Meu nome é Moacyr Santos, eu nasci no Rio de Janeiro, em três de abril de 1939, mais precisamente na Praça Onze, sou carioca da gema.
Eu sempre fui da área de operação. Ocupei cargos de supervisor e operador chefe, que depois teve o nome de operador de sistemas industriais. A minha última atividade foi na área de gás natural, quando eu também fazia a supervisão da refinaria.
Um operador de processo lida com todas as unidades do refino. Eu comecei na unidade 1210, que era destilação direta. Fiquei lá uns 10 anos. No processamento existe a parte que trabalha diretamente com o petróleo e outra que lida com os seus derivados, como é a ala 1220 – de reforma catalítica – e a 1250 que é a FCC (Fluid Catalytic Cracking), onde eles tiravam da gasolina e separavam o gás também. Essas funções foram se abrindo cada vez mais e eu não peguei a divisão de lubrificantes, que veio na época em que fui para o Sindicato, em 1969.
Eu sou sócio fundador do Sindicato. Eu sempre achei que todo trabalhador tinha que ser sindicalizado, porque era a nossa voz junto ao patrão. Mas nunca fui um militante. Em 1968, por força da amizade que eu tinha com muita gente, me convidaram para fazer parte da chapa e eu fui eleito como suplente. No final de 1968, quase toda a diretoria foi cassada pelo Ato Cinco (AI-5), como eu era o mais antigo, eu fui chamado para substituir o secretário. Fiquei nessa função até sair do Sindicato. A eleição de 1968 foi tranqüila, porque em 1964 houve intervenção. Primeiro veio o interventor indicado pelo Ministério, depois foi eleita uma chapa de interventores, onde havia três pessoas: era o presidente, o secretário e o tesoureiro. Depois foi “eleita” (entre aspas) uma diretoria, que ficou até 1968, quando foi realmente aberta uma eleição democrática, vencendo a nossa chapa. Havia duas ou três chapas, eu não me lembro agora direito. Nesse momento não tinha participação, eu costumava dizer que eu mais “vivia...
Continuar leituraMeu nome é Moacyr Santos, eu nasci no Rio de Janeiro, em três de abril de 1939, mais precisamente na Praça Onze, sou carioca da gema.
Eu sempre fui da área de operação. Ocupei cargos de supervisor e operador chefe, que depois teve o nome de operador de sistemas industriais. A minha última atividade foi na área de gás natural, quando eu também fazia a supervisão da refinaria.
Um operador de processo lida com todas as unidades do refino. Eu comecei na unidade 1210, que era destilação direta. Fiquei lá uns 10 anos. No processamento existe a parte que trabalha diretamente com o petróleo e outra que lida com os seus derivados, como é a ala 1220 – de reforma catalítica – e a 1250 que é a FCC (Fluid Catalytic Cracking), onde eles tiravam da gasolina e separavam o gás também. Essas funções foram se abrindo cada vez mais e eu não peguei a divisão de lubrificantes, que veio na época em que fui para o Sindicato, em 1969.
