P - Primeiro eu gostaria que o senhor se identificasse para gente dizendo seu nome, data e local de nascimento. R - Mário Sérgio Portela, eu sou paranaense de Londrina, no Brasil, nasci no dia 5 de março de 1954. P - Qual a sua atividade profissional? R - Eu sou professor titular do Departamento de Teologia e Ciência da Religião da PUC São Paulo, e sou também professor de pós-graduação em Educação Currículo na mesma universidade. P - Qual foi o motivo que levou o senhor a participar deste fórum? R - Eu recebi um convite extremamente positivo para participar como um dos dialogadores em torno da mesa Identidade Cultural e Religião. Isso permitiu também que eu pudesse assistir a outras situações, a outros momentos do evento, para que eu pudesse absorver maior conhecimento, para participação nesta reflexão no dia primeiro de julho sobre religião e identidade cultural. P - Dentre esse trabalhos que o senhor vem fazendo, senhor conhece alguma trabalho ligado a memória? R - Um dos trabalhos mais interessantes que eu já vi neste campo é realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, que no Brasil hoje tem um projeto, já nos últimos três anos, que busca pegar com os funcionários mais idosos, que hoje já deixaram a atividade deste tribunal, pegar com eles toda a memória daquilo que aconteceu no Brasil desde que primeiro, nós passamos a ter eleições com tribunais eleitorais, e segundo, aonde a memória deles alcança. Foi uma das situações mais emocionantes e ao mesmo tempo frutíferas que eu tive, foi acompanhar certa vez, há uns três anos, no norte da cidade de Brasília, no distrito federal, uma reunião com mais de 600 destes antigos, hoje já aposentados, funcionários do Tribunal Superior Eleitoral contatando um pouco da história e portanto da gênese deste tipo de atividade no nosso país. P - Esse projeto ainda está em atividade? R - Eu não tive mais noticia dele, mas eu suponho que sim, pela...
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P - Primeiro eu gostaria que o senhor se identificasse para gente dizendo seu nome, data e local de nascimento. R - Mário Sérgio Portela, eu sou paranaense de Londrina, no Brasil, nasci no dia 5 de março de 1954. P - Qual a sua atividade profissional? R - Eu sou professor titular do Departamento de Teologia e Ciência da Religião da PUC São Paulo, e sou também professor de pós-graduação em Educação Currículo na mesma universidade. P - Qual foi o motivo que levou o senhor a participar deste fórum? R - Eu recebi um convite extremamente positivo para participar como um dos dialogadores em torno da mesa Identidade Cultural e Religião. Isso permitiu também que eu pudesse assistir a outras situações, a outros momentos do evento, para que eu pudesse absorver maior conhecimento, para participação nesta reflexão no dia primeiro de julho sobre religião e identidade cultural. P - Dentre esse trabalhos que o senhor vem fazendo, senhor conhece alguma trabalho ligado a memória? R - Um dos trabalhos mais interessantes que eu já vi neste campo é realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, que no Brasil hoje tem um projeto, já nos últimos três anos, que busca pegar com os funcionários mais idosos, que hoje já deixaram a atividade deste tribunal, pegar com eles toda a memória daquilo que aconteceu no Brasil desde que primeiro, nós passamos a ter eleições com tribunais eleitorais, e segundo, aonde a memória deles alcança. Foi uma das situações mais emocionantes e ao mesmo tempo frutíferas que eu tive, foi acompanhar certa vez, há uns três anos, no norte da cidade de Brasília, no distrito federal, uma reunião com mais de 600 destes antigos, hoje já aposentados, funcionários do Tribunal Superior Eleitoral contatando um pouco da história e portanto da gênese deste tipo de atividade no nosso país. P - Esse projeto ainda está em atividade? R - Eu não tive mais noticia dele, mas eu suponho que sim, pela importância que ele carrega. Inclusive porque ele não é um projeto de pessoas que estavam já na inatividade. Ele é um projeto das pessoas da área de recursos humanos que estão em atividade, e portanto, nesta condição, são homens e mulheres que se preocupam em proteger a história. Em cuidar do futuro, fazendo com que o passado não fique enfumaçado, não fique perdido dentro das nossas travessuras, desatenções e às vezes também obscurecimentos mais fortes nesse campo . P - Aproveitando este gancho, eu queria que o senhor falasse para gente alguma evento marcante de que o senhor tenha participado. R - Eu tive uma grande emoção na vida: foi de trabalhar durante um certo tempo com o educador, o grande pernambucano Paulo Freire. Eu o conheci por 