IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Jorge Silva, minha data de nascimento é 22 de maio de 1927, nasci na capital do Estado do Rio de Janeiro.
INGRESSO NA PETROBRAS
Entrei em na Petrobras em 13 de setembro de 1956. Nós fomos direto para o Edifício Barcellos. A Petrobras, no início, estava somente ali, na Avenida Rio Branco, n.º 81, Edifício Mercantil. Vou contar uma pequena história: eu tinha trabalhado na Hamilton do Brasil, depois, já tinha saído da Petrobras e fui trabalhar como auditor do Laboratório Lerdele. Por coincidência, o Walter Miguez de Mello, irmão do Leopoldo Miguez de Mello da Petrobras, era médico do [Hospital] Getúlio Vargas. Um vendedor, o Dimitri, foi lá me procurar e disse: “Jorge, a Petrobras comprou as máquinas Foremost da Hamilton, e ela quer um técnico para implantar aquilo ali”. Eu falei: “Estou aqui como auditor, com o doutor Walter Miguez de Mello, vou chamar o meu irmão que já trabalhou na Hamilton, vou levar o meu irmão pra lá”. O Marshall Zoboran, que já faleceu, era chefe do SEL, Serviço Executivos Locais, onde a máquina estava instalada. Eles não tinham condições de começar a iniciar a máquina. Para não largar a auditoria que estava fazendo no Lerdele, eu indiquei meu irmão e ele ficou lá. Passou um tempo, o Marshall me chamou e perguntou: “Você não quer sair daí? Porque, pelo menos, a Petrobras é uma grande empresa, você vai se projetar e o Lerdele é uma empresa americana, a gente não sabe o que pode ocorrer”. Aí eu recorri ao presidente do Lerdele, ao Walter Miguez de Mello, e ele disse: “O meu irmão trabalha lá. Aqui eu não sei se você vai ficar nove anos, é melhor você ir para lá”. Eu ganhava 5.500 e fui para ganhar 1.500; eu tinha uma filha com seis anos, mas fui assim mesmo. De auditor, passei a contabilista-adjunto, fui lá pra baixo, mas eu acreditei na empresa. Em 1972, fui nomeado contador-geral, fui subindo os graus, [depois] contador seccional. Por sorte, eu fazia o...
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Meu nome é Jorge Silva, minha data de nascimento é 22 de maio de 1927, nasci na capital do Estado do Rio de Janeiro.
INGRESSO NA PETROBRAS
Entrei em na Petrobras em 13 de setembro de 1956. Nós fomos direto para o Edifício Barcellos. A Petrobras, no início, estava somente ali, na Avenida Rio Branco, n.º 81, Edifício Mercantil. Vou contar uma pequena história: eu tinha trabalhado na Hamilton do Brasil, depois, já tinha saído da Petrobras e fui trabalhar como auditor do Laboratório Lerdele. Por coincidência, o Walter Miguez de Mello, irmão do Leopoldo Miguez de Mello da Petrobras, era médico do [Hospital] Getúlio Vargas. Um vendedor, o Dimitri, foi lá me procurar e disse: “Jorge, a Petrobras comprou as máquinas Foremost da Hamilton, e ela quer um técnico para implantar aquilo ali”. Eu falei: “Estou aqui como auditor, com o doutor Walter Miguez de Mello, vou chamar o meu irmão que já trabalhou na Hamilton, vou levar o meu irmão pra lá”. O Marshall Zoboran, que já faleceu, era chefe do SEL, Serviço Executivos Locais, onde a máquina estava instalada. Eles não tinham condições de começar a iniciar a máquina. Para não largar a auditoria que estava fazendo no Lerdele, eu indiquei meu irmão e ele ficou lá. Passou um tempo, o Marshall me chamou e perguntou: “Você não quer sair daí? Porque, pelo menos, a Petrobras é uma grande empresa, você vai se projetar e o Lerdele é uma empresa americana, a gente não sabe o que pode ocorrer”. Aí eu recorri ao presidente do Lerdele, ao Walter Miguez de Mello, e ele disse: “O meu irmão trabalha lá. Aqui eu não sei se você vai ficar nove anos, é melhor você ir para lá”. Eu ganhava 5.500 e fui para ganhar 1.500; eu tinha uma filha com seis anos, mas fui assim mesmo. De auditor, passei a contabilista-adjunto, fui lá pra baixo, mas eu acreditei na empresa. Em 1972, fui nomeado contador-geral, fui subindo os graus, [depois] contador seccional. Por sorte, eu fazia o imposto de renda do presidente da Petrobras, Geonísio Barroso, fiz do [Ernesto] Geisel também, e eles foram me reconhecendo, com isso peguei, assim, uma amizade muito grande. Também [conheci] o [Antônio Ferreira] Bastos e o Ramiro [Tostes]. Assim que saímos em sentido à Ambep [Associação dos Mantenedores-Beneficiários da Petros]. Por que a Ambep? Era para fazer um congraçamento de todos nós, para continuar aquilo que era a Petrobras. O escudo da Petrobras tem um elo, são dois brasões que unem a Ambep e a Petrobras.
