Sempre achei absurda essa coisa de ser mãe, mesmo tendo brincado muito de boneca na infância. Adolescente, já achava que o mundo só ficava mais cruel e que seria egoísmo demais ter filhos para realização pessoal sem pensar na crueldade de amar tanto alguém para entregar-lhe a este mundo. Por anos pensei assim. Das amigas de infância, fui a primeira a ser mãe. Não me programei pra isso mas, em determinado momento da vida, após os 33, refletia sobre a continuidade e de que maneira eu poderia evoluir a minha linhagem que eu descobrira tanta crueldade. Aí já sabia que não apenas o mundo era cruel, mas meus antepassados também haviam sido até mesmo minha mãe em minha educação com seu transtorno narcisista.
Desde o momento que percebi que família não é perfeita e que a minha fez e faz muita m****, eu comecei a pedir a Deus que me permitisse a jornada materna para corrigir tudo e fazer melhor do que as mulheres da minha vida fizeram (e ainda fazem) e do que o mundo machista ainda faz. Sendo mãe de menino, educar um homem diferenciado. Sendo mãe de menina, educar uma mulher para potencializar a importância da quebra de padrões.
Ao descobrir os transtornos familiares, me vi sem chão. Me senti errada, me cobrava, me boicotava, sofria mesmo. A grama do vizinho era sempre melhor conforme minha mãe sempre dizia e, atrelado a isso eu me esforçava para me doar o máximo que podia em tudo: de trabalho e a relacionamentos. Mas nunca era suficiente pra ninguém. Eu precisava sempre fazer mais. Ou porque eu era muito boa e podia fazer mais, ou porque eu era muito permissiva. Na realidade, não importa o motivo se quem me educou passou por traumas projetados em mim como se eu fosse a válvula de escape.
Hoje entendo que entrei nesse barco de me inferiorizar porque precisava de aprovações, já que vivia em um ambiente de comparações e invejas. Energia pesada que minava qualquer projeto que eu tivesse. A filha de fulano já tinha conseguido mais....
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Sempre achei absurda essa coisa de ser mãe, mesmo tendo brincado muito de boneca na infância. Adolescente, já achava que o mundo só ficava mais cruel e que seria egoísmo demais ter filhos para realização pessoal sem pensar na crueldade de amar tanto alguém para entregar-lhe a este mundo. Por anos pensei assim. Das amigas de infância, fui a primeira a ser mãe. Não me programei pra isso mas, em determinado momento da vida, após os 33, refletia sobre a continuidade e de que maneira eu poderia evoluir a minha linhagem que eu descobrira tanta crueldade. Aí já sabia que não apenas o mundo era cruel, mas meus antepassados também haviam sido até mesmo minha mãe em minha educação com seu transtorno narcisista.
Desde o momento que percebi que família não é perfeita e que a minha fez e faz muita m****, eu comecei a pedir a Deus que me permitisse a jornada materna para corrigir tudo e fazer melhor do que as mulheres da minha vida fizeram (e ainda fazem) e do que o mundo machista ainda faz. Sendo mãe de menino, educar um homem diferenciado. Sendo mãe de menina, educar uma mulher para potencializar a importância da quebra de padrões.
Ao descobrir os transtornos familiares, me vi sem chão. Me senti errada, me cobrava, me boicotava, sofria mesmo. A grama do vizinho era sempre melhor conforme minha mãe sempre dizia e, atrelado a isso eu me esforçava para me doar o máximo que podia em tudo: de trabalho e a relacionamentos. Mas nunca era suficiente pra ninguém. Eu precisava sempre fazer mais. Ou porque eu era muito boa e podia fazer mais, ou porque eu era muito permissiva. Na realidade, não importa o motivo se quem me educou passou por traumas projetados em mim como se eu fosse a válvula de escape.
Hoje entendo que entrei nesse barco de me inferiorizar porque precisava de aprovações, já que vivia em um ambiente de comparações e invejas. Energia pesada que minava qualquer projeto que eu tivesse. A filha de fulano já tinha conseguido mais. O filho de beltrano já estava muito avançado.
Quando criança e ainda sonhava, vivia a ilusão de um mundo cor de rosa em contrapartida e vivia ali dentro da casa de bonecas. Eu sonhava com algo melhor, na verdade. O sonho sendo a realidade que eu merecia de fato. Aí fui crescendo e desejando cada dia mais e mais a rua, o externo, as vidas cruzadas, os erros escancarados, as mentiras sinceras, os bêbados e equilibristas dessa vida de apostas com ganhos e perdas nada românticas.
A vida não é romântica e talvez seja por isso que os romances geram lucro e vendem tanto. O romance de um relacionamento, o romance de uma família de propaganda de margarina, o romance de filhos lindos e saudáveis, o romance de um trabalho seguro e lucrativo, o romance de uma casa grande e cheia de objetos modernos e eletrônicos e cachorros correndo pelo quintal.
Se existir romance mesmo na sua forma mais pura e não oblíqua, é o momento em que descobrimos que na real a vida é a gente encarando a forma que lidamos com os romances injetados goela abaixo. Seja os vivenciando, ou seja deixando de contemplá-los.
O maior romance é esse que nos depara com a gente e com as responsabilidades sobre nossos pensamentos, escolhas e movimentos. Que romântico é uma pessoa decidir sair de cena egoistamente!
