Capítulo 1 – O começo da história
Em uma cidade pequena da Paraíba chamada Bodocongó, nasceu em 1947 uma garotinha muito sapeca chamada Mariquinha. Ela morava em uma casinha de tijolos, sem luz elétrica, com seus pais e seis irmãos.
Quando tinha três anos, estava no quintal procurando pedaços de lenha, distraída, Mariquinha não percebeu que uma vaca, apelidada por ela de Amazona, vinha rapidamente em sua direção. Estava também no quintal seu cachorro Triunfo, que latia muito quando via o animal. De repente a vaca assustou-se com o latido do cachorro e correu aproximando-se da menina, dando-lhe uma chifrada na testa. Ouvindo o barulho, a mãe de Mariquinha foi conferir o que estava havendo. Viu sua filha em prantos com a testa ferida e foi logo socorrê-la. Até hoje ela tem a cicatriz desse acontecimento.
Um fato que incomodava bastante Mariquinha, quando tinha cinco anos, era ter o nome parecido com o de sua irmã que se chamava Liquinha. Seus familiares caçoavam dela, falando:
_ Mariquinha, Liquinha, Mariquinha, Liquinha, Liquinha, Mariquinha, Liquinha, Mariquinha...
Um dia sua mãe Honorata convidou uma amiga chamada Maria do Carmo para visitá-la. Mariquinha adorava essa moça, pois ela era simpática e muito bonita. Quando soube o nome da moça resolveu que seu nome também seria Maria do Carmo. Como naquela época as crianças geralmente não eram registradas ao nascer, sua mãe, depois de tanta insistência, é claro, aceitou a incrível escolha de sua filha. Com certeza essa foi uma escolha que mudou sua história de vida!
Capítulo 2 – Brigas, artes e sonhos de criança
Maria do Carmo, quando pequena, trabalhava na roça com seus irmãos. Seu pai, José Cosmo, vendo-a trabalhar com tanto sacrifício fez uma enxadinha para ajudá-la.
Como era a irmã do meio, sempre presenciava brigas dos irmãos e tentava separar para que eles não brigassem mais ainda. Isso não adiantava, pois quanto mais ela tentava apartar a...
Continuar leituraCapítulo 1 – O começo da história
Em uma cidade pequena da Paraíba chamada Bodocongó, nasceu em 1947 uma garotinha muito sapeca chamada Mariquinha. Ela morava em uma casinha de tijolos, sem luz elétrica, com seus pais e seis irmãos.
Quando tinha três anos, estava no quintal procurando pedaços de lenha, distraída, Mariquinha não percebeu que uma vaca, apelidada por ela de Amazona, vinha rapidamente em sua direção. Estava também no quintal seu cachorro Triunfo, que latia muito quando via o animal. De repente a vaca assustou-se com o latido do cachorro e correu aproximando-se da menina, dando-lhe uma chifrada na testa. Ouvindo o barulho, a mãe de Mariquinha foi conferir o que estava havendo. Viu sua filha em prantos com a testa ferida e foi logo socorrê-la. Até hoje ela tem a cicatriz desse acontecimento.
Um fato que incomodava bastante Mariquinha, quando tinha cinco anos, era ter o nome parecido com o de sua irmã que se chamava Liquinha. Seus familiares caçoavam dela, falando:
_ Mariquinha, Liquinha, Mariquinha, Liquinha, Liquinha, Mariquinha, Liquinha, Mariquinha...
Um dia sua mãe Honorata convidou uma amiga chamada Maria do Carmo para visitá-la. Mariquinha adorava essa moça, pois ela era simpática e muito bonita. Quando soube o nome da moça resolveu que seu nome também seria Maria do Carmo. Como naquela época as crianças geralmente não eram registradas ao nascer, sua mãe, depois de tanta insistência, é claro, aceitou a incrível escolha de sua filha. Com certeza essa foi uma escolha que mudou sua história de vida!
