14 de Julho de 2006 as 17horas
05/08/2006
A história de minha mãe contada por mim.
Nascida na cidade de Japaratuba Sergipe, filha de Florentino paulino Rocha e Mariazinha Rosa de Lima, na data de 09 de dezembro de 1925 nascia Nirça, mais tarde Eunice, ela contava que tinha muitos irmãos e sua mãe era muito boa, mas seu pai era severo, todos usavam roupas feitas de saco de farinha. Em seu quintal havia uma jaqueira bem grande e nela uma jaca enorme, o pai dela dizia que tinha que esperar a jaca madurar para comer, mas os irmãos fizeram um buraco no funda da jaca e todos os dias tiravam bagos para comer, quando finalmente a jaca madurou e seu pai abriu só tinha a casca ai todos apanharam até quem não comeu. Outro episodio quando ainda criança que ela tinha me contado ha uns dois anos atrás me tocou muito, o pai dela não gostava que os meninos saíssem, eles só podiam trabalhar, e um dos irmão foi para cidade escondido em um forró e demorou a chegar, o pai ficou muito bravo dizendo que quando ele chegasse ia apanhar para aprender a obedecer, a mãe foi encontrá-lo no meio do caminho e contou a ele que o pai estava muito bravo, mas mesmo assim ele quis ir para casa, no meio do caminho encontraram o pai que bateu no seu irmão, o irmão dela disse ao pai que nunca mais iria voltar para casa e a mãe nunca mais viu seu irmão. Eu e minha mãe tivemos uma cena assim em nossas vidas que será contado mais a frente.
20h45min 05/08/2006
Quando a mãe tinha Quatorze anos foi violentada pelo seu primo filho do irmão de seu pai, depois da violência ela teve que se casar, porque tinha ficado grávida, todo o tempo que ficou casada com esse homem foi de muito sofrimento, ele judiava muito dela até grávida ele a espancava, por isso as crianças nasciam mortas, ela contava que ele era cangaceiro de lampião e só vivia pelo mundo e quando voltava fazia outro filho e a espancava. Ela sofreu muito com este maldito e em uma de suas saídas ele morreu....
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05/08/2006
A história de minha mãe contada por mim.
Nascida na cidade de Japaratuba Sergipe, filha de Florentino paulino Rocha e Mariazinha Rosa de Lima, na data de 09 de dezembro de 1925 nascia Nirça, mais tarde Eunice, ela contava que tinha muitos irmãos e sua mãe era muito boa, mas seu pai era severo, todos usavam roupas feitas de saco de farinha. Em seu quintal havia uma jaqueira bem grande e nela uma jaca enorme, o pai dela dizia que tinha que esperar a jaca madurar para comer, mas os irmãos fizeram um buraco no funda da jaca e todos os dias tiravam bagos para comer, quando finalmente a jaca madurou e seu pai abriu só tinha a casca ai todos apanharam até quem não comeu. Outro episodio quando ainda criança que ela tinha me contado ha uns dois anos atrás me tocou muito, o pai dela não gostava que os meninos saíssem, eles só podiam trabalhar, e um dos irmão foi para cidade escondido em um forró e demorou a chegar, o pai ficou muito bravo dizendo que quando ele chegasse ia apanhar para aprender a obedecer, a mãe foi encontrá-lo no meio do caminho e contou a ele que o pai estava muito bravo, mas mesmo assim ele quis ir para casa, no meio do caminho encontraram o pai que bateu no seu irmão, o irmão dela disse ao pai que nunca mais iria voltar para casa e a mãe nunca mais viu seu irmão. Eu e minha mãe tivemos uma cena assim em nossas vidas que será contado mais a frente.
20h45min 05/08/2006
Quando a mãe tinha Quatorze anos foi violentada pelo seu primo filho do irmão de seu pai, depois da violência ela teve que se casar, porque tinha ficado grávida, todo o tempo que ficou casada com esse homem foi de muito sofrimento, ele judiava muito dela até grávida ele a espancava, por isso as crianças nasciam mortas, ela contava que ele era cangaceiro de lampião e só vivia pelo mundo e quando voltava fazia outro filho e a espancava. Ela sofreu muito com este maldito e em uma de suas saídas ele morreu. Disseram que bêbado ele dormiu na beira de uma fogueira, e os seus ouvidos estourarão de tanta quentura graças a deus a mãe estava livre daquele demônio então ela ficou só com os filhos pequenos ai voltou para casa, chegado lá os irmãos dela começaram a judiar dela então ela pediu para a mãe cuidar das crianças mais velhas e só com a Tata ela saiu pelo mundo e com Deus também e ela nem sabia por que nessa época ela era devota do padre Cícero, mas com certeza quem cuidava dela sempre foi Deus depois da saída de casa houve um detalhe da sua vida que ela não falava como uma tatuagem com umas iniciais em seu braço, mas também não importava.
