Projeto Vida Indígenas do Maranhão
Entrevista de Mariazinha Guajajara
Entrevistador(a) por Milson Guajajara e Jocy Guajajara
Terra Indígena Caru, 05 de Março de 2022
Código da entrevista: VIM_HV040
Revisado por: Nataniel Torres
Alguns trechos foram traduzidos da Língua tenetehara. Mariazinha conta trechos em português e trechos em língua materna
P – Só que primeiramente a gente vai começar, querendo que a senhora fale o seu nome, a idade e aonde a senhora morou?
R – Bom dia, Meu nome é, eu posso falar na minha língua. Meu nome é Mariazinha [Tradução da língua materna] eu sou mãe do Jocy, minha idade é 53 anos, eu nasci na Aldeia União onde o nome atual agora é Aldeia Marinalva. Foi lá que eu nasci, de lá o meu pai, me trouxe de lá, o nome do meu pai, o chamavam de Luiz e na Língua materna o chamavam de Mahaw, o nome da minha mãe é, eu não sabia o nome, mas o seu pai me contou pra mim. Narina era o nome da mãe disse pra mim, esse era o nome de narina na Língua materna, de lá. Depois onde a gente morou, moramos muito tempo lá, aí começaram chegar os Brancos(karayw), que queriam cuidar da gente, meu pai via e não sabia que os brancos se juntaram por aqui. Vamos atravessar pro outro lado dizia meu pai quando eu era pequena e atravessamos para o outro lado, esse lado aqui na Aldeia Marinalva, a qual é o nome atual agora foi lá que meu pai se feriu.
Ele derrubou a cerca no Rio, por cima da Água e atravessamos por ela e lá a gente morou, morava também os brancos que diziam que cuidavam da gente, foram morar também lá os brancos que se Chamavam UFPI, ah, agora se juntam vocês, porque vocês estão longe de nós, eu que vou cuidar de vocês agora dizia os brancos para o meu pai. Eu conto aquilo que eu ouvir, porque eu não sei direito também.
Aí depois viemos pra cá, minha mãe não queria vir, aí viemos pra cá. Deixamos todos nossos animais lá, minha mãe deixou tudo fechado e deixamos tudo lá, minha mãe estava chorando eu não queria deixar nada aqui Minha mãe dizia, bora minha velha, por que é só nós que a gente tá morando aqui agora dizia meu pai pra ela, é verdade minha mãe concordou.
Aí viemos pra cá, aqui a gente nem lembrava mais da ferida que lá ele tinha se machucado, quando a gente veio tinha gente morando aqui também. A rede de pesca do branco que feriu ele a muito tempo, não foi os indígenas que machucaram ele.
Aqui eu cresci depois, e o seu futuro pai foi começando a gostar de mim. Aí casamos, moramos juntos, não muito tempo meu pai ficou doente, eu vi meu pai ficando doente. Naquela época não tinha estrada para os carros passar, a única forma de transporte era o trem que passava por lá, mas não tínhamos autoria para que o trem pudesse nos carregar, chamavam de autoria. Meu pai ficou doente de noite pra nós, só que seu pai não viu por que ele foi para o mato. Meu pai gritava eu não estou bem, dizia pra nós se eu não ficar bem! Vocês se cuidem, não andem brigando com outras pessoas e não ficam batendo outras pessoas também meu pai dizia pra mim, a gente estava chorando lá, perguntou: cadê o seu marido? “Ele foi pro mato”, eu disse pra ele.
A sua irmã Marcilene, foi ela que levou ele de madrugada até amanhecer, levaram ele dentro da rede e levaram para as trilhas do trem e lá o trem vieram a autoria mandou buscar ele e a sua irmã foi com ele a Marcilene e levaram pra Santa Inês, a gente ficou a minha mãe e nós, no outro dia seu pai veio e eu contei pra ele, meu pai foi daqui não feliz, por que ele estava doente disse pra ele, passou dois dias e de noite chegou a notícia o pito contou pra ele espera aí eu tenho uma notícia muito ruim pra vocês , disse ele: o Mahaw ele morreu e a gente estava chorando lá, eu sinto tanta falta do meu pai, por quê foi o meu pai que limpou esse pedaço de terra e agora ele nunca mais vai vir aqui dentro, ele foi levado para ser enterrado para outra aldeia na terra que nem era dele e nós estavam falando pra eles, não foi ele, por que o filho dele também tinha morrido, o pai deixou que ele morresse o filho dele e enterraram ele lá, A gente nem viu, enterraram ele não ficaram trocando o local. É verdade que ele dizia pra eles esse é o túmulo do meu filho e se eu morrer também eu quero ficar aqui do lado do meu filho ele dizia pra eles, esse foi o pedido que ele fez pra eles, aí os filhos dele enterraram perto de nós e lá estão eles meu pai e meu irmão também, eles não eram nem velhos eu chorando.
A mamãe vivia, a mamãe morava com a gente e a minha mãe ficou doente também uma doença desconhecida chamada “Catapora", foi essa doença que matou minha mãe. Levaram a minha mãe para o Alto alegre lá minha mãe morreu também, morreu no Alto alegre e depois voltaram com ela e aqui enterraram ela é meu pai enterrado na outra Aldeia e meu irmão também.
A gente foi vivendo, seu pai casou comigo, eu vou te tratar muito bem não vou brigar contigo seu pai dizia pra mim, depois desse dia eu nunca vou brigar contigo dizia seu pai pra mim, Nacó morava com a gente também. Ele comia papo, alimentava todos vocês, não foi com o dinheiro que ele comprava os alimento para vocês, para que vocês pudessem crescer, assim meus filhos vão crescer para que possam me ajudar aqui também dizia seu pai pra vocês!
Aí depois ele fez vocês todos crescerem suas irmãs, agora estão aí algumas casadas e outras ainda não, não foi com os alimentos dos brancos que seu pai alimentou vocês. Ele alimentava vocês com animais de caça, matava tamanduá, porco do Mato. Assar pra eles dizia seu pai pra mim, nunca faltou um pedaço de carne pra vocês. Aí ele buscava açaí pra vender e depois comprar açúcar e café também, fazendo vocês crescer, foi lá que estavam o velho Nacó também morava com a gente e eu também vivia com ele.