Capítulo 2 – Brigas, artes e sonhos de criança
Maria do Carmo, quando pequena, trabalhava na roça com seus irmãos. Seu pai, José Cosmo, vendo-a trabalhar com tanto sacrifício fez uma enxadinha para ajudá-la.
Como era a irmã do meio, sempre presenciava brigas dos irmãos e tentava separar para que eles não brigassem mais ainda. Isso não adiantava, pois quanto mais ela tentava apartar a confusão, mais eles brigavam e ela acabava apanhando.
Sempre que Carmem, como Maria era chamada por seus irmãos, via algo na plantação de seu pai, mal deixava crescer e já comia sozinha. Por várias vezes ela retirava a melancia ainda pequena, escondia-se no mato, quebrava a fruta numa pedra e a devorava. Por gostar tanto de melancia, Carminha (seu outro apelido) lembra até uma personagem dos quadrinhos, Magali.
Outra travessura que Carmem fazia era comer um pedaço da rapadura que era para a sobremesa de toda a família e jogar o resto fora. Seu pai era quem dava o dinheiro para comprar o doce. Às vezes quando ele descobria o que a menina fazia com a rapadura no caminho de casa, até batia nela. Falando em comida, Maria sempre gostou de comidas bem nordestinas, como angu com leite, fava e milho.
Quando Maria era criança, tinha muito medo de caminhão, pois era grande e veloz como um monstro, e a menina achava que ele iria atropelá-la.
Maria não gostava de fazer serviço de casa e muita das vezes fazia por obrigação e com cara feia. Então, para se distrair, gostava de ficar com seu gato estimação ou fazer bonequinhos de barro, miniaturas de animais e pessoas. Brincava também com espigas de milho vestidas com tecido velho e imaginava que era uma linda boneca. Apesar de todas as dificuldades financeiras, a família de Maria do Carmo era muito feliz.
Diariamente seu pai ia jogar baralho sem que sua esposa concordasse. Certo dia, Dona Honorata insistiu para que seu marido não fosse para a cidade jogar, pois estava tendo um pressentimento ruim. Mesmo assim José teimou e foi.
Ao voltar para casa por uma trilha de barro bem escura, viu o mato se movimentando, andou mais rápido até chegar a uma parte clara, ouviu um barulho como se alguém o chamasse, assustado, puxou a peixeira. Com medo, ele perguntou:
_ Quem está aí?
A reposta foi:
_ É Bernardinho!
Seu José respondeu apavorado:
_ Bernardinho já morreu!
Novamente seu José falou:
_ Estou entrando no mato, se tem alguém aí, sai da frente...
O pai de Carmem saiu dando facadas no mato, até chegar em casa. Não conseguiu abrir a porta de casa, pois estava trêmulo e muito cansado. Bateu na porta e D. Honorata abriu. Ele caminhou meio desnorteado pela sala e caiu perto do sofá. Quando ele se recuperou do susto, sua esposa perguntou o que havia acontecido, então ele contou para a família como ele lutou com um “fantasma”. Todos riram bastante e guardam na memória esse surpreendente acontecimento.
A menina Maria sonhava em ser uma costureira de mão cheia quando crescesse.
Capítulo 3 – Momento escolar
Quando Maria do Carmo estava na escola, tinha intimidade com as professoras, a primeira foi Lica Tavares.Todas as professoras gostavam muito dela. Porém, a menina não se dedicava muito aos estudos.
Uma situação muito desagradável acontecia em sua sala de aula. Quando a professora perguntava a alguém qual era a letra do alfabeto e o aluno não acertava, levava um bolo de toda a turma. Você acha isso certo?
Um dia Carmem foi na frente da turma para dizer qual era a letra que estava no quadro. A menina sabia a resposta, mas como ficou nervosa, na hora de falar deu um branco e disse “sa” em vez de “s”.
Mas como tudo tem um lado bom, nas festas da escola gostava de brincar de quebrar a panela com presentes dentro, uma tradição do lugar onde morava.