Antes de conhecer meu pai ela teve um filho, ela trabalhava em uma fazenda e a dona pediu a criança, e deixou-a ficar ate o nascimento depois ela tinha que ir embora e foi assim que aconteceu, era tarde da noite chovia muito, ela conta que começou sentir as dores a Tata devia ter uns três anos, ela foi chamar a dona da fazenda que chegou com uma parteira que fez o parto era um menino chamado Josué, logo em seguida teve que sair de lá pra onde foi não sei só sei que sempre com a tata em sua companhia me contava que vendia cocada para os trabalhadores da construção da Usina de Paulo Afonso, lavava as roupas deles também ate ir parar em um bordel, ela não contava detalhes dessa época o meu avô frequentava o bordel, e o meu pai engraxava sapatos na porta, quando o pai dele soube que ele estava interessado na mãe ele deu uma surra nele, nessa época ele tinha quatorze anos e a mãe vinte quatro, a mãe conta que o pai apanhou muito por causa dela.
06/08/2006
É aniversário da Natalia minha filha, e eu continuo contando a história de minha mãe, mesmo meu pai apanhando ele não desistia da mãe, quando estava com dezessete anos ele se casou com ela no civil mais isso demorou antes aconteceram varias coisas. Minha mãe não conhecia Deus, era Devota de Padre Cícero, e quando a Tatá nasceu tinha os pés tortos a mãe fez uma promessa ao padre de andar de preto por um tempo e os pés da Tata voltaram ao normal, então ela não aceitava que o meu pai dizia sobre Deus, eu acredito que no começo do casamento havia algum desentendimento por esse motivo, ela uma vez queimou as roupas dele para ele não sair para igreja, o pai dele não gostava de minha mãe, pois a conhecia antes do casamento, mas mesmo assim eles seguiam, eles trabalhavam nas colheitas em fazendas e uma vez um capataz da fazenda queria a mãe para ele, e disse pra ela que iria matar o pai, pra ficar com ela, então ela contou para ele, e eles fugiram na madrugada dessa fazenda.
Outro episodio foi que uma vez eles foram trabalhar em uma fazenda durante três dias, então não dava para levar a Tata, a mãe deixou ela com uma tia dela, quando ela voltou da colheita, a mulher tinha desaparecido com a Tata, durante muito tempo a mãe procurou ela sem ter noticias, até que um dia chegando a uma cidade em meio á multidão, ela vê a Tata com os cabelos cortados pedindo esmola nas ruas, a mãe a pegou e perguntou com quem ela estava? E ela contou que estava com a tia, a tia a mandava pedir esmola todos os dias e havia cortado seu cabelo com o facão por causa de piolhos, logo a tia apareceu e deu mil desculpas, a mãe foi embora para a casa, e depois disso nunca mais tiveram noticias dessa mulher. A mãe contava que a Tata era muito peralta, uma vez a Tata ficou ouvindo fofoca do vizinho e arrumou uma encrenca com 9 anos então, a mãe mandou ela entrar em um buraco com uma pedra na cabeça, e ali ela ficou durante o dia todo e uma parte da noite. Isso é verdade porque a Tata mesmo me contou, ela dizia que nunca havia esquecido. Eu acho que a mãe nunca pediu desculpas para ela, a mãe dizia que ela dava muito trabalho, dizia que tinha que amarra-la no pé da cama sem roupas para ela não sair enquanto a mãe estava na igreja, mas mesmo assim ela se enrolava num lençol e ia aos forrós da cidade. De alagoas eles vieram para Pirajuí, e foi lá que a mãe se converteu e entrou na igreja batista, quando chegaram não tinham onde morar, pararam em baixo de uma ponte e ali ficaram durante dias, não sei quanto tempo, e de frente da ponte tinha uma loja de móveis, não sei se o dono tinha dó deles e deu um colchão para eles, e o pai conseguiu um emprego na loja, com o dinheiro conseguiu alugar um barraco bem perto de lá.