CONTADORIA SECCIONAL
O setor [em que eu trabalhei] era uma contadoria seccional, chefiada pelo falecido Jorge Val de Oliveira. Depois, com a saída dele, entrou o Valdir Mili de Campos. A essa altura, eu já era chefe da contabilidade de custo e o contador era o Francisco Brandão Cavalcanti e o falecido José Del’aera estava no Bancid [Banco da Cidade do Rio de Janeiro], na antiga Conge, que era uma Contadoria Geral da Petrobras. As contadorias seccionais eram subordinadas à Conge. No Rio de Janeiro, para não haver repetição de serviço, quem fazia toda a contabilidade era a contadoria seccional, onde eu estava lotado. Fiquei uns 14 anos lá. Depois eu larguei a contadoria geral. Acredito que ainda tenha esse sistema: a Petrobras tem as contadorias seccionais; uma contadoria seccional faz a execução e a contadoria-geral, que hoje é o serviço financeiro – já está tudo mudado – faz toda a parte normativa, relativa à divisão de planejamento. Aí, fui para ser o contador-geral.
AMBEP / DEFESA DA PETROS
A gente vai subindo, grau a grau. Foi ali que apareceu essa amizade com o Bastos, que era contador; o Ramiro era do planejamento do orçamento, havia uma relação muito grande. Daí começou a Ambep, ela foi sendo criada através de nós, que fomos nos aposentando. O que nós sentíamos? No momento em que a gente se aposentou, o plano de assistência médica supletiva não se estendia ao aposentado. A Petros tinha um convênio, com alguns planos de saúde, e a gente pagava metade do valor. Quando surgiu a primeira reunião, com o Marechal Adhemar, nós não tínhamos a AMS [Assistência Médica Supletiva]. Tivemos que criar uma associação para complementar esse AMS. Para nossa sorte, que estávamos aposentados, quando chegou a época do Marechal Adhemar de Queiroz, saiu para os aposentados também. Mas era limitado, como é até hoje. Por exemplo, a minha filha tinha direito até 21 anos ou até que se casasse. Por isso que o Bastos imaginou a criação de uma associação que complementasse essa AMS. Eles foram ao Haroldo de Oliveira, que era o chefe do Semed, Serviço Médico Executivo Local, no Edifício Cardeal Leme. Dentro do antigo SEL, nós tínhamos um Semed, que atendia a todos que estavam naquela região. A Petrobras tinha mais de 20 edifícios alugados, com tudo que era seção espalhada. É por isso que no Edise nós juntamos todos. O Semed ficou encarregado da parte da implantação da AMS. O [Mario] Gracindo trabalhava na parte pessoal, o Bastos também tinha muito conhecimento, [inclusive] junto ao Jarbas Passarinho, e o [Raimundo] Zury veio com ele. Eles conversaram com o Haroldo de Oliveira e disseram: “Não tem problema. Vou te apresentar a Dona Delma”. Aí começou o esboço para a criação de uma associação. Outra coisa: na área previdenciária, só os sindicatos – pra parte de ativos – tratavam dessas questões, então tivemos que pensar numa associação que pudesse entrar nesta área, para defender e preservar a Petros. O Márcio Fortes era do conselho da Petrobras e o José Sarney era presidente do Brasil e eles criaram um Fundo Nacional de Desenvolvimento Econômico, que retiraria 20% do patrimônio líquido das fundações estatais e nos devolveria no prazo de 20 anos. Os sindicatos não podiam entrar porque não era trabalhista, era previdenciário. A nossa sorte é que a Ambep foi criada para defender os interesses dos associados e preservar a fundação de previdência, [conforme] está escrito no estatuto. Para que os 25% fossem retirados do patrimônio da Petros, o Márcio Fortes já tinha dado uma ordem a Petrobras, que se não saísse esses 25%, não haveria um tostão de recolhimento de todos os empregados que estavam no Plano Petros para a Petros, quer dizer, ia deixar a Petros sem arrecadação. Aí entramos com uma liminar. O Bastos já havia falecido, o Haroldo era o presidente, o Ramiro, vice, eles foram chamados na Petrobras.
