Meu nome é Jorge Souza Cerqueira. Sou natural de Salvador, Bahia. Ingressei na Petrobras em 15 de outubro de 1974.
Acho que a grande maioria do brasileiro, principalmente na minha época, tinha vontade de trabalhar na Petrobras, porque era uma empresa bastante conhecida no Brasil, continua sendo. A própria performance do petroleiro, era alguém que recebia um bom salário, que era bem tratado. A empresa dava um certo apoio. Um pouco antes de mim, ainda tinha distribuição de gás de cozinha, no natal tinha cesta e presente para a família. Então era uma empresa que oferecia, além do bom salário, benefícios que encantavam qualquer um.
Prestei concurso para eletricista e instrumentista de manutenção. Depois teve um curso de formação e eu ingressei.
Houve alguns fatos marcantes. Quando fui fazer inscrição, lá na refinaria de Mataripe, no Clube dos Engenheiros onde atualmente é o Cep Mataripe, tinha tido um incêndio nos tanques de petróleo ao sul da unidade 6, unidade de craqueamento. Muita gente ficou com medo. Já entrar para fazer o concurso e, incêndio? O pessoal ficou meio com medo e tal, mas enfrentou, se inscreveu e depois fez o concurso. Quem passou, seguiu adiante, exame médico e foi em frente. Esse foi o primeiro fato, naturalmente não muito positivo, grandioso que aconteceu. Outro fato, foi começarmos a trabalhar num período, em que a empresa não tinha equipamentos de proteção. Teve um período, que também não tinha fardamento, a gente ia para a área trabalhar com a nossa roupa, de tênis. Às vezes encostava o pé em tubulações quentes e aí o tênis, cheio de pontinhos, o solado derretido. Você trabalhava em alturas, sem cinto de segurança. Pouco tempo depois, houve uma campanha maciça para o uso de capacete. A partir daí, começou a se formar uma melhor imagem de segurança dentro da empresa, mas, no início, era um pouco relaxado. Hoje, considero que a imagem da empresa em termos de segurança está muito boa,...
Continuar leituraMeu nome é Jorge Souza Cerqueira. Sou natural de Salvador, Bahia. Ingressei na Petrobras em 15 de outubro de 1974.
Acho que a grande maioria do brasileiro, principalmente na minha época, tinha vontade de trabalhar na Petrobras, porque era uma empresa bastante conhecida no Brasil, continua sendo. A própria performance do petroleiro, era alguém que recebia um bom salário, que era bem tratado. A empresa dava um certo apoio. Um pouco antes de mim, ainda tinha distribuição de gás de cozinha, no natal tinha cesta e presente para a família. Então era uma empresa que oferecia, além do bom salário, benefícios que encantavam qualquer um.
Prestei concurso para eletricista e instrumentista de manutenção. Depois teve um curso de formação e eu ingressei.
Houve alguns fatos marcantes. Quando fui fazer inscrição, lá na refinaria de Mataripe, no Clube dos Engenheiros onde atualmente é o Cep Mataripe, tinha tido um incêndio nos tanques de petróleo ao sul da unidade 6, unidade de craqueamento. Muita gente ficou com medo. Já entrar para fazer o concurso e, incêndio? O pessoal ficou meio com medo e tal, mas enfrentou, se inscreveu e depois fez o concurso. Quem passou, seguiu adiante, exame médico e foi em frente. Esse foi o primeiro fato, naturalmente não muito positivo, grandioso que aconteceu. Outro fato, foi começarmos a trabalhar num período, em que a empresa não tinha equipamentos de proteção. Teve um período, que também não tinha fardamento, a gente ia para a área trabalhar com a nossa roupa, de tênis. Às vezes encostava o pé em tubulações quentes e aí o tênis, cheio de pontinhos, o solado derretido. Você trabalhava em alturas, sem cinto de segurança. Pouco tempo depois, houve uma campanha maciça para o uso de capacete. A partir daí, começou a se formar uma melhor imagem de segurança dentro da empresa, mas, no início, era um pouco relaxado. Hoje, considero que a imagem da empresa em termos de segurança está muito boa, não só da refinaria onde eu trabalhei, como nos outros órgãos também.
Eu me sindicalizei. Era de praxe quando a gente entrava na Petrobras, naquela época, já ter alguém do sindicato com a ficha de filiação e alguém também filiando à Petrus nossa previdência privada. Normalmente era uma coisa que era feita em conjunto. Você saía do setor pessoal já com o crachazinho, aí já começavam as filiações ao sindicato e à previdência da Petrus. Minha primeira participação no sindicato foi no período de 80 a 82. A nossa direção inclusive teve nove meses somente, o período de uma gestação. Entramos em 82 e, em julho de 83, fomos cassados por causa de uma greve que fizemos aqui na Bahia e em Paulínia. Uma faixa de 350 petroleiros foi demitida nesse período. A gente lutava por manter a classe dos petroleiros única, porque uns decretos, do governo, estavam criando uma nova classe dentro da Petrobras: o pessoal sem periculosidade, o pessoal sem gratificação de férias e tal. Tinha uma certa diferença e a gente lutou contra isso também.