Em 1981 eu tive o privilégio de conhecer o lugar onde meu pai começou a sua vida aqui em São Paulo, mais pra frente eu vou contar como foi; mãe conta que através da igreja de Pirajuí vieram para são Caetano do Sul, continuavam sendo membros da igreja Batista, foi em São Caetano que a Isa nasceu, meu pai deve ter ficado muito feliz com a chegada da Isa “com certeza”, a mãe conta que o pai começou a procurar um terreno para comprar, foi ai que ele chegou em Mauá, comprou um terreno em um lugar chamado Itaparque velho, e foi lá que em 18 de abril de 1963 eu nasci, a mãe conta que os pais do meu pai não se davam com ela, e ela mesmo gravida de mim eles tiveram uma briga a mãe pegou a cavadeira e acertou na testa da irmã dele, depois disso eles se mudaram e foram morar em outro lugar, nasci com ajuda de uma parteira chamada Alzira, quando eu tinha 9 anos eu conheci ela porque depois que nasci mudamos para o jardim Rosina mais pro centro da cidade.
Dia 07 de agosto de 2006 a Isa veio em casa trouxe uma noticia péssima.
Eu continuo contando a historia da mãe contada por mim na época era muito pequena não me lembro de nada depois meu pai foi trabalhar de caseiro em Piraporinha dai em diante a historia da mãe será contada com episódios que eu pessoalmente vivi, eu devia ter uns cinco anos quando comecei a prestar atenção na mãe, e nas coisas me lembro do jardim da infância; eu usava um avental vermelho xadrez e um shortes azul e parece que a mãe costurava, o Werner era pequeno a Tata trabalhava na Matarazzo, ficamos nessa casa até quando o dono da casa começou a se interessar pela Tata ai nos voltamos para Mauá, a casa era pequena só tinha um cômodo, a noite a mãe abaixava o colchão no chão dormíamos e pela manha a mãe levantava colchão ate que o pai arrumou um emprego na Vidro Brás, ”hoje lá e a Santa Marina”, depois meu pai comprou uns engradados de madeira e construiu uma casa; deixa eu contar que a tata teve o Werner com dezenove anos o pai não quis o filho por isso a abandonou, depois de mais ou menos uns quatro anos ela conheceu o Masin naquela época deve ter sido difícil ser mãe solteira, nessa época me lembro que íamos na igreja todos os domingos, o pai me carregava no colo quando voltávamos da igreja a noite ele ascendia uma lanterna para clarear o caminho; a mãe gostava de criar porcos, eu ia com ela comprar porcos na feira, na feira vendia vários animais, uma vez na volta da feira, o porco escapou e entrou no brejo foi um sufoco a mãe se sujou toda para pegar o porco; outra vez no mesmo lugar havia um pacote a mãe pegou e começou a desembrulhar de repente, saiu um gato que estava morrendo sufocado e ainda mordeu a mão dela, me lembro de que buscávamos lavagens na casa dos vizinhos para alimentar os porcos, de vez em quando eu sinto aquele cheiro só não gostava, no dia em que eram castrados me escondia de baixo das cobertas, mas não tinha jeito, o barulho era horrível.
Eu estudava na escola Antônio Prado Junior na rua Rui Barbosa em Mauá. Estudava pela manhã e sentia muito frio porque tinha que ir de saia, eu não tinha a blusa da escola e a professora sempre me dava bronca e eu chorava muito, uma vez era dia das mães e na escola venderam umas rosas de plástico mas eu nem falei para o pai nem para a mãe, acho que se tivesse dito ele teria me dado dinheiro para comprar mas eu não disse nada, no caminho para casa passei e vi galhos de samambaia no mato e achei bonito, e peguei, comprei umas balas e amarrei no galho, pensei em dar para a mãe mas não me lembro se dei isso para ela, eu achei que ela não se importaria, ela gostava mesmo era de cuidar de porcos, no final do ano quando matava os porcos ela dava um pedaço para cada pessoa que ajudava dando lavagem durante o ano; não ficamos muito tempo morando nesse lugar mudamos novamente para o Itapark Velho lá onde eu nasci logo no final de 1972, me lembro disso porque depois que mudamos continuei indo a escola de ônibus, em 1973 entrei na escola Emília Crem dos Santos; no Itapark Velho na quarta série não sei se a mãe ia nas reuniões, sei que naquela época havia um carnê para ser pago todos os meses agora nessa nova casa tinha um terreno grande a mãe plantava milho, banana, feijão guandu, batata doce e continuava criando galinha, preazinho e patos. Talvez esse ano de 1973 tenha sido mais feliz de nossas vidas, continuávamos indo para a igreja todos os domingos, nessa época eu tinha nove anos não tinha consciência que tinha fé em nosso senhor Jesus Cristo, estudei o ano todo, tinha uma professora chamada Sonia Maria, eu tinha ate dó dela de tanto que a molecada fazia bagunça, ela estava grávida, me lembro de que pedi a mãe para comprar um presente para ela e a mãe comprou um casaquinho de neném. Aquele ano seria o nosso ultimo ano com nosso querido pai.