Por gostar muito de cantar e recitar poemas, Maria do Carmo foi selecionada para apresentar a música “Sussuarana” (Heckel Tavares - Luiz Peixoto) para a prefeita da cidade. Ela se lembra com orgulho desse dia e sabe de cor a letra da canção:
"Faz três semanas que na festa de Santana/ O Zezé Sussuarana/ Me chamou pra conversar/ Dessa bocada nós saímo pela estrada/ Ninguém dizia nada/ Fumo andando devagar/ A noite veio, o caminho tava em meio/ Eu tive aquele arreceio/ Que arguém nos pudesse ver/ Eu quis dizer 'Sussarana vamo imbora'/ Mas Virge Nossa Senhora/ Cadê boca pra dizer?// Mais adiante do muno já bem distante/ Nós paremo um instante/ Prendemo a suspiração/ Invregonhado ele partiu para o meu lado/ Ó Virge dos meus pecados/ Me dê absorvição/ Foi coisa feita, foi mandinga, foi maleita/ Que nunca mais indireita/ Que nos botaro é capaz/ Susuarana/ Meu coração não me engana/ Vai fazê cinco semana/ Tu não vorta nunca mais"
Com 12 anos parou de estudar na 2ª série, depois de repetir de ano várias vezes, pois não prestava atenção nas aulas, pensando muito em namorados.
Capítulo 4 – O primeiro beijo
Na adolescência Maria do Carmo gostava de ir às missas e festas da Igreja com a família e amigos. Mas, como não tinha nenhum transporte para ir, – porque naquela época era difícil ter algum transporte – ela pegava carona com o vizinho e ia de caminhão. A essa altura seu medo de caminhão já tinha passado.
Nas tardes em casa, quando terminava os serviços domésticos, a jovem Maria pedia para sua mãe para ir à casa de amigas. Como o pai não gostava que ela saísse, sua mãe dizia:
_ Vou cuspir no chão, se você não voltar antes do cuspe secar, você vai se entender com seu pai.
Ainda bem que ela sempre conseguia voltar a tempo!
Maria do Carmo começou a namorar bem cedo, com apenas 12 anos. Num certo dia, ela estava passeando e encontrou um garoto e eles começaram a conversar. Quando seu pai os viu conversando – naquele tempo se estivesse conversando estava namorando – não gostou de ver sua filha falando com um rapaz.
Pouco tempo depois, Maria do Carmo se reencontrou com o garoto e ficaram conversando por um bom tempo. Na hora de se despedir, ele deu um beijo na testa dela – antigamente beijo na testa era sinal de respeito. E foi o primeiro beijo.
Mas quando o pai descobriu que estava namorando ele brigou muito com ela, ia até bater, mas a mãe não deixou e falou que já estava na hora de ela namorar. Por isso o pai e mãe deixaram a menina namorar.
Capítulo 5 – Abalando corações _ O amor não proibido
Na casa de sua tia, bem distante de onde Maria morava, seu primo que não a via há muito tempo, apaixonou-se por ela só em ver um retrato.
Certa vez, ele resolveu viajar para rever seus familiares e aproveitou para se aproximar de Carmem, pois já pretendia pedi-la em casamento. Toda a sua pressa e ansiedade em conquistá-la a assustaram. Além disso, ela já estava namorando. Tudo isso foi muito triste para ele.
Maria do Carmo até sugeriu que seu primo se casasse com sua irmã, pois, quando ele chegou, ela logo ficou interessada nele _ isso sua irmã nega até hoje. Bem, o certo é que o “cara” estava podendo, logo duas não é pra brincadeira!
Quando soube do interesse de sua outra prima, ele falou com firmeza:
_ Eu quero é você! Só saio daqui quando estivermos casados.
Maria ficou confusa e bastante constrangida, pois não esperava isso.
Um dia Carmem e sua família estavam indo para a missa de caminhão, como era de costume. Seu primo sentou logo ao seu lado. No meio da viagem, ele avistou um casal vindo a pé pela estrada. Quando chegou perto, viu que era o namorado de Maria abraçado com outra menina. Imediatamente ele a cutucou e falou:
_ Olha ali. Você viu seu namorado... É com ele que pretende casar?
