Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Luiz Carlos da Silva
Entrevistado por Mirella
Natal, 28 de maio de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB182
Transcrito por Transkiptor
00:00:45 P/1 - Eu gostaria que você começasse dizendo para a gente seu nome completo, local e data de nascimento.
00:00:50 R - Eu sou Luiz Carlos da Silva, nasci em Monte Alegre em 9 de 6 de 1964.
00:00:59 P/1 - Onde é Monte Alegre?
00:01:00 R - Monte Alegre é uma cidade aqui no interior do Rio Grande do Norte, a 42 quilômetros de Natal.
00:01:04 P/1 - Ah, que legal. E conta um pouquinho como foi e quando foi que você ingressou na Petrobras.
00:01:10 R - Eu fui na Escola Federal do Rio Grande do Norte, eu fiz o curso de eletrotécnica e em 83 eu fiz o concurso para a Petrobras. Fizemos um curso de formação e nós fomos, nossa turma foi a turma que foi preparada pela empresa para operar o sistema de recuperação secundária que a Petrobras iniciava aqui no Rio Grande do Norte. Antes só existia uma experiência em Aracati, em Capuí, no Ceará e nós fomos a turma que foi operar os primeiros geradores de vapor no campo de alto do Rodrigues que iria dar início ao processo de recuperação secundária da Petrobras aqui no estado. Então a nossa turma fez o curso, estagiamos, em seguida fomos morar em Assu, 210 quilômetros daqui. Eu e uma turma de 18 companheiros e aí nós lá começamos a trabalhar na empresa e iniciamos a operação desse sistema que, no início, propiciou um aumento muito grande da produção de petróleo nos campos do Rio Grande do Norte e hoje é um projeto solidificado em toda a região aqui do Rio Grande do Norte. Nós conseguimos, através da injeção de vapor, aumentar muito a produção terrestre de petróleo aqui no nosso estado.
00:02:19 P/1 - Certo. E fala um pouquinho dos locais onde você trabalhou, as suas funções, desde quando você entrou.
00:02:27 R - Nós entramos, já para trabalhar, inicialmente nós...
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Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Luiz Carlos da Silva
Entrevistado por Mirella
Natal, 28 de maio de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB182
Transcrito por Transkiptor
00:00:45 P/1 - Eu gostaria que você começasse dizendo para a gente seu nome completo, local e data de nascimento.
00:00:50 R - Eu sou Luiz Carlos da Silva, nasci em Monte Alegre em 9 de 6 de 1964.
00:00:59 P/1 - Onde é Monte Alegre?
00:01:00 R - Monte Alegre é uma cidade aqui no interior do Rio Grande do Norte, a 42 quilômetros de Natal.
00:01:04 P/1 - Ah, que legal. E conta um pouquinho como foi e quando foi que você ingressou na Petrobras.
00:01:10 R - Eu fui na Escola Federal do Rio Grande do Norte, eu fiz o curso de eletrotécnica e em 83 eu fiz o concurso para a Petrobras. Fizemos um curso de formação e nós fomos, nossa turma foi a turma que foi preparada pela empresa para operar o sistema de recuperação secundária que a Petrobras iniciava aqui no Rio Grande do Norte. Antes só existia uma experiência em Aracati, em Capuí, no Ceará e nós fomos a turma que foi operar os primeiros geradores de vapor no campo de alto do Rodrigues que iria dar início ao processo de recuperação secundária da Petrobras aqui no estado. Então a nossa turma fez o curso, estagiamos, em seguida fomos morar em Assu, 210 quilômetros daqui. Eu e uma turma de 18 companheiros e aí nós lá começamos a trabalhar na empresa e iniciamos a operação desse sistema que, no início, propiciou um aumento muito grande da produção de petróleo nos campos do Rio Grande do Norte e hoje é um projeto solidificado em toda a região aqui do Rio Grande do Norte. Nós conseguimos, através da injeção de vapor, aumentar muito a produção terrestre de petróleo aqui no nosso estado.
