Meu nome é Mário Signorini, eu nasci em Santo André, no Estado de São Paulo, no dia 29 de abril de 1955.
Em 1979 eu estava começando a fazer o mestrado no ITA, em São José, quando surgiu um concurso para a refinaria, para engenharia de segurança. Eu fiz o concurso e passei. Vim para o Rio de Janeiro fazer um curso de um ano e depois voltar para a refinaria.
Eu entrei como engenheiro de segurança, fui trabalhar na área de segurança industrial, na refinaria de São José. A refinaria estava começando, ela começou a operar três meses depois que eu cheguei, ainda estava em obra, isso já em março de 1980. Depois de um tempo continuei dentro dessa área na Revap [Refinaria Henrique Lage], sempre na área de segurança. Fiz parte da equipe de pré-operação, passamos por algumas coisas não muito boas ali, alguns acidentes grandes, num deles nós perdemos onze companheiros de trabalho, num único acidente. E fiquei lá até o final de 1984. Depois, em início de 1985, eu fui para o Rio de Janeiro e fiquei lá até 2006. No Rio eu fui trabalhar na antiga Desema, Divisão de Segurança e Meio-Ambiente, que hoje é o SMS [segurança, meio-ambiente e saúde] Corporativo da Petrobras. Tinham quatro setores e eu fui trabalhar na área de inspeção de segurança que, no fundo, no fundo, era uma área completa de segurança, menos a parte de engenharia de incêndio. Trabalhei muito ali com análises de projetos, até de novos projetos da própria refinaria. Nessa área da antiga Desema, que depois virou Susema, eu fiquei até 1995, mas em 1992 eu fui fazer um mestrado na COPPE – porque eu parei de fazer aquele mestrado no ITA –, em engenharia de produção. No final do mestrado, em 1995, eu saí da área de segurança e fui trabalhar em RH, algo completamente diferente. Eu trabalhava na assessoria estratégica do RH da empresa. Antes ele tinha outro nome, que era o Serech, Serviços de Recursos Humanos. Fiquei lá até 1999. Meu mestrado foi em 1996,...
Continuar leituraMeu nome é Mário Signorini, eu nasci em Santo André, no Estado de São Paulo, no dia 29 de abril de 1955.
Em 1979 eu estava começando a fazer o mestrado no ITA, em São José, quando surgiu um concurso para a refinaria, para engenharia de segurança. Eu fiz o concurso e passei. Vim para o Rio de Janeiro fazer um curso de um ano e depois voltar para a refinaria.
Eu entrei como engenheiro de segurança, fui trabalhar na área de segurança industrial, na refinaria de São José. A refinaria estava começando, ela começou a operar três meses depois que eu cheguei, ainda estava em obra, isso já em março de 1980. Depois de um tempo continuei dentro dessa área na Revap [Refinaria Henrique Lage], sempre na área de segurança. Fiz parte da equipe de pré-operação, passamos por algumas coisas não muito boas ali, alguns acidentes grandes, num deles nós perdemos onze companheiros de trabalho, num único acidente. E fiquei lá até o final de 1984. Depois, em início de 1985, eu fui para o Rio de Janeiro e fiquei lá até 2006. No Rio eu fui trabalhar na antiga Desema, Divisão de Segurança e Meio-Ambiente, que hoje é o SMS [segurança, meio-ambiente e saúde] Corporativo da Petrobras. Tinham quatro setores e eu fui trabalhar na área de inspeção de segurança que, no fundo, no fundo, era uma área completa de segurança, menos a parte de engenharia de incêndio. Trabalhei muito ali com análises de projetos, até de novos projetos da própria refinaria. Nessa área da antiga Desema, que depois virou Susema, eu fiquei até 1995, mas em 1992 eu fui fazer um mestrado na COPPE – porque eu parei de fazer aquele mestrado no ITA –, em engenharia de produção. No final do mestrado, em 1995, eu saí da área de segurança e fui trabalhar em RH, algo completamente diferente. Eu trabalhava na assessoria estratégica do RH da empresa. Antes ele tinha outro nome, que era o Serech, Serviços de Recursos Humanos. Fiquei lá até 1999. Meu mestrado foi em 1996, fiquei até 1999. Nesse ano eu fui para E&P, Exploração e Produção. Trabalhei na exploração e produção por uns anos, mas fui requisitado para Transpetro e voltei a trabalhar na área de segurança. Fui trabalhar na sede da Transpetro como coordenador de segurança e saúde. Fiquei até 2002 nessa função, depois passei a gerente de segurança, meio-ambiente e saúde na área de dutos e terminais. No final de 2003 ou início de 2004 eu fui ser gerente geral de SMS, ligado à presidência da Transpetro. Na época a responsabilidade era, não só pela área de dutos e terminais, mas também por navios. Fiquei até 2006 lá, aí eu passei pra consultor técnico, saí da gerência geral, fui pra consultor técnico, que é a minha função hoje. E vim aqui para o terminal de São Sebastião em junho de 2006. Faz exatamente três anos. Eu já estava com vontade de sair do Rio, o Rio de Janeiro em si como cidade está muito complicado e eu queria mais qualidade de vida. Havia uma intenção de sair do Rio e acabou calhando. Houve um convite para vir para cá e eu aceitei sem nenhum problema.
