1º capítulo - Minha memória começa aos dois anos. Morávamos eu, meu pai, minha mãe e mais três irmãs. Minha mãe teve um filho, mas faleceu aos três meses... Era o caçula. Nem lembro dele, mas minha mãe falava que ele se parecia muito comigo. O lugar parecia um sonho, um conto de fadas, era na estrada Caminho do Mar, em Rudge Ramos. Nossa Parecia uma fazenda, um sítio, sei lá. A gente pegava fruta no pé; a casa era ótima, grande, tinha muitos cômodos... E muito quintal. Na frente da minha casa tinha corrida de lambreta (como se fosse moto hoje). Eu ficava vendo e ouvindo aquele som maravilhoso, sentada na porta do restaurante dos meus pais, que ficava na frente da casa. Adorava aquele lugar... Até hoje está na minha memória como um momento maravilhoso de minha vida... Mas não durou muito... Quanto tinha 3 anos, a casa de meus pais foi desapropriada para passar uma estrada e aí começa a minha vida realmente. Amanhã mais um capítulo.
2º capítulo - Trouxemos de lá duas penosas de estimação, a Emengarda e a Bonifácia. Era com elas que eu brincava... (risos)
Com o dinheiro da desapropriação, só conseguimos dar entrada numa casinha em São Miguel Paulista. Eu me lembro que chorava o tempo todo, pois além de o lugar ser horrível na época, em relação ao lugar que morava, não tinha água encanada, luz ou asfalto. Na frente da minha casa tinha uma valeta que eu, com a minha idade, não conseguia atravessar. Nem vizinhos a gente tinha, por ser uma vila de casas novas. Aliás, tínhamos um vizinho, mas não tinha crianças. Então brincávamos eu e minhas três irmãs. Eu não me acostumava como isso. Não podia nem ligar a televisão, tomar banho de chuveiro, nada disso.
Mas o que mais me atrapalhava era o lampião. O cheiro do querosene até hoje está no meu nariz. Ah, sem falar no nariz, que sempre tinha que ser bem limpo, pois ficava todo preto por dentro das narinas.
A rua: comecei a gostar do local quando observei pela janela os...
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1º capítulo - Minha memória começa aos dois anos. Morávamos eu, meu pai, minha mãe e mais três irmãs. Minha mãe teve um filho, mas faleceu aos três meses... Era o caçula. Nem lembro dele, mas minha mãe falava que ele se parecia muito comigo. O lugar parecia um sonho, um conto de fadas, era na estrada Caminho do Mar, em Rudge Ramos. Nossa Parecia uma fazenda, um sítio, sei lá. A gente pegava fruta no pé; a casa era ótima, grande, tinha muitos cômodos... E muito quintal. Na frente da minha casa tinha corrida de lambreta (como se fosse moto hoje). Eu ficava vendo e ouvindo aquele som maravilhoso, sentada na porta do restaurante dos meus pais, que ficava na frente da casa. Adorava aquele lugar... Até hoje está na minha memória como um momento maravilhoso de minha vida... Mas não durou muito... Quanto tinha 3 anos, a casa de meus pais foi desapropriada para passar uma estrada e aí começa a minha vida realmente. Amanhã mais um capítulo.
2º capítulo - Trouxemos de lá duas penosas de estimação, a Emengarda e a Bonifácia. Era com elas que eu brincava... (risos)
Com o dinheiro da desapropriação, só conseguimos dar entrada numa casinha em São Miguel Paulista. Eu me lembro que chorava o tempo todo, pois além de o lugar ser horrível na época, em relação ao lugar que morava, não tinha água encanada, luz ou asfalto. Na frente da minha casa tinha uma valeta que eu, com a minha idade, não conseguia atravessar. Nem vizinhos a gente tinha, por ser uma vila de casas novas. Aliás, tínhamos um vizinho, mas não tinha crianças. Então brincávamos eu e minhas três irmãs. Eu não me acostumava como isso. Não podia nem ligar a televisão, tomar banho de chuveiro, nada disso.
Mas o que mais me atrapalhava era o lampião. O cheiro do querosene até hoje está no meu nariz. Ah, sem falar no nariz, que sempre tinha que ser bem limpo, pois ficava todo preto por dentro das narinas.
A rua: comecei a gostar do local quando observei pela janela os vagalumes, que coisa linda, que eu ainda não havia observado... Iluminavam-se como se fossem lâmpadas de árvores de Natal. Isso foi tomando o meu ser e comecei a sair para rua para contemplar tamanha beleza.
Os sons: naquele lugar não passava carro e quase nem gente... Mas à noite, na hora de dormir, é que eu podia me maravilhar com o barulho, o coaxar dos sapos... Adorava... Dormia ao som deles.
Medo: lembro-me que tinha muito medo na hora de dormir, por ter poucas famílias no local, de ladrão. Meu pai, coitado, passava quase todas as noites acordado a nos guardar.
E aí foi passando o tempo, fui me acostumando e me acomodando com aquele lugar que às vezes era mágico e outras, medonho.
Fui crescendo. Comecei a estudar. Já sabia quase tudo: ler, fazer contas de mais e menos. Adorava aprender. Minha irmã, Maria José, me ajudava.
No primeiro dia de aula, a professora me fez tantos elogios e já me passou para sala mais forte na mesma semana; me senti importante Estudei bastante Meu pai, como não arrumou serviço, foi ser camelô: vendia amendoim torrado, e minha mãe costurava em casa. Não deu certo. O trabalho do meu pai não dava lucro, não dava pra sustentar a gente. Foi barra... Minha mãe passou a costurar, mas naquele tempo, não sei ao certo, a máquina dela não tinha motor. Era tudo no pé, mesmo. Acho que é por isso que ela tem as pernas lindas e torneadas. Exercícios...
Depois de um tempo, meu pai e minha mãe resolveram vender churrasquinho no centro da cidade. Eu ia junto, depois da escola. Só que o danado do rapa passou e jogou toda a carne do meu pai no chão. Perdemos tudo. Então, minha mãe voltou para costura e nós, as filhas, ajudávamos com os afazeres da casa. Eu ia ao mercado e ajudava a pregar botões. Um dia minha mãe ficou até 5 horas da manhã costurando e eu tentei ajudá-la pregando botão, mas em vez de ajudar, atrapalhei. Os botões soltaram quase todos. Minha mãe teve que trazer tudo.
Fomos crescendo. Minhas irmãs começaram a trabalhar e eu fiz o vestibulinho no D. Pedro I. Passei e entrei. Que ótimo, era a melhor escola da região.
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