00:02:19 P/1 - Certo. E fala um pouquinho dos locais onde você trabalhou, as suas funções, desde quando você entrou.
00:02:27 R - Nós entramos, já para trabalhar, inicialmente nós tivemos um tempo na produção propriamente dita de óleo, como operador de campo, trabalhando na parte de checagem, de troca lenta e transferência de óleo. Em seguida, nós fomos para esse trabalho da operação de gerador de ação de vapor. E aí, nós trabalhamos no campo de Alto dos Rodrigues, campo distrito, onde tinha as unidades na época, nós trabalhamos esse tempo todo nessa área aí. Obviamente que nós conhecemos o campus de Aldo Rodrigues como um todo, mas nosso trabalho naquela época era ali. Nós trabalhamos conjuntamente com o pessoal da produção, mas a gente especifica bem nessa área de geração e reação de vapor.
00:03:06 P/1 - Certo. E assim, quais são as lembranças que você tem mais marcantes, assim, alguma história interessante que você viveu, assim?
00:03:15 R - Eu lembro que quando nós entramos na Petrobras, todo mundo com 18 anos, isso há 19 anos, a gente tinha uma empolgação muito grande, a empresa, a turma, quando vinha do trabalho, ainda ficava tocando dentro do ônibus, cantando e tal. Para todos nós foi uma experiência muito gratificante, porque a gente saía aqui muito jovens, aqui de Natal, da capital, a gente estudou aqui. iria para uma nova região do estado, conhecer novas pessoas. Tivemos um choque cultural inicialmente, depois todos nós nos adaptamos. Muitos ficaram morando lá em Azul mesmo, namoraram-se, casaram-se por lá.
00:03:53 P/1 - Você mora também em Azul?
00:03:53 R - Eu moro em Azul. Fiquei lá, fiz meu curso superior lá na cidade, economia. Conheci minha esposa, me casei e moro lá. E hoje sou vereador lá em Azul, pelo Partido dos Trabalhadores.
00:04:05 P/1 - Que legal.
00:04:07 R - Era uma época que a gente tinha, na nossa juventude, uma esperança muito grande, um crescimento profissional na empresa, todo mundo empolgado, a gente precisava estudar, fazer os concursos e tal. Infelizmente, algumas coisas não transcorreram como a gente gostaria. Muitos não conseguiram realmente ter aquela ascensão na empresa. A política que a empresa implantou no passado, nesse período, foi uma política muito restritiva que se tornou a carreira profissional de muitas pessoas que estão na Petrobrás. Isso não tira de qualquer maneira nenhum também o nosso orgulho de trabalhar na empresa. A gente separa muito bem as pessoas que estavam na direção da empresa e a empresa como um todo e o que ela significa para o nosso país. Então, a gente tem realmente um grande orgulho de trabalhar na empresa.
00:04:56 P/1 - Você é um afiliado do sindicato?
00:04:58 R - Sou afiliado do sindicato desde 1988.
00:05:00 P/1 - Mas já teve algum cargo?
00:05:02 R - Já, desde o início das greves. Nós tivemos aqui o apogeu da greve dos sindicatos em 87, 88, 90. Até 1995, nós tivemos muitas greves. E aquilo, o sindicato se organizou. Antes era um sindicato ligado ao pessoal, digamos assim, que a gente chama de pelegos, que não atuavam na base. Depois, o pessoal mais ativo, combativo, assumiu e a gente se sindicalizou. Desde então, eu frequento todos os congressos petroleiros. E em 1991, eu fui convidado a participar da direção do sindicato. Eu fui eleito delegado sindical naquela região de Alto Rodrigues, Açui e Macau. E a gente fez um trabalho muito interessante lá na época. Nós tivemos ainda, no nosso período, duas greves que a gente trabalhou. Nós tivemos a oportunidade de fazer encontros regionais dos petroleiros lá em Açu, com o intuito de fazer com que o pessoal participasse mais do sindicato. Nesses encontros, nós envolvemos as famílias dos petroleiros. E eles participavam e passavam o dia com a gente. Era uma forma de integrar a categoria no movimento sindical, porque existia uma resistência muito grande. Todos nós, era uma coisa nova e existia uma dificuldade de entrosamento. Então a gente fazia as atividades, procuramos dinamizar a ativação do sindicato com o programa Anarede, coisa desse tipo, de forma que a gente conseguiu realmente fazer um trabalho bom. Isso foi de 1991 a 1994, que eu estive na direção do sindicato.
