Resolvi escrever a história da minha avó porque apesar de ser chata, ela é legal. E também porque ela é minha mãe duas vezes, tem 73 anos e deve achar essa estória (a do museu, não a dela), engraçada.
É difícil começar a escrever, porque quando eu parei para pensar nela, na vida dela, percebi que há muitas coisas que eu não sei sobre a Candinha. Mas vamos lá...
Ela nasceu Candida de Freitas Martins, em São Paulo, em 1926 (depois é que virou a "Pano" que é hoje). Tinha três irmãos e cinco irmãs, seus pais tinham muitas terras no oeste do Estado, mas morreram tão jovens, com ela tão pequena, que ela teve que morar num colégio interno, de freiras.
Lá, passou quase dez anos, com Zói e Nair, suas irmãs. O colégio não era muito bom, eu acho, porque ela odeia espinafre até hoje e sempre diz que é por causa dele... Mas era bom, porque foi o colégio interno que deu a ela sua queridíssima amiga Afife. Elas são amigas até hoje, e se merecem, porque são dois doces (a Afife, um falafel, a Pano, um pastel de Santa Clara).
Desde sempre, a Candida é muito religiosa, e faz parte da Renovação Carismática, onde participa de grupos de oração e é chamada para rezar e dar conselhos para as pessoas que precisam. Por ela conhecer bem a Bíblia e ser uma pessoa boa, tem muita facilidade em ajudar as pessoas e é muito querida pelo grupo.
Quando ela saiu do colégio, foi morar na casa da Cema, uma de suas irmãs que já era até casada, com o Pedro. Foram a Pano, a Zói e a Nair. Quando a Candinha conta estórias daquele tempo, eu sempre fico pensando que ela era tão rica e teve que morar na casa da irmã, ser uma "agregada", o que quase nunca confere vantagens suficientes para compensar os infortúnios (para ambas as partes). Era uma casa na rua Rodrigues Alves, disso eu lembro.
Nessa época, a Pano ia muito ao Rio de Janeiro, no Hotel Glória, e em Petrópolis, no Quitandinha, para festas junto com o irmão mais velho, João, que era...
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Resolvi escrever a história da minha avó porque apesar de ser chata, ela é legal. E também porque ela é minha mãe duas vezes, tem 73 anos e deve achar essa estória (a do museu, não a dela), engraçada.
É difícil começar a escrever, porque quando eu parei para pensar nela, na vida dela, percebi que há muitas coisas que eu não sei sobre a Candinha. Mas vamos lá...
Ela nasceu Candida de Freitas Martins, em São Paulo, em 1926 (depois é que virou a "Pano" que é hoje). Tinha três irmãos e cinco irmãs, seus pais tinham muitas terras no oeste do Estado, mas morreram tão jovens, com ela tão pequena, que ela teve que morar num colégio interno, de freiras.
Lá, passou quase dez anos, com Zói e Nair, suas irmãs. O colégio não era muito bom, eu acho, porque ela odeia espinafre até hoje e sempre diz que é por causa dele... Mas era bom, porque foi o colégio interno que deu a ela sua queridíssima amiga Afife. Elas são amigas até hoje, e se merecem, porque são dois doces (a Afife, um falafel, a Pano, um pastel de Santa Clara).
Desde sempre, a Candida é muito religiosa, e faz parte da Renovação Carismática, onde participa de grupos de oração e é chamada para rezar e dar conselhos para as pessoas que precisam. Por ela conhecer bem a Bíblia e ser uma pessoa boa, tem muita facilidade em ajudar as pessoas e é muito querida pelo grupo.
Quando ela saiu do colégio, foi morar na casa da Cema, uma de suas irmãs que já era até casada, com o Pedro. Foram a Pano, a Zói e a Nair. Quando a Candinha conta estórias daquele tempo, eu sempre fico pensando que ela era tão rica e teve que morar na casa da irmã, ser uma "agregada", o que quase nunca confere vantagens suficientes para compensar os infortúnios (para ambas as partes). Era uma casa na rua Rodrigues Alves, disso eu lembro.
Nessa época, a Pano ia muito ao Rio de Janeiro, no Hotel Glória, e em Petrópolis, no Quitandinha, para festas junto com o irmão mais velho, João, que era deputado na época. Pano namorou o Olavo, que era promotor da comarca de Martinópolis, cidade que o pai dela, João Gomes Martins, fundou... E tinha também um moço que ela disse que era namorado dela, que escrevia poesias para ela e eles se viam só no bonde....
Mas o mais importante, e que a minha mãe, a Mariza Candida (não, não é coincidência. Mas ainda bem que o apelido da minha mãe não é Paninho. É Toco mesmo) só me contou outro dia, e que na verdade nem ela tem muita certeza, é que foi morando na casa da Cema que ela conheceu meu avô, o Célio de Oliveira Costa, que por sua vez morava em uma pensão vizinha, ou tinha um irmão Odmur que morava e que casou com a Paula, outra irmã dela.
