Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de José Carlos Andraus
Entrevistado por Miriam
Macaé, 26 de março de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB111
Transcrito por Transkiptor
00:00:06 P/1 - Bom, boa tarde José Carlos. Gostaria que você me repetisse seu nome completo, local e data de nascimento.
00:00:48 R - José Carlos Andraus, eu nasci em São Paulo, capital, em 19 de março de 1960.
00:00:56 P/1 - Sim, e quando? E como se deu o seu ingresso na Universidade de São Paulo?
00:01:01 R - Bem, eu fiz engenharia na Escola Politécnica da USP, me formei em 82 e logo em seguida fiz aquele concurso nacional para engenheiros de petróleo na Petrobras e fui contemplado e no ano seguinte já fui para a Bahia, em 83, fazer o curso de engenharia de petróleo, um ano de curso. Então, já estou há 20 anos na Petrobras, esses últimos 10 anos aqui na Bacia de Campos.
00:01:30 P/1 - E fala um pouco dos locais onde você já trabalhou.
00:01:34 R - Certo. Esse curso foi muito interessante, né? a gente teve vários colegas do Brasil inteiro e foi uma experiência muito interessante já a convivência com esses colegas de todas as regiões do Brasil e logo depois disso teve a divisão da turma em todas as regiões do Brasil na parte de produção e eu escolhi ficar na Bahia os dois primeiros anos na área de reservatórios. Então, eu trabalho com engenharia de reservatórios desde a formação do curso, no final do curso. Engenharia de Reservatórios é a parte que cuida da nossa jazida, a parte de subsuperfície. Então, como é que é a rocha portadora dos hidrocarbonetos, o aquífero, as forças que atuam e como que a gente, os fluidos que a gente tem lá e como que a gente vai produzir isso daí. Então, o plano de explotação, número de poços, a posição dos poços, é um trabalho nosso. Previsão de produção, injeção de fluidos. Então a gente acompanha o reservatório desde a exploração, faz a descoberta, a...
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Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de José Carlos Andraus
Entrevistado por Miriam
Macaé, 26 de março de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB111
Transcrito por Transkiptor
00:00:06 P/1 - Bom, boa tarde José Carlos. Gostaria que você me repetisse seu nome completo, local e data de nascimento.
00:00:48 R - José Carlos Andraus, eu nasci em São Paulo, capital, em 19 de março de 1960.
00:00:56 P/1 - Sim, e quando? E como se deu o seu ingresso na Universidade de São Paulo?
00:01:01 R - Bem, eu fiz engenharia na Escola Politécnica da USP, me formei em 82 e logo em seguida fiz aquele concurso nacional para engenheiros de petróleo na Petrobras e fui contemplado e no ano seguinte já fui para a Bahia, em 83, fazer o curso de engenharia de petróleo, um ano de curso. Então, já estou há 20 anos na Petrobras, esses últimos 10 anos aqui na Bacia de Campos.
00:01:30 P/1 - E fala um pouco dos locais onde você já trabalhou.