Eu sou consultor técnico na área de segurança, meio-ambiente e saúde [SMS], mas aqui eu estou trabalhando na área de meio-ambiente. É uma área de meio-ambiente no terminal, mas ela faz parte da coordenação. Eu não sou o coordenador, que é o Leonardo. Eu faço parte da coordenação de meio-ambiente da área de São Paulo e Centro-Oeste. Eu, quando cheguei aqui no terminal, trabalhei em manutenção até um ano atrás, mas também como consultor técnico em SMS. Eu vim para cá para tratar basicamente de dois assuntos: o termo de compromisso e ajustamento de conduta do terminal e a nova estação de tratamento de afluente. Eu continuo basicamente com essas duas funções dentro do SMS. Na nova estação de tratamento de afluentes eu sou o gerente do projeto.
O Termo de Ajustamento de Conduta foi um termo assinado em novembro de 2006, pelo diretor de dutos e oleodutos da Transpetro. Foi assinado em conjunto com o órgão ambiental local, que é a CETESB [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo], mais o Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal. Ele tem validade de três anos. Teoricamente esse termo de ajustamento de conduta se encerraria agora em novembro de 2009. Existem vários compromissos, obrigações condicionantes que devem ser cumpridas tanto pela Petrobras quanto pela Transpetro, durante esse período de três anos. Está se encerrando agora em novembro, com praticamente 90% dos compromissos assumidos e cumpridos, tanto pela Petrobras, como pela Transpetro. Alguns, como por exemplo a própria estação de tratamento de afluentes, como eu falei, por uma série de questões de mercado, só vai poder ficar concluída no final do próximo ano, aproximadamente em setembro de 2010, mas isso é de conhecimento tanto do Ministério Público Federal, Estadual e do órgão ambiental. É uma das obrigações que, por uma questão de mercado, não conseguimos cumprir dentro do prazo do termo de ajustamento de conduta. São cerca de 60 obrigações para serem cumpridas pela Transpetro e pela Petrobras. Prevê multa, tanto pecuniária como, vamos dizer, multa administrativa. O não cumprimento de alguns itens pode levar ao pagamento do valor daquele bem inteiro que está previsto no TAC [Termo de Ajustamento e Conduta]. É um termo originalmente que equivale a 115 milhões de reais, mas só a estação de tratamento de afluente já está na ordem de 200 milhões de dólares.
A Estação de Tratamento de Afluentes que temos aqui atualmente tem uma capacidade de tratamento, de enquadramento, baseada em alguns parâmetros previstos na legislação da época. A legislação atual tem algumas modificações com relação a alguns parâmetros. O petróleo que nós trabalhamos atualmente tem algumas características diferentes de componente. A estação de tratamento atual não tem mais uma capacidade adequada para tratamento, por isso foi incluído nesse TAC, a construção de uma nova estação, que pudesse enquadrar todos os parâmetros conforme a legislação atual. E é isso que está sendo feito, a antiga continua operando até a próxima ser construída. Os efluentes tratados e enquadrados são descartados no canal, através de um emissário submarino que acompanha e, vamos dizer, descarta o produto. Isso vai continuar sendo feito, será tratado o efluente daqui do terminal, que basicamente é água de formação. A água de formação é a água que vem junto ao petróleo. Essa água tem que ser retirada do petróleo para o petróleo ser processado, só que essa água é uma água com alto teor de sal e com alguns contaminantes, existentes na formação do petróleo lá de baixo, do mar ou da terra. Essa água não poderia ser descartada nessa maneira num corpo d’água, ela tem que ser tratada para retirar uma boa parte desses contaminantes e enquadrá-la dentro do que está previsto na legislação atual.
