não, não está tudo bem. Faltou coordenação aqui.” Daí o engenheiro substituto disse:“Como faltou?” Eu falei: “Faltou sim.” Contei a história e disse: “Olha, isto não pode mais acontecer, sob pena de ter aqui, neste setor, um movimento que vocês vão se arrepender. Porque aqui ninguém é escravo. Aqui tem um regime de trabalho.” E tinha, porque tinha uma pessoa chegando. E o engenheiro nosso não teve competência, capacidade e coragem de enfrentar o engenheiro do setor que exigiu, deixou... Daí, o engenheiro-chefe nos deu razão. Pediu desculpa para o pessoal. Pagaram hora-extra para todos os oito que ficaram lá. Quer dizer, não sei se cabe aí, mas é uma das que eu lembro.

P/2 – E como que era a jornada do regime de trabalho? _________?

R – A jornada de trabalho na Petrobras sempre foi tranqüila: 8 horas diárias. Depois acabava caindo um pouco, acabou diminuindo. Nós sempre fizemos um horário menor: de 44 horas semanais nós fazíamos 40. Então nós sempre trabalhamos já uma carga melhor de horário. Isto acabou fazendo com que criássemos, foi o primeiro talvez no Brasil, o chamado banco de compensação de horas-extras, porque nós brigávamos para não ter horas-extras e para ter um emprego garantido para todo mundo. Mas a carga horária sempre... Só pesava quando era uma emergência ou quando tinha uma parada de manutenção.

P/2 – Quais foram os outros cargos que o Senhor ocupou no sindicato, Senhor Stica?

R – Eu fui tesoureiro do sindicato e fui vice-presidente do sindicato do Paraná. Agora, eu fui da Coordenação Nacional dos Petroleiros. Nós tínhamos, na época, 15 sindicatos de petroleiros no Brasil, depois passou a 17. No começo, nós tínhamos de 84 sindicatos, filiados à CUT apenas o do Paraná, São José dos Campos e Campinas. Porque a Bahia depois da greve trocou e nós ficamos com três sindicatos filiados à CUT. E a maioria eram sindicatos chamados independentes. Depois quando nós tínhamos mais ou menos a metade que era da CUT que nós íamos ganhando sindicatos a medida que o tempo passava. Nós tínhamos o Comando Nacional dos Petroleiros, onde tinha representante dos sindicatos filiado à CUT e dos sindicatos não filiados à CUT. Eu fui por dois anos consecutivos coordenador dos sindicatos filiados à CUT. Um ano eu fui junto com o Mauro, do Rio Grande do Sul, que era dos não filiados. O outro eu não me lembro. Então, são vários sindicalistas: o Maia e tal, que eram do outro lado. Nós tínhamos as duas representações. Tinha outros diretores que formavam esse comando e eu fui do comando nacional. Inclusive no último ano eu fui do comandando junto com Santa Rosa, que hoje é diretor de comunicação. Meu amigo Santa Rosa, que foi junto comigo coordenador do Comando Nacional dos Petroleiros.

P/1 – Como que foi a criação desse órgão dentro da CUT?

R – Esse órgão, no início chamou-se Federação, depois voltou a ser Comando Nacional dos Petroleiros; Petroleiros e Petroquímicos, bem lá atrás. Jacques Wagner que era o Ministro, na época, ele era o sindicalista dos Petroquímicos da Bahia e ele era do comando junto conosco, Petroleiros e Petroquímico. Depois, mais tarde, nós passamos ao invés de comando, Federação Única dos Petroleiros. Aí todos os sindicatos já eram filiados a CUT. Chegamos num momento que todos… Hoje eu não sei se... Não deve ser. Hoje eu não sei, não quero arriscar, mas chegou um momento que nós tínhamos todos os sindicatos filiados à CUT. Aí criamos a FUT, que o Spis foi o grande coordenador por um bom tempo.

P/1 – Agora, dentro do sindicato o Senhor ocupou vários cargos, essa sua trajetória ali dentro, o que é que o Senhor sentiu de modificação no sindicato?

R – Sindipetro Paraná e Santa Catarina é um sindicato muito respeitado, porque nós tiramos a nossa base. Uma base submissa, a base que mandou operadores e outros trabalhadores para furar a greve de 1983, em Campinas, contra vontade dos trabalhadores. Mas por medo, tornou-se uma das grandes lideranças no Brasil, o nosso sindicato. Paraná, no cenário nacional ficou, ainda é, mas ficou por um bom tempo assim, uma grande liderança dos petroleiros do Brasil. E por isso, inclusive, eu fui do comando. O Amadeu que foi o Presidente, Amadeu Francini, foi do Comando Nacional também, numa época anterior a mim. Nós tivemos um grande respeito pelo trabalho que nós exercemos lá. Fizemos um trabalho com seriedade. Nunca, nunca enganamos a categoria. Sempre jogamos muito claro, mas jogamos muito duro. Tem que ser assim. Paramos. Nós tivemos histórias lá interessantes. As primeiras greves nossas... Bom, nós temos uma greve que enfrentamos o exército, à baioneta. Essa tem uma história triste, inclusive. O exército invadiu a refinaria numa greve nossa, que não era nem uma greve na verdade, era uma ocupação. Nós íamos ocupar o refeitório para fazer um protesto que acabou virando depois uma greve. O exército veio... Isso foi... A minha memória já não ajuda. Deve ter sido 1989, 1988. Foi por aí, antes de 90. E esse teve um episódio em que eu presenciei. Teve um trabalhador lá, um senhor já de idade, que ele era caldeireiro, seu Savagim. Nós estávamos todos agrupados aqui dentro da refinaria e o exército invadiu. Os soldados com arma na mão, com baioneta e o filho dele com arma na mão.

P/1 – Do lado do exército?

R – É. Filho e pai, um de cada lado.

P/1 – E aí, conta para gente.

R – Difícil, né? Teve várias lutas assim de greve nossa. Nós tínhamos uma definição, porque a gente jogava com democracia, mas com rigor, né? Nós parávamos os trabalhadores na entrada da BR com a refinaria, que dava um trajeto de mais ou menos 1 quilômetro, quase isso. E nós parávamos e dizíamos: “Bom, quem quiser entrar vai entrar, mas vai a pé. Não vai de ônibus.” Por quê? Porque era o tempo para a gente poder falar para ele ficar na greve. Como tinha medo de ficar, a maioria furava e ia embora, mas ia a pé. E aí, para fazer isso, a decisão que nós tomamos para fazer isso segurar os ônibus, porque os ônibus passavam direto, tocavam em cima e iam embora. Nós falamos: “Ó, vamos parar os ônibus e vai descer todo mundo agora. A partir de amanhã é isso.” - decidiu-se em assembléia. E eu estava em cima de um caminhão de som coordenando. Quando chegou o primeiro ônibus eu falei: “Fechem o corredor, aqui ninguém passa.” Aí fechou aquele corredor humano ali. Parou o ônibus. Aí vinha a polícia, batalhão de choque com cachorro. Mas tirava um, dois policiais tiravam arrastado um trabalhador, um petroleiro. Caíam mais três. Então, eles não conseguiram. Nós éramos um número maior. Os petroleiros iam ficando. Enfim, não passou ninguém. Aí, conseguimos fazer isso. Na época tinha uma diferenciação de ônibus. Hoje já não é mais assim. A Petrobras mudou muito. Hoje todos andam no mesmo ônibus. Antes, o ônibus grande era para os trabalhadores até o nível técnico, e tinham os micro-ônibus para os chefes, os engenheiros. Que era um absurdo! Passava no mesmo lugar, no mesmo trajeto, dois ônibus. Às vezes ia com metade de carga para trazer diferenciado. Acontecia isso na Petrobras, num tempo que felizmente mudou. E aí teve um desses micro-ônibus que era dos chefes e falaram que não iam descer. E ficaram lá. E nós falamos: “Ó, se não vai descer, não vai passar também!” E aí eles começaram a ficar dizendo que não descia, que não descia, que não descia. Eu falei: “Ó, vocês não vão descer,? Vão descer sim! Quer ver como vocês vão descer? Pessoal, eles não querem descer. Vamos virar esse ônibus que eles descem já.” Aí chegou todo mundo em cima do ônibus, começou fazer isso aqui, né? Ah, mas foi rapidinho. Desceu todo mundo. Aí a partir dali, no outro dia ninguém ficava dentro do ônibus. Parava, descia, ia embora, furava a greve, mas ia à pé. Até hoje, na refinaria de Araucária, não entra ônibus se tiver uma...Qualquer movimento! Se tiver uma definição“Amanhã tem paralisação de 2 horas”, param os ônibus. Quem não quiser ficar as 2 horas vai à pé, mas não entra de ônibus. Até hoje é assim. Tem algumas histórias. Tem uma outra história interessante. Teve uma greve geral, e nós colocamos a greve geral para os petroleiros também. E tinha muita empreiteira trabalhando na área, porque eu não sei se estavam preparando uma parada, alguma coisa assim. Tinha muita empreiteira trabalhando. Estava um dia de uma neblina; estava fechado. Eu nunca vi na minha vida tamanha neblina como aquele dia. Você não conseguia enxergar nada na tua frente. Nós conhecíamos muito bem a região, então era fácil. Você ia devagarzinho dirigindo, senão… Mas era carro parado nas ruas, porque estava uma neblina incrível lá naquela região. Era inverno e eu fui, deixei a turma na frente da... na entrada e falei: “Olha, tem uma entrada nos fundos que eu estou pensando em por alguém lá; muito embora hoje não vai ninguém furar por lá porque está muita neblina. É difícil o acesso, ninguém vai por lá. Mas para desencargo de consciência eu vou levar alguns trabalhadores lá.” E era das empreiteiras, a greve das empreiteiras que eu estava coordenando. Eu botei no carro do sindicato quatro pessoas e levei. Quando eu cheguei lá nos fundos da refinaria, eu me desesperei. Eu vi um exército inteiro da polícia militar lá, parado. Um esquema poderoso. Eu falei: “Vai ser por aqui a entrada hoje.” Na época não tinha celular. Não tinha como fazer contato. E aí eu falei: “Agora não dá tempo de eu voltar para chamar reforço. Eu vou ter que segurar aqui.” Não voltei, fiquei ali com aquelas quatro pessoas. E estava aquela polícia enorme ali. Grande, gente... Aí eu fui no Capitão, falei: “Capitão, conversei, acertei ontem com o Comandante, o Major aqui do Comando.” Eu não tinha acertado nada, mas foi uma tentativa que eu fiz, entendeu? E ele autorizou nós cercarmos os ônibus, subir, pedir para o pessoal parar. Quem quiser descer, desce. Quem não quiser, daí vai ficar dentro do ônibus, vai passar. Mas pediram isso: “Então, eu quero que o Senhor não quebre o nosso compromisso com o Comandante lá.” Mas eu não tinha feito nada. Foi a minha única saída que eu tive. Aí ele concordou que eu entrasse. E daí veio aquela fila de ônibus. Vinha, cada ônibus ia um carro da polícia. Um ônibus e um carro, um ônibus e um carro. Eles queriam acabar a greve. Já estava vários dias, era uma greve geral...

