Eu tinha só sete anos quando vivi uma das experiências mais assustadoras da minha infância. Era para ser só mais um fim de férias comum. Estava voltando pra casa no Rio de Janeiro, depois de passar dias tranquilos na casa da minha vó. O ônibus onde eu estava não estava cheio. Lembro que o calor era forte e a porta ficava meio aberta pra circular o ar. Eu sentei perto dela, como sempre fazia era o lugar onde dava pra ver melhor a rua e sentir o vento no rosto.
Tudo parecia normal até que, de repente, o motorista tentou desviar de um carro que entrou na frente do nada. Foi rápido. Um estalo. Um barulho seco. Um impacto. A lateral da porta bateu no outro carro e, naquele instante, os vidros estouraram bem na minha direção.
Cacos de vidro voaram pra todo lado e eu me vi no meio deles. Minhas pernas, meus braços, até meu rosto — tudo cortado. Senti dor, mas mais do que isso, senti confusão. Não chorava, não gritava. Eu só… não entendia. Era como se tudo tivesse ficado em câmera lenta.
Minha mãe estava comigo. Quando viu meu estado, se transformou. Ela gritou com o motorista, puxou ele pela gola da camisa e exigiu que ele me levasse pro hospital. E ele levou. Ela não quis saber de esperar ambulância. Não pensou duas vezes. Era como se o medo dela tivesse virado força.
Apesar de tudo, minha mãe não processou o motorista. Disse que teve pena dele. Que talvez ele estivesse só tentando fazer o melhor. E isso sempre me marcou — porque mesmo ferida, ela escolheu o caminho do perdão.
Fiz vários exames, levei pontos, e até hoje tenho uma leve cicatriz, mas a maior marca foi no meu coração. Desde então, sempre que entro em um ônibus, evito o banco perto da porta. Parece bobo, mas meu corpo ainda se lembra do susto.
É curioso como, mesmo depois de tanto tempo, certos momentos nunca saem da gente.