Começou o ano de 1973 eu já na 5° série estudava no período de noite ninguém ia me buscar, eu tinha medo, a noite não tinha iluminação, uma noite de volta da escola a lua era nova e não se via nada pela frente, de repente eu vi a rua cheia de sapos não tinha nem aonde pisar, eu fui pulando até em casa. Outra vez ao chegar em casa, quando abri a porta meu pai estava sentado de costas para a porta, levei um susto ele havia raspado a cabeça, eu nunca tinha visto meu pai careca, analisando isso hoje sinto que havia algo de errado com meu pai já nessa época. Nesse começo de ano de 1974 o pai se afastou da igreja, depois de mais de vinte anos sendo membros da igreja batista a mãe continuava a mesma, cuidando da roça e dos animais ela não saiu da igreja mais me lembro que um dia não fui na igreja com a minha mãe, fiquei com meu pai no domingo, ele comprou pés e cabeça de galinha e mandou eu colocar para cozinhar, eu nem sabia peguei tudo e coloquei na panela com sal e acendi o fogo, quando minha mãe chegou abriu a panela e deu um grito: -QUEM FEZ ISSO AQUI? E eu respondi: - Eu, as cabeças estavam com bico e com os olhos, os pés com unhas e cheio de penas, mas ela não brigou comigo, quando a mãe ficava brava ela falava: - Com seiscentos Clavinótes, eu não sabia oque queria dizer com isso, mas sempre com isso na cabeça e depois de muito tempo descobri o que era Clavinótes eram armas usadas no tempo em que a guerrilha atacava os seguidores de Antônio Conselheiro, mas essa é outra história, voltando a historia da mãe, um dia o pai estava nervoso, eu nunca tinha visto meu pai nervoso daquele jeito, ele foi para o meio das plantações e de lá tacou uma pedra que acertou a janela até quebrou... Ele estava chorando, eu não ouvia nenhum comentário sobre o que poderia estar acontecendo. Nessa época foi morar em nossa casa uma cunhada do pai, tinha sido abandonado pelo seu irmão Elias com duas crianças e ela estava gravida, a barriga dela era enorme e ela dormia em nossa cama. Por causa disso a Tata não quis que o Werner ficasse mais morando com nós e a força tirou Werner dos braços da mãe, a Tata não gostava dessa mulher e caluniou o pai dizendo que o pai tinha duas mulheres, todos da família dele também viraram as costas para ele a mãe disse que um dia o pai encontrou o pai dele na rua, mas ele mudou de calçada, o que sei é que o pai parecia muito triste, eu compreendo meu pai agora porque também sou como ele. Graças a Deus ele voltou para igreja, parecia que estava tudo bem. Em uma quarta-feira eu tinha educação física na escola e ele me levou de bicicleta e eu tinha medo porque era uma descida, mas chegamos graças a Deus. Eu desci e dei tchau, era nove horas da manhã do dia oito de maio de mil novecentos e setenta e quatro, a tarde fui pra escola, as dezessete horas e quarenta minutos logo na primeira aula vi passar pelo corredor a tata, desde que havia brigado com o pai ele não ia em casa, antes de eu ir para escola estava em casa a mãe a mãe estava na roça de bota de chapéu de palha, alguém passou na rua e disse que o pai havia sofrido um acidente, a mãe veio correndo e saiu do jeito que estava, eu fui para a escola, quando vi a tata passando pelo corredor não imaginei que ela trazia aquela triste notícia, ela me abraçou chorando e fomos para casa não me lembro se chorei, não me lembro de nada daquela noite de oito de maio de 1974 no outro dia, fomos para igreja batista de Mauá, cheguei na porta e devagar fui até o caixão, não me lembro se chorei, havia uma marca no seu rosto como se tivesse sido repartido mas a fisionomia parecia normal, parece que não havia ninguém ali, só eu e ele, não me lembro do cortejo não sei como fomos para o cemitério só lembro que na hora de abaixar o caixão a tata parece que desmaiou. Não sei com certeza estava com remorso pelo que tinha dito ao pai no dia em que ela levou o Werner de nossa casa, a partir desse dia comecei a ter pensamentos ruins queria morrer também, durante alguns dias fomos dormir na cama da mãe, a mãe chorava muito todos os dias, uma vez ela disse que tinha visto ele do lado da cama que ele havia conversado com ela, eu não me lembro se chorava, só sei que a partir de certo dia comecei a ir ao cemitério todos os dias, levantava cedo sem comer nada a mãe nem me via sair, ficava no cemitério