IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Manoel Peres de Lima. Nasci em Presidente Olegário, Minas Gerais, em 16 de agosto de 1949. MIGRAÇÃO Saí de Minas Gerais em 1969, porque fui para Brasília. Fiz faculdade em Brasília, na Universidade de Brasília, Geologia. Terminei em final de 73 e, no início de 74, vim para Belém. Desde então, eu estou aqui no norte, me tornei nortista. INGRESSO NA PETROBRAS Vim para Belém, pois, à época o concurso era nacional. Então foram selecionados 20 geólogos, no início de 74, através de um concurso nacional. Naquela época, a Petrobras tinha unidades em Belém - que tinha a jurisdição de todo o norte aqui, em Aracaju, Salvador e Rio de Janeiro. Normalmente existia uma, vamos dizer, uma impressão, de que quando a pessoa vinha e começava por uma determinada região, que não fosse aqui Belém, se precisasse, eventualmente, transferi-lo para Belém, a empresa tinha dificuldade. Então como é que ela fazia: todos começavam por Belém, que era considerado o local mais remoto, de mais difícil acesso com o Centro-Sul. Então, todo mundo começava por Belém. Dali em diante, transferir de Belém para outra região, a empresa interpretava que era mais fácil, porque a maioria do pessoal não era, aqui, do norte. IMAGENS DA PETROBRAS Se hoje, 30 anos depois, a empresa não é tão conhecida, naquela época era menos ainda. A empresa tinha 20 anos. Então, qual foi o interesse que surgiu da Petrobras? Pouco antes, da gente concluir o curso na Universidade de Brasília, para divulgar o concurso, teve um geólogo mais antigo, que foi nas universidades. Falou o que era o trabalho na Petrobras. Isso despertou interesse, mas na verdade, a gente pode dizer que não conhecia muito. A partir dessa divulgação do concurso, de dizer o que é que era a Empresa; as oportunidades, que ela oferecia, foi que muitos, dos colegas, se interessaram em fazer o concurso. INGRESSO NA PETROBRAS Cheguei aqui, no início de 74....
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Manoel Peres de Lima. Nasci em Presidente Olegário, Minas Gerais, em 16 de agosto de 1949. MIGRAÇÃO Saí de Minas Gerais em 1969, porque fui para Brasília. Fiz faculdade em Brasília, na Universidade de Brasília, Geologia. Terminei em final de 73 e, no início de 74, vim para Belém. Desde então, eu estou aqui no norte, me tornei nortista. INGRESSO NA PETROBRAS Vim para Belém, pois, à época o concurso era nacional. Então foram selecionados 20 geólogos, no início de 74, através de um concurso nacional. Naquela época, a Petrobras tinha unidades em Belém - que tinha a jurisdição de todo o norte aqui, em Aracaju, Salvador e Rio de Janeiro. Normalmente existia uma, vamos dizer, uma impressão, de que quando a pessoa vinha e começava por uma determinada região, que não fosse aqui Belém, se precisasse, eventualmente, transferi-lo para Belém, a empresa tinha dificuldade. Então como é que ela fazia: todos começavam por Belém, que era considerado o local mais remoto, de mais difícil acesso com o Centro-Sul. Então, todo mundo começava por Belém. Dali em diante, transferir de Belém para outra região, a empresa interpretava que era mais fácil, porque a maioria do pessoal não era, aqui, do norte. IMAGENS DA PETROBRAS Se hoje, 30 anos depois, a empresa não é tão conhecida, naquela época era menos ainda. A empresa tinha 20 anos. Então, qual foi o interesse que surgiu da Petrobras? Pouco antes, da gente concluir o curso na Universidade de Brasília, para divulgar o concurso, teve um geólogo mais antigo, que foi nas universidades. Falou o que era o trabalho na Petrobras. Isso despertou interesse, mas na verdade, a gente pode dizer que não conhecia muito. A partir dessa divulgação do concurso, de dizer o que é que era a Empresa; as oportunidades, que ela oferecia, foi que muitos, dos colegas, se interessaram em fazer o concurso. INGRESSO NA PETROBRAS Cheguei aqui, no início de 74. Fui contratado como geólogo. Quando você sai da universidade, existe um monte de coisa, vamos dizer, que baliza a sua atuação. Por exemplo, uma é aquela ilusão ou aquela vontade, de se tornar independente. De ganhar dinheiro, de conhecer outros lugares, como toda pessoa de 20 e poucos anos. Felizmente, naquele período, a Petrobras tinha sede em Belém, mas ela trabalhava desde o Acre até o Rio Grande do Norte. Ou seja, estando em Belém, eu poderia viajar para uma sonda na bacia do Acre, na fronteira aí com Peru, Colômbia, como também, poderia ir para o Rio Grande do Norte, toda essa região. Isso foi uma coisa, que nos animou muito, quando a gente chegou. Essa possibilidade, de você não ficar preso a um escritório, além de outros atrativos, como conhecer várias regiões. Naquela época, a atividade era muito intensa, na área de Geologia. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Inicialmente, você tem um período de treinamento, porque a maioria das universidades, naquela época- acredito que hoje ainda - pouco enfocava a questão petróleo. Então você chega da universidade, entra na empresa com um curso de Geologia, a graduação é Geologia, Geologia Geral, e tem que fazer um treinamento específico, para a atividade. Como a atividade era muito grande, nossos treinamentos eram, quase, um treinamento de choque. Ou seja, em uns 40, 50 dias, você tinha uma noção rápida, de qual era o trabalho da empresa, o que fazia, o que o geólogo fazia e, a partir daí, você começava a viajar para acompanhar a perfuração de poços. Na sonda, o que é que a gente fazia? Você fica descrevendo as amostras, que são perfuradas. Observando, se essas amostras têm algum indício de hidrocarboneto, petróleo e algumas outras operações relacionadas. Naquela época, Belém era uma região de exploração. O que é exploração? Exploração é o início da cadeia, vamos dizer, da pesquisa de petróleo. Eventualmente, você faz trabalhos só para saber, se tem uma bacia sedimentar, que são locais, onde você pode ter acumulação, uma jazida de petróleo. Então, na parte de exploração, muitas vezes, o sucesso não é petróleo. É você conhecer a bacia, ou então até para dizer: “olha, aqui eu não vou investir”. Mas, aconteceram sucessos. Por exemplo, como eu disse no início, a área de jurisdição da Petrobras de Belém ia do Acre até o Rio Grande do Norte. No final do ano anterior, 73, teve descobertas no Rio Grande do Norte, que provocou, 2 anos depois, o desmembramento do distrito de Belém, e se criou outro distrito, lá em Natal. Mas a gente teve outras pequenas descobertas, tanto no Maranhão, como aqui mesmo na região do Amazonas, ainda modestas. Mas, a atividade exploratória, ou seja, a fase inicial, era muito intensa nessa época. Eu passei, os 2 primeiros anos, lotado, sediado em Belém. Depois em 76, 2 anos viajando. Eu viajava para o Acre, aqui para o Amazonas, para o Amapá, para o Rio Grande do Norte, para o Ceará, para o Maranhão. Então nesses 2 primeiros anos, viajei por todas essas regiões. Acompanhei poços em todas essas regiões, em todos esses locais. Em 76, com a criação do distrito em Natal, fui transferido para lá. Passei 1 ano. Em 77, a gente fez um curso de especialização, que a Petrobras oferecia. Era de um ano e esse curso, era em Salvador. Então, fui para Salvador fazer Geologia do Petróleo, um curso interno, não tem graduação de mestrado, nada. É como se, você faz várias cadeiras, mas não tem, não recebe o título. FAMÍLIA Quando cheguei em Belém, solteiro e tal, rápido, logo conheci a minha mulher. Em 75 me casei. Em 76, quando fui para Natal, nasceu o meu primeiro filho. Ela muito nova, nunca tinha saído de Belém, então, quando terminou o curso em Salvador, pedi para retornar para Belém. Por causa das dificuldades de família, é um período que a gente viajava muito. Por exemplo, teve época, em Natal, de eu viajar. Ela, com criança pequenininha, sem dirigir e tal, se mudava para a casa de um amigo, porque ficava receosa de ficar em casa, só ela e a criança, por alguma emergência, alguma coisa. Então, ao final desse curso de Salvador, pedi e retornei para Belém. Passei lá 4 anos. UNIDADE UN-BSOL Aí criaram um distrito no Amazonas, aqui em Manaus, desmembrando o de Belém. Foi meio política essa decisão e, também, porque naquela época, a gente já tinha descoberto a área do Juruá. A pesquisa mais importante estava aqui nessa região. Então houve uma pressão política muito grande, local, para que a sede fosse aqui e não em Belém. Então foi criado um distrito aqui em final de 81. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Em 82, vim para cá e passei 6 anos. Ao início de 88, voltei para Belém, passei 13 anos e, desde 2001, estou aqui. Agora eu estou aqui só, porque a família ficou adulta. FAMÍLIA Em 2001, eu tinha um filho, que já tinha se formado, é administrador de empresa. A minha segunda filha ia colar grau, daí a 2 meses, em Direito. E a terceira ia começar o terceiro ano, do curso de Serviço Social. Minha mulher, quando as crianças resolveram entrar na faculdade, quando o primeiro entrou na faculdade, resolveu fazer faculdade. Ela é historiadora, agora, está trabalhando também. Então tive que fazer essa opção de vir só, fica a família lá e eu aqui. Assim eu estou, há 2 anos e meio. CULTURA PETROBRAS Eu poderia dizer que, nesses 30 anos, quem é de fora talvez não entenda