Essa é a importância da Ambep, ela não é sindicato, ela não tem o objetivo de reivindicação de sindicato, ela foi criada para preservar os nossos benefícios, porque se nós fôssemos viver com a parte do INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], muita gente hoje estaria trabalhando. Eu, por exemplo, praticamente estou com 2.035 pelo INSS, não chega nem a quatro salários, e eu saí com 37 [anos] de serviço, vejam como é importante esse fundo de pensão. Nesse momento, o juiz pediu o nosso estatuto, falou: “Eu quero saber se eles têm direito a essa liminar”. Porque se fosse uma associação, a Aepet [Associação dos Engenheiros da Petrobras], por exemplo, que é diferente – a Aepet é para engenheiros –, ou se fosse a Sontape [Sociedade Nacional dos Trabalhadores e da Ativa do Sistema Petrobras, Petros, Afins e Voluntários] ou a Astap [Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas da Indústria de Destilação e Refinação de Petróleo], ele não aceitaria. Por isso que nós tivemos cuidado de colocar o nome Associação de Mantenedores e Beneficiários da Petros. Isso deu uma margem muito grande de defesa para todos nós que estamos aposentados, e [também para pensionistas] dentro do sistema Petrobras. Houve outra segunda questão, já com o Collor: o certificado de privatização. Aquela liminar que nós fizemos, o juiz concedeu e o governo foi obrigado a retirar, o FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento Econômico]. O Collor entrou com o certificado de privatização e sindicato não podia entrar [contra] porque eles só tinham direito à área trabalhista, mais uma vez a Ambep foi chamada. Agora, houve um custo, e esse custo nós pagamos, não cobramos à Petros nem à Petrobras.
FUNDAÇÃO DA AMBEP
A parte principal [da fundação da Ambep] é essa: viu-se que havia intenção e havia condições de criar a Ambep. Primeiro, nós três nos reunimos na casa do Bastos. Aí descobrimos que um dos criadores da Petros, chamado Ramiro Barcelos Tostes, era vice-presidente da Associação Riograndense da Rua D’Ajuda, que é perto daquele Senac [Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial], quase em frente à estação do metrô [do Largo] da Carioca. Ele como vice-presidente e, participando da criação do grupo da Petros, ele era o melhor que a gente tinha. O Bastos procurou por ele e, num determinado horário, ofereceu a sala de reuniões e cada um começou a escrever um pedaço do estatuto, como seria a Ambep; cada um fez a sua parte. Eu fiz a parte financeira, o Bastos, o Ramiro, o Zury e o Gracindo começaram a fazer a parte social, a parte previdenciária – porque, depois, nós tivemos a diretoria de benefícios, uma diretoria social. Como eu vim da área financeira, puxei a área financeira, o Ramiro puxou a área previdenciária, o Gracindo, a área administrativa, e o Zury, a parte social. O Zury trabalhou no Serviço de Relações Públicas da Petrobras, ele tinha uma experiência muito grande na parte social; o Ramiro na parte de previdência, porque ele participou do grupo da criação da Petros, ele e o Daphines. Com isso, formou-se um consenso: “Podemos criar uma associação”. Mas, mesmo assim, nosso nome foi para o SNI [Sistema Nacional de Informações], o Coronel Rébulla queria saber se nós queríamos uma associação para contestar atos da Petrobras e da Petros. Até certo ponto eles tinham razão, pois eles queriam dar toda a tecnologia, vamos assim dizer, toda aquela complexidade, que é a AMS, para uma associação, para que ela pudesse complementar, a responsabilidade é muito grande. Se fosse um pessoal para criar problema com a empresa, ia dar o maior problema. Quando a Ambep foi criada, os planos de saúde entraram na justiça, dizendo que nós estávamos concorrendo com a Golden Cross, e a Amil. Primeiro, a nenhum associado é cobrado o plano de saúde; ele paga o mesmo valor que ele pagaria na Petrobras. Pois é, para minha filha, até hoje, eu uso a Ambep, e ela paga o mesmo valor que eu pago. Quando chegar numa operação, a mesma coisa. Nós não tínhamos móveis, não tínhamos nada. O presidente foi com o chefe do administrativo, no Segep [Secretaria Geral da Petrobras], e conseguimos os móveis, tudo de segunda mão (risos).