Hoje em dia vocês agora têm filhos, foi lá que começou a fazer pequenas roças pra vocês, porque meus filhos estão crescendo e minha filhas estão casando, o pai de vocês nunca disse isso pra vocês. Ele não tem uma saúde muito boa e eu também não, não sou muito forte também. O português eu não sei falar muito bem, eu escuto, na minha cabeça eu sei tudo... vou pra lugares que os brancos da aula em lugares que tem reunião também, eu escuto tudo os brancos falando, eu sei na minha cabeça... Mas quando tento falar a minha língua não sai muito bem, eu sei falar só na minha língua materna que eu sei contar histórias, por que eu não sei muito bem o português a minha mãe não me ensinou, minha mãe também não sabia falar o português nem o meu pai também.
Eu sou apenas eu entre vocês não tenho nem uma outra irmã, não tenho nenhum irmão, o único irmão que eu tenho é o que o pessoal chama de Manel ele é o meu irmão, mas é por parte de pai, mas agora meu irmão de verdade do mesmo sangue do meu pai, nascido da mãe não tem, foi o que morreu, essa é a minha história meninos.
P – Dona Maria como foi a primeira brincadeira da Menina moça?
R – Sim, a primeira festa da menina moça, minha ou das outras?
P – Da senhora.
R - Parece que papai ele fez minha brincadeira, eu não me lembro se foi aqui ou foi lá na Aldeia União. Por que era lá que a gente morava de primeira “ foi lá que ele fez?”, foi aqui a primeira minha brincadeira o papai fez aqui , porque também, não sei se vocês sabem ele era cantor, eu não aprendi como meu pai cantava, por que naquele tempo, quando o papai morreu eu não me interessei como ele cantava... mas o papai era um cantor, papai sabia. O papai era que nem assim quase que nem o Tio Chico e quase que nem a parteira também. Por que o papai sabia se aquela mulher que estava gestante né , ele sabia se estava atravessado ou se estava normal, papai sabia , ele sabia também se aquela mulher estava Gestante se era menino ou menina, papai passava a mão e dizia assim seu filho vai ser mulher, aí tá normal, Tá com a cabecinha pra baixo né... Espera só a Dior aumentar, papai dizia desse jeito é era mesmo, foi Elas a tua mãe Dona Rizinha, aquele Delzin foi ele que fez o parto dela, só que eu não me interessei também dos cantos do papai, ele fez minha brincadeira aqui mesmo meus filhos.
P – Dona Maria, o que mudou nas festas de antigamente pra hoje em dia?
R – O que mudou assim, meu filho, sempre nós fala aqui, mudou assim por que naquele tempo quando era festa de maquiado não tinha foguete, não tinha alimentação que tá sendo hoje, antes era só carne de caça mesmo do Mato é tinha fazendo maquiado que botava na panela e tinha uns que fazendo também que era pra comer na hora que eles estavam cantando, era assim!
Mas hoje não por que mudou, por que ali se fala em uma festa de menina moça já sabe, vai fazer uma lista grande pra comprar a alimentação e a despesa é muito grande, ali vai comprar bolacha, vai comprar refrigerante, vai comprar leite, vai comprar carne, cebola, corante, pimenta do reino é tudo ali. Mas antigamente não era assim não, era só xibeu mesmo também, hoje em dia nem xibéu, ninguém quer comer mais. Naquela brincadeira que teve a última vez, eu levei a farinha dentro do cuia grande o povo não comeu não, amanheceu o xibeu de farinha lá na cuia ninguém não comeu, foi só uma pessoa que comeu, aí no outro dia agora, meu marido disse pra mim.... Rapaz eu fiquei com muita vergonha ali, tu levou aquela farinha molhada ali ninguém comeu o xibeu , eles não dão valor não, xibeu de farinha não. Eles dão valor é só leite e refrigerante ele dizendo, aí é mesmo velho, aí eu ia fazer também mingau de mandiocaba pra vocês ver mas como eu não estava aqui Ontem ai não deu pra me rancar ontem pra me fazer, hoje, eu gosto de fazer mandiocaba pois é , aí o diferente que eu achei foi esse daí.
Porque de primeira, nem foguete, não tinha foguete naquela época também não, pois é.
P – Você poderia me contar como é o processo da festa da mandiocaba?
R – Da festa da Mandiocaba, é assim que nem assim, a Menina Moça se formou hoje, ela passa 8 dias na tocaia. Aí de 8 dias em diante, ela sai da tocaia, fica correndo atrás dela ao redor da casa ai a gente faz o banho também de folha de mandiocaba misturado com folha de batata também, aí a gente banha a criança, a menina moça numa base de 4 horas da madrugada, aí a gente banha ela e naquela hora ela não vai dormir mais não, já a mãe vai botar logo ela na cozinha pra fazer as coisas, pra ficar também fazendo as coisas, pra não ficar dormindo até tarde. Aí naquela hora a mãe já bota pra fazer uma coisa, varrer a casa, lavar vasilhas, ela vai amanhecer naquela hora. Porque ela ganhou.
Agora hoje em dia não, hoje em dia não tem esse daí mais. Aí depois que ela passa aquele jenipapo, aí a gente vai fazer logo o mingau de mandiocaba pra esquentar o estômago dela, ali esquenta o estômago dela. Aí junto com o beiju esquenta também o estômago com beiju e bota na cabeça dela também, pra não ficar branco o cabelo dela logo, pois é.
P – Pode contar pra gente a sua festa de menina moça, a sua experiência como foi, por gentileza?
R – A minha experiência é o que tô dizendo, porque quando foi feita a brincadeira da Menina, da minha brincadeira, não teve foguete, não teve alimentação, ali era só mesmo o papai com os amigos dele, que era cantor também, que ajudava ele e as cantoras também, que era a mamãe também. Aí, naquele tempo, não tinha energia, acendia um fogo, um coivara de fogo assim no terreno pra acender cigarro né, energia ali era só mesmo o fogo de cigarro feita com Tawari, nem esse aí também hoje em dia não querem mais fumar no Tawari, é só no papel, se não tiver papel, eles não fazem cigarro no Tawari, mas o papai gostava de fumar no Tawari, pois é.
P – Dona Maria, qual a festa de moqueado mais marcou a senhora, que ficou na sua lembrança?