o dia todo eu visitava vários túmulos e quando via enterro eu acompanhava. Continuava indo a escola, mas não aprendia mais nada eu só queria ficar no cemitério com meu pai, na escola tinha uma menina, que só ia de chinelo eu tinha dó dela porque eu era pobre mas tinha um sapato velho, mas ela só tinha chinelos. Eu nunca olhava no rosto dela, só no pé, ela tinha dedos compridos eu achava diferente, nunca tinha visto pés daquele jeito eu nem sabia o seu nome. Eu continuava a ir ao cemitério, um dia andando por lá passei pelo necrotério e a porta estava aberta, eu entrei, havia um corpo em cima de uma mesa de mármore era um corpo pequeno, cheguei perto para olhar, a cabeça estava toda enrolada por uma faixa, fiquei ali parada ninguém apareceu, eu continuei olhando o corpo, quando olhei os pés levei um susto era idênticos o pés daquela menina, sai dali pensativa. Na segunda-feira quando fui pra escola, eu não a vi, eu procurei, mas não encontrei, é claro eu nunca mais a veria ela havia morrido como nosso pai, atropelada por um ônibus, fiquei triste até hoje penso nessa menina, ela vive dentro do meu pensamento. Eu continuava a ir ao cemitério visitar o tumulo de meu pai, não me alimentava direito, acabei ficando doente, mas não contava pra mãe, um dia de domingo fomos a igreja não me sentia bem então sai e me sentei na escada de repente não senti força para levantar a cabeça um irmão da igreja, o irmão Baltazar me perguntou se eu me sentia mal eu não consegui responder ouvi ele chamar a mãe depois não me lembro quando acordei estava no pronto socorro já havia sido medicada e estava com fome então fomos para casa e eu comi macarrão, minha avo veio em casa e disse para eu para de ir no cemitério porque meu pai estava me chamando, mas eu tinha muitos anos de vida ainda mas quando eu melhorei voltei a visitar o cemitério queria estar perto de meu pai mesmo sabendo que ele não voltaria, outro fato que aconteceu que quando eu ia no cemitério enquanto estava lá já era de tarde começou a escurecer parar chover trovejava e relampeava bem forte resolvi voltar para casa, quando um homem me acompanhou dizendo que iria chover forte se eu quisesse podia esperar a chuva passar na casa dele disse que a mulher e as crianças estavam em casa e eu o acompanhei , a casa era bem perto do cemitério, entramos na casa e ele trancou porta e colocou a as chaves encima da mesa, fiquei parada perto da porta não ouvi vozes, não havia ninguém na casa, ele colocou em cima da mesa algumas notas e me perguntou se eu gostava de dançar eu disse que não, ele entrou em um quarto e ligou um radio e disse que ia tomar banho apareceu enrolado com uma toalha, na cintura e entrou no banheiro ai eu fui até a janela vi que chovia muito forte havia até correnteza, voltei para mesa sem saber qual das chaves era da porta, mas Deus me ajudou peguei uma chave e as notas e abri a porta sai correndo que nem uma louca sem olhar para trás eu não sabia o que aquele homem faria comigo só sabia que não podia esperar ele sair do banheiro não sabia também quanto tinha de dinheiro, quando cheguei em casa contei o dinheiro e tinha doze cruzeiros que eu gastei tudo com doce. Isso eu nunca contei pra mãe, depois que aconteceu isso passou uns dias e eu voltei a visitar o túmulo do pai, eu dizia, queria morrer com 15 anos, um dia de volta do cemitério aconteceu algo que fez com que eu parasse de ir ao cemitério, mas conto depois. Depois que o pai morreu continuávamos indo a igreja, mas teve um domingo que foi só eu e a Isa e quando chegamos a casa estava com um cheiro de cigarro e havia um homem que não conhecíamos a mãe ficou sem graça parecia que tinha bebido, por que antes que do pai morrer ela já bebia vinho dizia que no dia que o Werner nasceu o pai comprou vinho para comemorar, mas acho que ela gostava mais que o pai, me lembro de que ela mandava eu comprar lá no bar do Zé Vieira, mas depois que o pai morreu ela fez disso um vicio, devagar foi se afastando da igreja até abandonar de vez, e arrumou amizades estranhas deixou que elas entrassem em nossa casa, não se preocupando conosco a partir dai tivemos que nos cuidar sozinhas, primeiro ela arrumou um namorado pai de uma vizinha, ele se chamava augusto vendia sorvetes, ela disse que não quis casar com ela por causa de nós, dizia