Projeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Sérgio Retroz
Depoimento de Lourenço de Assunção Malheiro de Oliveira
Macaé 18/06/2008
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB422
Transcrito por Denise Yonamine
P/1 – Me diz o seu nome, quando e onde nasceu?
R – Meu nome é Lourenço de Assunção Malheiro de Oliveira, nasci na cidade de Mari, no Estado da Paraíba, em 1947.
P/1 – Mas você nasceu e cresceu lá na Paraíba, em Mari?
R – Não, nessa cidade fiquei até uns 12, 13 anos quando fui ser seminarista, estudar pra ser padre, depois sai e fui estudar numa cidade vizinha a João Pessoa, que é Santa Rita, de lá eu vim aos 21 anos para o Rio.
P/1 – E porque veio pro Rio aos 21 anos?
R – Naquela época quando se atingia a idade adulta era normal, né, porque inclusive até hoje é difícil emprego, né, ainda até hoje é assim, naquela época era muito menos ainda. Então o jovem a primeira coisa que ele fazia era vir para o Rio, alguns para São Paulo, mas a maioria era o Rio.
P/1 – Você tinha estudado o quê lá na Paraíba?
R – Lá eu tinha terminado o ginásio, aí eu vim morar em Duque de Caxias, terminei o curso técnico, comecei fazer administração, mas não terminei porque mudei de emprego, fui trabalhar em Copacabana. Depois casei, fui morar em Vitória, lá com (não sei contado?), mas um ano e um mês, ou dois meses depois a Petrobras me transferiu pra cá, também não terminei o curso superior, né? Agora, nesse momento, eu to cursando Direito, to terminando agora esse semestre o oitavo período e espero que essa realmente eu conclua.
P/1 – E quando você chegou no Rio qual foi o impacto? Era muito diferente?
R –O Rio naquela época não era tão assim como é hoje assim violento, o trânsito! Era uma coisa, embora fosse uma cidade grande, né, mais eu não senti muita diferença, porque o Rio pra mim sempre foi fácil de andar, totalmente diferente de São Paulo. São Paulo...
Continuar leituraProjeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Sérgio Retroz
Depoimento de Lourenço de Assunção Malheiro de Oliveira
Macaé 18/06/2008
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB422
Transcrito por Denise Yonamine
P/1 – Me diz o seu nome, quando e onde nasceu?
R – Meu nome é Lourenço de Assunção Malheiro de Oliveira, nasci na cidade de Mari, no Estado da Paraíba, em 1947.
P/1 – Mas você nasceu e cresceu lá na Paraíba, em Mari?
R – Não, nessa cidade fiquei até uns 12, 13 anos quando fui ser seminarista, estudar pra ser padre, depois sai e fui estudar numa cidade vizinha a João Pessoa, que é Santa Rita, de lá eu vim aos 21 anos para o Rio.
P/1 – E porque veio pro Rio aos 21 anos?
R – Naquela época quando se atingia a idade adulta era normal, né, porque inclusive até hoje é difícil emprego, né, ainda até hoje é assim, naquela época era muito menos ainda. Então o jovem a primeira coisa que ele fazia era vir para o Rio, alguns para São Paulo, mas a maioria era o Rio.
P/1 – Você tinha estudado o quê lá na Paraíba?
R – Lá eu tinha terminado o ginásio, aí eu vim morar em Duque de Caxias, terminei o curso técnico, comecei fazer administração, mas não terminei porque mudei de emprego, fui trabalhar em Copacabana. Depois casei, fui morar em Vitória, lá com (não sei contado?), mas um ano e um mês, ou dois meses depois a Petrobras me transferiu pra cá, também não terminei o curso superior, né? Agora, nesse momento, eu to cursando Direito, to terminando agora esse semestre o oitavo período e espero que essa realmente eu conclua.
P/1 – E quando você chegou no Rio qual foi o impacto? Era muito diferente?
