MINHA MÃE, MINHA MUSA / MINHA INICIAÇÃO POÉTICA.
Em mais de 40 anos de poesia, é natural que eu tenha tido diversas musas, mas minha mãe foi a primeira. Com uns 8 ou 9 anos, na terceira série, e me rendeu também minha primeira nota 10 na escola, se não me engano, a única, pois eu era um aluno mediano. Foi no dia em que a professora Dona Jandira, colocou nas carteiras, uma estorinha iniciada por ela e o dever de casa era, cada qual, terminar com sua própria imaginação. A estorinha dizia de um veadinho, perdido na floresta, sem sua mamãe.Terminada a aula, cheguei em casa, e vi minha mãe no tanque, concentrada nas roupas e nos problemas. Ela não notou minha presença. Fiquei ali vários minutos olhando-a, e naqueles momentos, lembrei-me do veadinho, e fiquei pensando: “Nunca me imaginei sem minha mãe. Como eu me sentiria de repente sem ela? Ela... que cuidava de minhas doenças. Que colocava comida no meu prato. Que penteava meus cabelos para eu ir para a escola. Que me ensinou a rezar”. imaginei–me chorando perdido, igual ao veadinho da estória, porque o mundo, afinal é uma selva perigosa. De repente ela se virou e disse: “Você está aí, meu filho? E por que está me olhando assim?”. Então me aproximei e abracei sua perna dizendo: “Porque eu gosto muito da senhora!”. Nisso que ela agachou, me abraçou com o avental molhado e deu umas alisadinhas no meu rosto, respondendo: “Ah... meu filho! Só você mesmo para animar meu dia. Pra que vou ficar triste se tenho um filho tão doce? Vem, vou colocar comida pra você”.E foi puxando minha mãozinha esquerda, que mais tarde escreveria meu primeiro texto poético. Claro que não me lembro dele todo, mas me lembro de como o terminei. A mamãe do veadinho, quase tão frágil quanto ele, mas abnegada, voltou, enfrentou perigos, fugiu das feras, passou fome e sede, mas encontrou o filhinho e assim, viveram felizes para sempre. Ainda pus uma nota no final que dizia que...
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MINHA MÃE, MINHA MUSA / MINHA INICIAÇÃO POÉTICA.
Em mais de 40 anos de poesia, é natural que eu tenha tido diversas musas, mas minha mãe foi a primeira. Com uns 8 ou 9 anos, na terceira série, e me rendeu também minha primeira nota 10 na escola, se não me engano, a única, pois eu era um aluno mediano. Foi no dia em que a professora Dona Jandira, colocou nas carteiras, uma estorinha iniciada por ela e o dever de casa era, cada qual, terminar com sua própria imaginação. A estorinha dizia de um veadinho, perdido na floresta, sem sua mamãe.Terminada a aula, cheguei em casa, e vi minha mãe no tanque, concentrada nas roupas e nos problemas. Ela não notou minha presença. Fiquei ali vários minutos olhando-a, e naqueles momentos, lembrei-me do veadinho, e fiquei pensando: “Nunca me imaginei sem minha mãe. Como eu me sentiria de repente sem ela? Ela... que cuidava de minhas doenças. Que colocava comida no meu prato. Que penteava meus cabelos para eu ir para a escola. Que me ensinou a rezar”. imaginei–me chorando perdido, igual ao veadinho da estória, porque o mundo, afinal é uma selva perigosa. De repente ela se virou e disse: “Você está aí, meu filho? E por que está me olhando assim?”. Então me aproximei e abracei sua perna dizendo: “Porque eu gosto muito da senhora!”. Nisso que ela agachou, me abraçou com o avental molhado e deu umas alisadinhas no meu rosto, respondendo: “Ah... meu filho! Só você mesmo para animar meu dia. Pra que vou ficar triste se tenho um filho tão doce? Vem, vou colocar comida pra você”.E foi puxando minha mãozinha esquerda, que mais tarde escreveria meu primeiro texto poético. Claro que não me lembro dele todo, mas me lembro de como o terminei. A mamãe do veadinho, quase tão frágil quanto ele, mas abnegada, voltou, enfrentou perigos, fugiu das feras, passou fome e sede, mas encontrou o filhinho e assim, viveram felizes para sempre. Ainda pus uma nota no final que dizia que nenhum filho merece ficar sem a mãe e que nenhuma mãe merece ficar sem o filho. E que o amor de mãe é o que mais se aproxima perfeição do amor de Deus. A professora não corrigiu os trabalhos no mesmo dia que entregamos. Passaram-se alguns dias, até que ela me chamou: “Carlinhos,venha aqui na frente, por favor”.
“Ai, ai”, pensei. “Professora chamando na frente não deve ser coisa boa”. Menino sempre está com impressão de que aprontou alguma, mesmo não tendo aprontado. Só não fui com muito medo porque Dona Jandira era uma professora muito carinhosa, poderia no máximo repreender, sem muita briga. Ela disse: “Adorei sua estorinha. Parabéns, ganhou 10! Muito linda! Onde você buscou inspiração, menino?”. E eu respondi: “Na minha mãe. Porque nunca havia me imaginado sem ela. Acho que eu ficaria igual ao veadinho da estória”.
Pois bem, ela fez mais alguns elogios, leu para a classe toda e disse que levaria para outras professoras lerem nas outras salas. A redação foi a melhor da escola e me rendeu uma caneta dourada cravejada de pedrinhas brilhantes que reluziam nos olhos das pessoas. Depois acabei ficando sem a caneta, mas isso é outro caso que conto outro dia, só sei que foi necessário, desde cedo sou desapegado de coisas materiais, acho que as circunstâncias me fizeram assim… felizmente. Enfim... era a minha poesia nascendo e eu não sabia, eu não tinha a dimensão exata do que aquilo representava, só queria curtir meu \"10\" e contar pra minha mãe, afinal ela foi a musa.
E assim tudo começou. E a poesia me trouxe até aqui.
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