Minha... “obsessão”, vamos dizer assim, por Márcio Borges e por todas as coisas que povoaram a história do Clube da Esquina começou há muito tempo, só por causa daquele livro, Os sonhos não envelhecem, que eu li pela primeira vez em setembro de 2001, absolutamente por acaso. Estava no shopping; entrei na livraria, e aquele livro, que dizia contar a história de Milton Nascimento e da origem do Clube da Esquina, me interessou.
Alguma coisa muito estranha e boa aconteceu quando comecei a ler, e ele mexeu comigo de tal forma, que não consegui largar mais. Por causa dele, me peguei redescobrindo todo aquele universo bonito do Milton, suas histórias, os amigos, enfim. Chorei muito aquele dia. E ri também, cantarolando aquelas letras escritas ali, de músicas que eu ouvia quando era criança e nem lembrava mais, mas que, de repente, estalavam na memória, como se nunca tivessem desaparecido da minha mente, me enchendo duma sensação engraçada de ternura e saudade. Só fui sair dali às sete da noite, levando o livro comigo, claro e, de quebra, o CD dos 30 anos do Clube.
Uma vez não foi suficiente, e eu vivia relendo aquela história nostálgica e musical, contada da forma mais bonita possível, a ponto de sabê-la de cor. Como não podia deixar de ser, acabei me apaixonando pela forma dele de escrever, por todo aquele lirismo apaixonado que, por mais que eu faça, jamais terei.
Cada leitura era uma viagem nova, e talvez seja até pretensão dizer que eu me sentia parte daquilo tudo, totalmente integrada à família Borges, íntima daquela musicalidade nascida no “quarto dos homens”, e conversar sobre eles era como falar de pessoas que eu já conhecia há muito tempo: Nico, Telo, Marilton, o menino Lô, que aprendeu a tocar ouvindo Beatles... aqueles caras não eram irmãos só do Márcio, eram meus também. Aí, a música dos irmãos Borges virou minha paixão.
Não faz muito tempo que assisti ao vídeo dos 50 anos de Beto Guedes.
Uma amiga estava...
Continuar leitura
Minha... “obsessão”, vamos dizer assim, por Márcio Borges e por todas as coisas que povoaram a história do Clube da Esquina começou há muito tempo, só por causa daquele livro, Os sonhos não envelhecem, que eu li pela primeira vez em setembro de 2001, absolutamente por acaso. Estava no shopping; entrei na livraria, e aquele livro, que dizia contar a história de Milton Nascimento e da origem do Clube da Esquina, me interessou.
Alguma coisa muito estranha e boa aconteceu quando comecei a ler, e ele mexeu comigo de tal forma, que não consegui largar mais. Por causa dele, me peguei redescobrindo todo aquele universo bonito do Milton, suas histórias, os amigos, enfim. Chorei muito aquele dia. E ri também, cantarolando aquelas letras escritas ali, de músicas que eu ouvia quando era criança e nem lembrava mais, mas que, de repente, estalavam na memória, como se nunca tivessem desaparecido da minha mente, me enchendo duma sensação engraçada de ternura e saudade. Só fui sair dali às sete da noite, levando o livro comigo, claro e, de quebra, o CD dos 30 anos do Clube.
Uma vez não foi suficiente, e eu vivia relendo aquela história nostálgica e musical, contada da forma mais bonita possível, a ponto de sabê-la de cor. Como não podia deixar de ser, acabei me apaixonando pela forma dele de escrever, por todo aquele lirismo apaixonado que, por mais que eu faça, jamais terei.
Cada leitura era uma viagem nova, e talvez seja até pretensão dizer que eu me sentia parte daquilo tudo, totalmente integrada à família Borges, íntima daquela musicalidade nascida no “quarto dos homens”, e conversar sobre eles era como falar de pessoas que eu já conhecia há muito tempo: Nico, Telo, Marilton, o menino Lô, que aprendeu a tocar ouvindo Beatles... aqueles caras não eram irmãos só do Márcio, eram meus também. Aí, a música dos irmãos Borges virou minha paixão.
Não faz muito tempo que assisti ao vídeo dos 50 anos de Beto Guedes.
Uma amiga estava comigo nesse dia e se espantou com o meu choro incontido. “Eu conheço todos eles, cara”, eu disse, “você acredita?”.
Não é exagero nenhum de minha parte dizer que o mesmo efeito que “Jules et Jim”, teve para Márcio e Bituca, no escuro do cinema, ainda no início da amizade deles, esse livro teve para mim, sob o clarão do dia. Muita luz, muito amor, muita poesia, tudo isso junto num grande redemoinho feito de música e inundado de sentimento.
De lá pra cá, aconteceram algumas coincidências engraçadas...