Eu sou sócio fundador do Sindicato. Eu sempre achei que todo trabalhador tinha que ser sindicalizado, porque era a nossa voz junto ao patrão. Mas nunca fui um militante. Em 1968, por força da amizade que eu tinha com muita gente, me convidaram para fazer parte da chapa e eu fui eleito como suplente. No final de 1968, quase toda a diretoria foi cassada pelo Ato Cinco (AI-5), como eu era o mais antigo, eu fui chamado para substituir o secretário. Fiquei nessa função até sair do Sindicato. A eleição de 1968 foi tranqüila, porque em 1964 houve intervenção. Primeiro veio o interventor indicado pelo Ministério, depois foi eleita uma chapa de interventores, onde havia três pessoas: era o presidente, o secretário e o tesoureiro. Depois foi “eleita” (entre aspas) uma diretoria, que ficou até 1968, quando foi realmente aberta uma eleição democrática, vencendo a nossa chapa. Havia duas ou três chapas, eu não me lembro agora direito. Nesse momento não tinha participação, eu costumava dizer que eu mais “vivia a vida” do que fazia política. Mas depois que você entra, você se envolve, ou faz alguma coisa ou então sai. Eu sempre quis fazer pelos outros e consegui fazer muita coisa. A nossa diretoria permaneceu por quatro ou cinco eleições, sendo que três eleições com o mesmo pessoal: o presidente, tesoureiro e o secretário, nós três, sempre compúnhamos. Nós compramos a sede, uma colônia de férias, tudo a gente pensava para sede. Quando houve assembléia para a compra da sede, nós não tínhamos dinheiro para comprar, todo mundo acreditava que nós não teríamos dinheiro. Nós só tínhamos 20 mil reais em caixa, que nós demos de entrada, depois pagamos as três outras prestações, anualmente, baseados na receita da contribuição sindical. Havia uma prestação mensal também que foi fechando até a compra final. Antes de acabar de pagar a sede, nós já tínhamos montado uma espécie de clínica, um ambulatório, como chamávamos. Tinha dentista, médico, ginecologista, clínico-geral e pediatra, tudo montado Porque era o que nós tínhamos que dar para os associados, porque a Petrobras não estava dando. Toda a família de associado era beneficiada. Depois que nós terminamos de pagar, logo depois, nós compramos uma área de terra enorme em Tinguá, que é hoje a colônia de férias. Sempre aplicando o dinheiro, pensando em quem viria depois da gente, porque achávamos que poderiam não usar bem o dinheiro. E assim crescemos, à medida que fomos fazendo as coisas.
Nós também fizemos uma propaganda que saiu o álcool como combustível alternativo. Nós andamos o Brasil inteiro propagando o álcool, fazendo seminários, para que isso pudesse ser usado realmente, apesar do povo não acreditar e não haver nas próprias empresas automobilísticas, naquela época, condições de uso. Mas isso, aos poucos, foi crescendo. Hoje, nós temos o álcool, a gasolina e o gás. O sindicato se envolvia em tudo da Petrobras. A nossa luta tinha uma grande diferença da luta dos outros sindicatos: nós éramos Petrobras e éramos trabalhadores. Nós tínhamos que ver o lado da Petrobras e o lado do trabalhador. Não adiantava dizer: “Eu quero mundos e fundos”, quando nós estávamos prejudicando a Petrobras. Nós queríamos na mediação o melhor para nós, sem que afetássemos a ordem geral da Petrobras, que era a produção, que nós fomos levantando cada vez mais.
Eu posso dizer com toda certeza que a nossa relação com os associados era bem melhor do que agora Num momento difícil como o da Revolução, nós tínhamos o respeito da diretoria. Porque, naquela época, nós não podíamos falar o que muita gente fala. Um monte de dirigente fala só para se mostrar, nós tínhamos que trocar idéia. Eu sempre fui muito tinhoso, muito brigão, essas coisas todas e, nesse momento, foi uma das coisas que eu aprendi: que o melhor negócio é o diálogo. E nós tínhamos isso, porque essa diretoria anterior a nós, a que caiu, caiu por causa da imposição, não tinha condições da gente bater, era dar murro em ponta de faca. Nós nos sentávamos à mesa de negociação com as nossas maquininhas de calcular e a direção da Petrobras já tinha atrás daquela parede um computador, para nos dar uma resposta. Por aí vocês vão vendo que não era uma coisa tão fácil. Quando levávamos um problema, levávamos bem fundamentado: “Nós queremos por isso, isso e isso”. E dávamos condições para os nossos aumentos, eram aumentos de comum acordo com a empresa. Não aparecia na mídia. A empresa dizia: “O aumento é tanto, não pode ser outro” “Então tá, 8%.” “Mas daqui a seis meses vocês vão ter uma letra; daqui a três meses, outra letra; que eram 5% mais 5% mais 8%, resultando 18%.” Mas isso sem fazer alarde: “Eu quero”. Não, não é eu quero, vamos negociar Eu trabalhei o tempo todo, de 1978 a 1983, foram quatro, cinco anos, que eu lutei... Hoje a Petrobras juntou os aposentados com os petroleiros, com os associados da Petros, porque antigamente quem não era Petros recebia separado. Nós conseguimos juntar tudo, você recebia do INPS (Instituto Nacional de Previdência Nacional) e da Petros, nós conseguimos nacionalmente juntar tudo isso. Foram quatro anos de luta Por quê? Primeiro: o INPS, tinha que pagar e ao mesmo tempo receber. Nessas idas e vindas, havia a Petros no meio, que já queria ter o dinheiro para fazer o pagamento no dia 25. A Petrobras teve que negociar isso com a Petros, que entrou também na coisa, e que finalmente fechou. Para mim, que trabalhei nessa negociação, foi uma das nossas maiores vitórias. Hoje, estão querendo separar outra vez (risos). Você luta para juntar e agora estão querendo separar Isso é incrível Um trabalho de muito tempo que está sendo desmanchado agora.