17 anos, durante um certo momento estivemos extremamente próximos, especialmente porque ele foi secretário de educação da cidade de São Paulo em 1989, 1990, e eu era o secretário adjunto, em 1991 e 1992 eu fiquei no lugar dele como secretário. Não no lugar de Paulo Freire, que esse nunca foi ocupado, mas no lugar do secretário que Paulo Freire ali estava. Todos os dias, durante 1989 e 1990, nós passávamos pelos menos uma hora e quarenta, duas horas, no começo da noite, com aquela relação às vezes burocrática que um chefe, que um administrador tem, que é a assinatura contínua de documentos; como esse era um gesto mais automático, porque tudo já ti há sido cercado pela sua acessoria, nós enquanto isso conversávamos sobre vida, sobre filosofia, sobre educação, sobre a morosidade, e essa foi uma memória maravilhosa, porque esta situação se repetiu por mais de 400 vezes, e portanto foi o melhor curso de educação de adultos que eu pude fazer. Depois Paulo Freire foi o meu orientador no meu doutorado, e aí, claro, essa memória se completou sem se fechar, e por isso ela continua comigo. P - Desse trabalho com o Paulo Freire, tem algum que vale a pena ser lembrado? R - Tem dezenas deles. Basta olhar a cidade de São Paulo, porque a obra de um administrador como ele .... e eu, que participava da equipe junto com outros. Basta observar aquilo que está implantado hoje na estrutura educacional, que embora tenha deixado de ter a presença dele, física, imediata, no inicio de 1991, permanece em todas as crianças que há dez anos, por exemplo, ainda freqüentava as escolas, tiveram a presença dele no cotidiano, os projetos pedagógicos que ele pôde pensar. Portanto ele conseguiu algo fantástico, que foi elevar, tornar mais adequada a educação nessa cidade. Não foi ele nem a equipe da qual eu fiz parte que inventou a qualidade de ensino da rede municipal paulistana, mas ela se elevou muito com o trabalho deste grande pernambucano. E aí uma curiosidade: ele de Pernambuco, eu do Paraná, dois estados da nossa nação que se juntam na cidade de São Paulo, e isso permitia também que a gente fosse capaz de partilhar as nossas trajetórias; isso foi marcante não só para mim, mas também no registro que muitos homens e mulheres fazem deste momento, não foi único, mas foi muito importante. P - Pra finalizar, o senhor queria deixar alguma mensagem sobre este trabalho? Sobre esta coisa do fórum? R - Todas as vezes que nós juntamos homens e mulheres, que nós fazemos a reunião de pessoas para pensar a diversidade, a capacidade estética, a morosidade, afetividade, intervenção, a proteção do ambiente, nós estamos fazendo algo que é o mais importante da vida, que é exatamente aquilo que é essencial, que é o cuidado da vida nas suas múltiplas manifestações. Muitas coisas na vida são fundamentais, nem tantas são excelências. O essencial é aquilo que não pode não ser, o fundamental é aquilo que estrutura, que apóia, que dá base, que dá os fundamentos. Um fórum, ele aparece quando há junção de pessoas, ele aparece como uma coisa fundamental para dar sustentação ao essencial, é no caso o essencial, é nesta vez e em outras que sem dúvida se terá, é a proteção da vida nas suas múltiplas manifestações. Não só a vida humana, mas o conjunto da vida na sua expressão ao mesmo tempo misteriosa e encantadora; portanto a função mesmo é que a gente seja capaz de levar adiante, em vez de repousar, no momento que agora estamos, levar ao futuro. P - O que você achou de ter dado esse depoimento? R - Todas as vezes que a gente é capaz de expressar uma das maneiras de compreender o mundo, que é aquela que eu compreendo como indivíduo, quando eu consigo colocar uma parte do modo como eu vivo, como eu penso, e quando isso se junta como outras formas, faz aquilo que é a tarefa de fato do museu, uma coisa viva; um depoimento ele é uma biópsia, ele não é uma necropsia. Ele não serve, como não serve nenhum museu, para guardar coisas que envelheceram, mas coisa que estão idosas e precisam ser guardadas. Meu depoimento tem que ser guardado não em função até de uma série de circunstâncias que a vida colocou, e que em eventuais instantes me levaram a posição de atividade ou de autoridade até, ele vale porque eu sou uma pessoa, e essa pessoa tem o que dizer; antes de eu ser, o universo não era como é. E quando deixar de ser, ele não será mais assim. Eu sou insubstituível, eu e você, qualquer um de nós; daí que eu quero sim, preciso, devo estar no museu que guarde a minha memória, e portanto guarde a minha história. P - Eu queria agradecer em nome do Instituto Museu da Pessoa. R - Grato.(FIM)
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