LIÇÕES DE VIDA EM SONHOS DE QUARENTENA
Alberto Pessoa
Eu era jovem, com muitos sonhos e objetivos vazios. Possuidor de uma grande necessidade de conhecimento e na santa inocência, vulnerável às possibilidades. Provindo de família humilde e ávido por visibilidade humana, compartilhava minhas ansiedades, com a vontade de alçar novos horizontes. Sem norte, busquei nos extremos a força para vencer as adversidades.
Para me agrupar optei por participar das baladas, rodas de bebedeiras, dando muitas vezes, vazão a outros tipos de drogas. Em diversas ocasiões, éramos discriminados pela sociedade conservadora, a qual repudiava o comportamento diferente da juventude em evolução. É bem verdade que promovíamos grandes preocupações familiares.
Porém, as aventuras começavam a se banalizar e as sensações vividas já não tinham a mesma intensidade. Com isso, a depressão ou a ressaca traziam a necessidade de reposição de mais droga.
O rendimento escolar estava a zero Jovem, bonito, saudável, mas um mau exemplo na comunidade e família. Eu sabia que aquela não era minha índole. Nunca fiz mal a ninguém e conservava uma cultura familiar muito importante em minha formação: fazer o bem, não importa a quem. Meus pais acreditavam em minha remissão. Somente a sociedade me empurrava para a decadência total com recriminação.
Eu queria conhecer outras cidades, outros sóis, outras situações.
Segui em busca do nada, deixando para trás as lágrimas maternas e a admiração dos irmãos. Andei descalço pelas ruas e vielas de Salvador, Olinda, Gaibu, Porto de Galinhas e Cabo Sul. Virei ripe. Segui: Alagoas, Sergipe, Paraíba, Minas, Pernambuco... frio, fome, sensações.
Algum tempo depois resolvi pegar o caminho de casa. Retornei ao velho ninho, agora, querendo apenas descansar das lições aprendidas na escola da vida.
Prossegui, entretanto, no tenebroso vale da bebida e da droga.
Finalmente encontrei uma ilha de calmaria: a mulher que me...
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Alberto Pessoa
Eu era jovem, com muitos sonhos e objetivos vazios. Possuidor de uma grande necessidade de conhecimento e na santa inocência, vulnerável às possibilidades. Provindo de família humilde e ávido por visibilidade humana, compartilhava minhas ansiedades, com a vontade de alçar novos horizontes. Sem norte, busquei nos extremos a força para vencer as adversidades.
Para me agrupar optei por participar das baladas, rodas de bebedeiras, dando muitas vezes, vazão a outros tipos de drogas. Em diversas ocasiões, éramos discriminados pela sociedade conservadora, a qual repudiava o comportamento diferente da juventude em evolução. É bem verdade que promovíamos grandes preocupações familiares.
Porém, as aventuras começavam a se banalizar e as sensações vividas já não tinham a mesma intensidade. Com isso, a depressão ou a ressaca traziam a necessidade de reposição de mais droga.
O rendimento escolar estava a zero Jovem, bonito, saudável, mas um mau exemplo na comunidade e família. Eu sabia que aquela não era minha índole. Nunca fiz mal a ninguém e conservava uma cultura familiar muito importante em minha formação: fazer o bem, não importa a quem. Meus pais acreditavam em minha remissão. Somente a sociedade me empurrava para a decadência total com recriminação.
Eu queria conhecer outras cidades, outros sóis, outras situações.
Segui em busca do nada, deixando para trás as lágrimas maternas e a admiração dos irmãos. Andei descalço pelas ruas e vielas de Salvador, Olinda, Gaibu, Porto de Galinhas e Cabo Sul. Virei ripe. Segui: Alagoas, Sergipe, Paraíba, Minas, Pernambuco... frio, fome, sensações.
Algum tempo depois resolvi pegar o caminho de casa. Retornei ao velho ninho, agora, querendo apenas descansar das lições aprendidas na escola da vida.
Prossegui, entretanto, no tenebroso vale da bebida e da droga.
