Na Copa do Mundo o Brasil ganhava eu perdia.
Tudo começou na Copa do Mundo de 70. O Brasil se consagrava tricampeão e eu comemorava a vitória do Brasil abraçado ao vaso sanitário, vomitando tudo o que eu havia comido e bebido durante o jogo. Os brasileiros estavam “felizes\" comemorando com bastante bebida alcoólica o sucesso do Brasil.
De lá para cá, era sempre assim nas Copas do Mundo. O Brasil jogava, perdendo ou ganhando, eu sempre perdia. Perdia o rumo de casa, a decência, a moral, o respeito, a lucidez, o dinheiro, o emprego, a namorada, a sanidade e o domínio da vida. Se bem que algumas vezes que o Brasil ganhava, eu ganhava também. Ganhava um olho roxo, um braço quebrado, uma cadeia, uma amnésia terrível onde tentava em vão lembrar o que havia acontecido na noite anterior.
Infelizmente minhas comemorações eram sempre regadas com muita bebida alcoólica. Foram várias Copas do Mundo em que meus pais não sabiam se eu iria voltar das comemorações vivo ou morto. Algumas vezes eu não voltava mesmo, me prendiam por exagerar nas comemorações.
Minha namorada bebia e vibrava comigo a cada gol do Brasil. Tudo parecia ser tão normal.
Casei.
Chegou então a minha primeira Copa do Mundo casado. O Brasil perdendo ou ganhando, eu e minha companheira sempre comemorávamos com bebida alcóolica.
Na primeira Copa do Mundo casado minha esposa já percebeu que eu não voltava para casa normal. Sempre chegava alterado.
Na segunda Copa do Mundo casado, minha companheira que gostava de assistir os jogos comigo, já ficava de “antena ligada” e assustada. É que quando o Brasil jogava, perdendo ou ganhando, eu sempre perdia. Perdia o respeito pela minha companheira, dignidade, horário, dinheiro, saúde e tantas outras coisas. A Copa do Mundo para minha companheira que tanto gostava de torcer comigo pelo Brasil, passou a ser um martírio para ela, graças as minhas comemorações exageradas e sem sanidade alguma.
Vieram os filhos.
Minha...
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Na Copa do Mundo o Brasil ganhava eu perdia.
Tudo começou na Copa do Mundo de 70. O Brasil se consagrava tricampeão e eu comemorava a vitória do Brasil abraçado ao vaso sanitário, vomitando tudo o que eu havia comido e bebido durante o jogo. Os brasileiros estavam “felizes\" comemorando com bastante bebida alcoólica o sucesso do Brasil.
De lá para cá, era sempre assim nas Copas do Mundo. O Brasil jogava, perdendo ou ganhando, eu sempre perdia. Perdia o rumo de casa, a decência, a moral, o respeito, a lucidez, o dinheiro, o emprego, a namorada, a sanidade e o domínio da vida. Se bem que algumas vezes que o Brasil ganhava, eu ganhava também. Ganhava um olho roxo, um braço quebrado, uma cadeia, uma amnésia terrível onde tentava em vão lembrar o que havia acontecido na noite anterior.
Infelizmente minhas comemorações eram sempre regadas com muita bebida alcoólica. Foram várias Copas do Mundo em que meus pais não sabiam se eu iria voltar das comemorações vivo ou morto. Algumas vezes eu não voltava mesmo, me prendiam por exagerar nas comemorações.
Minha namorada bebia e vibrava comigo a cada gol do Brasil. Tudo parecia ser tão normal.
Casei.
Chegou então a minha primeira Copa do Mundo casado. O Brasil perdendo ou ganhando, eu e minha companheira sempre comemorávamos com bebida alcóolica.
Na primeira Copa do Mundo casado minha esposa já percebeu que eu não voltava para casa normal. Sempre chegava alterado.
Na segunda Copa do Mundo casado, minha companheira que gostava de assistir os jogos comigo, já ficava de “antena ligada” e assustada. É que quando o Brasil jogava, perdendo ou ganhando, eu sempre perdia. Perdia o respeito pela minha companheira, dignidade, horário, dinheiro, saúde e tantas outras coisas. A Copa do Mundo para minha companheira que tanto gostava de torcer comigo pelo Brasil, passou a ser um martírio para ela, graças as minhas comemorações exageradas e sem sanidade alguma.
Vieram os filhos.
Minha companheira já não me acompanhava mais nas minhas idas aos bares. Tinha que ficar em casa tomando conta dos filhos.
Chegou outra Copa do Mundo. O Brasil ganhava, eu ganhava também. Ganhava o medo de perder minha família, pois o meu casamento por causa das bebidas alcoólicas, já estava caminhando para uma separação a qualquer momento. O que havia nos unido, agora estava nos separando: bebidas alcoólicas.
Depois de várias ressacas físicas e morais, depressões e apagamentos, brigas e discussões “sem pé nem cabeça”, minha companheira para salvar nosso casamento, procurou ajuda nos “Grupos de Mútua Ajuda de Lavras /MG”.
Atualmente, sempre quando o Brasil joga, ganhando ou perdendo, eu sempre ganho. Ganho o sorriso dos meus filhos, o beijo da minha esposa, a admiração dos meus parentes, a amizade dos meus vizinhos, e o que é melhor, a presença de Deus por estar vivendo as emoções de mais um dia sóbrio, sereno e feliz.
Esse ano de 2024, completo 31 anos de sobriedade. Meus filhos já se encontram casados. Tenho uma linda netinha. Percebi logo no primeiro ano que fiquei sóbrio, que a minha família não sofria por causa das derrotas do Brasil, eles sofriam por causa das minhas derrotas para o álcool.
Sou feliz porque não bebo.
Viva a seleção brasileira. Viva o futebol. Viva o Brasil.
Lavras (MG),30 DE ABRIL DE 2024.
GERALDO FERNANDES - DINHO
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