R - O que ficou na lembrança mais marcada é porque várias caça. Eles botavam mais era capelão, eles botava cotia, eles não botava paca que nem agora né, só essas caças que eles matavam era capelão, macaco, quando eles topavam com os porcão, matava o porcão, caititu só. Tirando essas caças, eles não botava outra caça que nem agora, que estão botando agora e Uru também, Uru nunca deixavam de matar também, por que aquele dali que é o chefe da moqueada, matar o Uru primeiro e botar no jirau, chamando agora os outros. Agora eles mata cotia, bota no jirau, paca também, eu nunca vi agora eles estão botando, e lambú também, que era pra fazer só pra passar nos nossos braços e só. Lambú grande não era lambú pequeno também não.
P – Agora eu queria que a senhora contasse a história da sua primeira caçada, por que a senhora gosta de caçar também, né?
R – Eu gosto de caçar também.
P – Eu queria que a senhora contasse um pouco da história também, da sua primeira caçada que a senhora fez?
R – É agora?
P – Sim.
R - Deixa eu ver, qual foi a caçada que nós fomos, foi minha filha, eu acho que foi ela a Mariene a primeira caçada que teve aqui, não foi Tonho? Tonho: sim, foi da Marcilene, que é a minha filha mais velha, foi dela a primeira caçada que teve dela que nós fomos pra mata, pois é.
P – Como a senhora aprendeu a fazer artesanatos?
R – É, artesanato meus filhos, eu não vou dizer que eu sei fazer artesanato, o artesanato que eu sei fazer é pintar cuia, e maracá só que eu sei fazer, mas artesanato mesmo, o cocar, eu não aprendi a fazer, só sei fazer duas coisas que eu sei fazer: maracá e pintar cuia só.
P – Mariazinha, o que te motivou a aprender a fazer?
R – Eu aprendi porque eu vi a minha mamãe fazendo, eu aprendi com ela.
P – Naquela época Dona Maria, qual era a relação de vocês do povo Guajajara com outros povos indígenas?
R - Nós não tínhamos contato com outros povos. Assim nós aqui mesmo, nós não tínhamos contato nem mesmo com o pessoal da Januária, nós mesmo não tem e nem eles lá com nós pra cá, pois é.
Agora desse tempo pra cá, foi que começaram a se chegar com o pessoal do Januário, os de lá tinha era raiva dos daqui dos pessoal daqui, desse daí eu me lembro, aí começaram a se chegar agora desses tempos pra cá com nós pra cá.
P – Mas fora isso, tinha outro povo também?
R – Tinha também os Kayapó, nós não tinha contato com os Kayapó e agora já tem, porque nós mesmo não tinha contato com os Kayapó, não tem, nem com os outros Guajajara de outras aldeias nós não tinha, só nós aqui mesmo.
P - E a senhora lembra de quando a linha de ferro chegou pra cá também?
R – Meus filhos, quando nós, a linha de ferro, quando por aí, eu conheci, eu tenho lembrança um pouco da via mata do outro Lado, teve um dia que nós fomos eu e esse velho aí, nós fomos lá pra outro lado, pra nós ver o trem, como é, o trator derrubando as madeiras do lado de lá, quando foi passada a linha de ferro aí, era só uma varedinha primeiro, aí saíram cortando os brancos, pois é.
Mas parece que o trator agora veio atrás devorando tudo, teve uma vez que ele me chamou, nós fomos olhar lá do lado, porque eu não tinha visto o trator e nós fomos pra lá, nós só ouvia paus caindo um do lado do outro pra passar essa linha de Ferro aí, pois é.
P – Quando passou a linha de ferro aí, o que os mais velhos falavam pra senhora?
R – Quando passou essa linha de ferro ai, meu filho, eles diziam assim que eles iriam acabar com tudo do outro lado, eles iam trazer muitas doenças pra gente e ia também trazer muito brancos também pra perto também da nossa aldeia e como tá tendo, né.
P – O que mudou, dona Maria, com a chegada da linha de ferro?
R – O que mudou, meus filhos, é o que nós estamos vendo, tá tendo mais branco e nossos filhos tá deixando nossa cultura que é a língua, não é todos mais que sabe falar a língua materna, porque eles estão aprendendo mais o português, que não dá valor, quando tem alguém que fala na Língua Materna, ficavam mangando já, sabe nem o que você tá falando, pra ele é bonito de deixar a nossa língua e pegar a cultura dos brancos, pois é.... e cada vez mais tão trazendo coisas que a gente nunca viu e hoje nós estamos vendo.
P – Voltando lá atrás mesmo, quando a senhora era pequena, teve uma brincadeira que gostava de fazer?
R – A brincadeira que eu gostei, meu filho, foi essa daí do Moqueado mesmo, que eu gostei, até hoje e ainda gosto. Eu nunca gostei das brincadeiras dos brancos, eu nunca tinha visto agora que eu estou vendo também brincadeira dos brancos.
P – Dona Maria, naquela época com a chegada da linha de ferro, você foi consultada para o contrato se podia passar ou não?
R – Meu filho, esse daí se nós fomos, nós não vimos, porque pra cá vieram outros indígenas que não eram daqui e vieram pra cá também, que foram mais espertos também, porque o papai não sabia de nada, era mesmo que nem uma criança, os outros também o finado tio Chico era do mesmo jeito também, logo aqueles ali, não sabia nem o português somente a língua materna, pra eles estava tudo bem e ali também era pequeno, ele não era, era pequeno também e não dava pra eles também, estava tudo bem.Mas quando chegou outros indígenas de fora que chamou e chamava, morreu também o João Madrugada da Aldeia Bacurizinho veio aí, foi ele que pegou esse recurso não tem que passou pra ele, os brancos deram o pessoal da Vale, que foi muito dinheiro que eles deram, mas nós não vimos, pois é.
P – Antigamente, como vocês se alimentavam?
R – Nós se alimentava era, nós ia pro mato, matava uma caça, nós comia assado, peixe assado também, nós ia pescar também nas lagoas ou no igarapé, os peixinhos que nós pegava comia com farinha, nós não tinha arroz naquela época só farinha mesmo, pois é.
P – Você se lembra de quando foi a demarcação do território?
R – Eu não me lembro não, meu filho.
P – Das histórias dos seus pais não contavam não?
R – Não.
P – E quando começou a organização dos Guardiões?
R – É, eu não me lembro também, é assim meus filhos que nem eu estou falando, porque esse daí, quando foi. Que dizer assim foi formado os Guardiões, né?
P – Tipo pra quê foi criado?