P/1 – Em que ano isso, desculpa?

R – Isso... A greve geral deve ter sido em 1988, se não me falha a memória. Foi a grande greve geral que teve no Brasil inteiro.

P/2 – É a mesma que a gente estava falando anteriormente?

R – Não, nós fizemos várias greves, né? Essa foi a grande greve geral no país, não foi só do petroleiro. Aquela do exército foi só dos petroleiros. E essa foi a greve geral. E para acabar a greve geral eles fizeram isso lá na Petrobras. Quando veio aquela comitiva, eu entrei na frente e o Capitão deixou parar o ônibus. Não falou nada, mas deixou. E eu parei, entrei no ônibus. Falei: “Bom, só tem quatro aqui. Tem que descer mais gente para parar os demais.” Aí eu entrei e era o ônibus dos chamados “peões” lá de empreiteira, trabalhador braçal. Eu cheguei, entrei, falei assim: “Olha, vocês sabem que vocês estão entrando pelo fundo da refinaria? Vocês tinham que estar entrando é pela porta da frente. Quem entra pelos fundos é rato. Vocês são homens ou são ratos? Quem é homem desce comigo, quem é rato, entra.” E desci. Foi uma fila, desceu todo mundo do ônibus. Todo mundo desceu. Aí, quando desceu todo mundo, o Capitão desesperou-se. Ele achou que todo mundo ia entrar. E eu cheguei e falei: “Agora vamos fazer aqui para cercar o outro.” Aí, o Capitão chamou toda polícia. Fez um “corredor polonês” para segurar, que ia entrar os ônibus, e começou a tirar o pessoal, tirar. Aí, eu entrei no meio assim, falei: “Venham para cá, venham para cá. Estão rasgando a Constituição!”. Fazendo discurso. Aí veio um soldado, um negrão, nada contra os... Pelo amor de Deus, nada contra os negros, era a cor dele. Eu tenho muitos amigos negros, por isso, por favor, não queiram me acusar de nada, era a cor dele só [risos]. Mas veio o negrão, tinha uns 2 metros de altura e me pegou com a mão aqui nas costas e a outra assim, na minha bunda [risos]. Me jogou no meio do mato, e eu caí no meio do mato. Não pude mais voltar, porque formou um “corredor polonês”. E aí passou todo mundo, passou todos. Acabou a greve. Eu voltei para frente da refinaria, estava um grupo que seguraram lá na frente, eu falei: “Vou liberar esse pessoal para entrar, porque agora não é justo, né?” Aí estava toda polícia também lá na frente e eu estava desesperado, com raiva. Eu fui, imagine, eu fui jogado fora! Aí eu subi no caminhão para liberar o pessoal e a polícia toda assim, enfileirada e os poucos que ficaram fora, eu falei: “Olha, eu aconselho vocês entrarem. Vocês são os heróis tal. Entra porque vai ficar ruim. São poucos, tal, tal e eu quero deixar o meu recado para a polícia...” Aquilo foi indignação. Jamais devia fazer isso, mas eu fiz, no desespero. Eu falei assim: “Rui Barbosa tinha razão: cabeça que entra quepe não tem lugar para a inteligência.” Eu lá sei se Rui Barbosa falou isso, mas eu disse na hora, né? Eu sei que eu tive que sair fugido dali, porque a polícia queria o meu couro, sabe? Então, tem várias histórias assim, que..[risos] hoje é bom lembrar.

P/1 – Com certeza. E o Senhor chegou a sofrer alguma tipo de retaliação nesse período?

R – Não, eu nunca sofri nenhuma retaliação. Até porque dirigente sindical tem uma garantia de emprego, né, não pode ser mandado embora. Está no exercício do mandato e eu também não era bobo. Eu fazia isso, depois eu dava uma sumida. Depois eu ficava fora um tempo, né, porque senão [risos]. .. Fazia outras atividades, né? Mas nunca tive assim nada de mais... Graças a Deus! Ainda bem.

P/1 – Ficava nos bastidores.

R – Era o dia-a-dia. Não. Quando tinha que enfrentar, eu enfrentava mesmo; mas sempre fui... Meu santo protetor é bem mais forte, né [risos] ?

P/1 – Depois de passar lá toda vez e falar com Cristo para entrar na Petrobras, ele continuou [risos].

R – É... é verdade, é verdade. [pausa]

P/2 – Senhor Stica, a gente estava conversando anteriormente com o Senhor Sérgio de Mello, ele estava contando para a gente dos momentos que ele ficava tentando fazer algum shows, alguns movimentos durantes as greves, para poder garantir que o povo continuasse... E ele falou que participou de alguns movimentos até com o Senhor, o Senhor se recorda? Quer contar alguma coisa desse momento? Desse período de greve, para poder impedir que as pessoas saíssem... naqueles... fazendo uns “showzinhos” ali...

R – É, essa era uma prática que a gente usava, né? A gente fazia... Sempre tinha um conjunto, por exemplo, que era ligado à luta. Lá no Paraná, nós tínhamos o Viento Sul, que é um grupo formado por latino-americanos que vivem em Curitiba e tocam nas ruas de Curitiba. E eles eram as pessoas que nos davam a força. Porque, na greve, depois que a greve está em andamento, tinha as equipes de mobilização. Várias equipes que cuidavam, cada uma na sua. Mas, às vezes, a greve é mais fácil do que um movimento de... Por exemplo, greve de 24 horas, que a rigor, sabe que não leva à nada. Não param a refinaria, né? Mas politicamente ela serve para dar uma motivação para o continuar da luta. Numa greve dessas era importante ter um grupo desses se apresentando. Era importante ter alguma atividade para segurar o petroleiro e até para passar a hora mais rápido, porque greve você trabalha dobrado. Até a hora demora mais para passar, sabe, é mais difícil. E aqui no Rio tem uma história interessante minha. Eu acabei saindo uma vez naquelas frases da Folha de São Paulo. Eu estava no Comando Nacional e uma das greves nossas já estava no 35o dia. Estava para acabar a greve, e a greve era das estatais. Estava Caixa Econômica junto, Banco do Brasil parece que estava junto. Teve uma grande passeata na Rio Branco, de todas as empresas estatais. E a passeata ia terminar na frente do... no Triângulo das Bermudas, que é na frente do Edise: Edise, BNDES e Banco do Brasil, né?

P/1 – Vocês chamavam assim?