Em junho de 2003, nosso professor chegou com uma música bonita e cheia de energia, chamada “Beira-mar novo”, pro encerramento do show do coral, aquele ano. Disse que a música estava no novo CD do Milton, Pietá, segundo ele um disco perfeito, fantástico, e tal. Nesse disco, também tem uma canção chamada “Voa bicho”, que eu me lembro de ter ouvido muito quando era pequenininha, na casa do meu pai. Até um dia desses, eu nem sabia que ela era do Telo e do Márcio.: “Ah, andorinha voou, voou, fez um ninho no meu chapéu, e um buraco bem lá no meio do céu...”
Um tempo depois, ouvi no rádio uma música que dizia umas coisas meio loucas, bonitas demais: “... o sol é a mãe e o pai, dissolve a escuridão...”. Aí o meu irmão me disse: “Quem está cantando isso é o Skank”. Não, era impossível. Aquele mar de metáforas (o céu está no chão, o claro, a escuridão, o sol é o pé e a mão...) era puro Salvador Dalí e parecia demais com um certo livro que eu tinha lido uma vez. Fui conferir na internet: a voz era do Samuel Rosa, sim, mas meu coração havia me dito desde o começo que naquilo tinha o dedo de um irmão Borges.
E tinha. O Lô também era responsável por aquele caleidoscópio maluco chamado “Dois rios”.
Tudo bem.
Outro dia, dentro do ônibus, o rádio tocou a voz bonita do Milton, cantando uma coisa mais bonita ainda: “... o mundo lá sempre a rodar e, em cima dele, tudo vale ...”.
Talvez por estar num dia de sensibilidade à flor-da-pele, comecei a chorar. Depois, acabei descobrindo que aquela música também estava no Pietá e que o autor dela era ninguém menos que Márcio Borges, o Marcinho do meu livro, aquele mesmo Márcio que já havia me feito chorar tantas vezes com suas histórias de cruzadas, esquinas, índias, girassóis, batidas de limão, trens, calçadas, clubes, novenas, socorros-costa, festivais mal-sucedidos, contos trespontanos e belorizontinos, histórias de interior e de mundo. O Márcio Borges poeta, escritor, cineasta... Márcio belo, Márcio horizonte, Márcio de vento, letras e emoções, daquelas coisas todas que a gente sente e dificilmente consegue dizer.
Muito do que sou hoje está em Márcio Borges, esse cara legal que eu conheci um dia, na livraria do shopping.
Em setembro de 2003, perdi meu livro por aí. Num momento de extremo descuido, acabei esquecendo-o em algum lugar. Primeiro, chorei todo o meu desespero por saber que nele não havia nenhuma identificação, nome, telefone, nada que pudesse fazê-lo voltar às minhas mãos. Depois, com o consolo do CD que eu ainda tinha, desejei ardentemente que a pessoa feliz que o havia encontrado conseguisse ler nele tudo o que eu tinha lido, soubesse vê-lo como eu o tinha visto, que ele pudesse despontar nessa pessoa tudo o que havia despontado não só em mim, mas nos meus amigos também, a quem fiz questão de levá-lo diversas vezes: o amor pela poesia, a busca pela sua simplicidade, a clareza de sentimentos, a vontade de criar sempre, e cada vez mais, de procurar escrever mais e melhor. Acabei ganhando-o de volta, semanas depois, de presente de um grande amigo.
Quando eu fazia parte do Mira Ira, o grupo folclórico do CEFET-CE, nossa professora chegou com uma boa nova: o grupo estava indo a Belo Horizonte, para uma apresentação no CEFET-MG. Quando fiquei sabendo da novidade, a primeira coisa que me veio à cabeça foi um certo lugar, uma certa esquina, "rua Divinópolis esquina com rua Paraisópolis, lá em Santa Tereza", duas ruas comuns, um cruzamento comum onde, há 30 anos, um grupo de meninos se sentava pra tocar violão e escrever... Será que isso ainda existe? Eu pensava.
Mesmo que tudo não passasse de uma simples calçada, era lá que eu iria, assim que pousasse os pés naquela terra de horizontes bonitos. Queria chegar perto, ver de perto, pisar, tocar, sentir o cheiro, a aura poderosa que, certamente, paira naquele lugar. Estar o mais perto possível do lugar de onde saiu o mais puro ouro de minas. Meu coração dispara só de pensar que eu não fiz isso, porque acabei saindo do grupo, por total falta de tempo.
Márcio Borges hoje está com mais de 50 anos. Seria bom poder chegar perto dele e dizer o quanto aquele livro mexeu comigo, numa boa, o quão profundamente me emocionou, e emociona ainda, cada vez que ouço aquelas canções, ou lembro daquelas histórias alegres e tristes contadas com tanta paixão e saudade. O quanto transformou algumas maneiras que eu tinha de ver as coisas, da vontade que ele me dá de fazer sempre mais.
Hoje, continuo mergulhada de cabeça e alma no sol de Márcio Borges, junto com toda a turma boa de Minas, e os amo cada vez mais: Milton, Márcio, Beto, Lô, todos esse homens bonitos e inundados de sentimento.
Recolher