R –O Rio naquela época não era tão assim como é hoje assim violento, o trânsito! Era uma coisa, embora fosse uma cidade grande, né, mais eu não senti muita diferença, porque o Rio pra mim sempre foi fácil de andar, totalmente diferente de São Paulo. São Paulo tive lá umas três vezes, mas não consegui andar a não ser de táxi, mas no Rio desde o primeiro momento eu sempre andei de ônibus tranqüilamente, não estranhei muito a cidade.
P/1 – E de onde veio à idéia de trabalhar na Petrobras?
R – A idéia de trabalhar na Petrobras surgiu não foi bem uma idéia, meu filho tinha nascido, ele nasceu aqui no Rio, em Duque de Caxias, foi o primeiro e eu casualmente trabalhava lá numa clínica infantil de um cunhado meu e vi um edital do concurso pra técnico de contabilidade e a Petrobras, a sede, a casa principal ficava assim a metros dessa clínica que eu trabalhava. Então eu falei vou lá fazer esse concurso, né? E fiz, inclusive fiz no dia que meu filho nasceu, dia 24 de junho, vai fazer 30 anos, né, e graças a Deus, passei e tenho muito orgulho de ter passado dos meus 60 anos, quase 30 anos aqui dentro, e tenho mais orgulho ainda que meus dois filhos, um já é funcionário da Petrobras e o outro é da Transpetro que é subsidiária da Petrobras, aqui em Macaé.
P/1 – Daí quando você passou no concurso você foi trabalhar aonde?
R – Em Vitória. Vitória lá nós ficamos mais ou menos um ano, um ano e um mês, fui admitido em agosto e em setembro nós viemos aqui pra Macaé.
P/1 – E o que você encontrou, em setembro de 1979...?
R – 1979. O que eu encontrei! Eu encontrei uma cidade bonita, simples, né, onde não existia quase carro, quase automóvel, as pessoas andavam de bicicleta, uma coisa assim bem simples, porque inclusive eu não sou macaense, mas me sinto macaense, com 28 anos aqui e tenho saudades daquela época, né, da tranqüilidade, né? Você podia dormir com as portas abertas, não tinha risco nenhum de assalto, praticamente não existia isso aqui, não existia o trânsito, que hoje é horrível. A cidade cresceu e não teve infra-estrutura nenhuma, mas era uma cidade, aliás eu gosto ainda de morar em Macaé! Mas daquela época eu, realmente, sinto saudades.
P/1 – E na Petrobras o que você encontrou? Como era?
R – A Petrobras o quê?
P/1 – Onde você foi trabalhar...
R – Eu fui trabalhar em Imbetiba, inclusive ainda estava no final da obra, era uma situação um pouco difícil, né, de se acomodar e tal, porque ainda estavam sendo concluídas as obras, inclusive eu tenho orgulho de na época trabalhava com bem patrimonial, imobilizado e imobilizei toda aquela parte ali de Imbetiba das obras, dos terrenos, me orgulho de ter feito isso.
P/1 – Era uma equipe?
R – Era, até hoje eu entrei na contabilidade e continuo até hoje, né? E nessa época eu trabalhava com (patrimônio imobilizado?), trabalhei quatro anos, depois trabalhei com análise de conta e de 1997 pra cá eu coordeno a comissão de inventário de materiais aqui do Parque [dos Tubos] todo.
P/1 – E como era o trabalho de contabilidade naquela época?
