A professora Maria do Carmo Rodrigues Barreto nasceu em Cuiabá no dia 20 de abril de 1918. Ficou muito conhecida como professora Mocinha. Formou-se como normalista e casou-se com um rapaz da Barra do Pari indo morar neste local e como tinha uma vaga de professora ela começou a ensinar crianças na escola rural mista tinha crianças do 1º ao 4º ano sendo responsável pela turma toda que era composta mais ou menos por trinta alunos e embora fosse seu primeiro emprego ela tinha prática em lidar com crianças porque ajudava a tia, professora Tereza Lobo, com os alunos dela por isso sentia que poderia ter sido professora muito antes porque conhecia a prática há tempo.
Na escola rural da Barra do Pari todos os alunos ficavam numa sala só. Funcionava numa sala modesta, com carteiras antigas que se sentavam de dois em dois, com vários quadros negros que se escrevia com giz e como a turma era multisseriada ela passava um pouquinho para uns em um quadro, outro pouquinho para outros em outro quadro e alguns iam buscar atividade na mesa da professora.
No período em que foi professora existia a figura do inspetor escolar que ia na escola todo mês para verificar a presença da professora e dos estudantes. Certa vez o inspetor chegou e encontrou apenas quinze estudantes, ele alertou que era pouco aluno e corria o risco de a escola fechar, se fosse sempre uma quantidade pequena de estudantes. No entanto a professora Mocinha explicou que naquele dia específico era dia santo na comunidade, dia de São José, e que as pessoas que viviam na localidade guardavam demais os dias santos e além disso as crianças tinham que atravessar o rio para vir para a escola. Outra tarefa do inspetor era verificar se os estudantes estavam aprendendo e, as vezes colocavam as crianças para fazer conta no quadro. Para professora Mocinha não havia problema porque ela tinha gosto em ensinar e todos seus alunos iam muito bem. Os alunos da Barra do Pari eram inteligentes e dedicados e tudo...
Continuar leitura
A professora Maria do Carmo Rodrigues Barreto nasceu em Cuiabá no dia 20 de abril de 1918. Ficou muito conhecida como professora Mocinha. Formou-se como normalista e casou-se com um rapaz da Barra do Pari indo morar neste local e como tinha uma vaga de professora ela começou a ensinar crianças na escola rural mista tinha crianças do 1º ao 4º ano sendo responsável pela turma toda que era composta mais ou menos por trinta alunos e embora fosse seu primeiro emprego ela tinha prática em lidar com crianças porque ajudava a tia, professora Tereza Lobo, com os alunos dela por isso sentia que poderia ter sido professora muito antes porque conhecia a prática há tempo.
Na escola rural da Barra do Pari todos os alunos ficavam numa sala só. Funcionava numa sala modesta, com carteiras antigas que se sentavam de dois em dois, com vários quadros negros que se escrevia com giz e como a turma era multisseriada ela passava um pouquinho para uns em um quadro, outro pouquinho para outros em outro quadro e alguns iam buscar atividade na mesa da professora.
No período em que foi professora existia a figura do inspetor escolar que ia na escola todo mês para verificar a presença da professora e dos estudantes. Certa vez o inspetor chegou e encontrou apenas quinze estudantes, ele alertou que era pouco aluno e corria o risco de a escola fechar, se fosse sempre uma quantidade pequena de estudantes. No entanto a professora Mocinha explicou que naquele dia específico era dia santo na comunidade, dia de São José, e que as pessoas que viviam na localidade guardavam demais os dias santos e além disso as crianças tinham que atravessar o rio para vir para a escola. Outra tarefa do inspetor era verificar se os estudantes estavam aprendendo e, as vezes colocavam as crianças para fazer conta no quadro. Para professora Mocinha não havia problema porque ela tinha gosto em ensinar e todos seus alunos iam muito bem. Os alunos da Barra do Pari eram inteligentes e dedicados e tudo que era passado na cidade era passado para eles e sempre acompanhavam.
Para aprender os primeiros números ela ensinava a contar nos dedos depois ia escrevendo a numeração no quadro e a tabuada era cantada, sempre tomava a tabuada mas não aplicava nem colocava os estudantes para aplicar o “bolo” porque nunca gostou de bater nas crianças. Ensinou a ler e a escrever passando o abecedário no quadro. Fazia eles estudarem “apanhando” as letras. Perguntava que letra é essa aqui? Ia juntando B com A, Ba e assim de pouco em pouco iam aprendendo. Ela gostava de preparar as aulas em um caderno. As contas de matemática eram todas resolvidas no caderno para depois passar para os estudantes. Para alfabetizar usou muito a “Cartilha das Mães” depois que a criança aprendia a ler bem direitinho ela usava um livro que tinha muitas coisas sobre a roça, tinha abelha, tinha vaca. Estava sempre preocupada com que o aprendizado fizesse sentido.