R – Triângulo das Bermudas, ali [risos]. É porque sumia o salário, sumia tudo na época ali, né [risos] ? Então, nós íamos fazer o discurso ali... Já vinha o discurso acontecendo e nós estávamos no Comando Nacional dos Petroleiros unidos para definir se acabava a greve ou não, porque já estava acabando em vários setores, em algumas regiões e nós no impasse. Chegou lá, eu ia ter que falar. Chego lá: faço um discurso inflamado para continuar a greve e a nossa acaba, ou chego lá e digo que a nossa está acabando e a nossa continua. Então, estava um impasse. E o nosso pessoal ligando para as unidades para saber como é que estava: “Como é que está aí. Tem possibilidade de segurar, não tem e tal?” Era uma tragédia o dia assim. Esse último dia de “acaba não acaba”, é terrível! E nós com a responsabilidade de ficar sozinho, aquelas coisas todas. Aí não dava mais. Eu falei: “Olha, eu vou fazer o seguinte: eu vou para a passeata, pego a passeata de onde ela tiver, vou até o final e quando chegar no final se não tiver uma posição de vocês aqui, eu estou entendendo que a greve mantém. É isso?” “É isso.” “Então está bom.” Fui para lá, cheguei no caminhão de som na Rio Branco: “Já está aqui o Stica, dos petroleiros do Paraná e do Comando Nacional, vai falar como é que está os petroleiros.” Eu falei “Segura, só vou falar lá no final.” Aí, quando chegou na frente do Edise, aí chegou a minha vez. Eu falei: “Eu vou ter que fazer o discurso radical mesmo, né, não tem outro jeito.” Aí fiz um discurso: “Que na Petrobras vocês podem ter certeza que a greve continua. E digo mais, não só continua...” Olhei para cima e falei assim: “Vocês da direção que estão na janela...” Sei lá se tinha alguém na janela [risos], mas eu falei assim: “Vocês que estão na janela escutem o que eu vou falar aqui. Agora nós vamos despressurizar...” Aí, pô, terminou... O discurso foi um negócio aplaudido e tal... “E a greve continua.” Todo mundo: “A greve continua.” Aí a imprensa inteira veio lá: “O que é despressurizar?” Eu falei assim: “Olha, a greve... nós estávamos parados há 35 dias. A unidade está parada, os tubos estão cheios do petróleo e está mantendo a caldeira acesa para o vapor aquecer, para o petróleo não congelar, senão...” Imagine, congelar o petróleo você nunca mais aproveita a tubulação. Vai ter que cortar tudo, fazer uma refinaria nova, imagine! Então, nunca nós deixávamos acontecer isso. Tanto é que sempre mantinha lá, os trabalhadores fazendo a caldeira funcionar. Segurança, tudo isso, né? Mas eu falei que nós íamos parar tudo mesmo: “Agora é a hora do tudo ou nada. Nós vamos descompressurizar.” Eu inventei a palavra. Daí ele quis saber o que era. Quando eu falei isso, nossa, gerou um... E foi frase da Folha de São Paulo, inclusive, sabe? Na época... Bom, daí depois me disseram que no outro dia me procuraram e disseram: “Escuta, não está pintando um novo Lula no sindicalismo?” [risos]. Até falaram assim lá, quando me procuraram no outro dia. Mas, eu já não estava mais. Vou dizer o porquê. Aí, quando eu saí dali e fui para o Comando: “E aí, como é que foi lá?” Eu falei: “A greve continua.” “Beleza! Então, você vai para Duque de Caxias, que estão querendo parar a greve lá.” Aí, eu e mais um sindicalista de Aracaju, Gilvan, fomos para para Caxias. Chegou em Caxias, na Assembléia, um diretor lá na época, tentando mostrar que estava acabando e tal. Aí quando me deram a palavra, fiz outro discurso inflamado. Foi unânime, todo mundo para continuar a greve: “A greve continua.” Beleza! Voltei para o Comando. Cheguei a noite, já cansado, cansado. “Como é que foi lá em Caxias?” Falei: “A greve continua.” “Então vá para o Paraná que a tua base acabou a greve.” [risos] E tinha tido uma assembleia à noite e acabado a greve no Paraná. Aí eu saí cedinho, fui para o Paraná; mas daí não revertia mais, né? Só que não foi só o Paraná, foi o Paraná foi...várias outras começaram a... Pipocou o fim de greve. Aí não teve mais jeito. Acabou a greve e... Mas fiz umas histórias assim.

P/1 – Nem ____ _____ deles, pressurizar, né?

R – Nem deu para dizer que ia despressurizar [risos].

P/1 – Mas conta para a gente, a gente fica falando em greve, greve, mas quais eram as principais questões discutidas dentro do sindicato dessa época? Porquê dessas greves, o que é que estava...?

R – A primeira coisa que move uma categoria é a luta salarial, a briga pelo salário. E claro, não é só o salário. Aí vem assistência médica de saúde, segurança no trabalho, condição de trabalho... Envolve... Os itens que a gente trazia eram mais de 100 às vezes. Inclusive defendendo a Empresa. Por exemplo, começou uma época a aumentar a terceirização. Tinham algumas áreas que não podiam ter terceirização, porque era muito risco. O petroleiro tem que ter um treinamento muito grande, a área é área de risco, né? Então, nós levantávamos isso. Corte de pessoas. Tinha momentos em que cortavam pessoas e nós achávamos que não poderia cortar, porque era melhor ter uma pessoa a vida toda na Petrobras sem fazer nada, do que não ter essa pessoa e acontecer um acidente. Eu vou dar aqui um exemplo para vocês: em 2000 teve um grande derramamento de óleo lá no Paraná, quando vazou e foi no Rio Barigui e atingiu o Rio Iguaçu. Terrível esse derrame que teve lá. Por que é que aconteceu esse derramamento de óleo? Primeiro, tem várias... Teve falha até humana nisso tudo. Mas... Vamos aceitar que teve falha humana, que teve erro, que teve tudo. São Francisco do Sul quando mandou e estava fechada a válvula do tanque que receberia na Araucária. Tinha uma válvula que era um by-pass, que foi retirado para a manutenção há muito tempo, há alguns meses, e que não foi feita a manutenção - por falta de mão-de-obra, ou por algum outro motivo. O flange, era um flange sanfonado que acabou arrebentando com a pressão. E deu o vazamento de petróleo antes de chegar na cerca da entrada da refinaria, no mato. Você sabe que se não tivessem tirado, por economia, um vigilante que fazia exatamente o serviço de circular de tempo em tempo. De hora em hora, duas horas, duas horas, circular em torno da refinaria, esse vigilante teria visto esse vazamento muito antes, porque ele vazou horas e horas. Quando perceberam que vazou, já estava no rio. Já tinha... Foram milhões, foi litros e litros. Se tivesse esse vigilante, ele tinha percebido o vazamento e tinha chamado atenção. Então, veja. Esse vigilante, se ele ficasse a vida toda rondando e nunca tivesse nada, só esse dia já valia toda a sua vida e muito mais, muito mais. Então, essa são as coisas que a gente também brigava, sabe? Agora, tem história boa nossa de sindicalista, que foi o defensor do monopólio estatal do petróleo. Eu, em particular, fiz muito isso. Viajei esse Brasil fazendo palestra, mostrando a importância do monopólio estatal do petróleo, tanto é que até hoje quebraram o monopólio. Taí, quem é que segura a economia do país? É a Petrobras. Quem é que garante o óleo diesel? É a Petrobras. Quer dizer, importa. Até que ela não precisava. Se ela for agir como Empresa... Hoje, nós refinamos cerca de 1 milhão e 750 mil barris de petróleo. Mas poderíamos produzir 1 milhão e 750 mil, que já produzimos e éramos auto-suficiente, né? Nós importamos óleo diesel. Nós importamos petróleo para poder dar demanda de óleo diesel e sobra gasolina. Vendemos mais barato para fora. Quer dizer, a Petrobras não age só como empresa, ela age como empresa como se tivesse o monopólio ainda, porque ninguém faz isso por fazer. Então, nós estávamos certos na manutenção e felizmente, depois que o Lula foi eleito, segurou, porque não só acabava o monopólio, iam vender a Petrobras. A Petrobras ia ser privatizada, estavam esfacelando. Graças a eleição do Lula é que seguramos essa Empresa para o povo brasileiro e é o orgulho que é até hoje.

P/2 – Senhor Stica, deixa eu fazer uma pergunta para o Senhor. Quando foi que o Senhor saiu da coordenação do comando nacional?

R – Eu devo ter saído 1990, 1991. Essa data ainda para mim não está aqui muito... Entre 1988 e 1990, ou 1989 e 1991, foi que eu fiquei no comando geral dos petroleiros. E aí eu fiquei no sindicato até 1992, quando eu fui eleito vereador em Curitiba, que eu me afastei daí do sindicato.

P/2 – E porque o Senhor saiu da coordenação?

R – Nós fazíamos cada ano... Cada ano tinha um congresso e nesse congresso escolhiam uma nova direção. Eu fui indicado pelo Paraná nos dois anos seguintes e... Não dá, fica viajando muito. Teve uma das greves que eu tive que fugir uma noite daqui. Peguei um vôo, dormi em casa. No outro dia, cedo, voltei para o Rio, porque não dá para você passar 20, 30 dias longe da família. Então, é muito sacrificante. Tem que dividir um pouco com os outros também. Eu acho que quem mais tempo ficou na coordenação foi o Spis, depois, ficou maior período. Mas eu não tinha essa condição toda não.

P/2 – Conta para a gente como é que foi o período que o Senhor estava como diretor/tesoureiro. Como é que foi esse período, quais foram as reivindicações...

R – Na verdade, tesoureiro era o nome, porque eu nunca exerci a tesouraria [risos]. O Amadeu, que era o presidente, ele fazia também a tesouraria, porque, primeiro, eu não gostava de ficar atrás de uma mesa. Eu era o diretor que gostava de ir na área; então, todo dia eu estava na área. Estava na Repar. Eu ia para São Mateus, no Sul, no Xisto, ou ia em Paranaguá que é terminal nosso. Ou ia em São Francisco do Sul, em Santa Catarina, outro terminal. Eu ficava visitando as bases. Eu gostava disso. Ficava conversando com os trabalhadores. Eu era o sindicato dentro das unidades, era o meu papel. O Amadeu, coitado, ia pro sacrifício. Além de ser o presidente, ficava fazendo a tesouraria para mim [risos]. Que eu nunca gostei dessas coisas não. Era mais para preencher cargo, para poder ser liberado.