R – Ah sim, pra defender as florestas para que os brancos não possam acabar, que nem acabaram do outro lado, que nem hoje ainda que tem gente teimosa, a gente tá lutando aí tem gente teimosa não é todos, tem um que tá teimando ainda como esse, tão querendo acabar com o nosso território, não tem mas só que é, eu acredito que nós não vamos deixar essa pessoa acabar, porque temos muitas crianças que estão nascendo também, eles querem ver, eles querem conhecer as florestas também, eles também querem conhecer jabuti, frutas, bacuri, pinoa vão ver também. É por isso que nós estamos lutando contra os invasores da floresta, assim como nossos antepassados, do papai também lutaram aí nós também temos que lutar pra deixar nossos filhos, para que eles possam conhecer as florestas também.
P – Naquele tempo não tinha, como os brancos, hospital e remédios também?
R – Não tínhamos, meu filho.
P - Como que era, que vocês faziam para curar alguma doença?
R - Não tinha hospital e nem remédio, remédio de febre, quando alguém estava com febre não tem aquele ywyra'ro que chamam, era aquele que era o remédio de febre o ywyra'ro, também as folhas de planta pynay’apó esse era pra comer contra diarreia. Antes não tinha hospital e remédio pra dor de cabeça era o Ywyra'ro tá, queimava o ywyra'ro tá é depois cheirava a fumaça dele Era assim antigamente, por que não tinha os remédios dos brancos naquela, até ficar bom e parava a dor de cabeça, também tinha o canuaru o caroço dele, raspava com faca e depois passava na testa até a parar a dor de cabeça foi assim antigamente, não tínhamos remédios.
P – Voltando de novo, de quando a senhora fez a sua brincadeira, quais eram os tipos de comida que você podia e não podia comer?
R – Hoje em dia, quando alguém menstruar pela primeira vez, agora come de todo tipo de alimento, mas antigamente, eu mesmo... minha mãe dizia seja forte, você não vai comer nada, mamãe dizia pra mim e era verdade, o único alimento que eu podia comer era o Cará, arapero e iri’á também, era só esses que podia comer. A menina, depois da primeira menstruação, até quando acabasse o Moqueado, depois disso, podia comer todo o resto de alimentos, só que não é assim tão simples, primeiro o jenipapo tem que sair todo o jenipapo do corpo dela, aí depois podia comer todos os alimentos. Mas hoje em dia, nem mesmo carne de gado a gente podia comer naquele época, a barriga doía e por baixo da barriga os que menstruava pela primeira vez, agora quando a menina tem a primeira menstruação antes da brincadeira agora dão carne pra ela, carne de galinha, primeira fazendo queimaduras de leve, aí começar a doer na barriga. Já eu que já tô crescida eu nunca tive essa dor de barriga pelo que eu sei. Olha aí gente, é o que eu sempre digo pra minhas filhas, eu que podia tá com essa dor na barriga, porque na brincadeira agora eles comem carne e dão carne pra elas comer também, porque estão com fome também dizia pra elas, naquela época a gente não tinha isso.
P – Dona Maria, falando agora sobre a proteção territorial, a senhora se lembra da sua primeira missão, que a senhora fez como guardiã?
R – A primeira missão que eu fui, foi no Rio, no final do Carú!
P – Conte mais pra nós como foi lá?
R – Daquela vez lá nos fomos no verão, aí a alimentação que a gente levou, os pessoal que levaram por água, nós fomos de pé com as bolsas nas costas, aí quem foi levando a alimentação na canoa naquela, foram empurrando também, porque o Rio estava seco, tinha lugar que estava seco, nem canoa passava, aí era obrigado os meninos empurrar e puxar pra poder cair lá onde era mais fundo, inclusive até eu já andei pescando mais a Raimunda naquele funçãozinho que era mais fundo. mas o Rio estava seco, nós fomos até o final do Carú, aí depois nós voltamos, nós foi por terra fazendo as varridas que aqui acolá nós fazia lugar da gente dormir lá, aí no outro dia a gente viajava de novo, era assim.
P – Então esses trabalhos de vigilância, Dona Maria, você já teve alguns riscos que a senhora se lembra?
R - Já. Quando nós cheguemos aí primeiro, nós cheguemos ali, a onde a dona Helena mora, lá no São Raimundo, aí nós cheguemos de noite, aí o filho dela disse assim “Agora vamos atravessar lá para o outro, não vamos ficar desse lado aqui”, e atravessamos por dentro da água, com água no joelho, e atravessamos para lá, aí passamos acho que foi bem os dois dias lá, acho que foi, aí quando foi nos outros dias aí essa mesma mulher que tá teimosa, aí foi uma ligação daqui pra nós que não era pra nós, que não era pra nós dormir muito, por que disse que os brancos iam vir atacar lá. Aí nesse dia também ninguém não dormiu, nesse dia aí eu tenho a minha filha também, que era uma guerreira também, a Pina que é a minha filha, que andou muito por aí também com eles, eu perdi também essa guerreira que é minha fia, que é a Pina né, era cozinheira também mais a Raimunda.
Aí nós fiquemos e ela dizia pra mim “mamãe, você não vai dormir não aí”. O marido dela dizia que ela também o marquinho: não, vocês dormem, as mulher dormem, nós que somos homens, vamos passar a noite todinha vigiando vocês. Ele dizia também pra nós, aí nós ficava lá também. Nesse dia ninguém dormiu mesmo. Aí quando foi no outro dia, a gente saiu de lá de novo, aí saíram cortando a frente os homens e nós atrás andando, reparando os ramal, meio muito de madeiras tirado aí no ramal, quando nós cheguemos lá, a mulher, a Raimunda, a finada Pina, tinha um monte de madeira lá e nós ficamos olhando lá era as madeiras que nós ia vendo e tocando fogo, pois é.
P – Nesse tempo vocês viam muito a madeira ou não?
R – Nós via muito madeira meu filho, muito madeira rachada rolada e faltava rachar ainda muito madeira mesmo, os ramal assim parece um ramal assim com a estrada mesmo de carro, pois é.
P – Tem muita história de pescaria que a senhora sabe?
