Olá, me chamo Natalice Beltrão e vim contar a minha História, encorajada pelo Curso do MEC: Formação de professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Tenho 41 anos e atualmente sou Professora Concursada na rede Publica Municipal de Macapá, no Estado do Amapá, há 4 anos.
Então, quando criança, na faixa etária de uns 6-7 anos, minha mãe (in memória) me deu para o seu irmão me criar, pois meu pai abandou-nos e minha mãe teve que se virar com 8 filhos, dentre eles, 4 menores de idade, e minha mãe nunca havia trabalhado na vida até então... logo, a necessidade para não passar fome, fez com que ela me desse para o meu tio me criar, pois adoecia com frequência e me vendo nesse estado, pediu ajuda a esse meu tio, que era muito parceiro dela.
Morei com meu tio uns dois anos, com 9 anos adentrei pela primeira vez na escola, mas já sabia ler e escrever, meu irmão, que fez o papel de pai quando meu pai foi embora, nos ensinava em casa. Então, não tive tanta dificuldade na primeira série, em 1991. Nessa época meu pai aparecia em casa de forma esporádica, pois nos abandonou para virar garimpeiro.
Nesse periodo de 1991-1997, minha mãe capinava quintal e lavava roupa para conseguir dinheiro para colocar alimento em nossa mesa. As vezes meu irmão, que hoje é policial militar e eu, íamos juntos capinar quintal e minha mãe lavava roupa ou estava em outro quintal trabalhando. Esse período foi bem difícil, havia dias que almoçávamos e não jantávamos. Mas lembro muito bem de um vizinho que era da igreja quadrangular e sempre que podia ia em casa ensinar minha mãe a adaptar uma espécie de carne feita de trigo: pegava a farinha de trigo e misturava com alguns ingredientes e fazia uma carne, que realmente lembrava o gosto da carne... oxi...se não fosse esse vizinho...nem sei se estaria aqui contando essa história ou se havia morrido de fome...
Em 1997, comecei a trabalhar em uma casa de uma família que morava próximo de casa, a...
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Olá, me chamo Natalice Beltrão e vim contar a minha História, encorajada pelo Curso do MEC: Formação de professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Tenho 41 anos e atualmente sou Professora Concursada na rede Publica Municipal de Macapá, no Estado do Amapá, há 4 anos.
Então, quando criança, na faixa etária de uns 6-7 anos, minha mãe (in memória) me deu para o seu irmão me criar, pois meu pai abandou-nos e minha mãe teve que se virar com 8 filhos, dentre eles, 4 menores de idade, e minha mãe nunca havia trabalhado na vida até então... logo, a necessidade para não passar fome, fez com que ela me desse para o meu tio me criar, pois adoecia com frequência e me vendo nesse estado, pediu ajuda a esse meu tio, que era muito parceiro dela.
Morei com meu tio uns dois anos, com 9 anos adentrei pela primeira vez na escola, mas já sabia ler e escrever, meu irmão, que fez o papel de pai quando meu pai foi embora, nos ensinava em casa. Então, não tive tanta dificuldade na primeira série, em 1991. Nessa época meu pai aparecia em casa de forma esporádica, pois nos abandonou para virar garimpeiro.
Nesse periodo de 1991-1997, minha mãe capinava quintal e lavava roupa para conseguir dinheiro para colocar alimento em nossa mesa. As vezes meu irmão, que hoje é policial militar e eu, íamos juntos capinar quintal e minha mãe lavava roupa ou estava em outro quintal trabalhando. Esse período foi bem difícil, havia dias que almoçávamos e não jantávamos. Mas lembro muito bem de um vizinho que era da igreja quadrangular e sempre que podia ia em casa ensinar minha mãe a adaptar uma espécie de carne feita de trigo: pegava a farinha de trigo e misturava com alguns ingredientes e fazia uma carne, que realmente lembrava o gosto da carne... oxi...se não fosse esse vizinho...nem sei se estaria aqui contando essa história ou se havia morrido de fome...
Em 1997, comecei a trabalhar em uma casa de uma família que morava próximo de casa, a dona dizia que era pra ajudar a minha mãe, me dava frutas pelos serviços prestados...mas só durou 2 dias, os filhos dela queriam me bater e eu não aceitei e nunca mais pisei lá! Então minha mãe falou com sua amiga de infância e essa me contratou, perguntou o que eu sabia fazer... e eu não sabia nada...então ela foi me mostrando como deveria fazer os afazeres da casa, me ensinou a fazer comida, lavar roupa, etc... trabalhei nessa casa até 2006, pois havia sido convocada para um concurso de Serviços Gerais que realizei na prefeitura de Macapá, isso me trouxe tranquilidade, pois era uma renda fixa e que já poderia pensar em uma possível aposentadoria... nesse tempo já estava com a minha filha com um ano e meio de vida, pensava em dar uma vida diferente da que tive...sem fome!
Em 2008 engravidei do meu segundo filho, fiz vestibular para Peadgogia na UEAP-universidade do Estado do Amapá, entrei na segunda chamada, na última vaga, não esperava ser chamada, pois não havia estudado nada, ainda estava com um filho de 15 dias de nascido. Então, não poderia deixar essa chance passar, fui estudar. Minha ex sogra (in memória) cuidava do meu filho enquanto estava na faculdade e minha mãe da minha filha que tinha quase 3 anos. Foram quatro anos, saindo de casa às 6horas da manhã e retornando às 20 horas, todos os dias da semana. Como disse era servente, e tinha que limpar a escola antes dos alunos chegarem e manter o ambiente limpo. Não dava tempo de ir em casa e retornar, pois resido em outro município, são 1h30min. de viagem dentro de um ônibus tanto na ida quanto na volta. Fora o tempo esperando o bendito ônibus no ponto...aff!
