Projeto: Memória da Petrobras
Depoimento de José Antônio Menezes
Entrevistado por Eliana Santos
Rio de Janeiro – RJ
Rio de Janeiro, 02/09/2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB531
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Gostaria de começar a entrevista fornecendo para a gente o seu nome completo, sua data de nascimento e o local de nascimento?
R – Meu nome é José Antônio Oliveira Menezes, sou natural de Ilhéus, Bahia e nasci em 14 de agosto de 56.
P/1 – Como o senhor gosta de ser chamado José, Antônio?
R – É, eu sou o chefe de máquina Menezes, ou Oliveira Menezes.
P/1 – Oliveira Menezes, tá bom? O senhor poderia falar para a gente como que foi o seu ingresso na Petrobras. Conta, assim, um pouquinho dos setores onde o senhor passou.
R – Bom, eu fui formado pelo Centro de Instrução Almirante Graça Aranha, como bacharel em Ciências Náutica e especializado em máquinas. Ingressei aqui em janeiro, primeiro de janeiro de 79 para guarnecer navios, né, na função de maquinista e conduzir equipamentos; ou seja, um petroleiro tem uma tripulação e eu fazia parte dessa tripulação, isso começou em janeiro de 1979.
P/1- Como que era um pouquinho assim, desse trabalho do senhor, o senhor pode falar para a gente um pouquinho?
R – O navio petroleiro tem algumas características, é um pouco diferente do outro. Eu iniciei num navio que chama-se de carga escura, carrega petróleo aquecido e a nossa função seria controlar os equipamentos de condução, geração de energia, geração de vapores, geração de água então nós conduzíamos equipamentos, éramos uma equipe naquela época de 33 pessoas, hoje está bem reduzido, mas em termos de horário de trabalho cada um trabalhava 8 horas e descansava as demais horas. Eram (quartos?) curtos e o oficial de máquinas trabalhava como auxiliar para fazer toda condução, conduzir o navio, dar partida em motores e manobras, acender...
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Depoimento de José Antônio Menezes
Entrevistado por Eliana Santos
Rio de Janeiro – RJ
Rio de Janeiro, 02/09/2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB531
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Gostaria de começar a entrevista fornecendo para a gente o seu nome completo, sua data de nascimento e o local de nascimento?
R – Meu nome é José Antônio Oliveira Menezes, sou natural de Ilhéus, Bahia e nasci em 14 de agosto de 56.
P/1 – Como o senhor gosta de ser chamado José, Antônio?
R – É, eu sou o chefe de máquina Menezes, ou Oliveira Menezes.
P/1 – Oliveira Menezes, tá bom? O senhor poderia falar para a gente como que foi o seu ingresso na Petrobras. Conta, assim, um pouquinho dos setores onde o senhor passou.
R – Bom, eu fui formado pelo Centro de Instrução Almirante Graça Aranha, como bacharel em Ciências Náutica e especializado em máquinas. Ingressei aqui em janeiro, primeiro de janeiro de 79 para guarnecer navios, né, na função de maquinista e conduzir equipamentos; ou seja, um petroleiro tem uma tripulação e eu fazia parte dessa tripulação, isso começou em janeiro de 1979.
P/1- Como que era um pouquinho assim, desse trabalho do senhor, o senhor pode falar para a gente um pouquinho?
R – O navio petroleiro tem algumas características, é um pouco diferente do outro. Eu iniciei num navio que chama-se de carga escura, carrega petróleo aquecido e a nossa função seria controlar os equipamentos de condução, geração de energia, geração de vapores, geração de água então nós conduzíamos equipamentos, éramos uma equipe naquela época de 33 pessoas, hoje está bem reduzido, mas em termos de horário de trabalho cada um trabalhava 8 horas e descansava as demais horas. Eram (quartos?) curtos e o oficial de máquinas trabalhava como auxiliar para fazer toda condução, conduzir o navio, dar partida em motores e manobras, acender caldeiras, controlar os equipamentos para que o navio se mantivesse sempre funcionando e chegar no porto destino, levar a carga, trazer, ou seja, era a parte de transporte da Petrobras.
P/1 – E hoje, Senhor José, é a mesma coisa, vocês continuam fazendo a mesma atividade?
R – Nós tivemos uma mudança significante no processo que, em 98, por força de lei foi criado a Transpetro que é a Petrobras Transporte e a maioria das pessoas que estavam na Fronape passaram para a Transpetro e nós tivemos que exercer as nossas funções das mesmas maneiras que exercíamos, mas o mercado mudou um pouco. A Fronape agora esta competindo com todos os navios na área de frete internacional com os mesmos valores e quem regula é o mercado de Londres e nós estamos disputando, ou seja, o que nós fazemos a cada dia, cada operação, a Petrobras faz a remuneração do frete em cima da nossa performance, se a gente não consegue fazer, essa performance é cortada. Eu atualmente fui convidado, estou trabalhando em terra na administração e todos os nossos colegas, a maioria continuam exercendo a mesma função nessa nova empresa que é a Transpetro.