ASSISTÊNCIA MÉDICA SUPLETIVA
A AMS evoluiu muito na empresa, não é como era antigamente. Quando nos aposentávamos, praticamente perdíamos a AMS. Nós botamos a Amea, Assistência Médica da Ambep. Não tínhamos nada lá, íamos a Petros, a Petros: “Estão aqui os convênios, vocês vão lá e pagam lá direto”. Muito bem. Foi aí que o Bastos, o Zury e o Gracindo se reuniram na casa do Bastos e disseram: “Vamos criar uma associação para complementar esse AMS”. Criaram em 14 de outubro de 1981. Em 1985, 1986, mais ou menos, através de acordos, entrou a ACT [Acordo Coletivo de Trabalho]. A AMS, para os aposentados, depende sempre do Acordo Coletivo de Trabalho. Todo ano é feita uma proposta; na proposta de aumento também apresentam, no Acordo Coletivo de Trabalho, a chamada AMS para aposentados. Portanto, a AMS não é da Petros, é da Petrobras. Alguns sindicatos fizeram uma confusão muito grande, ameaçando aqueles que não repactuassem, que iam perder a AMS. Mentira Não tem na Petrobras nenhum manual, nenhuma norma que fala da AMS do aposentado. A AMS se faz através de um acordo, geralmente num prazo de dois, três anos. Foi feito um acordo agora, um ACT, vai ter validade de dois anos. Nessa validade, os aposentados continuam tendo direito. Por que nós criamos a Ambep? Vamos admitir que chegue um novo governo [dizendo]: “não quero mais esse acordo”, aí a Ambep entra. Sempre havia uma ameaça de que a AMS podia um dia acabar para o aposentado, pois a AMS é para quem está na ativa. Nenhuma empresa [paga junto]; o Banco do Brasil, [também] paga separado, [como] Furnas, que é uma enormidade. Ou seja, não está dentro da Petrobrás. Na Petrobras, dentro do acordo, que é chamado ACT, consta a AMS para aposentado. Por isso que todo ano, quando fecha o balanço, ela verifica qual foi o custeio desse plano. Hoje, todos nós, ativos ou aposentados, nos nossos contracheques, contribuímos, mesmo que não use, com uma parcela para pagar esse custeio. A tendência desse custeio é aumentar, porque quanto mais envelhece, mais o custo aumenta.
AMBEP / PRIMEIROS FILIADOS
A Ambep foi criada com esse objetivo, por isso nós criamos [muitas] delegacias. Ela está espalhada no Brasil todo. Não há número de associados igual à Ambep, são 30, 35 mil associados, fora os dependentes. Pode botar aí quase uns cem mil. Qual é o plano de saúde que não quer isso? O Bastos, o Gracindo e o Zury foram a cada seção mostrando por que tinha que criar a Ambep. Isso se espalhou e todo mundo queria. Você chega perto da pessoa e diz o seguinte: “Se o teu dependente passar de 21 anos, perde a AMS da Petrobras, mas na Ambep fica pagando a mesma coisa. Só que ainda tem que descontar em folha”, a pessoa aceita. Hoje eu pago uma consulta, digamos 25, 50 reais. Plano de saúde é tudo limitado, a Golden Cross, o Bradesco, são todos limitados. Na Petrobras não está limitado. A Amea é o carro-chefe da Ambep. No dia que tirar a Amea, a Ambep passa a ser como se fosse um clube. [Para isso] já tem o CEPE [Clube de Empregados da Petrobras], não precisa. A Ambep foi criada com dois objetivos: primeiro, preservar a Petros. Se nós não preservarmos a saúde financeira da Petros... Olha o que deu agora na Real Grandense, olha o que está dando na [Fundação] Refer, A única associação que tem condição de nos defender, porque consta no estatuto, é a Ambep. A Petrobras está cheia de associação, mas não tem uma que tenha no seu estatuto essa defesa da preservação da sua fundação. Para nós interessa que a fundação fique cada dia melhor com a sua saúde financeira, porque é a nossa garantia de benefício. Não somos mais assalariados, a empresa não tem mais nada com a gente, nós recebemos a AMS, recebemos a Amea no fundo de garantia. Foi dada baixa em nossa carteira, pois, naquela época, para se aposentar, tinha que apresentar ao INSS que você foi demitido. Hoje não precisa. Então, a única que tem condição de defender os seus aposentados e pensionistas é essa Associação. Para se criar uma outra vai ser uma concorrência terrível, um custo enorme, também vai ter que fazer o sacrifício.