O momento mais tenso foi em 1970, nós trabalhávamos no turno de seis horas, que foi uma conquista nossa, e a empresa queria implantar o turno de oito horas, porque sabia que ali ela ia ganhar. Então ela preparou o projeto de lei 5811, que rege o turno de oito horas, e mandou para o Congresso. Nós passamos 15 dias em Brasília. Todo dia eu saía achando que não ia voltar para casa, porque nós estávamos insistindo em algo que sabíamos que o governo estava contra e a Petrobras iria ganhar. Mas nós tínhamos alguns parlamentares que nos defendiam: o Lysaneas Maciel e outro lá do Rio Grande do Sul... Agora está me faltando o nome dele. A lei é eivada de erros constitucionais, mas mesmo assim, depois de 15 dias veio a ordem e acabou: “Aprova logo isso” e aprovaram. Mas muita gente pensou que nós passamos esse tempo todo lá negociando essas oito horas, e não foi verdade. Mesmo assim com o tempo nós fomos conseguindo trocar o turno de quatro grupos para cinco grupos; era bem melhor porque tinha um tempo de descanso maior.
Nós sempre participamos de todas as reuniões, inclusive o presidente Lula andava comigo em todas essas campanhas de luta, ele nos apoiava muito, mas nunca interferiu. Nós, os trabalhadores, fizemos muitos movimentos em conjunto, nos reuníamos muito em São Paulo. O Caó, que hoje é deputado, era presidente do Sindicato dos Jornalistas, o Jorge Bittar também estava conosco. Eram dois companheiros com quem eu andava muito para essas reuniões. Hoje estão aí na política, mas eu nunca quis ser político, nunca participei. Mesmo no momento da abertura, o próprio Lula, como representante do PT, queria que eu me candidatasse a deputado por Duque de Caxias, mas eu não quis. Eu nunca quis aparecer, nunca quis ser político. Eu queria ajudar; ajudar era comigo mesmo Tanto que eu não saí nunca como presidente, e eu podia ter sido presidente logo depois.
No Encontro Nacional dos Dirigentes Sindicais, em Belo Horizonte, o presidente desse encontro não foi o do Sindicato de Duque de Caxias, fui eu que presidi. Nós tínhamos uma Secretaria Nacional dos Petroleiros e Petroquímicos porque nós não podíamos fundar a federação. Tudo quanto era indústria. Tinha uma secretaria, nós pegamos uma derivação da CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria) e fundamos a nossa, e com isso tínhamos um secretário nacional. Eu fui o secretário nacional, que hoje poderia ter sido o presidente da federação. Fui eleito por todos os outros. Nós fundamos essa secretaria para poder ter uma organização e ter uma centralização das coisas, como uma federação hoje tem. Isso foi entre 1972 e 1973.
Das ações em conjunto com outras entidades, a única que eu me lembro agora e poderia citar foi a minha participação como Secretário Nacional, quando tive que ir com o Lula e o Jacó Bittar para Manaus, responder um processo sobre a morte de algumas pessoas no Acre. Isso envolvia a Confederação dos Agricultores, que foi acusada de incentivar essas mortes. Mas não era nada disso Estavam fundando o PT e foram responder processo lá, esse foi um dos movimentos em que mais trabalhei. Eu fui como representante dos petroleiros, porque nós tínhamos petroleiro como condenado.
