Sou filho de uma trabalhadora rural do município de Breves, Estado do Pará, de um rio chamado Macacos, que veio por falta de opção por dias melhores a morar na cidade de Portel-PA. Nasci de um casamento entre ela e um operário de uma empresa madeireira chamada Companhia Amazonas. Portanto, cresci conhecendo a atividade florestal.
Com um ano de idade, fomos para Belém e acabei sendo registrado na capital do Estado, vivendo até os seis anos de idade. Da capital, meu pai conseguiu um emprego na cidade de Monte Dourado, onde fervilhavam as operações entorno da Companhia Florestal lá existente, dentro de um amplo complexo industrial chamado Projeto Jari, de produção de celulose (matéria-prima para a obtenção de papel) ainda sob a tutela do empresário norte-americano Daniel Ludwig. Passamos a morar nesta região.
Foi um período de minha vida bastante relacionado com o estilo ditado pela empresa, de metodologias de qualidade total e tendo contato com pessoas do Brasil inteiro que lá iam trabalhar. Fora uma adolescência bastante protegida e que indicava que eu também seria um futuro trabalhador da Empresa Jari Celulose.
Apesar desta criação, em minha juventude algo me incomodava em relação à minha origem. Não compreendia porque minha mãe tivera que trabalhar tanto tempo como empregada doméstica de uma outra cidade após sair do rio dos Macacos. Conversando com ela e com o meu avô, percebi que se tratava de falta de condições dignas para famílias ribeirinhas, onde prevaleciam a força das empresas madeireiras, como a Companhia Amazonas e grandes projetos, como o Projeto Jari.
Decidi que era a hora de buscar meu destino sozinho, aos 16 anos, passei a morar sozinho. Passei no vestibular aos 17 anos, casei aos 18, me formei como engenheiro florestal aos 22 anos e terminei o mestrado aos 24 anos.
Aos 21 anos, retomei contatos com a minha origem. Aceitei realizar um estudo sócio-econômico realizado pelo Projeto Várzea da atual...
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Sou filho de uma trabalhadora rural do município de Breves, Estado do Pará, de um rio chamado Macacos, que veio por falta de opção por dias melhores a morar na cidade de Portel-PA. Nasci de um casamento entre ela e um operário de uma empresa madeireira chamada Companhia Amazonas. Portanto, cresci conhecendo a atividade florestal.
Com um ano de idade, fomos para Belém e acabei sendo registrado na capital do Estado, vivendo até os seis anos de idade. Da capital, meu pai conseguiu um emprego na cidade de Monte Dourado, onde fervilhavam as operações entorno da Companhia Florestal lá existente, dentro de um amplo complexo industrial chamado Projeto Jari, de produção de celulose (matéria-prima para a obtenção de papel) ainda sob a tutela do empresário norte-americano Daniel Ludwig. Passamos a morar nesta região.
Foi um período de minha vida bastante relacionado com o estilo ditado pela empresa, de metodologias de qualidade total e tendo contato com pessoas do Brasil inteiro que lá iam trabalhar. Fora uma adolescência bastante protegida e que indicava que eu também seria um futuro trabalhador da Empresa Jari Celulose.
Apesar desta criação, em minha juventude algo me incomodava em relação à minha origem. Não compreendia porque minha mãe tivera que trabalhar tanto tempo como empregada doméstica de uma outra cidade após sair do rio dos Macacos. Conversando com ela e com o meu avô, percebi que se tratava de falta de condições dignas para famílias ribeirinhas, onde prevaleciam a força das empresas madeireiras, como a Companhia Amazonas e grandes projetos, como o Projeto Jari.
Decidi que era a hora de buscar meu destino sozinho, aos 16 anos, passei a morar sozinho. Passei no vestibular aos 17 anos, casei aos 18, me formei como engenheiro florestal aos 22 anos e terminei o mestrado aos 24 anos.
Aos 21 anos, retomei contatos com a minha origem. Aceitei realizar um estudo sócio-econômico realizado pelo Projeto Várzea da atual Universidade Federal Rural da Amazônia (na época Faculdade de Ciências Agrárias do Pará), comandado pelo ex-reitor Manoel Tourinho, viajando pelo município de Afuá, no Pará, e ao longo do rio Pedreira, no Amapá, visitando comunidades ribeirinhas durante quinze dias, entrevistando as famílias e estudando a fauna e flora da região.