que no futuro daríamos trabalho por sermos mulher, o segundo foi Antônio Bracinho por que tinha um braço pequeno, esse foi quando ela recebeu o dinheiro do seguro do caminhão que havia atropelado o pai, ela sempre dava dinheiro para esse Antônio, quando o dinheiro acabou o namoro também acabou, e ela bebendo cada vez mais, o terceiro ela conheceu no bar e ele chegou em casa trazendo roupas sujas para ela lavar e de repente aquele homem estava morando dentro de nossa casa, no começo chegou manso, mas se revelou quem era o próprio demônio em forma de gente, ele dizia que sofria dos nervos e por isso foi internado e quando voltou, voltou pior do que era, ele bebia e algumas vezes ele espancava a mãe, ela parecia estar cega, não saia daquilo, esse período foi horrível, eu não dormia com medo daquele homem enforcar a mãe, um dia chegamos em casa a mãe estava sentada na porta, o rosto estava machucado e havia marcas no seu pescoço, perguntamos a ela oque tinha acontecido e ela disse que o mané estava nervoso e havia feito aquilo nela, entramos em casa e ele estava deitado na cama dormindo, tivemos uma ideia e fomos no bar comprar querosene mas não tinha querosene no bar, então compramos álcool. Chegamos em casa ,a mãe ainda estava na porta, entramos no quarto ela nem viu, ele estava dormindo na cama dela de bermudas, ai derramamos álcool todo nele até o colchão molhou ai tacamos fogo, o fogo foi queimando, mas a bermuda era grossa e o fogo não queimou ele, ficamos ali paradas vendo o fogo correr pela cama, quando de repente a mãe aparece na porta apagando o fogo e brigou com a gente, dizendo que se ele morresse ela seria culpada, e ficou cuidando dele como se não tivesse acontecido nada, para ela nos eramos culpadas por não dar certo seu relacionamento com ele. Teve uma vez que eu estava em casa de repente o vi com as mãos no pescoço dela e procurei algo para tacar nele e atrás da porta havia varias ferramentas e eu peguei uma cavadeira e sem pensar no que podia acontecer, taquei a cavadeira em direção á ele, ele se virou na hora que a cavadeira ia acertar, ele se virou pra mim furioso, pegou um serrote a mãe veio para me ajudar quando consegui me soltar dele eu pulei a janela corri rápido tinha uma escada, eu pulei três degraus com medo dele me pegar e ele atrás de mim depois ele se cansou graças a Deus, dei a volta na rua fui para um terreno em frente a casa tinha uma pedra grande, fiquei atrás da pedra durante boa parte da noite e depois mais tarde cheguei em casa ele estava dormindo a partir dai meu ódio aumentou, cheguei ate a dar parte na policia, fui em Mauá de a pé, cheguei na delegacia estava fechada porque era cedo fiquei sentada esperando um tempão sozinha; Imagina eu na delegacia com doze anos eu nem pensava no que fazia na realidade, eu não tinha medo, se eu tivesse uma arma com certeza eu o mataria, mas graças deus eu não carrego esse pecado ,mas bem que tive vontade, cheguei na delegacia cedo e fiquei esperando, lá pelo meio dia chegou alguém, me perguntou o que eu queria ai eu contei a historia do Mané e o que ele fazia com a mãe, as ameaças de morte que ele fazia contra nos, ele ouviu tudo no final me disse que tinha que ter alguém de maior para fazer a denúncia ai eu voltei pra casa de a pé, implorei para a mãe vir comigo a delegacia, ai ela veio comigo mas negou tudo disse que ele precisava de um tratamento porque sofria dos nervos e tinha problemas mentais ,ai os policiais foram em casa conosco, fomos de viatura quando chegamos ele estava em casa os policias disseram a ele que teria de procurar um tratamento, eles iam o levar para alguma clinica, ele arrumou as roupas e colocou em uma mala e foi com os policiais eu ate respirei melhor quando vi ele saindo pela porta eu pensei, estamos livre desse demônio não passou meia hora e ele aparece na porta enfurecido, dizendo que só sairia dali se a mãe pagasse tudo que ele havia gastado com nós, mas não tínhamos nada, ai ele passou a perturbar todos os dias queria nos matar, comprou até veneno de rato, foi ai que um dia, ele foi para casa de uma irmã dele e só voltava no outro dia, quando ele saiu nos pegamos um caminhão com ajuda do Juca colocamos nossas coisas e viemos embora para São Bernardo do Campo morar em uma favela a mãe ficou lá conosco pouco tempo, logo