As reivindicações eram sempre salariais e algumas coisas que vinham à medida que você ia fazendo, se situando no contexto. Quando eu fui para o sindicato a diretoria anterior havia sido cassada porque existia uma outra luta política para acabar com o governo autoritário. Mas nós não tínhamos nenhuma reivindicação política própria. Eu não era um participante ativo, tanto que foi muito difícil para mim, eu nunca gostei de pegar um microfone e falar em público. Fui aluno do Pedro II, mas não era muito bom para escrever (risos) e fui cair exatamente como secretário do Sindicato Foi aí que aprendi a escrever bastante e falar demais (risos). Comecei a ir às plenárias e discutir um assunto; saber a hora de falar e, aliás, abrindo parênteses, isso é muito bonito: o cara saber a hora que precisa entrar e dizer: “Vou ganhar essa”. Reverter uma proposta que já está quase perdida é uma grande vitória. As assembléias eram muito bacanas, porque você vinha com teses, por exemplo, umas 50 teses, mas tinha que condensar aquilo, muita coisa. Era muito regional, muito “eu”, e a gente tinha uma preocupação danada de não levar muita coisa, porque a empresa poderia dizer: “Tá bom, eu te dou isso e isso, o resto não”, quer dizer, aquilo que menos valia para nós ela dava, mas o essencial... Tem uma série de coisas que temos que ter muito cuidado quando levávamos para discutir, por isso nós filtrávamos bastante, e isso tinha muito choque entre os Sindicatos, que queriam montar alguma coisa. Tem uma passagem muito interessante: um alagoano, o sobrenome dele era Bispo e ele falava muito bem, tinha um português... (risos). Mas toda proposta que ele dava não era aceita. O Jacó me chamou e disse: “Pô, Moacir, vamos fazer alguma coisa Vamos ver uma proposta dele aí.”. Aí fomos ver as propostas dele: “Lança essa aqui”. A turma analisou e viu que aquela tinha aceitação de todos. E aprovou. Aí ele disse: “Agora estou podendo falar mais grosso” (risos). Mas isso naquele sotaque alagoano, que se pode imaginar como é. Foi um momento muito bacana Eu tinha muitas amizades, sem aquela briga pessoal, existiam as divergências também, mas nós sempre procurávamos na hora de ir para frente, acertar tudo. Nós não mantínhamos uma discussão em paralelo, cada um tinha uma proposta, ele decorava, aprendia toda aquela proposta e eu sentava na ponta da mesa e ia dizendo: “Agora é você” Os caras ficavam olhando assim para gente... Aí aquele lá: “Pá, pá, pá...”, defendia aquilo até o final. Houve um momento em que o advogado da Petrobras quis fazer uma paralela para desviar o assunto, o cara virou e disse: “Eu estou falando, hein? Quando eu estou falando, o senhor me escuta.” Ficou aquele silêncio no salão. Mas ele estava certo, o mineiro estava certo. Ele estava falando, o que é que tinha que estar falando com o outro lá. Mas era isso, nós não queríamos que todos falassem juntos, que várias propostas fossem lançadas ao mesmo tempo, porque ninguém entendia nada Era tudo muito bem especificado. Eu acho que foi um momento muito bonito, muito gostoso.
Eu participei de várias greves. A que mais me marcou eu já não estava mais no Sindicato, essa é a verdade, mas eu levei meu conhecimento para plenária, porque era uma greve grande, de muitos dias. Acho que foi em 1986. A greve estava tomando uma proporção muito grande e não ia dar em nada, então tentei levar para o plenário para que eles não continuassem. O advogado estava na mesa e eu disse: “Entrega o advogado, entra com dissídio”. Mas não, eles insistiram, e com isso custou 200 demissões, 206 mais precisamente Todos demitidos da Refinaria Duque de Caxias. Foi uma luta muito grande, só quando a empresa viu que ela não ia ganhar na Justiça é que retornou com o grupo, dos 206, seis não aceitaram voltar, continuaram na Justiça e acabaram ganhando. Esses 200 voltaram e não receberam nenhum atrasado, só voltaram. Quer dizer, esse tempo todinho, o tempo que eles passaram fora, fomos nós que tentamos juntar dinheiro para ajudar a família de cada um. Eram dessas coisas que eu tinha medo na minha época de levar e não ter uma sustentação. Acho que por isso, às vezes, o diálogo é importante. E digo mais, o grupo foi avisado pela própria empresa: “Se vocês acabarem hoje, não tem problema”, mas eles continuaram e deu no que deu.
