Sou José Eduardo Lima Barretto. Nasci no em Sergipe, na cidade de Estância, em 21 de maio de 1947.
Fiz todo o meu curso, médio e superior, em Aracajú, em Sergipe. Cursei Química Industrial na Universidade Federal de Sergipe e, como todo egresso desse curso da área de Engenharia Química, o grande sonho do estudante sergipano era ingressar na Petrobras, a maior empresa brasileira, um orgulho de todos os brasileiros. A Escola de Química era, na época, uma das mais tradicionais do País. Sempre os primeiros colocados de todas as turmas ingressavam na Petrobras através de concursos, que naquela época eram anuais. Então, quando eu estava concluindo meu curso, alguém da Petrobras esteve na faculdade e fez uma palestra, mostrando as vantagens da empresa, esclarecendo o que era a Petrobras. Com muita satisfação, fiz o concurso e tive a alegria de ser aprovado. Eu me formei em 1968, então o concurso eu fiz em 1968 e ingressei na empresa no dia 13 de janeiro de 1969, no Rio de Janeiro, fazendo o curso de engenharia de processamento da Petrobras.
Esse curso foi de 10 meses e em novembro de 69, meu primeiro trabalho foi aqui, na Bahia. O início foi na fábrica de fertilizantes nitrogenados que, na época, se chamava Copeb, Conjunto Petroquímico da Bahia. Então vim para cá, a fábrica estava ainda em obras e meu primeiro local de trabalho foi na obra de construção dessa fábrica, hoje considerada a semente do pólo petroquímico de Camaçari. É uma fábrica construída no município de Camaçari, onde na época só havia mais uma ou duas indústrias, e, por conta da existência de gás natural no estado da Bahia, a Petrobras decidiu aproveitar esse gás transformando-o em fertilizante. Eu vim quando a fábrica estava em fase final de construção civil e início de montagem industrial. Participei então dessa parte final de acompanhamento de obras e fui da equipe inicial de operação, tendo trabalhado em turno de revezamento, coordenador de turno....
Continuar leituraSou José Eduardo Lima Barretto. Nasci no em Sergipe, na cidade de Estância, em 21 de maio de 1947.
Fiz todo o meu curso, médio e superior, em Aracajú, em Sergipe. Cursei Química Industrial na Universidade Federal de Sergipe e, como todo egresso desse curso da área de Engenharia Química, o grande sonho do estudante sergipano era ingressar na Petrobras, a maior empresa brasileira, um orgulho de todos os brasileiros. A Escola de Química era, na época, uma das mais tradicionais do País. Sempre os primeiros colocados de todas as turmas ingressavam na Petrobras através de concursos, que naquela época eram anuais. Então, quando eu estava concluindo meu curso, alguém da Petrobras esteve na faculdade e fez uma palestra, mostrando as vantagens da empresa, esclarecendo o que era a Petrobras. Com muita satisfação, fiz o concurso e tive a alegria de ser aprovado. Eu me formei em 1968, então o concurso eu fiz em 1968 e ingressei na empresa no dia 13 de janeiro de 1969, no Rio de Janeiro, fazendo o curso de engenharia de processamento da Petrobras.
Esse curso foi de 10 meses e em novembro de 69, meu primeiro trabalho foi aqui, na Bahia. O início foi na fábrica de fertilizantes nitrogenados que, na época, se chamava Copeb, Conjunto Petroquímico da Bahia. Então vim para cá, a fábrica estava ainda em obras e meu primeiro local de trabalho foi na obra de construção dessa fábrica, hoje considerada a semente do pólo petroquímico de Camaçari. É uma fábrica construída no município de Camaçari, onde na época só havia mais uma ou duas indústrias, e, por conta da existência de gás natural no estado da Bahia, a Petrobras decidiu aproveitar esse gás transformando-o em fertilizante. Eu vim quando a fábrica estava em fase final de construção civil e início de montagem industrial. Participei então dessa parte final de acompanhamento de obras e fui da equipe inicial de operação, tendo trabalhado em turno de revezamento, coordenador de turno. Vivi os momentos iniciais dessa fábrica de fertilizantes, Fafen. Hoje tenho a satisfação de ser o gerente geral.