R – De pescaria também de primeira também a gente botava Tibor também nós Igarapé naquela época, agora hoje em dia ninguém faz isso mais não né, arrancava tibor com a Zanai, tinha outro também que era tira de Tibor aí a gente panhava né, enchia o cofi aí naquela folha ali, a gente botava sabugo de milho, botava pimenta também, aí a gente fazia o buraquinho do jeito do pilão no chão, aí ficava socando agora com o pedaço de pau até ficar bem machucadinho, a gente tirava agora e fazia aquele angu e botava dentro do coco e aí levava para o igarapé, pode ser na lagoa, aí o peixe morre ligeirinho. Agora hoje não tem mais não, se acabou. Eu tinha um pé lá no igarapé aí, também cortaram e morreu. Foi assim antigamente, Kunami o negócio de matar peixe, era o remédio de matar peixe, agora hoje não tem mais.
P – Teve uma pescaria assim que vocês mais gostaram de fazer assim?
R – Tinha, meu filho, pescando nas lagoas nós nunca pescamos aquela de tarrafa e nem de enganchar, nós pescava sempre de anzol, mesmo nas lagoas por aí alimentando os tambaqui, ainda hoje nós faz isso.
P – Como foi que você conheceu meu pai?
R - Então, o seu futuro pai foi assim, ele não era casado também e nem eu também não era casada. Meu primeiro marido é o seu pai, ele também não teve outra mulher. A gente estudava no colégio, tinha uma professora que se chamava “Jenice”, era ela que ensinava nós de primeiro, foi nessa época que ele foi gostando de mim. Aí depois a gente foi se conhecendo se gostando, a gente se encontrava escondido, ele vivia esperando eu no caminho do rio, quando eu ia pro rio tomar banho, aí ele ficava esperando na estrada do rio, me esperando. Aí meus pais não sabia ainda, mas quando a minha mãe soube e perguntou pra mim, ela perguntou primeiro pra mim. “É verdade que você está com esse aí kumara'y”, disse pra mim, quem dera que fala kumara'y pra sua filha agora. “É verdade que você está com esse Rapaz kumara'y?”, dizia ela pra mim, eu não queria contar pra ela também, contar pra mim ela dizia pra nós acabar logo com isso. “Ah, é verdade”, eu disse pra ela também, “é verdade. Ele tá comigo e eu tô com ele também”, eu disse pra ela. Ele vivia em outra casa também, a mãe dele sabia de tudo também, ele vivia numa casa, na casa do velho Crimitina que ele morava agora, de lá ele tava comigo.... quando foi no outro dia, ela foi contando pro meu pai, meu velhinho hoje vamos fazer o casamento dela hoje pra acabar depois com isso, pra eles viverem juntos agora minha mãe dizia pro meu pai, pois faz muito tempo que ele estão juntos. Hoje eu vou buscar ele, aí ele não sabia o que tava acontecendo, ele dormia na casa do velho Crimitina, ele foi lá. Trouxe a rede é o que sempre digo pra minhas “se a mamãe ainda estiver com vocês, porque vocês não sabem andar com a mamãe” e a minha mãe foi buscar a rede dele, desamarra essa rede dele e amarrou perto da minha, essa vai ser a rede do seu marido agora, “vocês vão dormir juntos agora”, dizia pra mim. Ele vivia com vergonha, passou uma semana com vergonha de mim, ele foi morar lá com a gente, só vai lá dormir de noite e quando amanhecia ele saia até a tarde e de noite ele voltava também, ele era assim e a irmã dele falava com ele a Maria, eu falava com ela também “Maria, o seu irmão não ficar aqui comigo”, eu dizia pra ela, “ele só vem pela noite aqui e quando amanhece, eu não sei pra onde é que ele vai” dizia pra irmã dele. Minha mãe dizia pra ele “assim que vocês vão ser, eu não quero assim, agora vocês são casados, ele é o seu marido e ela sua esposa.... Vão buscar Pinoa amanhã pra mim”, disse pra nós, e o meu velhinho morrendo de vergonha, “eu quero comer Pino”a e quando chegou de noite, “agora vamos”, disse pra mim. Aí nós fomos tirar as cascas de bacaba mais ele, foi a primeira vez que nós andamos no mato eu mais ele. Ele com vergonha de mim e eu com vergonha dele também, aí pronto! Aí depois do pé de bacaba, aí a gente começou a andar junto, agora até hoje nós tão vivendo, nosso casamento foi assim. Depois que apareceu um padre por aqui batizando os meninos, que se chamava finado padre de Carmo, naquela época, agora aí botaram o nosso nome lá que era pra nós casar e eu casei mais ele na igreja pois é, e hoje nós estamos juntos, até hoje. Nós vamos se deixar se um dia Deus levar um de nós, aí nós vamos se deixar.
P – Como é que foi mesmo esse casamento entre vocês?
R – Esse casamento é que nem eu tô dizendo, a mamãe foi buscar a rede dele lá, na casa onde ele tava, ela armou lá pertinho de mim, nem eu tava sabendo aí do nada a mamãe com a rede dele aí ela foi e armou lá pertinho da minha rede e aí disse assim mim hoje vocês estão casados. O que é que eu ia dizer pra ela, eu não ia dizer pra ela que eu não queria ele, aí aceitei, ele que nem falei ele passou uma semana com vergonha, ele só ia lá de noite pra dormir ai quando o dia amanhecia ele saia, aí quando foi no dia, a irmã dele tava falando pra ele que não era pra acontecer assim não.
Aí mamãe andou falando pra ele também, aí papai, aí a mamãe disse assim: amanhã eu quero que vocês vão buscar bacaba pra mim, eu quero bacaba também, que eu quero comer bacaba. Quando foi no outro dia ele me chamou pra nós ir pro mato, que a mata era bem por aqui assim, nós morava lá, aí nós viemos atrás da bacaba, aí nós levamos pra ela e ele toda vez longe de mim, aí pronto nós trouxemos essa bacaba pra ela aí e depois dessa bacaba agora ficamos perto um do outro agora até hoje, aí ele também nunca triscou as mãos em mim também até hoje da vida e nem eu com ele também não pois é, e hoje nós temos neto, nós temos bisnetos, todos nós tem.
P - Seu pai sabia de tudo sobre a mulher na hora do parto eu queria também que a senhora contasse um pouco sobre seu filhos e partos, quem te ajudou, quem foi a parteira?