Foi uma coisa horrível, foi muito ruim Espero nunca mais passar por essa situação novamente Acho que em 1983 Cubatão fez uma greve, mas era uma greve que eu considerei mandada. O Brasil estava sem crédito externo, ele tinha entrado numa moratória. A Petrobras, para comprar petróleo, tinha que pagar em dinheiro, não tinha crédito; tinha que ser em dinheiro. Conclusão: ia faltar petróleo Então fizeram uma greve em Cubatão, eu nunca tinha visto isso: o presidente do sindicato tomou conta da refinaria. Eu disse na época: “Não acredito nisso, ainda mais nesse presidente aí, tem alguma coisa errada”. Daí eu soube através de um amigo meu que viajava para o exterior que estava havendo isso, essa moratória que o Brasil. Então quem ia pagar? Os petroleiros. Por quê? “Estão fazendo greve, vai faltar petróleo, vai faltar gasolina, os petroleiros que são culpados disso.” (risos). Dias depois, saiu na Veja, ipsis litteris o que eu tinha dito para ele. “Escuta, quem que te falou isso?”, “Não interessa quem me informou, interessa que eu disse para você que não podia ser uma verdade”. Nessa época, o Exército botou a turma lá dentro outra vez e aí eu estava cavaleiro, já não era mais Revolução, era um ato de força, aqueles soldadinhos entrando dentro numa unidade de gás com uma arma na mão. Ah, meu chapa não teve jeito: “Saia daqui”. E o cara: “Sim, senhor”. Poxa, eu estava vendo meu filho ali. “Não, saia, isso não pode usar”. Se eu fizesse isso em 1964 iria preso na hora Tem um acontecimento desse na Casa de Força onde o supervisor foi chamado pelo capitão porque ele expulsou os caras de lá, mandou o sargento sair e aí foram dar queixa dele. O superintendente era americano e era mais brasileiro do que muito brasileiro por aí, ele se casou com uma brasileira, adorava o Brasil e nós gostávamos dele também porque era muito gente boa. O capitão chamou e disse: “Porque na minha terra, o superior manda”, “Eu sou o que na sua terra? Eu sou capitão de mar e guerra em tempo de guerra”. Não precisou falar mais nada, ele era mais do que aquele capitão que estava ali. Em 1964, o risco era muito grande, qualquer coisa os caras entravam com armas. Se detonasse uma arma daquelas, não tinha jeito, nosso medo era esse, qualquer manobra que a gente fizesse por segurança, os caras já estavam interpretando que nós estávamos querendo boicotar. Nós vivíamos num momento muito crítico, muito tenso, muito perigoso. De vez em quando saía um para ir responder processo. Foi um momento em que até aquela inimizade pessoal prevaleceu, porque vocês não gostavam de mim e dizia: “Olha, aquele lá é comunista”. Até que provasse que focinho de porco não era tomada, você já estava sendo condenado. Foi um momento muito triste, uma passagem na vida da gente que eu não gostaria de voltar. Nunca mais
A minha fase maior de sindicalismo foi nesse período de ditadura. Em 1969, da diretoria que foi cassada só ficou um, o tesoureiro, Sebastião Costa, mas que depois em novembro foi aposentado juntamente com o Antônio Xavier, que era do Conselho. Eles foram aposentados pelo Ato Cinco (AI-5). Nós estávamos sempre muito tensos, nós tínhamos que saber falar e não querer impor. Para mim, pessoalmente, foi um momento de muita educação. Eu já tinha tido uma educação parecida no Exército – que eu fiz questão de servir. O negócio era bravo. Essa educação militar me favoreceu muito no começo da vida. Era preciso se impor por conhecimento, por aquilo que você realmente sabe. Essa vivência nesse período me favoreceu ainda mais quando eu saí do Sindicato, porque passei a saber negociar (risos). Voltei para refinaria sabendo falar bem pra caramba (risos). Eu fui até convidado para ser supervisor, porque a supervisoria era uma lugar que realmente se tinha certa liberdade de conhecimento, de toda a refinaria.