P/1 – O senhor pode contar para a gente alguma história marcante, engraçada que o senhor lembra da Transpetro?
R – Na própria Fronape, Petrobras em 89, nós voltávamos da Venezuela, destino Salvador, na altura mais ou menos ali de Recife, litoral do Brasil, né, sul, latitude mais ou menos seis graus, nós recebemos um pedido de socorro de uma embarcação, e o comandante tocou (poches?) de alarme que, provavelmente, nós iríamos resgatar. Na realidade era uma escuna de turismo, estava indo a pique, eram 2 horas da manhã e nós recolhemos 19 náufragos, eram 14 homens e cinco mulheres. Estavam indo de Recife para o arquipélago de Fernando de Noronha e houve um acidente com essa embarcação e eles foram a pique. Então, pouco antes de eles perderem o contato eles ainda pediram socorro, isso deixou a tripulação toda é, digamos assim, com aquela ansiedade de achar, de salvar, ou seja, todo mundo entrou num espírito coletivo de querer achá-los, porque a partir do momento que eles perderam a embarcação nós teríamos que achá-los na escuridão do mar, eles ficaram sem iluminação nenhuma, então nós encontramos eles já o barco já descendo, tinha um tripulante no mastro e outros na balsa inflável. Para eles foi meio complicado e até marcou algumas pessoas, mas para a tripulação o resgate, a alegria de todos terem retornado com vida, em Salvador os jornais locais cobriram assim que nós chegamos. Foi uma história que marcou, porque além de trabalhar nós estávamos atentos para salvaguardar a vida humana e isso faz parte da nossa rotina, se houver algum pedido de socorro é uma determinação da IMO (International Maritime Organization) que os navios sigam para o local e tentem resgatar e dêem informações e passe informações e assim que a gente leva essa, apesar de estar trabalhando ali na máquina, conduzindo o motor e os equipamentos nós também ficamos atentos ao meio-ambiente, a salvaguardar a vida humana e a saúde. Então esse foi um dos episódios aí que nos marcou, toda a tripulação do navio Amazonas, na época o Comandante Salgado, hoje já aposentado.
P/1 – E a Transpetro assim, especificamente, o senhor se recorda de mais alguma história, mais alguma coisa que o senhor queira contar?
R – Bom, da Transpetro agora eu não tenho. Eu não estou mais na condição de embarcado, estou na condição de convidado pelo armador para trabalhar em terra. Estou trabalhando na área de suprimentos aqui, exatamente para suprir os colegas de materiais. Eu estou na área de suprimento e os pedidos são constantes, a gente tem se esforçado para atender, mas não há nada marcante que eu possa definir como um episódio isolado.
P/1 – O senhor é filiado ao Sindicato?
R – Sou, sou sindicalizado, desde que iniciei em nenhum momento saí do sindicato e já estive como suplente uma época no sindicato, não exercia a função e hoje acompanho a evolução do sindicato dentro da evolução também da Empresa. A Empresa vem evoluindo e todos nós vamos evoluindo, acompanhando a história. A nação tem mudado, todos nós temos mudado, isso faz parte do contexto do mundo.
P/1 – O senhor lembra assim, de alguma história marcante em relação as lutas sindicais? Que o senhor tenha participado ou não.
R – Na realidade, teve um episódio marcante que foi em 86, nós da área marítima, houve uma informação do sindicato que a maioria era a favor de uma greve, em 86 eu estava em Manaus, estava embarcado em Manaus, em vários navios tiveram paralisação, era próximo de carnaval se eu não me engano, era uma data muito próxima de carnaval e esse episódio, para a história da Marinha Mercante, ficou também como um marco. Porque naquela época houve uma mobilização muito grande; muitas categorias aderiram e alguns navios pararam e a Petrobras teve que tomar um posicionamento, porque estava exatamente no interstício de feriados e esse episódio na realidade marcou a nossa história. Não é que houvesse quem tinha e quem não tinha direito, foi uma questão que o sindicato tomou a posição, tomou as rédeas e passou a informação a todos os navios que eles deveriam seguir a orientação de parar, uma paralisação geral. Isso foi em 86.
P/1 – E qual foi o desfecho dessa história?
R – Bom, o desfecho foi que houveram reuniões em emergência, houve uma convocação, isso nós acompanhamos depois, que à distância é muito difícil essa comunicação, de você conseguir fechar uma comunicação entre todos os navios, porque eram portos distintos, localidades diferenciadas, na época a comunicação não era tão simples. Em 86, se voltarmos aí, nós usávamos estação costeira, as ligações, as comunicações eram através de estação costeira, fechando com a Embratel. Então, tudo se passava por uma; que uma estatal também, que é a Embratel, e não tínhamos celular com a facilidade de uma pessoa falar com outra baseado numa operadora, não existia isso.