P/1 – Dentro dessas reivindicações que vocês discutiam, o que é que o Senhor considera a maior vitória do movimento sindical durante a sua trajetória? Ou alguma coisa que vocês não conseguiram. O que é que o Senhor destaca desse período?

R – Puxa vida, tivemos tantas vitórias. Não saberia te destacar, né? Ah! A maior vitória que tem até hoje... O pessoal que trabalha em plataforma e que fica confinado, eles trabalhavam 14 por 14 (14 dias no mar e 14 dias em terra), daí livre. Se você pensar do ponto de vista de horário de trabalho, horário de descanso, é uma boa escala... Se fosse aqui. Mas não é. Você está no meio do mar. Imagine 14 dias no meio do mar, vendo água por todos os lados, numa ilha de ferro. Com pressão, com tensão, com medo de uma explosão. Como já tivemos, vidas foram ceifadas em plataformas, né? E nós conseguimos mudar. Numa época que a gente conseguiu o 5o grupo para quem trabalha em turno nas unidades de terra, e conseguimos mudar 14 para 21 dias de folga, para quem está em plataforma. Esse foi um grande avanço para os petroleiros. E tivemos outros. Tivemos manutenção da Petros. Tivemos manutenção da assistência médica para os petroleiros, que tem até hoje. Várias conquistas.

P/1 – Vamos entrar, então, na questão do monopólio. Conta para a gente como é que foi esse movimento, quais foram as maiores dificuldades encontradas. Como é que isso se pôs como uma bandeira?

R – O monopólio do petróleo sempre foi atacado. Ele foi muito atacado pelo Collor. Nós, na época, nos mobilizamos para evitar a quebra do monopólio que ia ser votado e foi votado em Brasília. E fazíamos palestras, porque a população, na verdade, já tinha esquecido o passado: “O petróleo é nosso.”, aquela luta “O petróleo é nosso”. Então, no Paraná, por exemplo, eu levei por inúmeras vezes o saudoso Eusébio Rocha, que, quando deputado constituinte, ele que fez o substitutivo da lei 2004. E ele ia lá, já com idade avançada, mas de uma garra, de uma fibra. Nós percorremos várias cidades do Paraná em escolas, em Câmaras Municipais, fazendo palestras, levando o Eusébio para falar. Eu mesmo ia a várias escolas, em várias câmaras fazendo e pedindo assinatura de vereadores, de prefeito, abaixo assinado. Foi uma luta muito grande. Fiz várias palestras em outros sindicatos de outros estados e tivemos em Brasília, nos deputados. Fizemos uma turnê em Brasília, teve uma equipe, essa eu não participei. O Erasmo, que trabalha também na comunicação social da Petrobras hoje, na época, ele era - se eu não me engano - demitido da Petrobras numa greve e nós bancamos o salário para o Erasmo ficar em Brasília. O Erasmo ficou em Brasília, morando em Brasília, para fazer gabinete para o gabinete. Acho que a pessoa que mais conhece Brasília hoje é o Erasmo, porque fez todos os gabinetes dos parlamentares pedindo o apoio, mostrando... Nós fazíamos dossiê, fita, mostrando a importância da Petrobras para o Brasil. Mostrando a importância do monopólio estatal do petróleo, mas não tivemos êxito e o maior ataque ______ ____ não tinha greve, né? Chegava a greve: “Viu, tá vendo? Os petroleiros já dominam a Petrobras, querem dominar o Brasil. Tem que acabar com o monopólio.” Então, pegava muito essa coisa. Tivemos vários embates nesse sentido.

P/1 – Isso enquanto sindicalista?

R – É.

P/1 – E como que foi a sua eleição para vereador?

R – Nós discutíamos inicialmente lá no Paraná que tinha que ter uma candidatura a deputado federal nossa, petroleiro. Para ter, lá em Brasília, para poder defender o monopólio do Petróleo, para defender a Petrobras. E o primeiro nome que surgiu na época foi o do presidente do sindicato, o Amadeu. Eu inclusive achei que o Amadeu devia ir. Não tinha... Eu não tinha, na verdade... O seguinte, vou pensar um pouco em mim. Eu não tinha vontade de sair. Se eu fosse eleito, ir morar em Brasília. A minha família não ia para lá. A minha mulher é filha de militar, viajou a vida toda e ela reclama que nunca pode fazer amizade sólida, porque sempre estava num lugar ou outro. E ela falou que não queria isso para os nossos filhos. E como eu sabia que se eu fosse para Brasília eu tinha que ir sozinho, eu não queria ir. Então, o Amadeu vai [risos]. E o Amadeu se candidata em 1988... 1989 a eleição, ele se candidata. Mas não fomos felizes, né? Não tinha dinheiro, não tinha experiência, nada. Foi uma candidatura muito apagada. Não tivemos condição nenhuma. Aí, já em seguida... “Bom, vamos fazer a candidatura a vereador. Daí, depois de vereador, deputado federal.” Aí o Amadeu não quis, surgiu meu nome. Eu falei: “Ah, vereador tudo bem, eu topo. Eu gosto de discutir política, tal. Vereador, eu topo. Até lá meus filhos já crescem, quem sabe eu convenço minha mulher a ir para Brasília e tal...” E os petroleiros fizeram 90% da minha eleição. Bom, antes disso tenho que falar que eu fui candidato a vereador em 1988.

P/1 – Antes do Amadeu?

R – Antes do Amadeu. Distrito Federal. De federal ia ser 1990, 1989 para 1990. A campanha 1989 para eleição em 1990. E eu fui em 1988 para vereador, que vereador eu queria. Eu fui bem votado, mas só pelos petroleiros. Eu não fiz campanha fora. Nós estávamos em greve [risos]. Eu ficava na greve, não ia fazer campanha, tal. Eu fui bem votado, mas fiquei na suplência. Acho que terceiro ou quarto suplência. E aí não quis sair para federal, daí o Amadeu saiu. Na outra eu saí de novo para vereador e fui eleito. Fui eleito vereador lá no Paraná, em Curitiba. Aí me afastei do sindicato, que eu não queria ficar diretor e vereador, porque não ia fazer nenhuma coisa bem feita. Saí como vereador em... Assumi em 1993. Em 1994, teve eleição para federal, para deputado, para governador. Aí o meu nome foi exigido que eu assumisse para federal. Eu falei: “Saio, não tem problema.” Saí com 2 anos de vereador para ser candidato a federal. Uma campanha paupérrima. Hoje a gente dá risada de ver a campanha que nós fizemos. Sem dinheiro, sem recursos. Pedindo para cada petroleiro mandar uma carta para amigo, para parente na cidade que ele tem, pedir para que algum parente dele votasse no Stica, tal, tal. E olha, fizemos... Brincadeira, fizemos 18 mil votos, que foi uma enormidade. Fiquei primeiro suplente, elegeu três pelo PT do Paraná. Os três que se elegeram fizeram... O Padre Roque que foi federal, hoje é secretário lá, fez 20 mil e 600 votos. Paulo Bernardo, que é deputado federal ainda hoje, fez 19 mil e poucos votos. E o Nedson, que é prefeito em Londrina, fez 18 mil e poucos votos. Foi uma votação estupenda pelo tamanho da campanha nossa. Aí fiquei primeiro suplente. Quatro anos no PT, ninguém troca [risos]. Aí depois saí de novo no meio, com reeleição para vereador. Dobrei a minha votação de novo. Em 1998, nova eleição. Daí, nós já tínhamos perdido o monopólio estatal do petróleo. Falei: “Bom, não tem mais monopólio do petróleo, não justifica mais ir para Brasília.” Nunca queria ir para Brasília, né? Falei: “Não justifica ir para Brasília; então saio estadual.” Comecei trabalhar para sair estadual. Chegou na última hora, faltando aí um mês e pouco da campanha, alguns petroleiros disseram: “Não, o Stica tem que ser... Nosso projeto é federal.” Aí eu me rendi: “Tá bom, saio de novo.” Fiz 28 mil e tantos votos, de novo fiquei suplente. Paulo Bernardo ficou primeiro suplente nessa com uns 30 mil votos, 30 e poucos mil. Eu fiquei em segundo suplente, com 28 mil votos. E continuei vereador em Curitiba [risos]. Aí fiquei vereador por três mandatos, na verdade, dois e meio. Na metade do segundo eu fui... Daí eu falei: “Agora, cumpri o meu papel. Não me peçam mais. Eu quero é ser deputado estadual...” E tinha tudo para ser federal, porque faltava nomes em Curitiba. E aí eu saí e fui eleito deputado estadual, bem votado. Já tive a oportunidade de assumir a vice-presidência da assembléia. Depois fui chamado pelo Governador Requião para ser o líder do governo. O PT ajudou a eleger o governador lá e eu assumi o desafio. Eu, hoje, sou líder do Governo Requião lá no Paraná. Ah, não perderam a esperança que eu vá para Brasília ainda. Estou repensando, porque agora meus filhos todos estão adultos já. Meu filho já é geólogo, tem 25 anos. A minha filha já tem 23, é atriz inclusive, trabalha na TV lá no Paraná. E o meu caçula já está com 21 anos. Quer dizer, agora até já estou repensando. Pode ser que na próxima eu aceite aí a ajudar os petroleiros, indo para Brasília.