O pioneirismo da época era fantástico. Aqui na Bahia não havia tradição industrial, havia contos folclóricos. Por exemplo, quando começamos a fazer o recrutamento de pessoal, colocamos na imprensa a necessidade de pessoal para várias especialidades. Recrutamos a equipe de operadores e eu fui um dos instrutores dessa equipe. Um ponto interessante foi que, quando dissemos que estávamos precisando de instrumentistas industriais, apareceram músicos das mais diversas especialidades: tocadores de violão, de tambor, disso e daquilo. Como não existia uma indústria química, petroquímica - tinha a refinaria, mas, era muito fechada na época - o público em geral não sabia o que era um instrumentista industrial. Isso fez com que dezenas de pessoas aparecessem dizendo: “Eu sou músico e quero me candidatar para o concurso de instrumentista”. E precisávamos dizer que instrumentistas eram técnicos de manutenção de instrumentos industriais e não quem tocava instrumentos musicais. Foi uma experiência notável construir a partir do zero, sem nenhuma experiência anterior no próprio país. A nossa fábrica, além de ser uma fábrica de fertilizantes, é também indústria petroquímica. Nós somos pioneiros na indústria petroquímica, na indústria de fertilizantes. Haviam poucas indústrias, isoladas. No centro-sul do país havia uma indústria petroquímica no Estado do Rio e alguma coisa em São Paulo, mas, aqui na Bahia, realmente era um pioneirismo muito grande. Então foi todo um trabalho de formação cultural, treinamento e troca de conhecimento. Recrutávamos pessoas a partir de um conhecimento, a partir de um nível intelectual e de um potencial de aprendizagem. Tínhamos que dar os próprios cursos complementares dentro da própria empresa, mandar as pessoas para treinamentos em outras empresas do país e do exterior, em cursos técnicos de nível superior e técnico de nível médio. Contratamos também técnicos estrangeiros para dar treinamento dentro das fábricas. Foi todo um trabalho de crescimento conjunto, um trabalho de “precisamos, isso é importante para o Brasil, importante para o estado da Bahia. Vamos implantar e vamos vencer”. Foi uma experiência muito importante. O que ficou disso tudo é que, alguns anos depois, no início da década de 70, foi implantado um pólo petroquímico pujante, hoje o maior pólo petroquímico do Hemisfério Sul. Ele foi construído junto à nossa fábrica, inclusive, parte do terreno, onde hoje é nossa fábrica, é utilizado pela indústria petroquímica como um todo. Temos uma área de um milhão de metros quadrados e cedemos mais da metade, cerca de 500 a 600 mil metros quadrados, para outras instalações do pólo. A nossa oficina de manutenção foi transferida para ser a central de manutenção do pólo; a nossa área de utilidades, área de captação de poços, tratamento de água ficou como área de utilidades para atender todo o pólo petroquímico. Então sentimos nisso que aquele trabalho que nós fizemos para uma fábrica, irradiou para ser a semente de um pólo petroquímico, que hoje é grandioso.