Mas o desfecho foi que no final do período ou antes de, eu não me recordo se foi até o final do carnaval, mas houve um acordo, fecharam um acordo sindicato e Petrobras e foi um dos melhores é, digamos assim, índice que nós conseguimos na época, que também estava muito defasado e eu me lembro, eu me recordo que desde 82 os sindicatos eram separados. O sindicato que estava nos regulando, que nós éramos oficiais de máquina, eu era oficial de máquina, ele estava congelado, o salário estava congelado, então estava muito defasado e esse, essa data aí, esse ano de 86 foi um marco onde os números chegaram a um valor significante, que pudesse corresponder a atividade marítima, onde você abdica de família, abdica do meio social e você trabalha embarcado. Todo mundo sabe que é uma dificuldade. Na época se viajava nove meses seguidos, às vezes um ano seguido para depois sair de férias. Foi difícil, mas o desfecho foi favorável e foi um marco, acredito que outros colegas que estejam ouvindo vão se recordar de1986.
P/1 – Como que o senhor vê a relação do Sindicato com a Petrobras hoje? Como que o senhor via antes, já que o senhor falou que há essa mudança?
R – Bom, é uma luta. É uma luta difícil, né, o sindicato faz o trabalho, o sindicato acompanha fora da própria Petrobras o que acontece. No nosso caso o nosso sindicato ele olha o mercado de trabalho num contexto geral , que tem outras empresas com atividades semelhantes. Na área de navegação, por exemplo, tem outras empresas, tem, existe outros armadores. Então o sindicato ele acompanha e tenta passar para o armador o que que pode ser feito de melhoria para se (balizar?) o mercado, então ele não deixa essa defasagem chegar a limites, digamos assim, suportáveis, onde você tem empresas do ramo oferecendo um salário melhor, condições melhores, a tendência é você perder os funcionários. Então, o sindicato, com jeito, eu tenho essa visão de que eles são importantes e eles conseguem passar essa informação para dentro da empresa e as cabeças pensantes, administração acompanha e vai flexionando dentro do possível, ajustando. É claro que tem determinadas situações que o impasse vai existir em qualquer categoria, onde o empregador não flexiona e o sindicato pesa e às vezes o sindicato flexiona e o empregador (tesa?), mas eu considero a relação hoje da Petrobras com o sindicato uma das relações maduras e que tenha, digamos assim, na minha visão, continuidade, eu acredito que a cada dia se amadurece mais, porque todos vão ganhando tempo. O próprio pessoal sindicalizado, as pessoas de dentro da empresa vão acompanhando a história e acompanhando a história você condições de se posicionar melhor. Não é uma coisa que nasceu hoje e todas as pessoas que estão fazendo o momento não conhecem parte ou todo o processo da evolução. No caso, transporte marítimo.
P/1 – Entendo. E o senhor pode falar um pouquinho de alguma coisa que o senhor queira apontar como marcante nesses 50 anos de Petrobras. Tem mais alguma coisa que o senhor se recorde que o senhor queira apontar?
R – Eu, o que eu posso falar é que esse orgulho de pertencer a Petrobras ele está em todos nós, todos os funcionários da Petrobras, e tenho certeza que de muitos brasileiros que hoje tentam entrar na empresa quando há um concurso, se amanhã ou depois houver qualquer tipo de chamada para um concurso, a quantidade pessoas eu acredito que seja imensa porque todos tem esse sonho de trabalhar numa das maiores empresas do mundo, a maior da América do Sul. Isso é uma satisfação, e o nível que a Petrobras exige do próprio funcionário ele contagia os demais funcionários e todos tem uma qualificação, todos tem uma, digamos assim, um quilate, um brilho. É um orgulho, tenho certeza que todos que trabalham na Petrobras se orgulham dessa empresa e se eu pudesse, e se eu puder eu vou fazer tudo para que meus filhos façam o concurso e entrem na empresa e prossigam, porque faz parte da nossa nação, da nossa história da nossa nação desde 50, da década de 50, 54 que a Petrobras vem explorando, a própria Fronape nasceu um pouco antes, com uma pequena frota de navios e hoje, tá dentro da estrutura, digamos assim, do mercado regulador de frete, a Fronape hoje é estratégica para a Empresa, na realidade assim, pensarmos hoje em qualquer conflito mundial, se você tem sua própria frota você tem condições de fazer a movimentação de todos os derivados de petróleo, nós temos uma produção, nós temos uma equipe excelente na área de exploração e produção, aí junta toda essa força de trabalho e eu tenho orgulho de fazer dessa força.
P/1 – Seu Menezes, o que o senhor achou de ter participado, né, desse projeto Memória Petrobras trazendo para a gente o seu depoimento?
R – Bom, é só enaltecer a iniciativa de toda equipe que está trabalhando nessa, nessa memória, que, na realidade, 50; 50 anos é, meio século na história do nosso país é significante, e fazer parte dessa história é mais ainda. Eu só tenho que agradecer, enaltecer toda a equipe e bater palmas para que daqui a mais 50 anos estejamos fazendo com outros colegas a entrevista do século de Petrobras.
P/1 – Bom, senhor Menezes, muito obrigada pela sua entrevista, né, a gente agradece.
R – Eu que agradeço.
P/1 – Obrigada.
(Fim da fita Mpet/CBTR 006)
(quartos?)
(poches?)
(balizar?)
(tesa?)
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