IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é José Menezes Filho. Eu nasci no Rio de Janeiro em 1950, 13/01/1950.
INGRESSO NA PETROBRAS
Inicialmente, até pouco tempo antes de concluir o Curso de Oficiais da Marinha Mercante - que é uma escola que forma oficiais, para tripular os navios brasileiros - eu me interessei em ser oficial de navios da Petrobras, e isto foi o que me despertou a vontade de viajar, de conhecer um pouco do mundo. Eu me identifiquei muito com a profissão.
EDUCAÇÃO
Como todo brasileiro. Apesar do país ter uma dependência muito grande do transporte marítimo, saber que esse número é em torno de 95% a 97% de dependência do mar. Tudo o que a gente consome em terra - o próprio planeta é um arquipélago, quando aumenta a população existe a necessidade de consumo e o navio até o momento do atual estado da arte não conseguiu criar nada mais adequado para transportar grandes quantidades de mercadorias, a não ser o navio. E infelizmente, a gente não tem esse sentimento, eu fui desenvolver isso quando resolvi ir para escola de formação de oficiais. A vontade talvez vinha, não pela identificação com o mar que eu não tinha idéia, mas por gostar bastante de história, desde a época de ginásio, então eu lia bastante e achava que seria uma maneira de eu visitar e conhecer locais que me despertavam interesse na época de estudante.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
No início de carreira você como oficial, cuida da parte de náutica, que era o meu caso. Eu cuidava da parte de navegação, tirando o serviço de quatro horas e descansando oito. As viagens eram, duravam cerca de 100 dias: 32, 33 dias de viagem depois que saía do Brasil. A gente levava minério do Porto de Tubarão para o Japão. Do Japão a gente ficava cerca de cinco e dez dias, depois fazíamos a travessia pelo Mar da China, Estreito de Málaca, Cingapura e íamos para o Golfo Pérsico carregar o navio. Navio grande, os maiores transportando cerca de dois milhões de barris. A...
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Meu nome é José Menezes Filho. Eu nasci no Rio de Janeiro em 1950, 13/01/1950.
INGRESSO NA PETROBRAS
Inicialmente, até pouco tempo antes de concluir o Curso de Oficiais da Marinha Mercante - que é uma escola que forma oficiais, para tripular os navios brasileiros - eu me interessei em ser oficial de navios da Petrobras, e isto foi o que me despertou a vontade de viajar, de conhecer um pouco do mundo. Eu me identifiquei muito com a profissão.
EDUCAÇÃO
Como todo brasileiro. Apesar do país ter uma dependência muito grande do transporte marítimo, saber que esse número é em torno de 95% a 97% de dependência do mar. Tudo o que a gente consome em terra - o próprio planeta é um arquipélago, quando aumenta a população existe a necessidade de consumo e o navio até o momento do atual estado da arte não conseguiu criar nada mais adequado para transportar grandes quantidades de mercadorias, a não ser o navio. E infelizmente, a gente não tem esse sentimento, eu fui desenvolver isso quando resolvi ir para escola de formação de oficiais. A vontade talvez vinha, não pela identificação com o mar que eu não tinha idéia, mas por gostar bastante de história, desde a época de ginásio, então eu lia bastante e achava que seria uma maneira de eu visitar e conhecer locais que me despertavam interesse na época de estudante.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
No início de carreira você como oficial, cuida da parte de náutica, que era o meu caso. Eu cuidava da parte de navegação, tirando o serviço de quatro horas e descansando oito. As viagens eram, duravam cerca de 100 dias: 32, 33 dias de viagem depois que saía do Brasil. A gente levava minério do Porto de Tubarão para o Japão. Do Japão a gente ficava cerca de cinco e dez dias, depois fazíamos a travessia pelo Mar da China, Estreito de Málaca, Cingapura e íamos para o Golfo Pérsico carregar o navio. Navio grande, os maiores transportando cerca de dois milhões de barris. A gente trazia para o Porto de São Sebastião ou Angra dos Reis, que eram os Portos onde se permitia operar navios desse tamanho.