00:01:34 R - Certo. Esse curso foi muito interessante, né? a gente teve vários colegas do Brasil inteiro e foi uma experiência muito interessante já a convivência com esses colegas de todas as regiões do Brasil e logo depois disso teve a divisão da turma em todas as regiões do Brasil na parte de produção e eu escolhi ficar na Bahia os dois primeiros anos na área de reservatórios. Então, eu trabalho com engenharia de reservatórios desde a formação do curso, no final do curso. Engenharia de Reservatórios é a parte que cuida da nossa jazida, a parte de subsuperfície. Então, como é que é a rocha portadora dos hidrocarbonetos, o aquífero, as forças que atuam e como que a gente, os fluidos que a gente tem lá e como que a gente vai produzir isso daí. Então, o plano de explotação, número de poços, a posição dos poços, é um trabalho nosso. Previsão de produção, injeção de fluidos. Então a gente acompanha o reservatório desde a exploração, faz a descoberta, a delimitação daquela jazida, passa para a área de reservatórios. A área de reservatórios, então, faz todo esse plano de explotação e junto com análises econômicas é definido o plano de explotação no campo e a gente praticamente acompanha aquela jazida a vida toda dela, 20, 30, 40, tem campos com mais de 50 anos aí de produção, né? Então, é uma coisa assim de muito longo prazo, mas muito gratificante. A gente tem que lidar com o desconhecido, né? O reservatório tá lá embaixo e o contato que a gente tem com ele são os poços, né? E no começo você não tem ainda os poços, você tem que fazer planos para aquele campo com pouquíssimas informações. E ao longo da vida do campo, você vai sempre coletando dados, informações e reorientando esses planos. Então essa é a atividade de reservatórios. Bom, então desde o começo eu trabalhei com reservatórios na Bahia. e depois, dois anos, né? E a Bahia, os reservatórios são bem complexos, cheios de falhas, muitos intervalos de portadores, óleo de diferentes qualidades, óleos mais neves, mais pesados. Então, foi uma escola excelente, acho que a melhor escola que a gente poderia ter de vida prática de reservatórios. Então, sou muito feliz por isso daí. Depois disso, fui para o Rio de Janeiro, para a sede da empresa, e lá participei dos trabalhos de estudos de reservatório dos campos offshore, aqui da Bacia de Campos, inicialmente. Os estudos eram feitos na sede da empresa, eu fiquei quatro anos lá na sede, os dois primeiros anos trabalhando com a bacia de campos e os dois anos seguintes com os campos do Rio Grande do Norte, Ceará, da bacia Portiguar. A maioria em terra, eu cheguei a fazer um estudo de reservatórios para um campo no mar e essa foi a época dos contratos de risco da Pauli Petro. Então no Rio Grande do Norte a gente teve algumas concessões, alguns contratos de risco e empresas nacionais participaram e estrangeiras também, mas no caso do Rio Grande do Norte eu acompanhei por parte da Petrobras, do departamento de produção, do plano de explotação que essas empresas faziam para o campo de Noroeste e Morro do Rosado e as outras descobertas lá do Rio Grande do Norte. Depois disso, conto tudo. Aí fui para um plano de mestrado no convênio da Petrobras com a Unicamp em 1990 e 91. Trabalhei também nessa área de reservatórios e foi interessante que já tinha bastante vivência dos nossos campos, sabia das nossas dificuldades. Trabalhei com caracterização de reservatórios no mestrado. depois disso voltei ao Rio de Janeiro, ainda trabalhei seis meses e de junho de 92 para cá vim para a Bacia de Campos e tenho trabalhado principalmente com os campos do Polo Nordeste da Bacia Parvo, que foi a segunda descoberta da Bacia de Campos e outros campos adjacentes, Moreia, Viola, mas no Rio já tinha trabalhado com outros campos aqui da Bacia, então tem um conhecimento bastante grande de quase todos os campos aqui da Petrobras.
00:06:39 P/1 - Será que você trabalha em arcada?
00:06:41 R - Não, nosso trabalho é notadamente em terra, Eventualmente, a gente embarca para alguma palestra, para acompanhar algum teste, alguma operação, mas, notadamente, o nosso trabalho é em terra. A gente recebe os dados em terra e trabalha na sede.
00:06:57 P/1 - E quais são as influências marcantes da sua trajetória na Petrobras? O que você recorda de importante?