Na verdade, essa greve seria uma greve das estatais. Estaria o Banco do Brasil, os bancários da Caixa Econômica Federal e outras empresas, porque o decreto ia criar uma mudança dentro das estatais. Foi feita a articulação e, no finalzinho, o governo criou um parágrafo e tirou o Banco do Brasil, por exemplo. Aí a gente já começou a perder substrato, e um substrato forte: Banco do Brasil, Caixa Econômica e tal. No final, os bancários, aqui na Bahia, resolveram não sair em greve e ficou somente a Petrobras. No dia 6, o pessoal de Paulínia saiu em greve e, no dia 7, como estava acertado, a gente saiu em greve pelo movimento e em apoio a Paulínia também. Ficou acertado das outras refinarias saírem e, no final, terminaram não saindo. Ficou somente a refinaria de Paulínia e Mataripe e logo em seguida saíram as demissões. Um fato histórico é que meu nome foi o primeiro da lista das 60 ou 62 demissões, que foram estampadas. Apesar de ter a estabilidade sindical, recebemos a carta de demissão. Depois eles trocaram, porque como tinha estabilidade sindical, eles mandaram uma outra carta dizendo que eu estava afastado. Foi toda diretoria que sofreu isso aí. Estávamos afastados para apuração de falta grave, um processo administrativo, e a gente aguardou lá fora. Aí, a gente começou a se movimentar, ir a Brasília e tal. Conseguimos que todo mundo retornasse. Alguns companheiros morreram no meio do caminho, infelizmente, mas a gente conseguiu retornar. Toda a diretoria foi cassada e nós conseguimos nossos direitos políticos de volta com o ministro Almir Pazzianoto, se não me engano. Depois disso, o sindicato sofreu intervenção federal. Foi criada uma comissão - com três representantes indicados pela empresa - que ficou gerindo o sindicato, administrativamente, até a primeira eleição em 84, 85. O sindicato ficou quase um ano sob intervenção, e entrou uma diretoria comandada por Mário Lima como presidente. Ele foi até deputado federal, também anistiado, tinha sido cassado em 64. Houve a eleição, a gente disputou com ele e perdemos, porque teve um companheiro, de base, que entrou com um pedido de impugnação de algumas candidaturas nossas. Aí a chapa ficou definhada e a gente, cassado, também não podia ir para a refinaria fazer trabalho.
Voltei ao sindicato em 94 e, até 97, se não me engano, foi um período menos conturbado. Aí participei da chapa e fui ser diretor de novo. Quando fomos demitidos, eu fui para a Nitrofértil. Houve um acordo e, nesse acordo, seis pessoas retornaram para a Nitrofértil, que era subsidiária da Petrobras, hoje é Fafen. Lá eu continuei participando, fiz parte da comissão de negociação. A Fafen era petroquímica, tinha tabela salarial da Petrobras, porque ela era uma subsidiária, mas a negociação dela era à parte, porque o pessoal estava ligado à diretoria do Sindiquímica. Antigamente, não era junto e tinha um núcleo da comissão da Nitrofértil que discutia a pauta salarial. A tabela salarial era igual, quando nós chegamos já era unificada. Então participei da comissão de negociação por dois anos seguidos. Fui, também, vice-presidente da Cipa na Nitrofértil. Com a anistia de 6 de outubro de 88 ao pessoal, que estava fora da Petrobras em outras subsidiárias e tal, foi dado o direito de retornar à base de onde tinham saído. Então retornei para a refinaria, oficialmente, em 6 de outubro de 1988 e estou trabalhando até hoje. Alguns fatos relevantes dessa greve é que, no período, a Petrobras demitiu mulheres grávidas, pessoas que estavam em licença médica. Depois ela chamou o pessoal e tal, mas no momento, o presidente da Petrobras na época, a gestão era de Shigeaki Ueki, ele deixou a coisa ‘canetada’ e viajou. A comissão de negociação tentou falar com ele e ele não estava no Brasil. Tinha viajado, se não me engano, para o Japão para um encontro não sei das quantas. Depois nós começamos a batalhar. Fomos a Brasília fazer gestão junto aos deputados, fizemos um documento e conseguimos uma comissão de uns nove deputados federais, eu fazia parte da comissão. Eu e o companheiro Aluísio, que era também da diretoria executiva do sindicato na época, fomos ao encontro com Tancredo Neves. Passamos um documento para ele e tivemos a afirmação dele. Caso ganhasse - ele estava naquela disputa eleitoral no congresso, a eleição indireta - resolveria o problema dos petroleiros que tinham sido demitidos. Depois desse encontro, ele foi para o último comício das diretas lá em São Paulo e colocou essa questão dos petroleiros, do pessoal da Petrobras. No que seria a posse dele, infelizmente, ele faleceu e veio José Sarney. Ele tinha deixado as coisas já bem montadas e nós estivemos na posse do indicado, Aureliano Chaves, que seria o ministro das Minas e Energia. Nessa posse, ele apresentou para a gente o Hélio Beltrão, que seria o presidente da Petrobras. Então foi a nossa primeira audiência com o ministro Aureliano Chaves, empossado. Estivemos na posse, também, do ministro da Previdência Valdir Pires, do Trabalho foi o Almir Pazzianoto e tal. A gente conversou sobre situação dos petroleiros e foi criada uma comissão, que eu fiz parte, para discutir com o indicado da Petrobrás. O Hélio Beltrão indicou o dr. Valter Vilela, para coordenar a comissão pela Petrobras. Depois de algumas discussões, outros companheiros participaram depois da comissão, o pessoal começou a retornar.