R - Sim, eu vou contar, do meu parto. Eu sei, a primeira minha menina que eu apareci grávida dela, ela morreu depois da Marcilene. Era mais velhos do que a Marcilene, foi assim: ele botou uma roça, a primeira roça que ele botou aí nessa roça eu plantei bastante amendoim, até a beira do lago da Janice ali era Capoeira nossa ali, aí nessa roça a vó dele aqui ela me chamou eu tava grávida já tava com buchão no mês de ganhar ela, aí ela me chamou “kumara’y vem aqui, vamos arrancar amendoim”, aí eu fui mais ela. Nós passamos uns quatro dias arrancando amendoim, eu sentada também arrancando amendoim, abaixando, eu acho que eu matei a criança dentro da minha barriga. Aí comecei a sentir as dor dela, é que nem eu tô dizendo naquele tempo não tinha estrada, a gente só tinha lancha que andava no Rio Carú é aqui não tinha nem transporte também nesse tempo também, aí senti as dor dela agora, só naquela época tinha uma mulher também que era enfermeira aqui, que se chamava Maria do Carmo, eu não sei se ela ainda é vivo um tempo desses ela veio aqui ela já tava velha também, ela que fez o meu parto. Aí eu passei 5 dias só sentindo dor, em 4 dias eu já tava conhecendo as pessoas ainda, nos 5 dias eu não conheci mais não, eu disse pra minha mãe pro meu pai, meus pais tudo era vivo nesse tempo, eu disse pra eles que eu não ia mais aguentar mais não. Eu tava perdendo muito sangue, aí essa mulher também, como era que ela ia me leva também aqui não tinha transporte nenhum, não tinha estrada também e a lancha só pegava no Rio Carú pra mim ela me levar daqui na canoa quando chegasse lá no Rio Carú eu já tava morta já, aí ela disse assim pra mim que ela ia dar um jeito de fazer meu parto por aqui mesmo, aí foi. Ela disse que não ia ter pena de mim que iria tirar essa criança de mim porque eu não tinha mais força, a minha força já tinha terminado já, aí ela foi e puxou essa criança de dentro de mim, aí o bracinho dela quebrou, tava quebrado bem aqui assim em dois lugar na criança, aí eu fiquei, Deus também que me ajudou, aí eu fiquei agora, aí eu passei mais de um mês agora todo dolorido sem fazer nada, ele que fazia as coisas pra mim ele ali, eles levava meus panos fazia de comer pra mim, carregava água pra me banhar, que nós não tinha água encanada nesse tempo, pegava água do igarapé pra me banhar. Aí ele fez isso comigo, lavava meus panos ia fazer de comer, de comer assim era peixe assado, peixe cozido. Aí depois dai, passei um ano sem engravidar. Depois que eu engravidei de novo da Marcilene, aí da Marcilene, bem dizer foi ele que fez meus partos, o papai, aí ele passava a mão no meu bucho, aí ficava com a mão assim e ele disse que era minazinha mulher, que eu ia ter ela normal, ele dizia pra mim. Aí quando eu comecei a sentir as dor, ele passava a mão de novo “não tem”, aí ele disse pra mim a menina tava tudo no jeito já estava faltando só as dor aumentar, ele assoprava aqui na minha cabeça e quando as dor aumentou eu tive a criança. Aí tinha uma mulher ali no estranho boca também que se chamava ela de parteira, naquela época era parteira, não tinha enfermeira não tinha doutor naquele tempo era parteira, ela também veio, ela pegou a criança, cortou o umbigo dela, naquele tempo quando sentia as dor tinha aquelas cadeiras aí amarra os panos nas pernas da cadeira, aí a gente assentava em cima da cadeira pra ter a criança e a parteira sentada ali na frente da gente com a mão já também por debaixo também pra pegar a criança pra não cair no chão, aí foi assim aí a menina nasceu também a parteira cortou o umbigo dela, aí pronto.
E aí depois eu engravidei de novo do outro meu menino que é o irmão dele aqui que os brancos mataram ele também aí já foi o outro que fez meu parto também pois é, e dessas meninas todinha que eu tive.... Aí teve aquela dali que foi a mamãe que fez meu parto também que mora ali naquela casa foi a mamãe que fez meu parto ela que pegou meu parto também aí essa aqui mora lá na aldeia lá que se chama lovo aquela dali eu tive ela sozinha que caiu no chão aí o pai dela disse rapaz tu matou a menina não tinha que ninguém pegasse ele foi e pegou próprio pai dela pegou ela, foi que a mulher do Manel chegou também e cortou o umbigo dela né pois é, agora dessas três meninas agora que eu fui que eu fui acompanhada no hospital que foi da minha caçula, dessa outra e dessa que tá aqui só, mas os outros ele aqui tudo foi a parteira mesmo que coisou, aí o papai sabia ajeitar, sabia que era meninozinho homem e que não era mulher, hoje em dia não tem mais isso mas não pois é se nascer que vai ver ai a mulher pro Hospital bater ultrassom aí o médico vai dizer e descobrir se é homem ou uma mulher, mas de primeiro não era não e o papai sabia disso pois é.
P – Dona Maria, a senhora já foi curada assim com algumas plantas medicinais?
R – Eu já, meu filho. É que nem eu tô dizendo eu foi criado dor de barriga assim é aquela raiz de Cánice que o chamam não tem, pois é dor de barriga aí machucar ele e aí bebi a pessoa que tá com dor de barriga aí pronto.
P – Tem outras plantas que a senhora conhece também?
R – Tem outras plantas que a gente conhece também que é serve pra, que acham de coquinho que é bom também pra dor de barriga né aí tem também o Ka'a pinema que é mastruz também é bom também né e Camamu que é a raiz de canapu também ela é boa também, eu vou falar dessa dai.... esse daí foi que a mamãe fez pra mim pra botar o resto nós partos também pra fora a faixa de Canapu é machuca um pouquinho e botar no fogo pra ferver aí faz o chá é bebi aí com poucas horas aquela mulher que tá de resguardo bota o resto pra fora é muito bom também pois é, esse daí a mamãe já fez pra mim também pois é.
P – Quando você tomou, você lembra como foi quando você tomou?
R – Eu tomei, eu me lembro a mamãe fez isso pra mim o chá de canapu aí botei aquele resto pra fora do parto pois é.
P – O que te levou a aprender Dona Maria a fazer esses remédios?
R – É por que eu via minha mãe fazendo aí eu aprendi com ela até hoje né pois é.
P – Já teve alguém que já quis aprender assim com senhora?
R – Meus filhos agora desse daí, só tem um que é a menina a tua irmã que sabe que aprendeu né a fazer assim, só mandiocaba também que ela é a Mariene só, tirando ela as outras não aprendi, elas não ficam olhando pra gente quando a gente tá fazendo né pois é.