R – Aquela época era uma coisa assim, realmente, que a gente realmente aprendia contabilidade porque era tudo feito manualmente, tudo, folha de pagamento, tudo era manual. Depois, e o fechamento da contabilidade era feito no Rio, então quando a gente saiu de Vitória, no final do mês, a gente ia ao Rio, levava lá uma fita magnética que nem disquete existia ainda, e a fita magnética era processada durante a noite. No dia seguinte, a gente ia ver o que tinha acontecido de anomalias e aí a gente tinha que ligar pra Vitória, porque era uma coisa muito demorada, tinha telefonista, a ligação caía, você não ouvia nada que a pessoa tava falando e a gente levava o dia inteiro pra fazer esses acertos. Isso a gente passava lá praticamente uma semana, às vezes até mais pra fazer o fechamento da contabilidade, né? Depois, ao logo do tempo, a coisa foi melhorando, veio aí o computador, os micros que tinha o disquete que continuava usando da mesma forma, a gente levava os cds pro Rio pra serem processados continuava, só a partir ali foi instalado o sistema gerencial de contabilidade em fevereiro de 1991, se não me engano, que aí a coisa já melhorou, aí já era uma boa parte já no computador mesmo, a gente não tinha tanta coisa pra fazer manualmente. Porque no inicio, de 1978 até 1985, 1986 era tudo manual, a copiação de folha de pagamento, imobilização, tudo isso era manual, né, e, depois tinha uma pessoa que numa máquina Audit perfurava lá essa fita magnética que era levada lá pro Rio, realmente, por uma parte era boa que você aprendia realmente contabilidade, hoje você não consegue aprender porque a maior parte dos eventos você não consegue enxergar, né, só algumas coisas pontuais, mas naquela época se fazia tudo manual. Era trabalhoso, porque às vezes a gente tinha que trabalhar aos sábados, domingo, a noite pra poder fazer o fechamento do mês na contabilidade.
P/1 – Era muita gente que trabalhava na contabilidade?
R – Não era, o pior era isso, não tinha muita gente, eu, aqui na Bacia de Campos, né, a contabilidade foi criada mais ou menos em 1977 lá em Vitória e vieram algumas pessoas transferidas de Aracaju, da Bahia. Na realidade, o meu grupo eu e mais três ou quatro, fomos os primeiros a serem admitidos na contabilidade da Bacia de Campos, então era uma coisa muito trabalhosa, porque a Bacia estava começando a crescer, vindo gente transferida e tal e muito material era transferido de outros órgãos pra suprir aqui a demanda, né, e era um trabalho tremendo.
P/1 – Como era a relação com vocês de equipe?
R – Uma relação graças a Deus sempre foi muito boa, não tenho nesses 30 anos não tive, graças a Deus, nenhum atrito forte com ninguém, nem com gerência, nem com os colegas, era uma turma boa que trabalhava muito. Então hoje também continua a mesma coisa, têm pessoas novas, a maioria hoje são pessoas admitidas aí ao longo dos últimos cinco anos, mas tudo gente boa mesmo, sempre foi uma equipe boa.
P/1 – O que mais te marcou nesses anos todos de empresa aqui na Bacia de Campos?
R – O que me marcou realmente foi, acho que a maioria das pessoas mesmo, foi o acidente que aconteceu em Enchova em 1986, se não me engano, amanheceu um dia frio, chuvoso e quando eu cheguei em Imbetiba vi alguns helicópteros sobrevoando ali e notei que aquilo não era normal. Foi uma coisa, realmente, ao longo do dia, fiquei ali, vi as pessoas desembarcarem de helicóptero, dentro de Imbetiba mesmo, no heliponto que tem ali. Realmente, foi uma coisa que não dá pra esquecer, aquele dia está marcado nesses 30 anos como o dia que eu mais... E teve uma outra também quando a P-36 afundou, que realmente foi uma coisa que mexe com você, que está aqui trabalhando e vê um empreendimento daquele afundar, foi uma coisa mais assim de sentimento, mas o que marcou mesmo forte, assim de emoção foi o acidente em Enchova.
P/1 – Você disse que tem dois filhos que trabalham na Petrobras?
R – Sim.
P/1 – Eles trabalham onde aqui?
R – Um trabalha aqui no Parque de Tubos, na área de cabeça de poço, essa coisa da área submarina, de instalação de poços. O outro trabalha na Transpetro, na área de gás, nessa parte de transferência de gás daqui pra Reduc.