Nós, demitidos, fomos garimpar ouro, um trabalho bastante pesado. Levamos três meses assim. Quando viemos de lá, juntamos um grupo, conseguimos uma Kombi e fomos vender peixe. Foi um período de recessão. Você não encontrava trabalho e a nossa área é muito específica. Estava rolando pelas empresas do pólo uma chamada lista negra. Você ia para tentar conseguir alguma coisa, trabalho, chegava lá, seu nome estava na lista e o pessoal não te assumia, não empregava mesmo. Tínhamos um colega que começou a trabalhar e a lista chegou um pouquinho depois dele. Ele estava lá trabalhando, chegaram dois vigilantes, encostaram um de cada lado, pediram a ele para parar, pegar o material, trocar de roupa, levaram até o armário, até ele ir embora. Era uma situação bastante complicada. Nessa época, inclusive, eu estava na comissão e, quando nós estivemos reunidos com o presidente da Petrobras, o Dr. Hélio Beltrão, eu coloquei a questão para ele e ele perguntou para o Vilela: “Isso é verdade?” Ele falou: “É, infelizmente é verdade”. E ele mandou que acabasse com a questão dessa lista negra, que isso é uma perseguição a mais às pessoas, que estavam querendo se recolocar e talvez buscar um novo, sei lá, mudar de empresa e tal. Mas foi pedido um número para ser demitido: “Quero tanto do seu setor e tantos do seu”. O chefe tinha que tirar alguém que ele não gostava, alguém que não sei o quê, um cara que dava trabalho lá, que tinha um problema médico, o chefe aproveitou para se ver livre. Tinha momento em que você não tinha condição, não tinha mais de onde tirar, falava: “Eu quero e tal”. E o cara tinha que tirar. Muita gente que não se envolvia, saiu. Muitas pessoas se sentiam assim, ultrajados. Isso aconteceu em 7 de julho de 1983. Vai fazer 20 anos.
O sindicato, independente de ser dos petroleiros, tem uma função muito importante nessa balança entre o capital e o trabalho. Ele é uma parte importante, As categorias que não têm um sindicato ativo, atuante, estão bem aquém em termos de perda. O nosso sindicato é um grande sindicato, tanto no Estado da Bahia como Nacional. Temos uma FUP, que faz esse trabalho de agregação. Temos a CUT que é nacional, uma entidade superior à FUP, que é uma federação também de ação nacional. Então o sindicato tem uma importância muito grande, porque quanto mais expressivo ele é, melhor para o trabalhador e para o próprio Brasil, porque ele é democracia. Democracia é isso: discussão, busca do entendimento, busca do meio termo, onde ninguém saia perdendo. Tem momentos que o sindicato tem que realmente apertar, faz parte da disputa capital/ trabalho. Segundo Marx, quando você está perdendo massa de salário, alguém está ganhando. Essa coisa não se esfumaça no ar, é coisa migratória. Quando a gente consegue puxar dos empresários, a gente está melhorando o poder de compra, a capacidade dos trabalhadores, a massa salarial do trabalhador está aumentando. Quando não, o que acontece? Acontece o que a gente vê no Brasil e nos países da América Latina, que estão numa situação igual ou pior que o Brasil: uma concentração de renda muito grande. O sindicato tem uma importância muito forte nisso aí, porque a luta dele vai melhorar essa distribuição de renda e distribuição de renda salutar, que vai aumentar o emprego, você vai ter condição de melhorar sua qualidade de vida e vai oxigenar toda a política, a economia, a educação. Quando a gente vê concentração, são as republiquetas que a gente vê, um pequeno grupo com todo o capital, uma população depauperada, sem capacidade de compra, sem capacidade produtiva, sem capacidade intelectual.
Vejo isso como um grande lance e uma demonstração de grandes mudanças. A gente poderia dizer que a Petrobras seria nessa disputa, se a gente for levar para esse ponto bem pequeno, a Petrobras seria o capital e o Sindicato seria o trabalho. Esses dois pólos, necessariamente, não têm que ficar se digladiando sempre. Tem trabalhos que se pode fazer de mãos dadas, em conjunto, em prol de uma história que serve para o futuro, para a gente mudar os rumos. Acho esse trabalho uma grande sacada.
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