Finalmente encontrei uma ilha de calmaria: a mulher que me abraçou e me fez retroceder para outras direções. Já com idade suficiente para entender o chamado, casamos e no primeiro ano, o primeiro filho. Em face a tantas quedas e decepções, finalmente cheguei a uma sala de Alcoólicos Anônimos - de onde nunca mais saí - em nome de uma sobriedade sadia que me promove até hoje a avanços espiritual e físico.
Comecei a recuperar o que havia ficado para trás. Apesar da abstinência alcoólica, continuava me valendo do uso maconha. A droga é um mal para a sociedade. O jovemse senteacorrentado.
Mas, ia conduzindo o processo. Consegui recuperar um pouco de minha dignidade no decorrer do tempo. Dediquei-me à família, à casa, à manutenção de minha sobriedade.
Mesmo sem experiência, enveredei pelos caminhos do jornalismo comunitário. Procurei estudar em livros recebidos de uma amável professora.
Comecei a reverter o quadro de pessoa tóxica para a sociedade e passei a integrar outro ciclo social. Consegui o diploma de segundo grau através do supletivo e ingressei na faculdade estadual. Com uma fé inabalável conseguíamos vencer todos os obstáculos. Formei-me e a mulher também. Em contrapartida, o mercado de trabalho naquela pacata cidade do interior era muito defasado e envolvia até questões políticas para se conseguir um emprego. Já com outro filho, um casal agora, resolvemos procurar melhores condições de vida e mudamos para um Centro maior. Batalhamos muito e fomos abençoados com a qualificação dos filhos e também nossa. Fiz um curso de jornalismo numa boa faculdade. Consegui trabalhar na mídia e conduzíamos a vida da melhor forma possível.
Após tantos desencontros, me libertei de vez de todos os vícios: Estava limpo para alçar outros voos.
Desenvolvi minhas aptidões literárias e publiquei obras de poesia, contos e crônicas. Retomei a admiração da família, da sociedade e de todos nos meios em que me relacionava. Prestei-me à religião cristã, participando das atividades da congregação em gratidão a Deus pela mudança de concepção de vida.
Conseguimos empregos estáveis. Formamos os filhos e sentíamos um pouco de conforto por estarmos realizando nossos propósitos.
Contudo, de tanto cuidar dos filhos acabamos que esquecendo de nossos projetos pessoais. Não tínhamos tempo mais para namorar, conversar, querer, como era na juventude. No relacionamento marital foi diminuindo a empolgação e já não era mais como antes.
Uma informação sobre isolamento social, em virtude da disseminação de um vírus no mundo inteiro mudou nossos hábitos e modo de ver a vida.
Foi recomendado um confinamento. Tinha-se que permanecer em casa para evitar o contágio e a morte. O vírus, mortal, espalhava-se por toda a Terra matando em massa seres humanos, provocando pandemia.
Enquanto isso, a ciência e a tecnologia trabalhavam incessantemente para frear a contaminação.
Muitas pessoas permaneceram por meses presas em casa. Nossa família teve momentos de tensão no decorrer da quarentena. Mas, tínhamos certeza de que depois da crise o mundo seria outro. A humanidade, certamente, iria rever os seus conceitos, princípios e práticas, tendo o evento da Covid-19, como um divisor de águas e reflexão para uma vida diferente.
Fizemos um histórico de nossa trajetória e buscamos nas recordações os sonhos deixados para trás. Vieram à tona, noites mal dormidas e ainda as vitórias alcançadas e o sentimento da necessidade de concluirmos os projetos esquecidos nas entrelinhas do caminho.
Começamos a retomada dos antídotos para a harmonia familiar.
Em casa, promovíamos as reuniões, conversas amistosas e tira-dúvidas pendentes. Orações rogando a Deus para o pronto restabelecimento das Nações.
O relacionamento familiar foi aquecido pelo calor da solidariedade humana entre os membros desta família.
Queríamos direcionar as ações para firmar de vez o futuro dos filhos para depois, retornarmos à vida pacata e feliz do interior, onde a luta pela sobrevivência seria amenizada pela vivência com o amor, a esperança e da fé. Agora, na terceira idade, deveríamos seguir rumo a concretização de desejos derradeiros e finalmente descansar no seio de nossas satisfações pessoais.