00:06:33 P/1 - Na sede aqui em Natal mesmo?
00:06:35 R - Não, lá na região.
00:06:37 P/1 - É uma subsede que tem em Assur, né?
00:06:41 R - Exatamente.
00:06:41 P/1 - Qual os momentos que você destacaria dessa participação aí na luta do sindicato?
00:06:48 R - Olha, nós... Um momento muito grave, que a gente... Assim, marcante para todos nós, foi o momento que o exército ocupou na greve de 88. O exército ocupou as instalações nossas, da Nova dos Rodrigues. E a gente tinha que trabalhar com um soldado do exército de lado da gente. Então, durante um certo tempo, ocorreu aquela ocupação. Foi realmente um momento muito... Assim... Marcante pra gente, porque a gente tava ali em uma situação muito delicada, né, pessoal? Os soldados eram novos, sem uma segurança no que estavam fazendo, e aquele momento a gente tava correndo risco. Então pra gente foi muito marcante. Outro momento muito marcante pra gente foi a greve de 95, quando... Nós tivemos aquele mês de greve, toda aquela discussão toda com o governo Fernando Henrique, onde a gente passou por todo o sofrimento, 30 dias de greve, uma derrota, na verdade, do movimento sindical, do ponto de vista prático. Mas, do ponto de vista político, uma vitória, porque nós conseguimos, com aquela greve, demarcar um espaço no Brasil e dizer para o povo que tinha movimentos que podia enfrentar o governo naquele período.
00:07:54 P/1 - Certo. E assim, como é que você vê a relação do sindicato-empresa?
00:08:00 R - Olha, sempre foi, desde o início, uma relação muito conturbada. Hoje nós temos uma situação um pouco diferente, estamos em um novo ambiente na Petrobras, mas nesse período todo anterior, desde que eu entrei, de 1984 até o ano passado, foi uma relação muito digamos assim, desleal. A direção da empresa não tratava por igual os companheiros que são dos sindicatos. Todos nós tivemos muitas perdas nesse período todo, nesse processo todo. Em alguns momentos teve relações melhores, mas, no geral, as relações sempre foram muito conturbadas, o que levou as pessoas que eram ligadas aos sindicatos a serem perseguidas. E também o prejuízo de companheiros se afastarem do sindicato procurando evitar retaliações que sempre ocorreram.
00:08:58 P/1 - Certo. E assim, o que você achou de ter participado dessa entrevista e contribuído para o projeto Memórias dos Trabalhadores da Petrobras?
00:09:06 R - Eu acho fundamental, porque nós precisamos escrever nossa história. O Brasil é um país que se lida de memória curta e nós não podemos, de maneira nenhuma, deixar de dar a nossa contribuição, no sentido de que seja preservado, seja objeto de estudo. Achei interessante a iniciativa, tanto da empresa, como também dos sindicatos de Campinas, que é o parceiro e o museu da pessoa. Acho fundamental que se faça isso e que as pessoas possam ter acesso a esse material depois. Uma questão que nós observamos foi que as entrevistas deveriam... ter ido mais próximo dos petroleiros de uma forma geral, porque em uma área como a nossa aqui, a base, a sede onde foi feita a gravação, não atende o grosso do pessoal que está no campo. E com certeza teria muitas histórias para contar aqui que a gente não consegue lembrar, mas muitas histórias, inclusive, pitorescas que a gente tem acontecido nesse tempo todo aí.
00:10:02 P/1 - Tá certo. Olha, obrigada pela sua entrevista, Luiz Carlos, foi ótimo.
00:10:06 R - Eu quem agradeço.
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