voltou para o mane preferiu voltar, a Isa trabalhava em restaurante em Santo André e quando sobrava comida ela trazia e assim o tempo foi passando ate eu conhecer o Sérgio, quando a Isa casou com o Jucá o Sergio passou a morar comigo, depois de um tempo a mãe voltou pra casa de tanto apanhar dele ela resolveu voltar ela contou que nesse dia tinha feito comida pra ele ,quando chegou jogou a comida toda fora e bateu nela e foi dormir nessa hora graças a deus ele acordou para a realidade da vida e que ele poderia mata-la a qualquer momento, ela pegou as coisas dele e jogou barranco a baixo e pegou as coisas dela e saiu de lá graças a Deus pra nunca mais voltar; ela veio morar em São Bernardo do campo, eu e Sergio estávamos morando com ela, quando ela chegou em casa infelizmente estava viciada e todos os dias ia para o bar e de vez em quando vinham pessoas dizer que ela estava caída na rua ai eu ia buscar ela, mas era pesada e eu não aguentava, um dia ela bebeu muito e chegou dizendo que queria comer e eu coloquei no prato pra ela e ela não quis porque tinha arroz, feijão e ovo, era o que tinha e ela ficou muito brava, estava muito embriagada, eu perguntei se ela queria um café amargo, ela disse que não, sentou na cama muito brava ai um casal que morava na casa de baixo começaram a brigar e ela ficou brava e foi para a porta da casa da mulher e gritava falando para o homem parar de brigar com a mulher porque ela era amiga dela, o marido da mulher falava pra ela não se intrometer mas a mãe não queria saber continuava gritando para o homem parar de brigar com a amiga dela ai eu e o Sergio fomos busca-la mas ela não queria vir chovia muito e ao subir a escada a mãe caiu no poço que tinha ao lado graças a Deus era raso e com muito trabalho conseguimos tira-la de lá, colocamos ela dentro de casa sentamos ela na cama e ficamos de frente pra ela e de repente ela nos deu um empurrão e caímos para trás e começou a me xingar foi então nesse dia que eu sai de casa peguei uma sacola de plástico e coloquei algumas roupas, peguei meu registro, não tinha mais nada e saímos, ela nos alcançou, com um martelo querendo acertar o Sergio me puxando pelo braço querendo que eu voltasse para casa, mas eu disse pra ela a mesma coisa que o irmão dela disse ao pai dela: “eu não volto mais”, ela soltou meu braço e eu fui pra casa do Sergio, ficamos no quintal até o amanhecer o dia depois eu fui pra casa da Isa e o Sergio para casa dos irmãos deles. Passando alguns dias ele foi me buscar comprou um fogão velho uma cama usada e assim seguimos nossa vida, juntos, a mãe ficou lá no barraco, arrumou serviço de limpar tumulo mas continuava bebendo, arrumou um namorado chamado Boquinha, era um velho que também gostava de beber, ela também comentava de um japonês mas eu nunca vi,quanto fiz dezessete anos engravidei e ela sempre trazia galinha pra min matar e limpar e uma dessas vezes foi quando eu estava sentindo contraçoes mas nao sabia ; quando vinha dor eu me abaixava, quando parava eu continuava e durante a madrugada teve uma hemorragia, fui para o hospital e infelizmente perdi minhas filhas, passando isso, o barraco da mãe caiu ai ela fez o barraco em outro lugar mas ficou pouco tempo, com a separação minha e do Sergio, que é outra historia, fui morar com ela mas logo ela vendeu o barraco e nós voltamos para Mauá e fomos morar no quintal da Alzira aquela parteira que eu já contei dela também morava os dois filhos dela aqueles que mamaram na mãe. Nesse período fui com a mãe para Pirajuí conheci lugares por onde haviam andado o pai a mãe e a tata, fiquei muito feliz, fomos lá buscar um certidão de casamento só que não deu, tivemos que voltar outra vez, voltei para Mauá arrumei trabalho em um restaurante; um dia estava na casa da Isa costurando uma saia quando o Sergio chegou pedindo para voltar porque estava arrependido como se fosse fácil, mas aceitei levei ele ate a casa que estávamos morando, ele voltou para buscar as coisas dele ai passamos morar nos três, eu trabalhava no restaurante e o Sergio em uma firma, a mãe graças a Deus parecia ter parado de beber, ficamos lá por uns quatro meses ai então voltamos para Sbc novamente e a mãe ficou em Mauá, a mãe não pode pagar aluguel então ela tirou as coisas da casa e guardou em outro lugar mas aqueles que se