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Praticamente nesse navio, no Navio José Bonifácio. Eu comecei como praticante, que é o termo dado para quem antes da graduação de oficial. Fiz a carreira: fui 1º Oficial, que era encarregado de navegação; depois imediato por cerca de cinco anos e depois fui Comandante desse navio e de navios do mesmo porte fazendo viagens para o Golfo. Passei um período curto antes de ser o que a gente chama de Capitão de Cabotagem, que é o Comandante que está habilitado a comandar o navio próximo à Costa. Cabotagem quer dizer navegação entre cabos. E depois desse período, cerca de um ano e meio, dois anos, eu fui promovido à Capitão de longo curso e voltei para essa linha novamente do Golfo e do Japão na condição de Comandante. Foram 17 anos ao todo, fazendo essa trajetória. A rota era essa: Brasil, Japão, Golfo Pérsico. O navio, uma única vez, veio direto para pegar minério, mas a rota era fixa. E depois os navios na linha do Golfo eram direto do Brasil para o Golfo Pérsico, um dos postos lá da Arábia Saudita, do Mar Vermelho e do próprio Golfo Pérsico. E dos desafios que a gente encontra - que cabe ressaltar numa profissão dessa - é o afastamento da família, dos amigos. Então, realmente exige que as pessoas tenham um perfil para isso. Não só as pessoas, mas que elas consigam passar para a família, para as pessoas que ela está exercendo uma atividade e para que ela tenha orgulho dessa atividade. Que ela passe esse tipo de pensamento para as famílias.
FAMÍLIA
Eu, felizmente consegui isso ao longo do tempo, tanto com minha esposa, quanto com meus filhos, todos tem o orgulho, tem boa lembrança de navios. Tiveram oportunidade de viajar comigo. Minha mulher, antes dos filhos, por cerca de dois anos. Ela algumas vezes chegou a fazer viagem para o próprio Japão. Depois vieram os filhos e ficou mais difícil, mas aí coincidiu de eu também vir passar um período aqui na Costa e tinha mais oportunidades de estar junto. Mas a gente procurava articular épocas de férias com as férias dos meninos. Vamos dizer: quando era dezembro e janeiro eu procurava estar embarcado porque tinha a oportunidade deles saírem comigo. Eu tirava férias, eu desembarcava e ainda havia as visitas familiares. Os navios tem condições, são camarotes, são suítes, tem condições - inclusive, por acordo coletivo. É permitido e as acomodações no navio são boas. Permite essa viagem, de forma confortável.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
A empresa quando eu comecei tinha cerca de 32 navios, a frota foi crescendo e chegou a ter 74 navios. Eu participei desse período aí de crescimento e isso permitiu, o fato de fazer viagens longas permitia a gente estudar um pouco, conhecer um pouco mais. Nem todos que poderiam ter se identificado com a carreira, não ter problema de viajar, mas teria dificuldade natural, uma dificuldade de relacionamento ou algum fator externo, do próprio pessoal impedisse até de continuar a carreira. O fato de um problema desse ter ocorrido comigo, não só comigo, certamente com outros também, isso permitiu que a gente, vamos dizer, se destacasse um pouco mais. Então, do ponto de vista do aprendizado, convivência com outros, operação em portos, que exigia bastante dos tripulantes e oficiais, nos permitiam um crescimento profissional significativo e isso certamente traz como retorno o reconhecimento da alta administração da empresa, não só no meu caso, como no de outros, e começa a reconhecer pessoas que podem trazer essa vivência, essa experiência adquirida no quadro do mar, no desempenho da função para contribuir na Gerência em terra, e eu vim em 1991 e depois 1992. Em 1991 eu tive a oportunidade de ser indicado para fazer o Curso da Escola de Guerra Naval, um curso de mais alto nível que a Marinha tem para os Oficiais que vão exercer altos cargos na Marinha e com chances de ser promovidos à Almirante. Eu tive a oportunidade de fazer esse curso, depois voltei a comandar o próprio Navio José Bonifácio e logo nessa ocasião, logo depois veio a ser Superintendente da Fronape, o Engenheiro Albano, que depois veio a ser diretor. Estava também ocorrendo uma fase de transição de mudanças para aposentadoria, saída de alguns cargos de chefia em terra, e meu nome foi levado a ele para fazer parte desse novo grupo que viria ocupar cargos