A luta para vislumbrarmos a vitória se faz necessária. Isso, nos remeteu aos reclames do poeta conterrâneo em seu poema Canção do Tamoio: “Não chores, meu filho/ Não chores, que a vida/ É luta renhida/Viver é lutar/A vida é combate/Que os fracos abate/Que os fortes, os bravos/ Só pode exaltar...”. Porém as fatalidades são inevitáveis. Quando tudo parecia chegar a um tempo ameno minha mulher foi acometida por um câncer e perdeu a batalha. Menos de um ano recebi a informação de ter contraído um câncer no fígado. Passei pelo Vale da morte. Consegui realizar um transplante hepático e recuperei minha qualidade de vida. Em maio de 2024 completa dois anos desta cirurgia. Eu continuo na batalha da vida. Depois disso lancei obras e ganhei prêmios literários no Brasil e fora de nosso país. Agradeço principalmente a Deus o mesmo de Abraão, Davi, Moisés... Amém!
LIÇÕES DE VIDA EM SONHOS DE QUARENTENA
Alberto Pessoa
Eu era jovem, com muitos sonhos e objetivos vazios. Possuidor de uma grande necessidade de conhecimento e na santa inocência, vulnerável às possibilidades. Provindo de família humilde e ávido por visibilidade humana, compartilhava minhas ansiedades, com a vontade de alçar novos horizontes. Sem norte, busquei nos extremos a força para vencer as adversidades.
Para me agrupar optei por participar das baladas, rodas de bebedeiras, dando muitas vezes, vazão a outros tipos de drogas. Em diversas ocasiões, éramos discriminados pela sociedade conservadora, a qual repudiava o comportamento diferente da juventude em evolução. É bem verdade que promovíamos grandes preocupações familiares.
Porém, as aventuras começavam a se banalizar e as sensações vividas já não tinham a mesma intensidade. Com isso, a depressão ou a ressaca traziam a necessidade de reposição de mais droga.
O rendimento escolar estava a zero Jovem, bonito, saudável, mas um mau exemplo na comunidade e família. Eu sabia que aquela não era minha índole. Nunca fiz mal a ninguém e conservava uma cultura familiar muito importante em minha formação: fazer o bem, não importa a quem. Meus pais acreditavam em minha remissão. Somente a sociedade me empurrava para a decadência total com recriminação.
Eu queria conhecer outras cidades, outros sóis, outras situações.
Segui em busca do nada, deixando para trás as lágrimas maternas e a admiração dos irmãos. Andei descalço pelas ruas e vielas de Salvador, Olinda, Gaibu, Porto de Galinhas e Cabo Sul. Virei ripe. Segui: Alagoas, Sergipe, Paraíba, Minas, Pernambuco... frio, fome, sensações.
Algum tempo depois resolvi pegar o caminho de casa. Retornei ao velho ninho, agora, querendo apenas descansar das lições aprendidas na escola da vida.
Prossegui, entretanto, no tenebroso vale da bebida e da droga.
Finalmente encontrei uma ilha de calmaria: a mulher que me abraçou e me fez retroceder para outras direções. Já com idade suficiente para entender o chamado, casamos e no primeiro ano, o primeiro filho. Em face a tantas quedas e decepções, finalmente cheguei a uma sala de Alcoólicos Anônimos - de onde nunca mais saí - em nome de uma sobriedade sadia que me promove até hoje a avanços espiritual e físico.
Comecei a recuperar o que havia ficado para trás. Apesar da abstinência alcoólica, continuava me valendo do uso maconha. A droga é um mal para a sociedade. O jovemse senteacorrentado.
Mas, ia conduzindo o processo. Consegui recuperar um pouco de minha dignidade no decorrer do tempo. Dediquei-me à família, à casa, à manutenção de minha sobriedade.
Mesmo sem experiência, enveredei pelos caminhos do jornalismo comunitário. Procurei estudar em livros recebidos de uma amável professora.