Nessa escola onde trabalhava de servente, no horário que trabalhava era apenas eu de mulher e os demais serventes, eram homens...um dia o diretor me chamou e me disse que eu deveria fazer todo o serviço só, pois eu que era mulher alí... pensa... queria matar esse homem, só não peguei ele, pq um dos funcionários me segurou e disse que ele estava errado e que não valia a pena eu me sujar por esse tipo de gente e foi isso que fiz, esfriei a cabeça e pedir a minha carta de devolução para a Secretaria de Educação, logo, peguei e carta e fui mandada para outra escola, já fui enviada como cuidadora de alunos deficientes, pois tinha curso de cuidador e estava concluindo meu curso de Pedagogia. Nessa escola levei um impacto, pois nunca havia trabalhado com alunos deficientes e logo recebi um que tinha paralisia cerebral e essa criança de 4 anos, ficava em sala com a sua mãe sendo sua cuidadora, a mãe ficava isolada no canto da sala separada das demais crianças...achei aquilo estranho, conversei com essa mãe... o aluno pegava tudo e jogava no chão e ria horrores, e batia a cabeça no chão ao ser contrariado... era dependente total. No decorrer do ano, esse aluno já não mais se batia, participava das atividades junto com as demais crianças...teve uma vez que a mãe me ligou quase meia noite, emocionada, pois o filho estava comendo sozinho, sem sua ajuda e me agradeceu demais...mas estava fazendo apenas o que me foi orientado e era meu trabalho fazer o aluno a ser mais autônomo. Logo que terminei a Graduação em Pedagogia, fui tentar realizar meu sonho de ser Química, passei de novo no vestibular, tentei estudar, mas tive que abandonar logo no primeiro período, pois a Graduação em Química era integral e não dava pra mim...então, já amava os alunos deficientes nessa escola, resolvi me especializar em Educação inclusiva e especial. E os professores dessa escola já não me queriam como cuidadora e sim como auxiliar pedagógica, pois os alunos estavam avançando consideravelmente...Mas nesse período meu salário defasou e não compensava ganhar pouco e trabalhar mais, então pedi para me realocarem como servente, pois o servente estava recebendo 30% a mais que um cuidador. O chefe da divisão de Recursos Humanos da Secretaria de Educação me chamou para conversar e disse que iria me pagar o mesmo valor para que eu continuasse como cuidadora, me contou uma história pra boi dormir...então discuti com ele. Apesar dos pesares, ele me olhou e disse: - Nossa, você raciocina muito rápido e tem resposta pra tudo. me perguntou sobre minha formação e me convidou para trabalhar na secretaria de Educação, sendo sua secretária. aceitei, lógico. Trabalhei lá no período de 2014-2019, quando passei fui empossada no Concurso para professore de Educação Básica que realizei em 2018. Então pedi exoneração do cargo de servente. Hoje, sou professora na rede Municipal de Macapá, 13 anos no cargo de servente e 4 no cargo de Professora. Eram 300 vagas imediatas... passei na colocação 170. Concorreram 8 mil candidatos ao cargo. Em 2022 realizei o Concurso para professor de Ensino Especial, passei na 5ª colocação, estou aguardando ser convocada e empossada... meus filhos hoje tem 15 e 18 anos. Cuidei da minha mãe até o fim de sua vida e sei o que ela passou foi para nos ver bem e ela só teve oportunidade de adentrado em uma sala de aula, já com 60 anos, para acompanhar meu irmão surdo na EJA, e assim aprendeu a assinar seu noome, fazer seu caderno de nota, quando vendia seus perfumes da Avon. Mas nunca nos deixou faltar uma aula se quer, pois sempre nos dizia, o estudo que vai tirar a gente dessas mazelas...e ai da gente, pensar em faltar na escola, era uma surra... hoje, pensando melhor, acho que ela não nos deixava faltar para que não passássemos tanta fome, pois alí havia alimentação...minha mãe foi criada no meio do mato, ribeirinha, se foi por culpa do Vírus da COVID-19. Meu pai retornou para casa em 1998. Esse ano completou 83 anos de vida, com uma saúde de ferro, sofreu a perda de minha mãe, quase entra em depressão, agora que está se recuperando, conviveram por mais de 60 anos, casados. Mas se conheciam desde os 6 anos de idade. Meu pai cresceu a Deus dará, a mãe faleceu quando criança e o pai dele o abandou. Uma família o abrigou quando criança e assim cresceu, trabalhou desde os 6 anos de idade em embarcação e depois construiu uma madeireira que veio a falir em 1983, quando saímos da área ribeirinha e migramos para a cidade de Santana-AP. Compramos uma casa de madeira, a casa era coberta com palha...chovia toda dentro... e quando chovia, minha mãe nos colocava dentro de um guarda roupa para não ficarmos molhados, até hoje temos esse guarda roupa...oh! saudade da minha mãe. É muita história minha gente....rs
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