gerenciais. Eu fui um desses escolhidos. Inicialmente fui gerente da parte de pessoal, na época tinha a divisão de relações industriais, a DIRIN. Fui gerente dessa parte e depois para um cargo que existe dentro da Fronape que interage muito com os navios, com a tripulação, no acompanhamento do desempenho dos navios, que é a Inspetoria Geral, que verifica as condições de cumprimento de normas, regulamentos, não só do ponto de vista operacional, mas aspectos de conduta e isso é importante para esse cargo, que seja alguém que tem o conhecimento, a vivência do que é... de como as coisas acontecem no navio e que seja uma pessoa reconhecida pelos demais como alguém que desempenhou essa função de forma adequada. Eu me encaixei nesse perfil no entendimento do Superintendente da época e depois disso outros vieram e eu tenho sido confirmado aí na função e dado a minha contribuição aí para a melhoria da nossa frota de petroleiros, para ela atuar como tem atuado, um dos orgulhos que a gente carrega. Eu tenho oportunidade de dizer para o presidente atual - a gente olha na lista, existe a página, existe a Federação Internacional de Armadores de Petroleiros, que é a AITOP, que classifica um grande acidente, um vazamento acima de 700 toneladas e nós, como Petrobras, devemos repetir isso sempre, eu particularmente, ou nós marítimos particularmente, que a mais de 50 anos nós operamos navios pelos mares do mundo e nunca... a gente olha aquela lista e vê lá Exxon, vê a Moco, Xevron, vê Atlantic e a Petrobras não diz presente em nenhum grande vazamento. Então, se pegar a lista até o 35º, hoje é o Exxon Valdez, que é da Exxon um grande vazamento, todo mundo sabe foi o que mais custo deu para reparo em função do vazamento onde ele ocorreu. Mas se a gente descer até o 100º, até o 200º, todos os grandes vazamentos a Petrobras não diz presente em nenhum. O maior vazamento ocorrido com navio nosso foi 650 toneladas, portanto, menos que 700. Foi no Mar da China com um navio nosso chamado Jacuí e vazaram 650 toneladas, com um navio que estava com dois práticos à bordo navegando lá no Mar da China. E o segundo maior vazamento foi um vazamento em torno de 260 toneladas e não foi óleo cru, foi nafta, foi em Paranaguá no ano retrasado, 2001 e também com um prático à bordo. Uma falha, portanto, na navegação, o navio arrastou numa pedra. Um dos orgulhos que a gente tem na profissão é ter contribuído para isso à bordo, executando as nossas tarefas e contribuindo aqui para a segurança da navegação, das operações dos nossos navios. É um dos orgulhos que a gente carrega como empregado da Petrobras, transportar essa bandeira brasileira pelos mares do mundo e da nossa Petrobras.
SUBSIDIÁRIA - FRONAPE -TRANSPETRO
A Lei do Óleo, a quebra do monopólio foi exigido, ficou definido que a empresa que fizesse, efetuasse a produção e a prospecção, não deveria ser a mesma que fizesse também o transporte. Então com isso, ficou definido na legislação, que deveria ser criada uma empresa para fazer o transporte. Então um departamento da empresa que antigamente chamava Detran, Departamento de Transportes, esse departamento todo, que abrangia a área de dutos, terminais e embarcações, que era a Fronape, dentro do sistema Petrobrás esse departamento virou a empresa que é hoje chamada Transpetro. Portanto, a Transpetro, quer dizer a abreviatura do nome de Petrobras Transporte S.A. Ela cuida de dutos, terminais e embarcações onde estão os nossos navios. Então a mudança do ponto de vista para o empregado, as atividades, as tarefas elas continuaram as mesmas, só a empresa que tem um outro nome, mas essa parte de atribuições e funções de trabalho continuam boas. No nosso entender as dificuldades que a gente encontra, quer dizer, um empregado novo Petrobras ele sente diferente quando comparado com o antigo. Agora, que antigo? Os primeiros, que construíram essa empresa? Muitos lutam até hoje para ter algumas vantagens, que não conseguiram ao longo do tempo, quer dizer, as vantagens que hoje a gente considera quase como adquiridas, os primeiros empregados não sabiam nem o que era isso Os pioneiros da empresa não sabiam Então aquela década de crescimento aí - essa é a minha visão - 1970, foram criadas muitas coisas