Nós éramos do Sindicato dos Trabalhadores, mas também éramos petroleiros, isso eu acho o máximo. Você não pode querer derrubar uma Petrobras para dar melhoria para o trabalhador, porque você perde seu emprego. Aliás, isso não é só na Petrobras. Você tem que saber se o patrão tem condições ou não. No nosso caso, nós queríamos um engrandecimento tanto que nós fizemos todas as propagandas que foram necessárias em prol da Petrobras. Nós apoiamos todos os movimentos da Petrobras para o crescimento dela e nós sempre trabalhamos nesse sentido. Nós tínhamos em mente que, além de sermos sindicalistas, representando os trabalhadores, nós não podíamos separar uma coisa da outra.
Hoje eu estou afastado porque não era o movimento que eu queria. O nosso estatuto dizia que quando você se aposentava, ficava remido, quem veio depois acabou com isso. Só agora que eu voltei a ser sócio, pagando, para poder ser sócio. Mas agora também numa situação quase análoga a do sindicalismo eu fui chamado para ser representante em Caxias da Ambep (Associação dos Mantenedores-Beneficiários da Petros), porque os representantes todos pediram demissão, e a diretoria dessa instituição me convidou, juntamente com outros, e nós formamos um grupo que hoje está lutando pelos aposentados.
A não repactuação é a nossa pauta do dia. Parte sindicalismo que está aí junto com a empresa não podia ter feito isso com os aposentados, de maneira nenhuma Claro, evidente, que eles não vão conseguir a maioria, porque tem muita gente que não repactuou. A nossa luta continua contra essa não repactuação, e já tem muita gente querendo “desrepactuar”, só que tem que pagar os 15 mil para voltar. Isso aí é que é o difícil. A raia miúda é que deu força, porque não tem dinheiro, estão sempre devendo, precisavam dos 15 mil Eles deram a quem repactuasse, 15 mil ou três salários.
A repactuação é você passar para outro plano que não aquele em que nós estávamos e que nós tínhamos todo o direito de ficar, sempre recebendo da Petrobras uma diferença de 90% do salário, porque tem os aumentos da Petrobras, tem os direitos da Petrobras, que é a AMS. Isso aí: receber no dia do aumento da Petrobras, no mês de aumento, essas coisas todas é que se relacionam à separação. Espero que com o tempo essa situação se reverta, meu grande sonho seria a nossa grande vitória, porque nós vamos sair muito prejudicados. Eles ainda não estão sendo prejudicados, porque ainda falta a complementação, porque a Justiça está segurando. E é nessa luta que eu estou e volto a lutar outra vez pelos trabalhadores, agora aposentado.
Hoje sou formado em Direito porque eu precisava de um conhecimento mais profundo do direito para poder sentar à mesa e dizer: “Eu sou um advogado, eu conheço; isso que ele está falando eu também conheço”. Foi só por isso que eu fiz faculdade de Direito Tanto que quando acabou eu também parei. Hoje eu sou consciência jurídica (risos). Sou advogado, mas não milito. Porque eu só fiz exatamente para isso: sentar à mesa e discutir com conhecimento de causa. Sempre foi assim, se eu for dizer que essa luz aqui é feita de alguma coisa eu tenho que ter conhecimento dela, se não, eu não me meto.
Eu queria agradecer, espero que o meu depoimento seja útil para alguma coisa, que dê algum conhecimento para quem veja. Eu espero também que esse sindicalismo melhore. A minha grande esperança é que eles mudem, mas eu estou achando difícil porque entra muitas coisas por trás disso tudo, muitos interesses pessoais que não existiam no nosso tempo. Só um dos sindicalistas da minha época, chamado Jacó Bittar, que foi candidato e prefeito de Campinas, mas também hoje está sem fazer mais nada... Eu me sinto honrado de ter participado, não sei se falei o suficiente, eu falei o que tenho em mim até agora.
Recolher