P – Como era a relação com seu pai?
R - Relação com meu pai?
P – Isso.
R – Como assim?
P – Como você vivia com ele assim?
R – Eu vivia com ele assim nós andava, é que nem eu tava dizendo nós passamos uns tempo lá o papai também ele nunca foi um homem assim mal também pra gente, ele não deixava eu passar fome também né, logo ele o papai naquele tempo, os brancos era pouco mesmo e andava mais era no Mato também caçando caça pra nós comer também né com farinha, Arroz naquele tempo eles não gostava muito de arroz também né, era assim. Ele ia pescar, levava nós no igarapé pra pescar pegava os peixinho pra nós, mamãe assava nós comia era assim, mas o finado meu irmão Não tem que morrer né. Que é meu irmão mesmo, por parte da mãe e por parte do pai que era finado Fernando que chamava ele.
P – Dona Maria com essas caçadas do seu pai, ele nunca lhe contou algo que ele presenciou encantado assim na floresta?
R – É, meu filho, ele contava uma história que disse que, que teve um indígena também né antigamente que também, esse canto pra ele aprender também disse que foi um indígena, não é indígena e era, Até hoje nós temos medo de Sucuruiu, Sucuruiu é gente né. Ele foi pela floresta aí lá disse que escutou um indígena cantando no igarapé aí esse indígena ficou escutando também, ele contava né o papai aí penso que não esse indígena tinha matado duas Caças de pena que era Lambú e mutu, aí lá vem ele descendo esse indígena cantando aí esse indígena falava assim quem será esse aí... e quando chegou perto dele, eles se encontraram aí os que via cantando parou de cantar. Aí ele disse pra ele, nossa, você está andando por aqui meu amigo, por que os mais velhos se chamava só de Amigos né, você está andando por aqui meu amigo ele disse pra ele, o papai Aí disse que ele andava com um cigarro cheiroso esse indígena que vinha cantando, aí disse que ficaram conversando o Sucuruiu conversando lá aí disse que ele foi de perto, que ele se agradou das Caças que ele tinha matado não tem o indígena aí disse que ele foi e pediu pra ele, se ele não podia dar uma caça que ele tinha matado pra ele esse indígena que vinha cantando, aí disse que ele foi e disse pra ela assim que caça era que ele queria aí ele disse que tinha se agradado da Lambu que ele queria Lambu. Aí esse indígena foi e tirou pra ele e deu esse Lambú pra ele, aí ele disse assim pra ele, tinha uma terrada assim grande lá, disse que tinha lá. Aí ficou o Sucuruiu lá que ele ia, disse que lá não achou, não convidaram ele lá não é pra ele ir lá na aldeia desses parentes dele lá, por que disse que lá os parentes ele estavam muito bravos lá, aí então ele ia lá resolver não tem aí disse que era o cobra Grande que tava falando pra ele o Sucuruiu pra esse indígena, aí ele disse que ia pra lá aí disse que ele foi, aí disse que ele saiu os indígenas, aí disse pra ele assim me espera aqui disse pra ele né, que era pra esperar ele lá, me espera aqui. Aí esse indígena que era a cobra né, aí ele foi e desceu pra essa terra lá.
Aí esse indígena ficou com medo Esperando ele lá, mas ele ficou lá, com medo mas ficou. Pois é aí disse que demorou agora, aí ele escutou o cachorro latir lá embaixo dentro do fundo da terra, aí ele escutou não mexe com ele, esse é o Tio dele, tu não conhece o seu parente, disse pra ele né. Disse que lá agora, aí ele ficou lá esperando que demorou por causa disse que ele saiu com outra pessoa pra ele não tem, aí ele foi e disse assim pra ele que com três dias, era pra ele ir lá olhar esse indígena pra ele olhar lá nessa terrada, aí tá bom ele deve ter dito pra ele né aí disse que lá ele se despediu né um do outro O indígena foi pra casa dele e ele também saiu, aí com três dias ele chegou lá na casa dele ganhou a mulher dele falou com ele, o que era que ele tinha nada não, botou assim pra mulher dele e ela disse que pegou também e foi consertar lá e ele foi se deitar, só ele que sabia. Ele não contou pra mulher dele e a mulher andou perguntando pra ele o que era que ele tinha. Ele disse que não era nada não. Que não era nada não aí com três dias ele foi lá nessa terrada aí ele rapaz eu vou lá, por que o meu amigo disse pra mim né eu acho que ele foi lá, aí quando ele foi lá, olhou por ali em cima da água, disse que tinha meio monte de jacaré morto, era muraque, tudo pode por cima da Água agora lá que ele tinha matado eles lá né, esse cobra Grande né, Aí essa cobra Grande deu um objeto pra ele disse que era tipo uma arma aí disse que foi e é disse pra ele meu amigo eu vou te dar uma coisa pra você, esse é o objeto não ficar mirando em outras pessoas acho que disse pra ele né, só você tá vendo né, aí disse que ele deu pra ele uma arma pra ele, aí ele disse que ficou com ele também sem mostra pra ninguém disse que ele pro mato se achava o Macaco ele acertava o Macaco trazia levava pra mulher dele, aí disse que a mulher pelava no fogo disse que não via nada de lugar de chumbo e nada.
Aí disse que ele ficou matando as caças, aí a mulher dele ficou desconfiada dele agora, ele tá matando com o que acho que ela falou pra ele. Aí eu vou pegar ele talvez ela dizia pra ele, aí quando foi de novo trouxe Macaco de novo, aí a mulher dele pelou de novo, olhou aí não de lugar de nadinha nele, aí ela disse que foi perguntou pra ele. Com o que você está mandando esses macaco disse pra ele, eu matei com flecha deve ter falando pra ela né, você tá mentindo ela deve ter falado pra ela, aí disse que quando foi um dia agora. Eu vou comigo pro mato ela disse pra ele, aí foi mais ele agora pro mato aí disse que ele, ficar aqui disse pra ela e disse que a mulher dele pelejou até que ela foi mais ele agora e chegaram lá, foi pro lugar dos macacos né, ele pegou a arma dele que era só pra apontar disse que a caça caia no chão. A verdade ela deve ter falando pra ele agora né, disse que um caiu e outro ficou enganchado lá em cima né aí disse que ele subiu pra desenganchar esse que tava lá me cima aí lá na hora a mulher dele, quando ele tava lá em cima a mulher dele foi lá no mocó e tirou essa arma e disse que apontou pro rumo dele oh, foi só e matou o marido dela que na hora que ela apontou a arma nele disse que o marido dela desceu no chão e matou o marido dela pois é. Só que essa arma também, ela também não ficou com essa arma pra ela, ela tinha guardado lá na hora e quando foi procurar depois o dono já tinha levado de novo Que ele não era pra ela, pois é, aí esse canto esse indígena pegou dele né ai papai Cantava também do canto, só que eu não aprendi com ele também do canto que ele aprendeu com o indígena que contou também pra ele pois é.