Maria ficou silenciosa e pensativa durante o restante da viagem.
Quando chegou em casa, Maria resolveu terminar com o rapaz e tempos depois aceitou o pedido de casamento de seu primo, pois achava que casar era apenas uma brincadeira.
Toda a família ficou muito feliz com a notícia, principalmente seu pai, que fazia questão do casamento.
José, seu primo, resolveu ir para o Rio de Janeiro em busca de emprego. Como ficou meses sem dar notícias, Maria achou que ele havia desistido de casar. Por isso, começou a namorar outra pessoa. Rapidamente comprometeu-se com o outro e marcou o casamento. Ela só não esperava que esse também fosse viajar e não mandar notícias.
Depois de algum tempo, felizmente, seu primo voltou para se casar com ela.
Capítulo 6 – A primeira filha
Assim que se casou com o primo, engravidou de uma linda menina chamada Sonidelandia de Faria. Como Maria do Carmo gostava muito do nome “Sônia”, e José, seu marido, gostava de “Delane”, optaram por batizar sua primeira filha com a mistura desses dois nomes.
Um dia ela estava segurando a filha e quase a deixou cair no chão. Ela acha que isso aconteceu porque não tinha muita experiência, era mãe de primeira viagem. Maria ficou muito nervosa e aflita.
Certa vez Maria do Carmo foi visitar sua mãe no bairro Lote XV, em Duque de Caxias/RJ. Seus pais gostaram muito da netinha e pediram para ficar com ela. Maria era muito nova e tinha medo que a filha viesse a passar mal e ela não soubesse cuidar da criança, pois seu marido era caminhoneiro e ela passava muito tempo sozinha e sem energia elétrica. Assim, ela decidiu deixar sua filha com seus pais no Rio de Janeiro e voltou para Minas Gerais, onde morava depois que se mudou da Paraíba. Sonidelândia viveu com a avó por treze anos e só retornou para a mãe depois que a avó faleceu.
Viveu em Minas Gerais anos com sua família. Ao longo do casamento foi muito feliz com seis filhos. Maria nunca trabalhou fora, só em casa, arrumando, limpando, cozinhando, cuidando dos filhos e do marido. Há 15 anos ficou viúva e até hoje não quer se casar novamente.
Capítulo 7 – A nova vida no Rio
No início da 3ª Idade, Maria do Carmo mudou-se para o bairro Barro Branco, em Duque de Caxias. Ela veio com filhos, filhas, netos e com sua irmã, mas ainda assim morando de aluguel. Um dos filhos ficou procurando terreno para fazer a casa própria. Depois de tanto procurar, um filho encontrou o terreno para construir a casa.
A casa foi construída com a ajuda dos filhos e dos vizinhos, até que chegou o dia mais feliz de sua vida, que foi bater a laje, há seis anos. Esse foi um dos acontecimentos mais emocionantes de sua vida.
Maria do Carmo tem um grande desejo: quer que seu filho Jonas, de Minas, venha morar com ela. Por mais que esteja feliz com sua casa própria deseja que toda a sua família esteja reunida.
Ela começou a visitar a igreja em 2011 e gostou tanto que passou a freqüentá-la diariamente com sua irmã mais velha. Quando entrou na Igreja, sua vida se completou. Com ajuda da bíblia, Maria do Carmo pode ajudar seus netos a saber mais sobre Deus. Na Igreja ela participa do Coral Adulto e da Terceira Idade.
Com essa história de vida, algumas lições podem ser aprendidas: namorar cedo pode prejudicar os estudos e sem eles as pessoas não são “nada”; não é bom ter filho cedo, pois a liberdade é perdida e com ele vem a responsabilidade; casamento não é brincadeira; criança não deve trabalhar; dar valor a tudo o que se tem hoje: a tecnologia, o conforto, a escola, a liberdade...
Essa foi a incrível história de vida de Maria do Carmo!
(Turma 702 - Escola Municipal Senador Afonso Arinos)
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