aí, vantagens para contar que o empregado da Petrobras contou. Certamente a gente está vendo, que ele está dando entrevista aqui no dia que o próprio governo cansou de defender isso aí que é do PT, enxerga que não dá esse sistema de Previdência e tal, realmente fica difícil se encontrar recursos para bancar isso. Então, foram mudanças que aconteceram com o empregado Petrobras e certamente atingiu o empregado marítimo também, mas não especificamente por conta do marítimo. Certamente a gente procura sempre a melhora, mas quando eu comecei a viajar a gente fazia três, quatro viagens para o Japão. Hoje, o regime de trabalho são cinco meses, cinco a sete meses embarcado por, em torno de dois meses, 50 a 70 dias desembarcado, esse regime era bem mais duro de levar. Certamente naquela época não tinha telefone celular, o imasat veio depois que a gente começou a viajar, mas há o progresso e quem vai hoje para bordo, vai já incorporado nos costumes, esses hábitos. Então realmente, as dificuldades são proporcionais ao momento. Não vamos considerar aqui o avanço que a gente tinha, mas a gente tem que olhar a realidade e dentro do que é praticado hoje no mundo a empresa continua dando essa mesma condição.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
Um exemplo duma viagem longa e depois a gente pode trazer esse pensamento para uma viagem mais curta. Então, existe a rotina, o navio como ele navega 24 horas por dia, então a parte de navegação precisa estar permanentemente guarnecida, a ponte de comando - que a gente chama de passadiço - normalmente o oficial encarregado de navegação no período noturno, um marinheiro também como vigia para apanhar as embarcações, a praça de máquinas também guarnecida com oficial e um outro tripulante. Durante o dia, é uma equipe de manutenção tanto da parte de convés quanto da máquina, e, obviamente, tem os momentos de lazer... Existe sempre vídeo-cassete, TV, biblioteca, normalmente os navios tem, os navios do porte desse. Outros por menores que sejam, tem os navios que permitem você praticar aí algum tipo de atividade física. É uma dificuldade que você está aí sentindo e tem que se adequar um pouquinho Eu estou assim a um bom tempo, mas tem dia que é mais complicado por causa da burocracia, mas a gente consegue manter uma atividade física e leitura. Agora da formação das pessoas que vão para bordo, embora a bordo a gente não tenha um regime militar, mas a autoridade, a disciplina ela é fundamental, tem que ser quase inconsciente, as pessoas antes de embarcarem, fazem curso para ter conhecimento disso. São exemplos simples que a gente sempre dá: não pode o cozinheiro um dia acordar e dizer que não vai fazer comida, que não está com vontade, porque a gente não tem como pedir quentinha de terra, não cabe um determinado tripulante, acontece um incêndio, a gente se reunir, perguntar ao pessoal se está disposto a combater aquele incêndio. Então, a ordem tem que ser dada direta: é guarnecer posto e avançar porque se não vai morrer todo mundo Não tem essa de abandonar o prédio e chamar o bombeiro Não Acidente no mar, o quê que acontece... não é para acontecer, mas quando acontece, os treinamentos são feitos para que a gente esteja preparado, e felizmente a gente até hoje tem conseguido dar conta aí dos que aconteceram. Nós também temos esse orgulho de não ter perdido nenhum navio no mar por conta de acidentes que aconteceram, mas que as pessoas atuaram de acordo com o esperado e não perderam nenhum navio.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Embora eu tenha viajado muito - talvez a minha formação religiosa como católico praticante - tenha me dado um sentido de fé muito forte e não me tenha passado, alguns, como é que a gente chama assim esse negócio da pessoa quando não passa embaixo de escada... superstição Então, embora o Marinheiro seja supersticioso, mas a superstição é, vamos dizer assim... light. Nunca tive essas maiores preocupações... Fazer viagens dessas em que a gente ficava cerca de 30 dias, como essa viagem para o Japão e só via terra quando passava na Indonésia, entre as Ilhas de Bali e Lombok, então era muito tempo tirando serviço: as madrugadas... Eu nunca tive problema de ver extraterrestre, nem