No tempo em que ainda eu não estava na Transpetro, trabalhava no SMS corporativo da empresa, basicamente eu tinha contato com todos os órgãos operacionais da empresa, não só com o terminal de São Sebastião, eu trabalhava na investigação de acidentes, na parte de projetos e de novas instalações. Eu sempre fiz análise de projeto lá na sede. Eu dava a orientação corporativa com relação aos aspectos a serem seguidos para a função segurança, esse era o meu trabalho. De certa forma é um trabalho de consultor técnico, mas não existia esse cargo antes, aliás, essa função, não é cargo. Depois eu passei para Transpetro, que estava iniciando na área de dutos e terminais, porque a parte de dutos e terminais veio para Transpetro em 2000. O objetivo era formarmos essa área, corrigir algumas coisas que poderiam eventualmente estar erradas, e criar uma filosofia única, uma política única para toda empresa. O meu objetivo basicamente era de verificar nossos procedimentos. Buscar a melhor técnica a ser utilizada, e tentando transformar o nosso trabalho de segurança e saúde em alguma coisa que pudesse ser referência par o restante da companhia. Foi esse desafio que me fez vir para Transpetro. Claro que eu não iria fazer sozinho, existia todo um pessoal que já trabalhava na área, eu seria um coordenador. Quando eu passei para gerente o papel era mais ou menos esse, mas envolvia também a área de meio-ambiente, porque queríamos trabalhar de uma maneira uniforme em toda a empresa. Queríamos transformar o SMS num valor propriamente para a empresa e não apenas numa outra coisa que fosse obrigatória ser cumprida para atingir um objetivo maior da empresa, que seria produção e lucro. Queríamos que o SMS fosse um valor da Transpetro. Isso, de certa forma, foi conseguido, com o apoio da antiga diretoria, da diretoria atual, ou seja, aconteceu porque foi vontade política da empresa e dos dirigentes da empresa em transformar o SMS em valor.
O terminal de São Sebastião é o maior terminal da América Latina. Ele tem muita movimentação de navio e de petróleo. As preocupações aqui abrangem todos os aspectos que podem existir nas funções de segurança, meio-ambiente e saúde. Outros lugares tem características diferentes, você tem preocupações um pouco menores, mas aqui você tem que estar o tempo todo vigilante porque, se acontecer alguma coisa de vulto, um pouco maior, nós paramos quatro refinarias do país, no mínimo. As preocupações aqui são um pouco mais fortes.
O terminal de São Sebastião durante certo período teve um número maior de acidentes ocorrendo por aqui, acidentes de vazamentos que causaram problemas ambientais no canal de São Sebastião. Isso não ocorre há um bom tempo, graças a deus, e é um trabalho de todos, mas a grande preocupação aqui é que você tem uma área muito sensível, ambientalmente falando. Você tem muita movimentação de produto e você tem também uma sociedade que cobra bastante com relação a algumas coisas que podem estar afetando o meio-ambiente local. Tem toda uma preocupação dos dirigentes da Transpetro, do pessoal aqui do terminal, de operar de maneira a não causar nenhum tipo de transtorno ou agressão ao meio-ambiente. Eu acho que essa é a grande característica. Nós temos trabalhos constantes de monitoramento do canal, de ver a biota do canal como é que ela se encontra, verificar as correntes do canal de São Sebastião para saber, se um eventual vazamento ocorrer, para onde essa mancha poderia se dirigir. Existe todo um plano de emergência feito, preparado, para o terminal, como para outros também. Foram traçados mapas de sensibilidade que nos levam a ter uma visão muita próxima da realidade, do que poderia ocorrer no caso de um eventual vazamento. Nós temos trabalhos com a comunidade, trabalhos de formação de agentes ambientais e de educação ambiental, que está sendo realizado nos quatro municípios da região. Esse programa de educação ambiental, por exemplo, visa formar os professores das escolas públicas e dar-lhes uma capacitação de ensinar e de formar as pessoas, os alunos, nas questões de meio-ambiente. É um programa que tem um resultado no futuro, mas que já começamos a ver algumas coisas agora. É um programa de educação mesmo, de formação, para viverem de uma forma um pouco mais harmoniosa com o meio-ambiente, e saber cuidar dele, por exemplo. São várias as ações que estão sendo desenvolvidas aqui com relação ao meio-ambiente, mas eu poderia citar essas daí como bem importantes.
A coordenação de meio-ambiente São Paulo-Centro-Oeste da Transpetro, tem atribuições nas áreas de terminais aquaviários dessa região. Tem um atribuição também com relação aos terminais terrestres, você pega Guarulhos e São Caetano. E, como ela vai até o Centro-Oeste, você pega todo o Osbra [Oleoduto São Paulo / Brasília] que vai até Brasília. Essa coordenação abrange todas as questões de meio-ambiente nas instalações da Transpetro, nos estados de São Paulo e Centro-Oeste, na área de dutos e terminais, na diretoria de gás e eventualmente, se necessário, também da área de transporte marítimo. Mas o ponto principal são as instalações terrestres existentes nessas regiões. O relacionamento é direto com o órgão ambiental. Um dos pontos principais é a questão de licenciamento, de estudos de risco, de identificação, diagnóstico de áreas eventualmente impactadas, de remediação dessas áreas impactadas, coisas que a gente herdou de 30, 40 anos de empresa, que aconteceram lá para trás e que hoje temos que identificar e eventualmente remediar. São várias as ações.