Ela se lembrou com peso no coração de um estudante que foi seu afilhado. Dedicou-se a ele aplicando todos os métodos que conhecia, até seu método especial consistido em dar atenção individual em sua mesa mas ele não aprendeu a ler. Fato marcado em sua lembrança com remorso pois seu afilhado não conseguiu aprender a ler. Com ela não tinha braveza, era sempre calma e sempre conversava de forma que o estudante entendesse que não era hora de conversar e eles atendiam prestando atenção. Mas também lembra de outros estudantes que tinham muitas dificuldades em desenvolver as atividades escolares, como um menino que passou por vários grupos escolares sem êxito no aprendizado pediram para ela levá-lo para sua escola e em quatro meses já sabia ler e todos ficavam admirados. Outra criança ajudada pela professora Mocinha foi a filha da sua secretária que vinha com caderno da escola sem fazer nada. Ela então tomou como missão ensinar a menina Luciana a ler e conseguiu! Esta conseguiu concluir os estudos e o menino formou-se em Economia.
Professora Mocinha não esquece de quando recebeu o primeiro salário, que era 280 mil réis por mês e a primeira atitude com o salário na mão foi tirar dinheiro do bolso e comprar uma canoa grande para carregar as crianças pois tinha muitos alunos da outra margem do rio na Barra do Pari que vinha estudar com ela e preocupada com os estudantes pediu ao seu marido que fizesse o trabalho de baldear, trabalho este que não poderia pedir para qualquer pessoa porque o rio era muito perigoso então seu marido ia todo dia cedo buscar as crianças e depois as levava novamente. De tarde vinha para escola estudantes que não sabiam direito matemática e que fariam o exame da escola técnica. Eram instruídos e sempre passavam, principalmente para os cursos de Agronomia. Os estudantes dessa comunidade rural, na visão da professora eram inteligentes pois não foi necessário reprovar ninguém nos nove anos em que foi professora por lá e eram educados pelas mães a respeitar a professora.
A professora só saiu da comunidade da Barra do Pari porque seus filhos foram crescendo e precisavam estudar para além da 4ª série então veio lecionar no grupo escolar Senador Azeredo ficando até se aposentar e se sentia satisfeita em ser professora quando aparecia alunos da Barra do Pari no grupo escolar: Ela perguntava – Que vocês estão fazendo aqui? Eles respondiam: - Viemos atrás da professora! Aposentou-se com 30 anos de serviço e mesmo depois trabalhou em uma escola particular por mais 17 anos e sempre teve domínio de sala, como ela frisa, mesmo não tendo pedagogia tendo feito apenas a escola normal porque na época em que estudou não tinha o curso em Cuiabá. Sempre deu aulas particulares em sua casa em Cuiabá fazia reforço de todas as matérias e acomodava os estudantes em uma mesa grande. Ela orgulhava-se em dizer: “Quase Cuiabá inteira foi meu aluno!” Ela dedicou a vida para criançada e sentia muita alegria quando as crianças a encontravam na rua e vinham correndo abraçá-la e perguntar como ela estava.
Mas nem tudo foram flores na carreira da professora Mocinha com o passar do tempo ela foi percebendo que o ambiente escolar ia mudando. Estranhava quando observava sala de aula sem organização. E sempre sofria quando lidava com estudantes ditos “vadios”, dos que não gostavam de estudar que ficavam pra lá e pra cá sem querer saber de nada e encontrou alguns no grupo escolar e confessa que ficava triste ao ver a situação. E traçou um paralelo sobre ser professor no início dos anos 2000 e na época em que atuava nas décadas de 1940, 50, 60 e 70. Ponderou que nos anos 2000 deveria ser difícil por conta de as crianças não serem ensinadas a ter respeito na escola e com a professora e, sendo a razão do desrespeito a falta de limites imposta pelos pais com relação ao acesso do estudante ao que se passa na televisão e internet.
E confidencia que resolveu parar de ser professora mesmo podendo se aposentar pela segunda vez porque notou que as crianças não respeitavam principalmente os mais velhos. Ela gostou muito de ser professora em seu tempo porque havia respeito, ela sempre foi muito respeitada, era uma professora que ensinava mesmo e que deu tudo o que teve para as crianças então se fosse para escolher ser professora novamente, certamente escolheria a mesma profissão, mas que fosse para ser respeitada. E uma de suas maiores saudades foram as festas na escola: os alunos alegres, as formaturas - momentos sempre lembrados pela professora que prezava e citava como uma das grandes virtudes de um professor: a calma. Chamar atenção com calma porque considera que se o professor perdesse a calma isso poderia virar contra o ele, visto que tudo sempre estava sendo jogado contra o professor.
A professora Mocinha teve bom relacionamento com as colegas de profissão principalmente as professoras recém-formadas que recorriam a ela para aprender a preencher os formulários e relatórios sobre os estudantes. Ela foi secretária e ficou durante seis meses fazendo o papel de diretora do grupo escolar Senador Azeredo pois assinava papéis, fazia requerimentos, mas não teve nomeação para o cargo. A pessoa que estava no cargo de diretora saiu porque o grupo político que defendia iria perder, passada as eleições nomearam outra pessoa para direção da escola e demitiram a professora Mocinha do cargo e muitas outras professoras tiveram problemas em período político as que não tivessem votado no grupo político que estava no governo eram passíveis de demissão e transferência.
Recolher