P – Tu falou que a história que seu pai contava né, teve uma história que sua mãe contava assim, que gostava mais de contar pra senhora assim?
R – A mamãe contava assim também, por que Antigamente não tinha fogo né, não tinha fogo A mamãe me contava esse daí, é por que que os brancos dizia assim os índios comia cru eles dizia, porque antigamente não sabíamos do fogo, o fogo pegava do Uruhu é o gavião que se chama Uruhu, não tem o Uruhu que vem do céu né, vem muito rápido, é aquele que se chama Uruhu, voltaram pra pegar o fogo que a minha mãe contava também aí disse que foi um dia... O Uruhu é porque antes todos sabiam falar antigamente, todos falavam antigamente animais que tinha penas né, aí eles estavam se juntando os Uruhu, vamos levar o fogo todo enrolado eles diziam, eles pegavam fogo do Deus aí nesse lugar e eles foram nesse lugar, eles iam vir os Uruhu fizeram a fogueira lá , eles faziam fogueira lá, o fogueira deles tava grande, deixar o fogo pega muito bem eles diziam , aí foram lá e quando viam eles todos se espalhavam e levavam a fogueira deles também, não sei com o que eles pegava o fogo, eles viviam assim, depois iam de novo Aí fizeram uma casa também aí nesse dia esqueceram um pouco desse lugar aí ficou só uma casa lá na antiga casa deles aí pegaram ele lá agora, eu não sei se pra acender o fogo eles, aquele que tem no céu parece algodão da Mata não sei se o milsinho já viu também, abanador o Indígena fala pra ele. Aí pegaram esse Abanador e colocaram no local do fogo abanando até pega o fogo aí ficou o fogo por aqui, esse é o que a mamãe me contava, aí agora tem fogo por aqui o Uruhu que pegaram a fogueira e agora tem fogo.
P – Dona Maria a senhora podia contar pra nós também um tipo, a história que teve um incêndio aqui no território?
R – É Milsinho naquela vez que teve o incêndio aqui, é que nem falei naquele tempo que começou o fogo aqui antes de nós subir pro rio Carú, pareceu fumava pra cá né, aí disseram que o fogo era aqui dentro da Mata aí ninguém acreditou naquela época aí quando foi nos outros dias nós subimos pro rio Carú naquela época né, quando nós estava pra lá.... foi que o fogo aumentou pra cá, aí quando nós viemos correndo pra lá do sento da Cleude aí nós olhemos pra cá também, aí nós vimos foi a fumaça. Aí o seu Cláudio disse pra nós que era fogo aqui, na mata aí o fogo pegou na mata toda aí nós fomos naquela época a pé aí eu mais ele ali, quando foi um dia aí nesse dia eu sair pra apagar o fogo, foi o drama que se chama, o parique, Gecivaldo que andava também eles foram aí nós fomos atrás deles aí tinha fogo na taboca pipocando lá, milsinho lá eu escutei uma voz que tava conversando lá né, eu pensava que era eles aqui que estavam lá, ficavam falando assim aí seu Antônio aí seu Tonho o drama tá aí, tão fazendo varrida ali eles Aí eu tá olhando o fogo eu disse pra eles, aí eles saiu cortando e nós fomos pra lá chamou assoprou nada. Aí nós cheguemos lá o fogo, o fogo taba vermelho por aí, aqui que estavam falando eu disse pra ele mais não era ninguém não milsinho eu acho que era dona da Floresta né pois é, eu escutei essa voz lá na hora aí eu tava dizendo pra ele, o dono da floresta vai acabar queimando tudo por aí deve ter tá dizendo eu disse pra ele.
P – Já chegaram a ver alguns animais mortos?
R - Nós achamos um monte de jabuti no igarapé queimada, a cada jabota cheia de ovo que era no igarapé tudo morto tava pode já, peixe também nós lagos só a quentura do fogo que matou pois é.
P – Tem uma história Assim que você não contou e quer contar, tem alguma história Assim.
R – É......
P – Uma história que gostaria de contar que você lembra.
R – É.... meu filho, o que eu quero contar muito é esse aí, pois é.
P – A gente só agradece, Dona Maria, por ter dado essa oportunidade, até porque essa entrevista vai ficar pra nós também. Pra senhora pro seu netos daqui pra frente, eu fico assim Muito gratificado por esta aqui na entrevista da senhora até por que mais na frente os nossos netos vai ver e ouvir a Sua história que a senhora está contando agora, pra mim isso é muito importante. Eu só tenho a agradecer a senhora mesmo por essa oportunidade de estar aqui.
R - E eu também que vocês vieram aqui também né, eu tô aqui também se vocês precisar de mim não é, não vou dizer que não pra vocês também né. Por que meu filho está nesse trabalho também, tá a irmã dele também
P – Eu queria saber o que a senhora achou de falar essa história pra nós?
R – Foi muito importante, meu filho, que nem eu falei pro seu pai que um dia desse a cleiane tava me falando aí eu disse pra ele que é muito importante assim que nem o milsinho tá falando né. Por que ontem eu fiquei, eu quero vê também esses filmes dos mais velhos também que vocês filmaram não tem milsinho, aí tio tava falando que até o papai tá nesse meio eu quero vê também. Desses filmes de antigo não tem, que nem eu falei pra ele “hoje nós estamos nessa idade nossos netos, nossos bisnetos”. Eles têm também os filhos também que se um dia nos ir né aí vai conhecer também que não conhecer a gente os que estão chegando agora né aí os que já viram nós vão dizer esse era mamãe, esse era vovó né aí achei muito importante você está fazendo entrevista da gente.... É por que eu não sei mais cantar se eu soubesse eu ia cantar um canto pra vocês é não sei mais não. Os outros já levaram tudo de mim.
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