diziam ser filhos de leite da mãe acabaram roubando ela e ofendendo, se a mãe quisesse ela poderia morar comigo, mas ela nunca quis tem uma parte da historia que eu não me lembro, ela foi morar na casa de nossa vô ,mas lá foi maltratada, de lá me parece que foi morar na casa da Tata, quando ela foi para Bahia o Werner não ficou em casa com nós mas depois ele e a mãe foram lá pra casa da Tata; um dia fui vê-la e ela reclamou que o Werner não gostava da comida dela mas continuava lá, ai a Isa tinha voltado de Sorocaba e foi morar junto com a mãe, pouco depois a Tata voltou da Bahia então, ia a Isa alugou um barraco e a mãe foi morar com ela, a Isa trabalhava e o Juca também e a mãe cuidava das crianças; passando um tempo mudaram para outro barraco maior, nessa época a Isa comprou um terreno na Estrada do Carneiro, a Isa construiu um barraco e a mãe fez um na parte de cima mesmo assim a mãe continuava bebendo porque a Isa me contava, depois da estrada do carneiro, a Isa comprou o terreno no nova Mauá onde ela mora até hoje, a mãe veio morar com ela novamente nessa época, ela catava papelão carregava o carrinho pesado, um dia ela não aguentou e ali na pedreira caiu e se machucou, ela contou isso pra mim, a mãe dormia no quarto com as crianças, ela não tinha aposentadoria, ela vendia Avon, fazia crochê mas continuava bebendo ai começou a ficar doente, ter que tomar remédios e foi parando graças a deus até para por completo, logo depois conseguiu aposentadoria, agora não precisava se preocupar com dinheiro, há uns dez anos ela foi morar sozinha em dois cômodos lá no fundo, começou a comprar mobílias, comprava roupas novas porque até então era só roupas usadas, sapatos velhos e graças a deus havia voltado para igreja, recuperando sua dignidade graças a Deus e o respeito das pessoas que consideravam uma bêbada, mas Deus devolveu a ela todo o respeito dos filhos e netos, agradeço a Deus por ter cuidado de minha mãe durante esses oitenta anos. No culto do velório foi dito tudo que a mãe merecia ouvir, os erros ficaram para trás agora ela era uma nova pessoa, sou grata a Deus pela minha mãe e pelo meu pai, homem digno, dia sete de julho quando fui visitá-la ela me falava sobre o pai, disse nunca ter encontrado outro homem como ele, ele havia mudado a historia de sua vida durante vinte e um anos, ela havia sido muito feliz com ele por isso quando o perdeu ela sofreu tanto e fez coisas erradas sem consciência do que fazia, mas deus cuidou dela a todo tempo, muito obrigada meu Deus.
Eu dedico esse texto a minha irmã e amiga Isa por ter cuidado da mãe, porquê você foi escolhida por ela para ser sua companheira até o final, e assim agradeço a dedicação da Vanessa e Amanda que esteve presente ate o ultimo momento da vida da vó, dedico á memória de nosso pai que nos deixou como herança a fé, em nosso senhor jesus cristo e por final a nossa mãe querida que agora descansa em paz
Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.
Direi do SENHOR: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei.
Porque ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa.
Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel.
Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia,
Nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia.
Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti.
Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios.
Porque tu, ó SENHOR, és o meu refúgio. No Altíssimo fizeste a tua habitação.
Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.
Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.
Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra.
Pisarás o leão e a cobra; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.
Porquanto tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei em retiro alto, porque conheceu o meu nome.
Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei.
Fartá-lo-ei com longura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.
Salmos 91:1-16
Agradeço as colaboradoras que ajudaram na elaboração deste texto. Natalia, Simone, Cecilia, Millena e todas as pessoas de bem que compartilharam dos momentos felizes de nossa mãe, muito obrigado fiquem com Deus, e nunca percam a fé.
07 de novembro de 2006
Isvi Soares Silva
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