P/1 – Você trabalha no escritório ali de contabilidade...
R – Não, a contabilidade hoje não nem dentro de Imbetiba, ela está numa sala, num prédio alugado ali perto de Imbetiba mesmo, mas eu fico aqui numa sala que eu trabalho com inventário e como os materiais estão todos alocados aqui. Eu tenho que ficar aqui o dia inteiro pra trabalhar, ter uma equipe que conta os materiais e com outra equipe a gente faz o lançamento, a contagem, apuração da diferença, entendeu? Então eu fico aqui o dia inteiro só, e ando essa área toda aí.
P/1 – E como você viu o crescimento, porque de 1979 pra cá foi tudo crescendo né, crescendo a contabilidade, cresceu os números, cresceu a empresa?
R – Cresceu tudo, né?
P/1 – Como você viveu isso tudo?
R – É um impacto muito grande, porque você não consegue caminhar junto com esse crescimento, o crescimento tá sempre à frente, você tá sempre correndo pra atender o crescimento, entendeu? A Petrobras arrenda cada vez mais locais pra depósito de materiais, eu falo assim porque embora eu esteja na contabilidade – eu to na contabilidade, mas tô mais voltado pra essa área de estoque –, a gente vê que não há quantidade de compras, de materiais, quantidade de movimentação, de embarque, desembarque, cada vez cresce mais com as novas descobertas. Então eu vejo que a gente não consegue chegar mesmo a acompanhar esse crescimento, dá uma certa angustia, porque você ta vendo a coisa crescer, e de uma hora pra outra você não contrata mais pessoas, tem concurso, tem uma série de coisas e o crescimento não vai esperar isso, ele vai, graças a Deus, ele ta assim, né? Eu gosto que isso esteja acontecendo porque vai gerar mais emprego, e a gente tem mais garra pra trabalhar também, vê que a coisa ta se expandindo.
P/1 – Lourenço o que é ser petroleiro pra você?
R – Rapaz, olha, eu te digo o seguinte, depois da minha família, aqui no plano terreno, primeiro Deus lá, segundo no plano terreno aqui, depois da minha família é a Petrobras. Onde eu to há 30 anos, onde eu retirei sempre o sustento da minha família, e vivo uma vida tranqüila, graças a Deus, não sou rico, mas também vivo de forma compatível com as minhas necessidades. Eu tenho o maior orgulho de ser um petroleiro, inclusive na minha casa tem uma estante que tem uma parte separada, só com algumas coisas que eu ganho, placas e algumas coisas, ta tudo guardadinho lá como se fosse quase como um altar, né? Então eu tenho o maior orgulho de ser petroleiro e de trabalhar na Petrobras.
P/1 – O que você achou dessa iniciativa de entrevistar trabalhadores pra ouvir um pouco da história aqui da Bacia?
R – Isso é de suma importância, porque dizem que o Brasil não tem memória, mas está na hora, mais do que na hora de ter, né? E a Petrobras como uma empresa estatal tem que preservar isso, porque na realidade é uma história muito bonita, se você pegar desde 1954 na criação da Petrobras e, especialmente, aqui a Bacia de Campos, como ela é grande! E isso tem que ficar registrado e só se registra pelos depoimentos das pessoas, dos trabalhadores, especialmente as pessoas que trabalham lá no mar que realmente são os que têm mesmo, participam mais da coisa mesmo, da produção, da perfuração. Essas pessoas, então, têm muita coisa pra contar ao longo desses anos todos.
P/1 – Tem alguma coisa que você gostaria de dizer ainda que eu não perguntei?
R – Não, não, eu me sinto satisfeito e agradeço a oportunidade de estar aqui e demonstrar a minha alegria de trabalhar na Petrobras.
P/1 – Obrigado.
(FIM DA ENTREVISTA)
Recolher