isso, mas o petroleiro, de um modo geral, veste a camisa. Então, qualquer sucesso de um trabalho, que você está fazendo, qualquer descoberta, mesmo que não seja na nossa região, tudo isso marca muito, a gente. Por exemplo, eu poderia agradecer uma viagem que a Petrobras me proporcionou. No final de 81, fui em uma missão oficial para o Peru. Passamos 3 semanas, fazendo trabalho de geologia lá. Mas, com oportunidade de conhecer um outro país, de conhecer, de passar por Cuzco, Machu Pichu, Nazca... ou seja, foi um momento marcante. Mas, de um modo geral, acho que todos os momentos são importantes. Talvez tenha um pouco de sentimentalismo no que eu estou falando, até porque, estou ensaiando, para deixar a Empresa. No final de setembro, devo me aposentar. Talvez, isso aí já carregue um pouco dessa camisa, que a gente vestiu e que, teoricamente, a gente vai se despir dela em setembro. M,as não tem jeito, uma vez petroleiro, sempre petroleiro. Não sei se algum outro, que me precedeu já mostrou esse sentimento, mas acho que é quase unânime, a gente tem essa segurança. Aí fora, a Empresa é muito criticada, mas quem trabalha sabe, que é uma empresa que vale a pena. RELAÇÕES DE TRABALHO Relativamente engraçado foi em 1980. Eu e um outro geólogo, Isaías Brasil, fomos fazer um trabalho de geologia de superfície. Aí, não é acompanhar poço, é trabalho mesmo de geólogo. Andar pela região coletando amostra, descrevendo a geologia. Era em Roraima, na divisa com a Guiana. Em função do trabalho, que a gente ia realizar, nós ficamos sediados em uma vila chamada Bonfim. Bem na fronteira do Brasil-Guiana. Chegamos lá e procuramos pensão, hotel. Não tinha na cidade, não tinha nada. “E agora? Como nós vamos fazer?” Não sei de onde surgiu a idéia: “olha, a delegacia, aqui tem uma cadeia pública, que é vazia o tempo inteiro. Quem sabe vocês conseguem ficar lá?” Eu disse: “Vamos tentar. A gente não vai poder dormir no carro”. Éramos dois, mais o motorista. Ia ser uma situação complicada. Aí fomos lá, conversamos com o sargento responsável, era um destacamento que tinha da Polícia Militar, e dissemos: “olha, nós somos da Petrobras, estamos aqui trabalhando. A gente vai ter que passar uns 10 dias, aqui em Bonfim. Já verificamos que não tem onde se alojar. A gente vai passar o dia inteiro fora, no campo. Acertamos em um barzinho, lá, para fazer a refeição e nós, estamos querendo dormir aqui”. Aí, o sargento disse: “olha o único local que tem aqui. Vocês têm rede?” Normalmente a gente carregava a rede. “A cela está sempre vazia e está limpinha”. Realmente, você tinha um chuveiro, tinha cimentadinho, tudo limpinho. “Você tem a cela. Vocês querem, vocês aceitam?” O Isaías é um cara de campo, muito mais antigo do que eu, disse: “Não, a gente fica. Sem problema nenhum”. À noite a gente chegava. Nós ficávamos com a chave da cela, porque tinha que trancar a porta da cela, para ter uma condição de armar a rede, não tinha nenhum armador de rede. Então, armava as duas redes, nas grades da cela e nas grades da janela. Aí já tínhamos uns 6 ou 7 dias, mas dá uma impressão ruim para caramba. Você ali deitado, sabendo que a chave está no seu bolso, mas trancado, aquele negócio trancado. No final de semana, a gente dormindo, chegou o responsável pela delegacia e chamou a gente. “Doutor, doutor.” Todo mundo chama de doutor. “Que é que foi?” “Olha, tem um problema. Nós prendemos um rapaz”. Eu falei: “bom, nesse caso, nós vamos ter que sair. Desocupar a cela”. Era um vagabundo, que tinha se envolvido em uma bebedeira, lá, estava fazendo arruaça na vila e tiveram que deter o rapaz. Aí nós saímos, tiramos nossa rede, botamos lá no pátio mesmo, pátio coberto. Só botamos a rede no chão, dormimos no chão e deixamos, vamos dizer, o quarto para o fulano lá. O nome do outro geólogo é Isaías Brasil. Isso foi em fevereiro de 80. Um caso interessante. Existem coisas, nos anos 70. Quando a gente viajava de Belém para o Amapá, por exemplo, a gente pegava carona nos DC-3 velhos da FAB. Uma vez nós viajamos, não era nem um DC-3, era um Catalina, esses aviões, que pousam n’água, não tinha bancos, porque eles estavam levando um carregamento de tábua. A gente sentado, em cima das tábuas. E tudo furado, quer dizer, um frio danado ali dentro. Às vezes aquilo condensava e começava a pingar dentro. São situações que também são boas, são experiências que a gente viveu. No Acre, muitas vezes, a gente conviveu com algumas malocas de índios, que tinha próximo das sondas, mas já tudo aculturado, assim, já contatados, na verdade. Então são situações.
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