P/1 - ______

R – Não é certeza, mas a minha vontade é continuar como deputado estadual. Essa é a minha vontade. Já estou fazendo 52 anos neste Natal, tenho que dar uma acalmada, né [risos] ? Vai ser muito difícil. Tomara que não escutem, não assistam essa fita para não tentar me convencer [risos] [Pausa]

[Fim da fita HV/2004-11-01]

[Início fita HV_11-02]

P/1 – Bom, Senhor Stica, o Senhor estava falando da sua trajetória enquanto vereador. Foram três reeleições nesse período todo, quais as lutas, as principais lutas enquanto vereador? O que a sua trajetória enquanto sindicalista influenciou nessa sua...?

R – Olha, como vereador tem alguns projetos que me ajudaram até pelo meu passado, né? Um grande projeto que eu tenho, que se tornou lei, foi a proibição do self-service em postos de gasolina. Começou uma onda no Brasil e começou por Curitiba. Tem até uma____ que as coisas: se estão na dúvida, começam em Curitiba; se dá certo, joga para o resto do Brasil.

P/1 – Por quê?

R – Eu não sei. Até na moda criou-se uma cultura assim. Não sei se é pela exigência... E o self-service começou justamente por Curitiba. As companhias, na época a Shell e a Esso, começaram a jogar pesado, principalmente a Esso, no self-service. E, como eu fui frentista de posto de gasolina, eu sei que o frentista normalmente ele não tem uma outra profissão. Isso ia gerar um desemprego muito grande. Aí eu conversei com o sindicato dos donos de postos. O Roberto Fregonese me ajudou muito. Ele teve entendimento também de que não era bom para os donos de postos, porque se o posto não tem frentista, tem a bomba de autoatendimento, e o seu trabalha com frentista, você vai ter um lucro menor do que o dela. Vai pagar a mão-de-obra, ela vai poder vender um pouquinho mais barato do que o teu. Mas isso no primeiro momento, porque, depois, você ou acaba ou tem que fazer também self-service, a concorrência desleal. E ia gerar o desemprego, né? E nós começamos a fazer uma luta lá. Eu fiz o projeto proibindo. Estava dando inconstitucionalidade do projeto, porque se tratava de energia - que é combustível - e, portanto, não podia. Tinha que ser... Em Brasília, nós mostramos que não era só a questão da energia, que era principalmente segurança. Mostramos isso lá. Temos foto que nós tiramos de uma senhora abastecendo o carro e ensinando o netinho a abastecer o carro. O netinho inalando os gases que saem do tanque quando está abastecendo. Então, umas loucuras assim, que a gente viu. E no momento, nós jogamos tão duro... Porque as companhias não queriam e nós jogamos tão duro. Eu botei caminhão de som em frente a um posto e fiquei fazendo panfletagem em cima do som falando, e o pessoal panfletando para quem entrava e saía do posto. E no momento eu cheguei, joguei um panfleto que ele tinha assim: de um lado um frentista com o bico da mangueira e o bico da bomba na mão, dizendo: “Antes era assim.” E aí, do outro lado: “Agora vai ficar assim.” Aí, o mesmo frentista com o revólver na mão, porque ele estava desempregado. Mostrando no que ia dar. E aí mostramos quanto representava desemprego. Mostrando para o motorista que ia abastecer, porque faziam filas no self-service. Eles vendiam bem mais barato para fazer fila mesmo. E lá mostrando que aquilo era só no começo, que depois ia ficar tudo igual. E foi uma luta, uma luta mesmo. E nós conseguimos fazer, aprovar lá em Curitiba, como lei. E eu mandei para Brasília, para vários deputados e o Aldo Rebelo, do PC do B, fez e aprovou a lei também em Brasília. E depois, Fernando Henrique Cardoso entendeu, teve entendimento, e sancionou e hoje é proibido no Brasil todo. No Brasil, mais de 350 mil frentista têm um emprego graças a essa lei que começou lá, numa luta nossa. Então, foi uma coisa boa.

P/1 – Ainda bem que foi em Curitiba, então, né?

R – E na área, também, eu fiz várias leis com o gás natural. Por conhecer um pouco da área, eu fiz... Antes de nós já termos o gás natural da Bolívia, quando se discutia ainda, eu já fiz uma lei que garantia que os edifícios que fossem ser construídos tinham que ter tubulação tanto para GLP como para gás natural, para poder deixar opção quando um dia passasse na frente. A lei foi, mas não exige. Não cobraram, não oficializaram. Hoje, estão sentindo falta de ter colocado em prática a minha lei. Passa tubulação e muitos não podem usar, porque não tem a tubulação pronta no edifício. Alguns ainda fizeram, né? Também fiz a primeira lei lá em Curitiba, do ônibus à gás natural que ainda não funcionou. Agora vai, porque fizemos uma lei no Estado. Acredito que agora vai funcionar. E, na área nossa, várias leis aí que a gente pode ajudar, né? Fiz leis que regulamentaram... Eu digo que elas... Não sei se hoje, mas na época nós tínhamos a melhor lei feita para tancagem em posto de gasolina, com segurança, para não deixar vir para o meio-ambiente vazando; porque tudo é na área que eu conheço, trabalhei. Então, são coisas que ajudaram muito o meu dia-a-dia lá.

P/1 – E o Senhor manteve um diálogo com o sindicato...?

R – O diálogo com o sindicato eu mantenho até hoje. Com a categoria é que eu estou em débito, porque a gente vai cada vez entrando numa bola de neve. Quando eu era vereador, eu ainda tinha condição, no começo, de fazer visitas na área. Teve uma época que eu fazia todo mês. Religiosamente, eu fazia uma ida na área. Então, eu pegava três, quatro dias. Ia na área,b visitava pessoal de turno, pessoal... Agora, faz anos que eu não entro na área, porque a minha vida também atribulou-se demais, né? E agora, como líder do Governo então, nem se fale. É uma loucura e “casa de ferreiro, espeto de pau”, a gente vai deixando os mais chegados, né? Então, hoje eu estou em débito, no dia-a-dia, com a categoria. Mas eu acompanho, praticamente, todos os movimentos. Faz uma mobilização, estou eu lá junto. Assembléia eu procuro participar. Tenho estado nos grandes momentos. No dia-a-dia, infelizmente, não dá mais.

P/2 – O Senhor falou para a gente ______ _____ eleição, teve essa pressão para tentar ser deputado federal... A que é que o Senhor atribui essas vitórias?

R – Eu atribuo ao trabalho da minha equipe, ao nosso objetivo que a gente fez, né? Eu fiz uma maneira de mandato um pouco diferente. Qual é a cultura do povo brasileiro? O político, o vereador, ele tem que fazer tudo. “Ah, o vereador vai resolver para mim o problema do bairro. O vereador, se eu pedir, ele faz. O vereador tal.” A rigor o vereador não tinha que fazer essas coisas. Para isso têm o secretário de obras, secretário de educação, secretário de saúde. O vereador, o que ele tinha que fazer, na verdade, é leis e fiscalizar o poder executivo. É só isso. Só que a cultura é essa. E daí quem não faz, não se reelege. Então você tem que fazer. Só que eu fazia assim: como eu era de oposição - fui a vida toda de oposição [risos] - os pedidos nossos, normalmente, para sair era uma coisa muito difícil. Eu sempre trabalhei muito, sempre. Eu cumpria os meus mandatos trabalhando mesmo. A minha equipe trabalha bastante. Então vinha os pedidos, o que é que eu fazia: “Eu vou ter que aproveitar para poder reeducar também. É pouco, mas é o que eu vou fazer.” Então, por exemplo, alguém dizia: “Stica, eu quero que você faça... lá na minha rua está muito esburacada. Lá a valeta está a céu aberto. Lá não sei o quê.” Eu dizia assim: “Tá bom, então vamos fazer o seguinte: vamos fazer o pedido, eu vou te mandar a cópia do pedido e vou mandar resposta. Se a resposta da Prefeitura for não, nós vamos ter que chamar os moradores, tá bom?” Ou então eu dizia: “Então, chama uma reunião, eu vou falar com os moradores para fazer a reivindicação.” Chamava dez, 15, 20 na casa, explicava para eles como é que eu ia fazer. Mandava, eles recebiam. Quando vinha... Eles têm que me dar a resposta, né, porque tudo me dava resposta. Se a resposta era não, qualquer coisa parecida, eu ligava: “Olha, chame outra reunião, que agora tem que tomar outra medida.” Aí eu dizia: “Olha aqui, foi feito o pedido. A resposta é essa, não vão fazer. Agora vocês têm que dizer o que vocês querem. Eu ajudo vocês, já saiu da minha... O que eu podia fazer, eu já fiz. Agora eu só posso ajudá-los.” Então, ia desde... E eu sempre sugeria por etapas. A gente aprendeu isso no sindicalismo, né? Então eu aprendia por etapas: “Agora vamos fazer o seguinte: tirem uma comissão. Dois, três me acompanhem e vamos lá no secretário para vocês falarem para ele que precisa.” Aí, se era da área da secretaria de obras, ia lá no secretário. Chegava lá, dizia: “Secretário, esses aqui são representantes dos moradores. Fizemos uma reunião 200 – se era 20 dizia que era 200 – e estão aqui representando os moradores e não estão contentes com a sua resposta. Fale para eles o que o Senhor vai fazer.” E aí começavam a discutir morador e o secretário. Às vezes resolvia, às vezes não resolvia. Se não resolvia, qual era próxima medida? Junto com os moradores. Até, por exemplo, queimar pneu e fechar a rua, se fosse o caso. Então, era uma maneira de ensinar. Bom, se saía eu era o herói. Se não saía: “É, o companheiro nosso esteve junto.” Então, era uma receita para a gente ter voto... E você estava trabalhando, saindo ou não. Então, foi essa maneira nossa de trabalhar com a equipe que acho que sempre garantiu as reeleições nossas.