Nos três anos que eu estou aqui nós podemos perceber muitas mudanças, mas eu acho que o mais importante não são essas mudanças dos últimos três anos que estou aqui. Eu, como estou há trinta na empresa, posso dizer que tem muita mudança nos últimos anos nas questões de SMS, no caso específico de meio-ambiente, mas muitas mudanças até na postura das pessoas, da visão das gerências. E eu acho que eu poderia dizer que nesses três anos aqui, só para resumir, aconteceu foi uma grande mudança no relacionamento com a comunidade e os órgãos ambientais. O trabalho do pessoal é muito consciente nessas questões e isso repercute de boa maneira, repercute bem junto às prefeituras, aos órgãos ambientais e o Ministério Público. De vez em quando a imprensa daqui bate um pouco, ela gosta de bater, mas não só aqui, mas em vários lugares. Mas nós estamos fazendo todas as ações aqui, tanto específicas de meio-ambiente, segurança e saúde, como as do terminal dentro de uma visão de futuro e de trabalho, para que comunidade possa conviver com o terminal de forma harmoniosa. Isso leva o país a um desenvolvimento maior do que está hoje. Eu não tenho dúvida de que isto está sendo compreendido por todos.
Eu não sei se eu tenho uma história interessante, tem algumas coisas que marcam a vida da gente, algumas são positivas e outras negativas. Eu não gosto de deixar de falar o que realmente marcou de uma maneira negativa, que foi um grande acidente ocorrido na refinaria, mas que também proporcionou tanto para empresa quanto para os profissionais que viveram aquilo, no meu caso específico, um crescimento muito grande. Esse acidente ocorreu em 1981 e morreram 11 pessoas. Isso marcou muito a minha carreira dentro da empresa. Eu acho que tem muita coisa que eu poderia falar, mas aí eu teria que me lembrar de vários outros episódios. Eu gosto de trabalhar na empresa, tem várias coisas, se eu tivesse que escrever um livro de causos, uma parte dele talvez pudesse ser censurada, mas outra parte acho que eu poderia contar uma boa parte da história da empresa. Mas não diria mais nada com relação a isso a não ser desse acidente.
Eu fui sindicalizado no meu tempo de refinaria, eu tenho um bom relacionamento com o pessoal do sindicato, sempre tive, tenho uma boa relação com vários dirigentes sindicais no Brasil inteiro, tanto da FUP [Federação Única dos Petroleiros], quanto da FNP [Frente Nacional dos Petroleiros]. A gente se respeita bastante, temos o direito de colocar os nossos pontos de vista. Eu fui sindicalizado na Revap [Refinaria Henrique Lage], mas depois saí e não retornei. Não sou sindicalizado, já pensei nisso, mas não sou.
Eu, quando ainda estava trabalhando no CTA [Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial] aqui em São José dos Campos, eu tinha pensado em entrar na Petrobras. Quando fazia faculdade eu tinha pensado em entrar na Petrobras. Eu acho que o ser petroleiro é algo que já estava na minha cabeça há muito tempo. Entrei e achei que não ia durar muito tempo na empresa, são só trinta anos até agora. Eu posso dizer que tudo que eu consegui na minha vida, tanto profissional, quanto pessoal, foi trabalhando nessa empresa. Então o que é para mim ser petroleiro? Tudo bem, eu poderia estar em outro lugar fazendo uma outra coisa, com certeza eu teria condições disso, mas hoje eu sou um petroleiro e quando eu olho no espelho eu não tenho dívida nenhuma disso, eu sou um petroleiro, minha vida é essa.
Eu acho ótimo participar do Memória Petrobras. O meu ‘mas’ aqui é o seguinte: eu acho que poderíamos falar muita coisa, se eu pudesse me preparar melhor. Mas independente disso eu acho importante que a Petrobras se preocupe em registrar a sua história, ela tem muita história boa para contar, e ruim também, mas a história é composta das coisas boas e das ruins. Eu nunca tinha pensado em ser parte da história da empresa, mas eu acho que com 30 anos, eu tenho que, pelo menos, admitir que sou parte dessa história: uma gotinha de óleo num monte de engrenagem, mas uma gotinha que ajudou essa empresa a chegar aonde chegou. Acho importante participar, se um dia eu puder contribuir em mais alguma coisa, contem comigo. Não só para o Memória Petrobras, mas para a Petrobras como um todo.
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