Comecei a reverter o quadro de pessoa tóxica para a sociedade e passei a integrar outro ciclo social. Consegui o diploma de segundo grau através do supletivo e ingressei na faculdade estadual. Com uma fé inabalável conseguíamos vencer todos os obstáculos. Formei-me e a mulher também. Em contrapartida, o mercado de trabalho naquela pacata cidade do interior era muito defasado e envolvia até questões políticas para se conseguir um emprego. Já com outro filho, um casal agora, resolvemos procurar melhores condições de vida e mudamos para um Centro maior. Batalhamos muito e fomos abençoados com a qualificação dos filhos e também nossa. Fiz um curso de jornalismo numa boa faculdade. Consegui trabalhar na mídia e conduzíamos a vida da melhor forma possível.
Após tantos desencontros, me libertei de vez de todos os vícios: Estava limpo para alçar outros voos.
Desenvolvi minhas aptidões literárias e publiquei obras de poesia, contos e crônicas. Retomei a admiração da família, da sociedade e de todos nos meios em que me relacionava. Prestei-me à religião cristã, participando das atividades da congregação em gratidão a Deus pela mudança de concepção de vida.
Conseguimos empregos estáveis. Formamos os filhos e sentíamos um pouco de conforto por estarmos realizando nossos propósitos.
Contudo, de tanto cuidar dos filhos acabamos que esquecendo de nossos projetos pessoais. Não tínhamos tempo mais para namorar, conversar, querer, como era na juventude. No relacionamento marital foi diminuindo a empolgação e já não era mais como antes.
Uma informação sobre isolamento social, em virtude da disseminação de um vírus no mundo inteiro mudou nossos hábitos e modo de ver a vida.
Foi recomendado um confinamento. Tinha-se que permanecer em casa para evitar o contágio e a morte. O vírus, mortal, espalhava-se por toda a Terra matando em massa seres humanos, provocando pandemia.
Enquanto isso, a ciência e a tecnologia trabalhavam incessantemente para frear a contaminação.
Muitas pessoas permaneceram por meses presas em casa. Nossa família teve momentos de tensão no decorrer da quarentena. Mas, tínhamos certeza de que depois da crise o mundo seria outro. A humanidade, certamente, iria rever os seus conceitos, princípios e práticas, tendo o evento da Covid-19, como um divisor de águas e reflexão para uma vida diferente.
Fizemos um histórico de nossa trajetória e buscamos nas recordações os sonhos deixados para trás. Vieram à tona, noites mal dormidas e ainda as vitórias alcançadas e o sentimento da necessidade de concluirmos os projetos esquecidos nas entrelinhas do caminho.
Começamos a retomada dos antídotos para a harmonia familiar.
Em casa, promovíamos as reuniões, conversas amistosas e tira-dúvidas pendentes. Orações rogando a Deus para o pronto restabelecimento das Nações.
O relacionamento familiar foi aquecido pelo calor da solidariedade humana entre os membros desta família.
Queríamos direcionar as ações para firmar de vez o futuro dos filhos para depois, retornarmos à vida pacata e feliz do interior, onde a luta pela sobrevivência seria amenizada pela vivência com o amor, a esperança e da fé. Agora, na terceira idade, deveríamos seguir rumo a concretização de desejos derradeiros e finalmente descansar no seio de nossas satisfações pessoais.
A luta para vislumbrarmos a vitória se faz necessária. Isso, nos remeteu aos reclames do poeta conterrâneo em seu poema Canção do Tamoio: “Não chores, meu filho/ Não chores, que a vida/ É luta renhida/Viver é lutar/A vida é combate/Que os fracos abate/Que os fortes, os bravos/ Só pode exaltar...”. Porém as fatalidades são inevitáveis. Quando tudo parecia chegar a um tempo ameno minha mulher foi acometida por um câncer e perdeu a batalha. Menos de um ano recebi a informação de ter contraído um câncer no fígado. Passei pelo Vale da morte. Consegui realizar um transplante hepático e recuperei minha qualidade de vida. Em maio de 2024 completa dois anos desta cirurgia. Eu continuo na batalha da vida. Depois disso lancei obras e ganhei prêmios literários no Brasil e fora de nosso país. Agradeço principalmente a Deus o mesmo de Abraão, Davi, Moisés... Amém!
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