Eu diria que aqui na Bahia, a Petrobras teve realmente uma participação muito grande em dois tempos muito significativos. O primeiro foi a fase heróica, histórica, anterior à minha entrada, com o descobrimento do petróleo na Bahia, a implantação da refinaria de Mataripe, que eu também tive a satisfação de ter trabalhado, ter sido gerente geral. Eu estava lá quando a refinaria completou 50 anos. A refinaria de Mataripe é mais antiga que a própria Petrobras, então foi aquele pioneirismo histórico. A Petrobras trouxe para a Bahia esse sangue do petróleo, fez com que a população baiana se sentisse comungando a alegria de ver o seu Estado crescer. Era um Estado com base apenas agrícola e teve o crescimento industrial a partir da implantação da indústria do petróleo, primeiro nos campos do recôncavo baiano, depois na refinaria. Isso tudo é no início da década de 50, final da década de 40. Foi a fase histórica: no início, o descobrimento do petróleo na Bahia e da refinaria, depois, na segunda metade da década de 60, a implantação da fábrica de fertilizantes, a partir da outra vertente da Petrobrás - o gás natural. Então, o petróleo foi descoberto, a refinaria foi construída e, depois, com o gás natural, uma fábrica de fertilizantes foi construída. Nasceu, então, a indústria petroquímica, o segundo agente alavancador do desenvolvimento industrial do Estado da Bahia, que aconteceu a partir da década de 70. A Petrobras faz parte da história, da vida, da economia, da sociedade baiana, principalmente na região da grande Salvador, do recôncavo baiano. Essa região metropolitana sofreu uma influência muito forte. Hoje, a Bahia cresceu muito, a cidade de Salvador cresceu muito, talvez, essa influência esteja um pouco mais diluída do que foi no passado. Naquela época, a influência era fortíssima, a pessoa ser da Petrobras realmente era um passaporte de entrada, de acesso a qualquer lugar, porque era visto realmente como pioneiro, alguém que fazia acontecer, que contribuía para fazer o Brasil grande.
Eu tive a oportunidade de viver um momento como este depois, com a implantação da nossa segunda fábrica de fertilizantes. A unidade de negócios Fafen possui duas fábricas, uma aqui do pólo e outra em Sergipe, no município de Laranjeiras. Tive a oportunidade de ser o gerente do projeto e gerente de implantação da fábrica. Depois fui gerente geral da fábrica, lá em Sergipe, um estado pequeno. Então, essa influência da Petrobras realmente é também notável.
Falando em Sergipe, vou voltar um pouquinho ao tempo da minha infância, da minha adolescência, por ser sergipano. Eu lembro da minha época de infância, quando a Petrobras descobriu o primeiro poço de petróleo em Carmópolis no início da década de 60, há 40 anos atrás. Foi uma grande festa, aquela expectativa: agora realmente Sergipe vai ter um lugar ao sol. Era um Estado pequeno, pobre. Então começaram a chegar as máquinas, os homens, e a economia começou a florescer. Alguns anos depois, a descoberta do petróleo na plataforma continental de Sergipe, uns 6, 7 anos depois, foi outro grande momento de crescimento para o Estado, também por conta da Petrobras.
No final da década de 70, começou a ser implantado esse empreendimento, que é a atual fábrica de fertilizantes hidrogenados, e que faz parte da Fafen. Começou a ser construído, também, um outro empreendimento na área de fertilizantes, que na época era também da Petrobras, a Petromisa. Então são dois grandes empreendimentos industriais, que Sergipe não tinha na área da indústria química e que dá um terceiro momento alavancador da economia de Sergipe. Eu diria que, quanto menor a comunidade, mais importante é a presença da Petrobras. Realmente é uma questão de mudança de cultura, é uma questão da empresa se identificar com a comunidade e a comunidade com a empresa. Ainda hoje se nota em Sergipe, que a Petrobras é considerada muito mais que uma empresa que traz ganhos econômicos para a comunidade, para a sociedade. Ela é um emblema de nacionalidade. O setor de fertilizantes foi incluído na lista das empresas do setor a ser privatizado e quase todo o setor foi privatizado efetivamente no início da década de 90. Mas, talvez, por conta desse amor da sociedade como um todo, dos empregados que fazem realmente a opinião - são formadores de opinião e levam essa opinião para a sociedade como um todo, para a classe política, para a imprensa - se formou uma massa crítica fortíssima. Isso fez com que fosse a única empresa, colocada na lista de privatização, que saiu, por conta de uma reação da sociedade. A Nitrofértil era uma empresa subsidiária que foi retirada da lista da privatização e incorporada à Petrobras com o nome de Fafen, como unidade de negócio. Eu vivi todos esses momentos. Foram momentos realmente muito fortes, porque foi um esforço conjunto. Todos os empregados, sem distinção de nível, os mais simples colaboradores, alta gerência, diretoria da empresa e com apoio da sociedade civil - os políticos, no mais amplo espectro ideológico possível, da extrema esquerda à extrema direita – todos, abraçando a causa comum que era do interesse do Estado de Sergipe. A empresa pertencia a Sergipe e trazia enormes benefícios não apenas à economia, mas à sociedade como um todo.