Desta missão, entendi que os quadros sociais entre a época de minha mãe e os constatados por mim não tinham se modificado significativamente e que era necessário buscar cidadania para aquelas pessoas. Depois de formado, direcionei um estudo de mestrado que me colocasse em contato com a realidade comunitária e que pudesse auxiliar de alguma maneira a mudar essa situação. Eis que surgi profissionalmente a partir de 1999.
Um colega meu de mestrado e vizinho, chamado Paulo Jorge Dantas falecera em desastre de carro na iminência de assinar contrato de emprego com a Organização Não Governamental Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional - FASE, entidade esta que eu não tinha conhecimento na época. Após a missa de sétimo dia de meu amigo, um professor me entregou um cartão da referida ONG dizendo que ela estava atrás de um engenheiro florestal para seu quadro. Não conversei naquele momento, não era uma boa hora para falar de emprego, mas fiquei com o cartão.
Dias depois fui ao escritório da Organização Não Governamental tentar conseguir uma vaga. Os diretores gostaram do meu currículo e decidiram fazer um teste comigo durante uma semana. Ao mesmo tempo, concorria a uma bolsa de doutorado para a Alemanha, através do convênio FCAP/Universidade de Dresden. No dia em que definia meu caminho, recebi a notícia que meu amigo Paulo Jorge Dantas era o candidato àquela vaga e que só não a assumiu pela tragédia ocorrida. Surpreso, decidi ficar.
Em 2000 fui trabalhar na Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE - colocando à disposição todo o meu conhecimento e esforço adquirido a serviços das comunidades tradicionais da região do estuário do rio Amazonas, testando metodologias no município de Gurupá-PA, juntamente com meus colegas de trabalho. Até então contribuí decisivamente para alcançar resultados como: a) a regularização fundiária de cerca de 40% do município em favor das famílias agroextrativistas, caso raro entre os municípios amazônicos; b) o desenvolvimento de técnicas de manejo florestal comunitário a fim de tornar o uso da floresta sustentável nos aspectos madeireiros e não madeireiros; c) a organização de comunidades em associações com o objetivo de buscar dignidade e cidadania; d) a implantação de projetos de desenvolvimento local e fortalecimento dos diversos atores da região (quilombolas, grupos organizados de mulheres, pescadores, etc.); e) disseminar o debate sobre a gestão ambiental e territorial no Estuário Amazônico e mesmo na Amazônia.
E neste último resultado, o do debate sobre a gestão ambiental e fundiária, decidi replicar o que venho testando e tendo relativo sucesso em áreas mais complicadas do ponto de vista organizacional, cuja desmobilização e desinformação sobre direitos de uso da floresta são fortíssimos fatores geradores de pobreza nas famílias ribeirinhas do estuário amazônico.
Em 2009 fui empossado como Diretor de Gestão de Florestas Públicas do Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará, com uma difícil missão: estabelecer as primeiras concessões florestais no Pará, com clara diretriz de respeitar o direito de uso da terra por comunidades tradicionais e tentar frear a exploração ilegal em áreas públicas do Estado. Fui bastante hostilizado por madeireiros que não entendiam que há um novo tempo em que a sociedade valoriza ainda a mais as florestas amazônicas. O resultado desse trabalho é o ordenamento de comunidades das Glebas Mamuru-Arapiuns, no Oeste do Pará, bem como do lançamento do primeiro edital de concessões florestais, de 173 mil hectares. Para comunidades da região, o valor em área pode chegar a 300 mil hectares, ou seja, o dobro. Não tem sido fácil.
Em agosto de 2010 fui chamado para assumir a outra diretoria do IDEFLOR, de Desenvolvimento de Cadeias Florestais, desta vez para atuar nas frentes relacionadas ao reflorestamento, implantação de área de coleta de sementes e manejo florestal comunitário madeireiro e não madeireiro. Apesar do pouco tempo, a construção de viveiros, o manejo florestal e a valorização da floresta tem sido trabalhados com bastante seriedade (ver site www.ideflor.pa.gov.br ).
Infelizmente, em janeiro de 2011 tive que deixar o IDEFLOR, mas com ideias muito claras para trazer para a minha região, a querida região do Marajó.
Faço parte de um grupo de estrategistas que buscam a melhoria da qualidade de vida das comunidades tradicionais agroextrativistas, sem fórmulas mágicas, apenas com perseverança e boa vontade nas intenções. E como projeto de vida dar continuidade ao fortalecimento de comunidades tradicionais, levando cidadania e dignidade para a vida das famílias ribeirinhas, independente de estar ou não pertencendo a uma organização. É a minha missão de vida, apaixonada, mas consciente.
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