00:07:07 R - Olha só, é difícil enumerar os eventos ou os fatos. Desde o curso tenho excelentes recordações, meus colegas de turma também, eles teriam muito mais histórias minhas para contar do que eu mesmo, mas em termos de trabalho, na Bahia, por exemplo, logo no começo, engenheiro ali, recém-formado, mais um ano de engenharia de petróleo, me deram... fui participar de um grupo de trabalho para o abandono do campo de Lobato. Só esclarecendo, o campo de Lobato, então, foi a primeira descoberta de óleo em território nacional. Em janeiro de 1939, foi o Departamento Nacional de Produção Mineral que fazia as perfurações lá nos subúrbios de Salvador, em Lobato, uma localidade chamada Lobato, e no DPNM 163 foi feita essa descoberta de óleo, isso em 1939. Naquela época os geólogos estrangeiros principalmente que vinham aqui faziam questão de dizer que o Brasil não tinha petróleo e desestimulavam qualquer iniciativa pudesse levar o país a procurar esse petróleo. Então eu entendo, eu não revi isso, mas eu entendo hoje como é que era aquele clima, aquela euforia por ter encontrado petróleo. Então esse campo de Lobato é um campo histórico. Só que nos idos de 84, que eu estava trabalhando na área de reservatórios na Bahia, a gente tinha um grupo de trabalho para o abandono de Campo de Lobato. Na verdade, o campo não foi comercial, produziu pouco, e a primeira descoberta comercial mesmo foi o campo de Candeias, em 1941, que eu também trabalhei com ele na Bahia, principalmente os campos do Reconcavo Sul. Mas nesse grupo de abandono do Campo de Lobato, solicitaram, do ponto de vista reservatório, verificar se tinha algum poço com pressão anormal ou com algum perigo de exudação de gás ou algum problema que requerisse maiores cuidados. Então eu analisando os dados encontrei os dois poços mais recentes, a maioria dos poços não tinha nem perfilagem, mas os dois mais recentes furados em 1977, 1978 um deles ainda tinha, pelo comportamento de produção, ainda teria um potencial de produção por mais dois ou três anos se a gente trocasse o equipamento de bombeio dele e colocasse em produção. Então eu fiz uma estimativa desse potencial de produção dele e apresentei ao coordenador do grupo de trabalho. E ele imediatamente falou, não, o grupo de trabalho aqui é para o abandono do campo, a gente não quer reativar campo nenhum. A área lá, a Petrobras vem pagando aluguel desde aquela época, é uma área aberta, sem segurança, o petróleo está longe das unidades de produção, não tem logística, e eu fui só anotando. Aí em seguida eu fiz uns cálculos e saí procurando o orçamento para cercar toda a área com muros de 3 metros de altura, botar a segurança 24 horas por dia em regime de turno e uma carreta estacionada recolhendo aquele petróleo, trocar a unidade de bombeio e um carro vindo de Candeias até lá duas vezes por dia, então calculei o custo na ponta do lápis disso tudo aí e cheguei à conclusão que realmente ainda seria viável produzir aquele poço por mais dois anos e pouco e isso daria uma produção acumulada nesse período que daria, vamos dizer, para comprar um apartamento em Salvador, por exemplo. para ter ordem de grandeza dos números. Aí, finalizado esse estudo, eu apresentei ao coordenador do GT e ele, assustado com meus cálculos, falou, não, está aqui o relatório para o abandono do campo, é só você assinar aqui. O diretor da Petrobras já condenou esse campo ao abandono desde 1963. Então, o grupo de trabalho foi para abandonar, aí eu não tinha o que fazer, assinei o relatório. Aí, contando a história para os meus colegas de trabalho, eles falaram, não, você fez tudo errado, né? Esse óleo aqui é um óleo histórico. Você botou o preço de venda dele pelo preço por barril, na verdade, deveria preencher uns vidrinhos com esse óleo aí e vender, teria uma... pelo valor histórico dele, o valor seria muito maior, né? Eu, na verdade, tenho lá uma amostra dele, uma lata desse óleo aí, que eu guardo com muito carinho.
00:12:12 P/1 - Que legal! Bom, o que você achou de ter participado dessa entrevista e contribuído para o projeto Memórias dos Trabalhadores Infantebrais, que é um projeto de parceria do sindicato com a Infantebrais?
00:12:23 R - Eu acho a iniciativa excelente. Infelizmente, a gente não teria espaço para contar. Esse pequeno exemplo teria muitas outras histórias que eu acho que foram mais de 60 mil trabalhadores na Petrobras. Certamente, a gente tem mais de 60 mil histórias. Todos têm suas histórias. E eu acho que essa amostragem é muito válida, é um trabalho bem diferente. Eu não conheço alguma coisa semelhante. Então, eu estou muito satisfeito de estar contribuindo.
00:13:09 P/1 - Que ótimo. Obrigada, José Carlos. Até a próxima edição. Então, melhor que tenha o instinto de a gente conversar depois.
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