E eles se apaixonaram à primeira vista, eu acho, porque eles sempre se amaram, meu avô a minha avó, e minha avó o meu avô _cada um à sua maneira, é claro. Meu avô era mesmo um gato. E minha avó, a Pano, é até hoje; tem uns olhos azuis (Hum-hum, eles não se apaixonaram não, ficaram inclusive um ano sem se falar, porque eles eram muuuito orgulhosos...)
Mas então depois eles se apaixonaram, casaram, tiveram a Marina Célia (não, não é coincidência, foi tudo pre-me-di-ta-do), minha tia, e depois a Mariza Candida, que como eu já disse é a minha mãe. E também perderam dois outros bebês, que se tivessem nascido, teriam se chamado Célio Candido e Candido Célio, eu acho.
Nessas alturas, já era 1953. Logo depois, a nova família mudou para Presidente Prudente, onde eu nasci uns 24 anos depois (mas isso já é outra história). Meu avô foi "tocar" a fazenda, que a Pano herdou de seus pais. É a fazenda Santa Candida (de quantas "coincidências" essa história é feita), que existe até hoje e onde nós _eu, meu irmão Rafael e meus primos Bruno e Mariana (a mais querida do mundo)_ passamos todas as férias da nossa longa infância.
Mesmo morando em Prudente, conta Mariza, "meu pai construiu um prédio que era parte do terreno do meu avô materno, onde eles deixaram um apartamento para as férias. A gente vinha muito para São Paulo durante as férias, quando minha mãe ia a muitos restaurantes, teatros e desfiles de moda no Mappin".
Nos verões, a família ia sempre para Itanhaém, onde alugava uma casa e para onde levava muitos amigos. Ia não, vai, até hoje, com os netos e com todo mundo que couber.
Mas o tempo passou, Marina e Mariza cresceram, casaram (com o Toni e o Beto) e mudaram. Mas antes disso, é claro que compraram muitos vestidos, fizeram muitas festas para a minha avó (que é meio mimadinha desde aquele tempo), nadaram na piscina da famosa casa da Ribeiro de Barros, namoraram no portão... E a Pano, nesse meio tempo, ganhou concursos de beleza, de elegância, de tango e otras cositas más.
As festas deviam ser a melhor parte, porque a minha mãe disse que sempre tinha uma. Era festa junina, dança da cadeira, reunião para jogar buraco. As irmãs Paula, Cema e Zói, e o irmão Arthur, sempre moraram em Martinópolis ou Prudente e estavam sempre juntos.
Quando a minha mãe entrou na faculdade de Letras, em Ribeirão Preto, a Candinha entrou na Faculdade Toledo de Direito, em Prudente. Meu avô era advogado, e ser advogada era um dos maiores sonhos da vida dela. Ela ia todos os dias à noite nas aulas, com a Cema, que também resolveu virar "dotora, e que era casada com Pedro, que também é advogado.
E quando tudo estava muito bom, tudo muito bem, meu avô ficou doente. Em 1980, ele teve um derrame e ela cuidou dele e da fazenda durante dez anos, com ajuda do seu irmão Arthur e das cartinhas mandadas por seus netos, que deixavam ela contente e que ela mostrava para todo mundo.
Nessa década, íamos sempre, todos, para a fazenda, onde minha avó nunca cozinhava nada, o que nos traumatizou Em um verão, fomos para Peruíbe, e a criançada, o Toni e a Candinha desfilaram em uma escola de samba de rua. Se foi legal eu não lembro, mas as fotos são maravilhosas, minha avó estava linda de baiana Anos mais tarde, a festeira da Pano desfilou na Acadêmicos do Salgueiro, junto com toda a família.
No começo, a Pano vinha bastante para São Paulo, onde suas filhas estavam morando, mas depois meu avô foi piorando, piorando, e não dava mais. Nessa época, eles eram muito amigos da Cema e do Pedro, que sempre foram muito bons.
Meu avô morreu, a Pano continuou morando em Prudente por mais ou menos dois anos e então veio para São Paulo. No começo, morava na casa de cada filha por um tempo, depois, reformou um apartamento perto da casa da gente e vem almoçar aqui todos os dias e é a única que come salada (segundo ela, claro).
De vez em quando, vai ao "interior" (ela gosta de ser caipira, disse) encontrar Cema, Zói e Nair, que junto com Bibiana são suas irmãs ainda vivas. (Eduardo, o irmão que "falta", lutou na Revolução de 32, mas morreu jovem.)
Essa é a história da Pano, ou panus-sujus, para os íntimos. Que ainda não acabou, que tem tempo para ser construída, que pode continuar sendo linda, porque comum.
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