P/2 – E como deputado estadual, o que é que o Senhor pode apontar para a gente que foram as principais lutas que o Senhor tenha participado exercendo esse cargo?

R – Eu tenho uma luta ainda minha de vereador . Eu ainda não consegui concluir e não sei se vou conseguir concluir como deputado, porque a pressão é muito grande. Eu tenho um projeto polêmico, que vem desde quando eu era vereador. E é bom que se fale nesse projeto; pode ser que algum Estado queira fazer também. O meu filho que tem 25 anos, quando ele tinha 17 anos, um dia eu estava fazendo um carninha lá em casa e eu ofereci uma cerveja para ele; ele não quis. Eu falei: “Você não quer porque sou eu, ou porque você nunca bebeu?” Ele falou: “Não, uma cervejinha a gente toma.” Eu falei: “Mas você é novo para tomar, como ...?”, “Ah, pai, a gente sai aí nas ‘nightseiras’.” Olha o termo que ele disse: “nas ‘nightseiras’ e paga consumação.” Ele falou na época assim:“Eu não vou deixar 10 reais lá. Eu não tomo 10 reais em coca-cola. Não vou deixar 10 reais lá, sem pegar o troco de volta. Daí a gente pede uma cerveja que é um pouco mais caro.” Aí eu falei: “Caramba, isso está errado, né?” Conversando com ele ainda, falei: “O que é que você acha?” Ele falou: “Ó, ninguém vai gostar, dos jovens. Mas se fizer, é uma boa.” Porque, de fato: consumação mínima obrigatória, olha que nome. Você obriga a consumir alguma coisa, né? E aí eu fiz uma lei proibindo a cobrança de consumação mínima em casas noturnas e danceterias. E eu tenho dito o seguinte: casa noturna cobra a entrada, o ingresso, venda a melhor luz, o melhor show, enfim. E bebe, quem quiser beber. Eu bebo. Eu chego lá, se eu quiser, eu vou pedir um, dois, quantos whyskies eu quiser. Mas é eu que tenho que pedir. Eu não posso me pautar porque eu tenho que... Eu paguei hoje 30 reais de consumação mínima. Se eu não consumir, eu vou perder; então eu vou beber. Eles não podem fazer isso. E olha, estou tendo uma dificuldade tão grande, tão grande.

P/1 –Por quê?

R – Os donos de casa noturna fazem um lobby danado e não consegui aprovar isso na Câmara. Agora estou com briga no Estado do Paraná. Essa é uma briga que eu estou fazendo.

P/1 – Além dessa, tem algum outro projeto futuro?

R – Tem um projeto que é... Teve uma lei que não pegou lá no Paraná, que é proibir a venda de bebidas alcoólicas nas lojas de conveniências dos postos. Eu mudei essa lei achando que ela ia pegar, mas não ainda não pegou também. Eu mudei para não proibir a venda, proibir o consumo. Por quê? Porque na loja de conveniência o cara para para abastecer. Ele aproveita e já compra a cervejinha, o que ele quiser, e já vai para casa e vai tomar sua cervejinha lá. Facilita. Só que... E o consumo muitas vezes não é comprado ali no local. Os jovens, o que é que eles fazem hoje? Eles param, vão no mercado que é mais barato. Vem, abre o “capozão” do carro, tem o isopor cheio de gelo, com cerveja. E fica aquela rodinha no posto, tomando e bagunçando. Outros saindo acelerando, prejudicando quem mora próximo do posto, por causa da bagunça e pior, enchendo a cara e saindo fazendo racha na noite. Então, o que é que eu quero evitar? O consumo no posto de gasolina. Se ele quer beber, ele que vá lá no barzinho e beba. Se ele quiser comprar ali para levar embora, ele que compra. Mas ali não é lugar, num posto de gasolina, fumando do lado das bombas, bebendo, sabe? E falta o quê? Fiscalização, porque alguns postos estão levando a sério. A maioria não estão, então, precisa fiscalização. E aí tem vários projetos assim. Não preparei até para trazer, mas temos inúmeros projetos. Eu tenho um projeto que eu fiz quando era vereador, que esse, lá no Paraná, pelo menos pegou. Tinha uma mania de se abrir jornal para ver classificados, onde dizia lá: emprego, há vagas disso, disso. Exige: boa aparência mais não sei o quê, não sei o quê. Boa aparência? O que é que é boa aparência, né? E uma pessoa que está sem trabalhar há um ano, desesperado, se vestindo mal porque não tem condição nenhuma? Às vezes um dente mal tratado, um cabelo mal cortado porque ele está numa situação terrível e aí, sabe? E boa aparência também para quem? Um negro não tem boa aparência, porque é negro? Aos olhos de quem é boa aparência? Eu fiz um projeto acabando com o termo “boa aparência” e conseguimos lá. Nenhum anúncio hoje, pelo menos no Paraná, coloca essa exigência de boa aparência.

P/1 – Pelo menos no papel [risos].

R – Que nós tínhamos uns absurdos, né, elevador social onde proibia a empregada doméstica usar. Tinha edifícios em Curitiba assim. Fizemos uma lei proibindo a discriminação do uso dos elevadores, que funcionam até hoje lá. Então, fizemos um trabalho grande, principalmente, da área social. Eu sempre tive um trabalho com as comunidades sociais, associação de moradores.

P/1 – Senhor Stica, você olhando para o sindicato atual da Petrobras, o que é que você sente de mudança em relação à época que você atuou?

R – Em relação a Petrobras... Bom, tem dois tipos de sindicato: o da Petrobras e o sindicalismo de um modo geral. Se a pergunta for do sindicalismo de um modo geral, tem que dar uma reciclada. A relação capital-trabalho que nós aprendemos na nossa época de sindicalismo, ela é outra hoje. Nós vivemos num momento de democracia, num momento de negociação, num momento de crescimento. A relação era outra, ela tem que se dar numa modernidade. Eu não tenho a receita, mas eu acho que tem que se discutir muito qual é o papel do sindicalismo hoje, no Brasil. E, vindo para a nossa área, para os petroleiros, está muito mais fácil. A direção da Empresa tem se pautado pela negociação. Eu, nessa última greve, fui numa das assembléias dizer que estava ali em nome do Lula. Pedir para parar a greve lá do Paraná. Encontrei o Lula em Londrina, ele falou: “Olha, Stica, vocês têm que pedir. Há aí um grupo querendo fazer o terror e não é. Nós negociamos tudo isso. Estamos abertos para o diálogo, mas não desse jeito. E eu vou endurecer com os petroleiros. Não vou dar privilégio para petroleiro, em relação aos demais. É um momento que precisa crescer todo mundo junto e de sacrifício de todo mundo.” Eu fui transmitir exatamente isso na nossa assembléia. E nessa conversa com o Lula eu tinha feito uma ponte com o Comando Nacional - inclusive com o Carrara, que vocês entrevistaram aqui - garantir uma reunião do Carrara com a Fup lá, em Brasília, com o Ministro Dulce para poder discutir a negociação nossa. E foi o que acabou dando sucesso para a negociação. Então, a relação é muito boa na empresa. A relação hoje, ela se dá diferente dos tempos que nós passamos lá atrás.

P/2 – O Senhor fala em relação ao Sindicato-Petrobras?

R – É, a Petrobras evoluiu muito, a direção... Bom, José Eduardo Dutra foi sindicalista, é o Presidente. Hoje, tem diretores que já foram sindicalistas. Então, é uma facilidade de negociar, de conversar. Claro que a base exigente, às vezes extrapola. Mas fica mais fácil. Eu acho que está indo muito bem a relação sindicato e empresa. Está muito bom.

P/1 – E as lutas hoje do sindicato são parecidas com as lutas da época do Senhor, o que é que teve de modificação nas reivindicações?

R – Veja, não nas reivindicações porque sempre vai ter reivindicação, né. Sempre a empresa vai estar vendo com os olhos de empresa e o sindicato com os olhos do trabalhador. Então, sempre vai ter uma diferença que... Qual é o papel do sindicato e da empresa? A empresa com caráter democrático, como eu estou dizendo que tem hoje, o papel é diminuir essa distância, essa diferença que tem. Fazer com que se aproximem mais. Eu acho que estão conseguindo cumprir o objetivo.

P/2 – E o Senhor tem alguma outra história assim que o Senhor queira destacar em relação a esses movimentos sindicais que o Senhor tem participado?

R – Puxa vida, eu não me preparei para fazer. Eu achei que a entrevista era uma coisa muito rápida. Se eu soubesse que tinha todo esse tempo, eu tinha pensado e lembrado, porque eu tenho muita coisa da história da gente. Só que eu não parei para me...

P/1 – Quando o senhor foi do Comando, como é que eram as eleições para os representantes dentro da CUT? Como é que funcionava isso, a relação da CUT com a coordenação, com os sindicatos, com as categorias...?