Acho fantástico, é um trabalho importantíssimo, porque considero que a Petrobras é muito mais que empresa, ela é um símbolo da soberania nacional, é um símbolo da nossa nacionalidade. Vestir a camisa da Petrobras, eu considero a mesma coisa que vestir a camisa do nosso País. Então esse trabalho conjunto, essa visão conjunta de Petrobras versus Brasil - até as nossas cores, verde e amarelo, são exatamente as cores da bandeira - fazem com que cada pessoa da Petrobras, cada funcionário, cada colaborador, realmente, vista camisa e sinta orgulho de ser petroleiro. Porque vê que está, não apenas tendo um emprego, um trabalho, uma remuneração adequada e compatível com o seu trabalho. Está prestando serviço a sua própria pátria. Então eu acho que o simbolismo de ser Petrobras é muito forte. Na grande maioria dos empregados da Petrobras, mesmo nos novos, a gente sente isso com muita força. No passado, eu diria que era ainda um pouco mais forte, mas isso vem sendo resgatado. Acho que esse trabalho de resgatar a memória da Petrobras como um todo, como uma empresa autenticamente brasileira, que pertence não apenas à sociedade ou ao governo, mas, a cada um dos membros da sociedade, como um patrimônio da população é um simbolismo muito forte. É um amor muito grande à causa, à empresa, porque todos nós da Petrobras sentimos orgulho de estar podendo contribuir com o crescimento da empresa, sendo parte do crescimento do nosso próprio País. É realmente o trabalhador da Petrobras que faz a Petrobras grande. Então é muito importante essa parceria com o sindicato, porque ele é o legítimo representante da classe trabalhadora. A Petrobras é feita pelos seus 35 mil empregados, que já foram 60 mil, então, a participação do trabalhador é força viva. A Petrobras é muito mais do que as máquinas e equipamentos modernos de alta tecnologia. É realmente a força da sua gente. E o sindicato representa a força viva do trabalhador da Petrobras.
Nunca participei diretamente, mas sempre tive muito bom relacionamento com dirigentes sindicais. Vimos a importância de um trabalho interativo, participativo, transparente, em que, mesmo quando posições da direção da empresa, posições gerencias, eram diferentes, sempre houve o respeito mútuo, considerando que o objetivo final era comum. Mesmo quando métodos e estilos eram circunstancialmente diferentes, sempre, todos defenderam a mesma causa. No exemplo que eu dei, da tentativa do governo no início da década de 90 de privatizar a Nitrofértil, tivemos um total apoio dos sindicatos, dos trabalhadores e das lideranças sindicais e conseguimos reverter o quadro. Então é um exemplo vivo da importância da sinergia da empresa como um todo. Independente do nível hierárquico, somos todos petroleiros, todos trabalhando por um objetivo final comum.
Participar desta entrevista foi uma experiência muito boa. Acho que realmente é uma coisa da mais alta relevância para a Petrobras. Aliás no âmbito do nosso negócio - Fafen, estamos concluindo um trabalho parecido. Contratamos um escritor para fazer uma coletânea de entrevistas e, a partir disso, escrever um livro sobre a história da Fafen. Alguns desses episódios que contei, estão também retratados lá. Eu acho que realmente temos que fazer com que a empresa não seja apenas um agente do desenvolvimento econômico, mas possa reconhecer o esforço das pessoas que contribuíram para que a empresa chegasse onde chegou. Pelo esforço de toda sua equipe, pelo comprometimento dessas pessoas e pelo envolvimento e apoio da sociedade brasileira como um todo. Então vocês estão de parabéns em estarem participando desse projeto.
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