alma do outro mundo, pelo contrário, a gente até fazia brincadeira desse tipo. Nunca tivemos problemas dessa ordem, então não tenho nenhum causo desses aí para contar. Coisas que a gente simulava para quem estava embarcando de novo eram aquelas brincadeiras simulando essas coisas. É marcante a satisfação da gente poder navegar, saber que está numa ilha dessas, passando aí pelas Filipinas, relembrando das grandes batalhas que ocorreram ali por ocasião da 2ª Guerra Mundial, lembrando, que por sinal, amanhã está se comemorando aí a data da Bomba Atômica de Hiroshima. Comemorando não Relembrando, isso não é motivo para comemorar Lembrando o estrago que foi para a humanidade, mas o avião partiu de uma ilha, de Guana, próximo ali nas Filipinas. A gente saber que estava navegando, saber que estava passando por locais onde batalhas ocorreram, muitas pessoas perderam a vida, lembrar que Fernão de Magalhães, na viagem de circunavegação chegou na Ilha de Matita, umas das ilhas das Filipinas. Então isso dava a gente, todo o tempo, um sentimento assim... passar nas Costas de Mindanau , de mais profundidade. Depois pelas Índias, a tal da Trapobana onde Camões fez os versos dele falando sobre Trapobana que é o Ceilão hoje. E essas coisas que davam esse sentimento. Mais o Oriente, chegar no Japão, aquela religião, aquelas coisas bem diferentes da nossa. Então, causos, assim não lembro. Momentos difíceis, eram momentos quando a gente enfrentava ventos de 130, 140 Km/h, ondas de 10, 12 metros - que eu posso lhe passar como felizmente eu sou Marinheiro - tenho dado palestras às vezes na Escola de Oficiais hoje e felizmente eu estou numa época que eu posso não ficar naquele lugar comum de que Marinheiro tem sempre história para contar. Felizmente o quê eu conto eu posso mostrar lá o vento, o maremômetro do navio indicando a velocidade de 130, 140 Km/h e as ondas, verificando ondas de 10, 12 metros, embarcando num navio daquele sem cerimônia nenhuma, que a visibilidade, da metade do navio para avante, a gente não enxergava nada Relâmpagos, trovão... uma coisa de durar um dia, um dia e meio, sob esse intenso mar. O Mar do Sul da África, que os antigos achavam que era o fim do mundo, que quando melhorava o tempo muitas embarcações tinham sumido, então achavam que alguns tinham caído do navio. Porque navegavam lá no Norte do Japão, um local mais conhecido é aqui na América Central é o tal Triângulo das Bermudas, lá no Japão, ao Norte do Japão tem um local chamado Triângulo do Diabo. Também trouxe uma cópia do telegrama que me foi enviado me mandando um alerta de um navio que saiu pouco antes de mim, umas horas antes, tinha desaparecido. Um navio de 30 mil toneladas, e eu navegando para aquela região maldita, como é chamado esse local de mistérios que não tem explicação. Eu felizmente consegui navegar assim sem nenhum problema. Então os causos que poderia contar seria esses aí. E momentos de maior tensão, que são os desafios de Marinheiro que escolhe a carreira da Marinha Mercante, é o mau tempo, é o afastamento das condições, se a gente ficar a gente consegue reduzir o impacto do afastamento da família, dos amigos, e navegar, vivenciar momentos de conflito nas zonas de guerra, que a gente não precisa ficar contando. A gente tem as evidências aí que alguem escreveu que o poder da mídia faria com que todos tivessem 15 minutos de sucesso, e esses meus 15 minutos durraram mais ou menos uma semana
RELAÇÕES COM O GOVERNO - GUERRA DO GOLFO
Naquela ocasião, quando iniciou a Guerra aquela área foi considerada uma área de risco. O Comando Naval das Forças Aliadas mandou um telegrama para todos os navios informando que quem fosse navegar naquela área estaria sujeito a ataques aéreos de superfície e encontrar minas, e na ocasião eram três navios brasileiros, tinham dezenas de navios de outros países. Então, não só brasileiros, mas de outras nacionalidades inclusive um japonês. Então tivemos momentos que levavam você a ter que tomar uma decisão, ou você cumpre o seu papel e que é previsto, que faz parte da carreira da Marinha Mercante através dos tempos, você enfrentar esses momentos de risco. Naquela ocasião, por uma decisão de Governo, que a gente tem que acatar e que a gente deveria