R – O grupo que era dos sindicatos da CUT já tinha uma coordenação separada. Depois, no Comando ficaram juntas. Mas nós com a nossa lá da CUT. O que é que nós fazíamos? Cada sindicato que não era da CUT, nós criávamos uma oposição e ajudávamos a oposição ganhar o sindicato. Era mais um que vinha para a CUT. Então, por exemplo, o sindicato de Santos, nós ganhamos. Foi uma luta para ganhar. O Rio de Janeiro, Sindipetro-RJ, nós ganhamos com o pessoal da CUT. E fomos ganhando um a um, um a um. Sempre aproveitando o pessoal da oposição que se formava, que nascia e nós dávamos todo apoio. Quando eu era do Comando, às 5:00 horas da manhã, 5, 5 e meia da manhã, nos acordávamos no hotel. Por exemplo, o Maurício, que hoje é da Petros, ele era oposição do Sindipetro Duque de Caxias e RJ, já estavam juntas as duas oposições. Eles vinham nos acordar para saber o que é que deu na reunião da noite, para eles levarem numa assembléia que ia ter de manhã, na porta da Refinaria Duque de Caxias. Porque eles sabiam que o diretor que tinha ia contar outra história e eles chegavam e nós passávamos do comando para eles tudo que aconteceu. Qual foi a definição, por exemplo, a definição é: “A greve continua. Todas as bases estão assim, assim, assim.” Nós dávamos o quadro, sem inventar, quadro real. Eles iam com aquilo na mão. Quando chegava na hora da assembléia, o diretor que queria acabar com a greve, ele dizia assim: “Olha, o movimento está refluindo lá no Ceará. Está refluindo lá em não sei aonde. Está não sei o quê. O comando disse que possivelmente acaba a greve hoje.” Aí a gente pedia a palavra: “Não, não é isso não. Tivemos agora. O Comando está aqui. O Comando disse isso, isso, isso. Está bom assim, assim. Está ruim lá, tal.” Fazia o contra-ponto. Mas veja, vinha de Duque de Caxias, 5:00 horas da manhã no hotel, nos acordar para pedir para às 7:00 horas estar na frente da Refinaria. Então, a oposição nossa sempre foi muito séria. As oposições nossas, os sindicatos da CUT sempre foram com pessoas de muita fibra, de muita garra. E é por isso que nós ganhamos todos os sindicatos petroleiros. Todos, sem exceção.

P/1 – O Senhor comentou que tem três filhos, mas não chegou a falar o nome deles, o que eles fazem e também da sua esposa, que é filha de militar. Fala um pouquinho da sua vida familiar.

R – Eu estou casado há 27 anos. O Juliano tem 25 anos e ele é o geólogo; é a adoração dele. Já tem sua empresa, já fez um teste na Petrobras, já ficou na... Passou, mas está lá no quadro. Agora acho que montou a sua empresa, já está conseguindo sua vida aí. Esse também, desde de novinho, pelo dia-a-dia nosso da família e eu no sindicato, ele, com cerca de 8 - 9 anos de idade, chegou um dia em casa e falou assim: “ Pai, vou fazer uma greve na escola amanhã.” Aí eu falei... Ele falou: “Eu quero que você me dê uma faixa. Traga a faixa: 2 metros de pano, duas madeirinhas e um pincel atômico para fazer uma faixa.” [risos] Aí ele escreveu lá: “Queremos visitar a Coca-cola.” Porque tinha uma promessa da professora que ia levar a equipe e visitar a fábrica da Coca-cola e daí não cumpriu. Acabou esquecendo e eles cobraram. Não ia dar mais tempo e ele pediu para fazer a faixa. Escrevemos lá com pincel atômico à noite, e ele levou enroladinho. No outro dia, na hora do recreio, ele pegou a faixa, ele e o amiguinho dele lá pegaram a turma e saíram desfilando no pátio com a faixa [risos]. Tem história, né? Ele já está formando hoje, geólogo. A Fernanda, ela faz Jornalismo. Parou um tempo, voltou. Ela tem 23 anos, deve estar com 8 anos que ela é atriz profissional, já com DRT (Documento de Registro Técnico). Desde novinha ela quis ir fazer teatro. Fez várias peças lá no Paraná e hoje ela trabalha apresentando um programa de cultura, na TV Educativa do Paraná. E o meu filho caçula está fazendo Arquitetura e Urbanismo. Esse parece que puxou mesmo o veio do pai, porque chegou e falou: “Ó, vou concorrer aí ao Centro Acadêmico.” E é o presidente do Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo lá na PUC, no Paraná. Leva muito a sério. Gosta. Disse que quer ser político. Quer ser vereador, ___ ___ se ______, quer ser vereador. Então, parece que esse puxou o veio [risos].

P/2 – E sua esposa, Senhor Stica, como é que foi que o Senhor a conheceu?

R – A minha esposa, foi interessante. Eu... Uma época eu morei na casa da minha irmã. O marido dela é tio da minha mulher. O marido dela, o cunhado dele, que é o pai da minha mulher, morava em Foz do Iguaçu. Ele estava querendo vir para Curitiba, para os filhos poderem continuar estudando. E aí, ele veio e ficou na casa do meu cunhado, onde eu morava quando ele era solteiro. Aí eu fiquei lá uns dias com ele. Conheci o meu sogro, daí perguntou: “E os teus filhos?” “Ah, tenho tantos filhos, tal.” “E menina?” “Ah, tenho tal...” Eu falei: “E são bonitas?”, fiz uma brincadeira e falei: “Ó, quando você vir para cá eu vou namorar tua filha.” Ainda brinquei, né? E daí no dia que veio a mudança eu fui ajudar, porque era parente do meu cunhado. Eu fui ajudar na mudança e eu conheci a minha mulher. E de fato ela era muito linda. Eu na hora assim babei, né? Falei: ”Puxa vida, eu vou tentar ir, né?” Ela era nova, tinha 16 anos. E ela tinha deixado o namoradinho dela lá também. Falei: “Bom, ela deixou o namorado. Eu deixei minha namorada... Taí e coisa, né?” E comecei a fazer umas visitas na casa dela lá e começamos namorar. Depois parou, depois voltamos e casamos. E vivemos bem aí, até...

P/2 – E o senhor era muito namorador, gostava de paquerar?

R – Não, não era não. Eu sou muito caseiro, eu sou muito tímido [risos].

P/1 – O que o Senhor gosta de fazer nas horas de lazer?

R – Bom, eu sou piloto de automobilismo, nas horas de folga, porque agora não está dando muito tempo. Eu fui vice-campeão no Paraná, em 1996. Eu corria de kart, porque esse foi meu sonho a vida toda. Quando eu era soldado, na base aérea, eu ia no autódromo fardado para ver se dava moral para alguém me deixar pilotar lá. Mas claro que não, né? Aliás, boa parte das minhas cadeias do quartel, era porque eu ficava patinando o carro na garagem. Depois que saía do facho, patinava o jipe. Fechava as duas portas do hangar, punha o jipe, deixava só esbarrar a porta daqui e daqui nos dois espelhos. Daí dava a ré e passava correndo no meio. De vez em quando perdia um espelho, né? Então, essas coisas acabava dando cadeia [risos]. E foi a minha paixão o automobilismo, a vida toda. Depois que eu consegui, eu comprei o meu primeiro kart. Aí o meu filho, o Juliano, também foi lá brincar comigo. E ele, mais novo, mais leve, se deu melhor. Dizem que os filhos são melhores que os pais e é verdade. Ele acabou sempre sendo melhor do que eu na pista. Então eu deixava ele correr e eu brincava, né? E depois eu comprei um carro, um “voyajão” velho e fui fazer corrida de carro. Eu não conseguia mantê-lo e o kart dele. Eu tenho foto até hoje. Eu não tinha nem o patrocínio da Petrobras, mas o kart dele, quem via dizia que eu tinha cheio de patrocínio, porque o macacão dele eu mandei fazer com a Petrobras. O kart dele era com lubrax, com Petrobras, com tudo, porque era a minha paixão, né? E, depois eu trouxe ele para correr de carro, porque eu não... Com 16 anos ele veio correr de carro comigo já. Ele não tinha carteira para motorista, mas já era piloto. E aí corria de carro e correu algum tempo. Depois ele parou, porque eu já ia mais para brincar. Ele não, ele queria buscar o tempo, buscar o tempo. E quem faz buscar o tempo, ele disse e tem razão, roda. E quem roda bate e quem bate tem prejuízo. E como eu não podia estar bancando muito os prejuízos, então eu falei para ele: “Então, pare.” Ele falou assim: “Se não for para levar à sério, eu não vou.” Eu falei: “Então, é melhor você parar.” Ele parou, parou. E esses dias assim saiu _____. Pilota muito bem, muito bem; mas não era para ser, né, então. Foi bom, continuou. Dentro da faculdade ele não quis mais voltar para não perder tempo. Ele desistiu, embora... Ele pilota muito bem. E eu continuei, depois parei. Depois consegui um patrocínio da Petrobras. Ano passado realizamos uma copa, que foi a primeira copa no mundo de gás natural, em turismo. Tem a de pick-up e nós fizemos a de turismo. Então, isto foi para alavancar a venda do gás natural no Paraná. E deu certo. Começamos com dez carros, terminamos com 32 carros na pista. Eu ganhei duas provas. Uma delas eu fui desclassificado, porque o carro meu... Nós capotamos no treino e depois tivemos que alugar um carro para correr e o carro estava com o amortecedor que era fora do regulamento. Nós não sabíamos e eu ganhei essa prova... Eu saí em último nessa prova e ganhei a corrida, mas fui desclassificado. Mas valeu por tudo, aquela valeu pelo resto. E ganhei mais uma depois. Não pude correr duas. Ano que vem quero fazer o campeonato inteiro de gás natural, que nós vamos realizar. Esse tem o patrocínio da Petrobras no campeonato, porque foi sucesso e alavancou inclusive a venda. As pessoas começaram a ver, se o carro de rua, que corre na pista com gás, corre bem e é seguro, porque que eu não posso ter? Então, nós atingimos o objetivo nosso. Eu sou um apaixonado por velocidade. E quando sobrava um tempinho, eu gosto de pescar no mar. Sou fascinado por pesca.