Bem, voltando o relato do apelo aos Deuses pela oportunidade da maternagem, eu comecei a acreditar que, à partir de mim, seria tudo diferente e eu poderia educar um novo ser fazendo diferente de tudo o que passei. Eu estaria disposta a enfrentar tudo e todos para criar minha criança herdeira da maneira que ela não sofresse o que sofri, com muita empatia e respeito, além de afeto. Eu queria trocar afeto sanguíneo com alguém que pudesse! Nada melhor que um filho.
E assim, na segunda semana de abril de 2019, com muita força e aos prantos após uma discussão totalmente descontrolada com minha mãe, pedi que me fosse dada essa oportunidade e libertação. Já havia tentado sair de perto de minha mãe mas nunca conseguia. Narcisistas não deixam. As violências psicológicas e emocionais são tantas, que na maior parte do tempo não nos achamos convincentes e justificamos tudo como se estivéssemos errado de fato. Como é cruel uma relação assim!
Eu precisava me libertar e sabia disso. Pensava que com meu filho nos braços, ganharia força e pés para sair de perto de tudo o que me fazia mal. E foi assim que aconteceu mesmo.
Na semana seguinte, mesmo querendo o fim do relacionamento que eu estava e mesmo sob uma transa forçada (para não usar o termo correto, já que foi sem consentimento meu), ainda tonta, eu vi uma luz acima da minha barriga. Ouvi a voz do meu filho que dizia: \\\"Estou chegando, mãe!\\\" e me emocionei sozinha. Eu tinha a certeza que tinha engravidado ali, mesmo a contragosto pelo genitor, mesmo não querendo a transa pela ausência de preservativo, mesmo com todos os contras. A voz dele ecoou em mim. Eu estava levemente embriagada de vinho conforme oferecido pelo embuste do genitor, mas me lembro bem desse momento e dessa certeza. Tinha que ser. Eu pedi e fui atendida.
Me lembro que no meu pedido eu dizia: \\\"Não importa o pai. Eu serei a melhor mãe do mundo!\\\" E taí a prova de que palavras têm poder. Deus nos ouve e atende. É real! O Universo só nos permite um pensamento e desejo quando realmente temos capacidade de concretizá-lo.
Em 16 dias eu estava com enjôos e com a menstruação atrasada. Já não queria mais nada com o embuste. Estava certa de que não seria um bom companheiro pra mim diante da pressão que passei na concepção do meu filho, sem querer, querendo. Claro que eu queria um pai de verdade pro meu filho. Obviamente eu gostaria de ter escolhido e que fosse um cara íntegro. Mas, quando pedimos algo, precisamos detalhar, viu? Senão estamos condicionados a receber da maneira que der. Acho que é por aí.
Decidi então fazer o teste de farmácia, ao que deu positivo e eu me desesperei. Minha mãe percebeu tudo e, como uma boa narcisista, me obrigou a fazer o beta hcg no mesmo momento me levando ao laboratório e eu só chorando pensando como seria a maternagem solo. Eu sabia que aquele homem não seria com H, mas depois da confirmação da gravidez, ganhei uma força descomunal. Algo que eu jamais havia imaginado ter e dali em diante, estava disposta a enfrentar LITERALMENTE tudo e todos pelo meu filho. Brotou um amor próprio absurdo em mim e eu não iria mais me sujeitar a nenhuma pessoa sequer que me dissesse que eu não seria capaz de algo na vida. Mudei ali naquele exame e fui me transformando na leoa mãe.
O genitor, assim que me comuniquei informando da gravidez, veio com papo que estava com uma DST e que provavelmente teria me passado naquela noite sem uso de preservativo (passando o peso da responsabilidade pra mim) e que eu precisaria tomar um medicamento mas disse que \\\"até já tinha a receita\\\" e que \\\"ficaria tudo bem\\\".
Não havia doença alguma em mim. Antes mesmo de encontrar o sujeito caindo na armadilha do aborto discreto com medicação abortiva, eu já havia iniciado o pré-natal realizando todos os exames que confirmaram que eu estava 100% saudável. Quando descobri sobre essa pilantragem, já sabia que jamais confiaria nele. E teria como? Além de descobrir isso, ele sugeriu mesmo o aborto. Lembro que tentou me abalar dizendo que acabaria minha vida, meu corpo e tudo. Chegou a chorar dizendo que não sabia como seria a mudança de planos dele pois ele queria ir sei lá pra onde estudar e também disse que tinha uma outra pessoa que amava ele e queria casar com ele e o coitado não saberia como dizer à ela. Quis me fazer sentir culpa e tudo de ruim mais mas... ele não conseguiu.
Descobri inclusive, que a tal \\\"outra pessoa\\\" estava fugindo dele e não conseguia pelos excessos de importunações dele. E assim, fui ficando cada dia mais forte. Nada me abalaria! Nada me abalou! Nada me abala! Hoje, meu filho tem 4 anos. Só viu o genitor no dia do DNA e do segundo registro em cartório porque registrei sozinha, claro. Pela pressão social, pediu o DNA ao que foi dado 99,999998% de paternidade. Não posso dizer infelizmente pois o Universo sabe o que faz e eu também diariamente me disponibilizo a superar tudo isso. Fazer tudo diferente dos antepassados. O genitor também tá incluso.
Meu filho é a pessoa mais linda da minha vida. A obra mais gostosa da minha existência e tenho certeza que será um adulto homem muito, mas muito digno. À partir daí, tudo mudou. Ainda bem!
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