entrar, a Petrobras deveria entrar com o navio no Golfo. Nós não hesitamos, por entender que aquilo efetivamente era necessário A repercussão foi significativa, já que a mídia procurava mostrar o Sadan Hussein, poderoso capaz de soltar armas químicas, bomba atômica que dizimaria a todos. Então, isso gerou na minha casa, na condição de Comandante e como a gente ao longo da carreira vai fazendo amizade com os Oficiais, com a Tripulação... a minha casa virou um Quartel General, estavam lá as esposas ligando para a minha mulher, e a decisão, até chegar quando declarou a Guerra durou cerca de três ou quatro dias. Aí a televisão se interessando, rádio, Rádio Globo fazendo entrevista, perguntando e a minha mulher dizendo: "Olha, se realmente tiver que entrar, se você entender que é necessário isso vai ocorrer. A gente sabe como é o entendimento dele da carreira e como é que ele vê a Petrobras". E foi realmente o que aconteceu. Houve a necessidade, eu recebi uma ligação tomando conhecimento dessa decisão de Governo e da Petrobras de entrar e nós cumprimos lá o nosso papel. E felizmente conseguimos cumprir com êxito. Não imaginávamos, já que a gente não via todo o noticiário aqui, a repercussão. A gente só foi recebendo vários telex de Presidente da Empresa, Presidente da República, Ministro da Marinha, amigos, e aí foram os 15 minutos que duraram na lembrança. Mas realmente são momentos para os quais a gente se preparou ao longo do tempo. A empresa sempre deu condições, criou dentro da gente essa cultura, vamos dizer assim, desse amor pela empresa e a gente faz isso com satisfação.
SINDICATO
Sou sindicalizado num dos Sindicatos mais sindicalizados, que é o Sindicato dos Oficiais Marítimos. Sindicato dos Oficiais da Marinha. Não tenho nenhum cargo ou função no sindicato. Tenho um bom relacionamento com a direção, sou diretor, faço parte da Associação de Comandantes, sou diretor a cerca de mais de 15 anos. Faço parte da Diretoria da Associação da Marinha Mercante.
CULTURA PETROBRAS
Lembrar do passado todo esse tempo, o que fica. Como diz São Paulo, "Combati o bom combate e guardei a fé" E o amor pela empresa realmente faz a gente desempenhar a função com bastante preparo, desenvoltura e com amor . É ter noção da importância do que é uma empresa dessa para o país e a importância do papel de cada um de nós, independente da função. Haja visto aí o telegrama que a gente tem, um tripulante que está enfermo, mas ele demonstra aí satisfação que ele tem pela empresa, por ser empregado Petrobras.
ENTREVISTA
Tão logo eu vi pela intranet, tomei conhecimento eu achei uma iniciativa que estava demorando a acontecer. Porque pouca gente tem noção do quanto nesse país, do quanto a Petrobras e esses empregados obviamente, fizeram por esse país. E a gente não tem dúvida que da mesma maneira que se encontra na minha área, você vai na parte de Produção, Exploração, em várias outras áreas, você vai encontrar pessoas que realmente tem o mesmo entendimento que eu tenho. Então foi algo extremamente relevante que precisava, porque contempla essas coisas que tenderiam a se perder. Não sei quanto vai se conseguir resgatar, certamente algumas coisas vão ficar de fora, mas o que for possível. Gostei muito de ter dado essa entrevista. Não gostei da emoção que eu não esperava... Eu não esperava
RELAÇÕES DE TRABALHO
Uma das coisas assim que quando a gente estava dentro do Golfo, o telex de uma mãe querendo falar com o filho, ela era funcionária da Receita Federal, estava em Brasília e pediu para chamar, falando direto no telex não era pela fonia. Então chegava mensagem dela: "Sou a mãe do Oficial", não me recordo o nome agora... aí eu pedi, mandei quem estava digitando lá dizer para ela aguardar um instante que filho dela estava de serviço na Praça de Máquinas e iria subir. Quando ele chegou, ela pediu para ele dizer um detalhe da família para ele para ela ter certeza que estava falando com o filho. Então realmente o cenário aqui era que a gente estava numa situação realmente... e felizmente a gente... a realidade lá deu para a gente cumprir com o controle total, com zero de problema, com toda a tripulação. Todos estavam conscientes.
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