P/2 – O Senhor tem algum sonho, Senhor Stica?

R – Todo mundo tem um sonho, né? O meu sonho agora é... Bom, eu já vi meus filhos crescerem, graças a Deus. Eu agradeço a Deus todos os dias pelos filhos que tenho. São muito queridos e eu quero, agora... Daqui para frente o meu sonho é ir com mais calma. Por isso que eu disse que eu quero ser deputado estadual. Eu não quero ir para Brasília. Não tenho esse interesse. Não pretendo ficar na política por muito tempo. Não quero um dia dizer assim: “Ah, se eu pudesse voltar atrás, eu queria fazer tudo que eu não fiz. Eu queria fazer com que as coisas que eu considerei secundária fossem as melhores..” Eu não quero fazer isso. Eu acho que ainda é muito cedo para eu parar. Mas eu penso “Estou sendo muito útil na minha vida política. Estou ajudando bastante.” Penso em mais um mandato e depois, daí para frente, eu não tenho... Eu não tenho grande ambições. Quero ser isso, quero ser aquilo, né, não tenho. Se o que tiver que acontecer, vai acontecendo. Agora, eu quero pensar um pouco em mim, a minha família. Quero poder curtir mais o meu lazer. A minha pesca, que eu não tenho feito. Quero aproveitar um pouco a minha vida. Eu não tenho grandes sonhos. Eu já tenho tudo. Se eu fosse pedir para Deus tudo que eu tenho, eu não teria tudo isso, porque eu não saberia pedir. Ele me deu mais do que eu mereço [risos].

P/2 – O que o Senhor acha que a sua família vê o Senhor assim hoje, com esse sucesso, com tantas vitórias ____ ____ ____, um trabalho em família, que começou com muito sacrifício. Como é que o Senhor acha que o seu pai estava reagindo em relação a isso, ao ver o seu crescimento?

R – Ah, eu tenho certeza que com muito orgulho, né? Eu sempre pautei a minha vida com muita responsabilidade. Eu larguei de fumar quando nasceu o meu primeiro filho, porque eu disse: “Ó, seu eu não quero que o meu filho fume, eu não posso fumar.” Foi muito difícil para mim, mas eu larguei. E nenhum dos meus três filhos fumam, por exemplo. É sinal que deu certo. Hoje, de vez em quando, eu fumo um charuto. Quando eu fui a Cuba, acabei me encantando lá. De vez em quando, eu acendo um charuto aí, a cada mês. Por exemplo, quando estou tomando um vinho; mas nada que me obrigue a fazer isso. Veja, o exemplo que eu dei foi bom, nenhum deles fumam. Então, é sinal que a gente tem que saber respeitar também os filhos. E eu tenho certeza que eles têm muito orgulho da minha história.

P/1 – E o que que o Senhor achou da iniciativa de fazer esse projeto Memória Petrobras e de ter prestado o seu depoimento?

R – Primeiro, que eu fiquei muito feliz por ter sido lembrado e convidado. E mais feliz ainda porque eu pensei que eu vinha aqui dar um depoimento, mas... Porque eu estou acostumado, quando dou entrevista na televisão. Televisão é tudo muito rápido, você tem que sintetizar as coisas. E aqui, vocês vão fazer uma... Depois, é claro, vocês devem selecionar, mas vai ser uma coisa que fica... Uma história completa; então, isso é muito bom. E é bom porque nós estamos falando de quem fez a Petrobras. A Petrobras é feita por ser humano. A Petrobras é feita por gente. A Petrobras é o que é pelos seus trabalhadores e e eu sou um grãozinho de areia desses trabalhadores. Então, eu fico muito feliz e até emocionado com o trabalho que vocês estão fazendo. Parabenizo a vocês e quem teve essa feliz ideia na direção da Petrobras. Essa Empresa que é orgulho, não só para mim. É para nós, povo brasileiro, que temos orgulho dessa Empresa, que é a cara do nosso Brasil.

P/2 – Bom, infelizmente a gente vai ter que terminar a entrevista...

P/1 – Tem alguma coisa que o senhor queira falar mais, além...

R – Olha, eu acho que a gente pensa que falou tudo e às vezes depois vai lembrar: “Puxa, porque eu não falei isso, não falei aquilo.” Eu já estou arrependido porque que não me preparei, se eu soubesse que tinha tanto tempo [risos].

P/1 – Foi ótimo.

P/2 – Foi ótimo.

P/1 – Assim faz ficar mais legal.

R – Eu acho que está bom, já deu para a gente contar um pouco da história, né, do passado e viver aí alguns momentos. Alguns até cômicos e eu não posso encerrar sem contar uma história cômica da minha vida, né?

P/2 – Claro.

R – Eu, quando estava no sindicato dos petroleiros, lá no Paraná, um dia tocou o telefone. Eu atendi, aí uma mulher falou assim... Não, eu atendi e falei:“Sindipetro, Stica!” Daí, ela falou: “Quem?” Eu falei: “Stica.” Ela falou: “Nossa, que apelido feio que te deram!” Eu falei: “Não é apelido, é meu sobrenome.” Ela falou: “Ah, me desculpe! Então me dá seu nome, eu vou chamar pelo nome.”Eu falei: “Natálio.” Ela falou: “Melhor deixar Stica mesmo!” [risos] E tem uma outra história, numa das nossas viagens de congresso. Nós vindo de ônibus para o Rio de Janeiro e acordamos do ônibus de manhã, antes de chegar aqui na cidade do Rio. Não sei aonde exatamente, parou e nós fomos tomar café. Eu desci para tomar café. Olhei, cheio de trança de alho assim, com cebola. Eu falei: “Nossa, deve ser terra do alho aqui, né?” Aí, eu falei:“ Puxa...” E eu gosto de alho e de cebola. Falei: “Nossa, que bonito!” Aquelas cabeças de alho meio roxa. “Vou levar! Quanto que é o alho?” Daí a mulher falou assim: “800.” Eu não sei o que é que era 800 em termos de valor. Eu vou chutar aqui, qualquer coisa como 2 reais aí, sabe? Aí, eu olhei, falei:“Nossa, tá barato aqui. Acho que a terra do alho mesmo.” Eu falei:“Eu vou levar, me dá aquela quarta lá.” Olhei, uma bonita assim. Quando ela trouxe, ela pegou num jornal, pôs um papel jornal, me deu. Quando ela me deu, minha mão subiu para cima, de leve que estava. Falei: “Putz, isso aqui é isopor, né?” [risos] Aí, nisso chegou o Gauchinho, que estava com a gente, que é de São Mateus. Falou: “Que você está comprando, Stica?” Aí eu... Não vou pagar o “mico”, né? Eu falei assim:“Ah, eu estou comprando aquele alho lá. Aquilo ali” Eu já saquei na hora, né, que eu comprei errado. “Aquilo ali é um enfeite que de por em cima do fogão. Fica bonito e tal. É de isopor, bem feitinho.” Ele falou:“Ah, é! Vou levar um também.” Aí ele levou, né. Mas levou sabendo porque ele achou que eu também ___ não sabia. E eu não contei para ninguém. Fiquei quieto, fiquei na minha. Falei: “Eu não vou dar uma de otário aqui.” Aí, cheguei em casa, coloquei em cima do fogão lá, bonito. Chegou meu sogro lá, falou: “nossa, que alho bonito, da onde?” Eu falei assim: “Comprei lá perto do Rio de Janeiro, na cidade lá, tem muito alho lá.” Ele falou: “ Ó vou levar uma cabeça dessas.” Eu falei: “Pode levar.” Ele pegou a faca e foi lá e meteu a faca, né? Eu falei: “Para, para, que é de isopor!” [risos] E aí, no outro ano, nós tivemos um outro congresso. Daí eu contei para a turma no ônibus: “Ó, lembra no ano passado...” Daí, foi um... Aí, o Santa Rosa, que hoje é da comunicação da Petrobras... Esses dias o danado me mandou um bilhete, lá, perguntando se eu continuo comprando muito alho. Ele não esquece dessa história [risos].

P/1 – Alho de isopor, né [risos] ? Bom, Senhor Stica, muito obrigada pelo seu depoimento. Foi ótimo.

R – Eu agradeço e espero ter contribuído. Com certeza, vou lembrar depois, que tinha muito mais coisa que eu queria falar [risos].

P/2 – Nós é que agradecemos, muito obrigada.

R – Mas, como essa Empresa não acaba agora, felizmente. Nós ainda temos muito tempo de vida, quem sabe um dia a gente volta e conta o resto. Muito obrigado para vocês.

P/1-P/2 – Obrigada.

(Fim da fita HV/2004-11-02)

--- FIM DE ENTREVISTA ---