AMBEP / AMPLIAÇÃO ESTRUTURAL
Durante esses anos todos, todo dinheiro que sobrava, a gente comprava uma delegacia, por isso que ficou essa sede. Tudo que sobrava, a gente botava numa poupança, como aconteceu com o Cedis [Centro de Desenvolvimento e Integração Social]. Na hora que a gente via que tinha dinheiro para comprar, a gente comprava à vista, como aqueles [prédio] de dois andares, e mais quatro salas; foi tudo comprado à vista. Foi o dinheiro que nós fomos acumulando da receita de contribuição. É por isso que os seus diretores e dirigentes não podem ser remunerados, porque se for remunerado, nós perdemos a isenção e vamos pagar 30% de imposto de renda sobre a diferença entre a receita e a despesa. No balanço passado deu um milhão [de reais], só aí seria 300 mil. Essa associação ficaria inviável. A Associação começou com a maior dificuldade e nós fomos para a sobreloja da avenida onde estava o Edifício Astória, na base de camaradagem, a gente ficava com uma sala, subia a escada e estava lá. Edifício Astória é quase em frente ao CEP e a Caixa [Econômica Federal]. A gente pagava um aluguel simbólico, não chegava nem a 200, a Petros fez isso pra gente. Aquilo era da Petros, não era mais da Petrobras. Ficamos ali para depois passarmos para o prédio Serrador, aí o aluguel já melhorou e nós ficamos com o andar inteiro. Também, nós pagávamos três, quatro mil. Puxa Um andar inteiro na Cinelândia Nós fizemos um leasing. Aí é que entra a parte financeira que vou te explicar: tinha que abrir uma conta, cada um deu 590 reais do seu bolso, porque a Petros falou o seguinte: “Muito bem, vocês agora abrem uma conta no Bradesco, que vou permitir os descontos em folha de vocês”. A mesma coisa foi lá na Petrobras, nós fomos Coronel Darcy, ele até brincou: “Vocês estão aposentados, por que não pegam um avião e vão pro Havaí? É melhor do que estarem aqui com a gente” (risos). Explicamos a ele; quando ele se aposentou, ele foi nos procurar. Ele também ajudou: “Pode mandar o código aí, pode começar o desconto”. Aí começaram os descontos, no Rio de Janeiro e, imediatamente, em São Paulo, porque Walter Siqueira era superintendente do Edipe [Escritório de Distribuição de Petróleo], eu trabalhei com ele. Depois ele foi chefe do escritório de São Paulo, e tinha que vender uma das salas e ele se lembrou do falecido Haroldo; então fomos lá, Haroldo e eu. Foi a primeira propriedade que nós compramos: uma sala no escritório, que hoje é a de São Paulo. Depois, nós compramos a sede. De São Paulo começou a se espalhar, [foi para] São Bernardo do Campo, tudo isso. Mas o início foi no Rio de Janeiro e, imediatamente, São Paulo. Por que São Paulo? Pela chance de comprar uma sala. E ali realmente pegou Cubatão, pegou um bocado de gente. O que a gente tinha que fazer na parte financeira? Fui ao Bradesco e abri uma conta. Como eu tinha colegas que estavam se aposentando, o [Álvaro] Craveiro, o Rui Arantes, que depois foi do conselho fiscal, a Maria Regina também, chamei essa gente toda e nós implantamos o mesmo sistema da Petrobras. Eu acredito que até hoje a Petrobras é assim, ela tem um caixa geral, e ela distribui para as suas refinarias e para a sua base de exploração, embora eles tenham uma conta bancária.
Nós trouxemos o mesmo sistema que estava na Petrobras pra dentro da Ambep, e até hoje funciona assim: a Ambep arrecada tudo, a arrecadação vai para uma conta na agência Cinelândia, Rua Senador Dantas, de lá sai uma ordem nossa, que cada delegacia, de acordo com a sua previsão orçamentária, vai receber os seus aportes financeiros para o seu custeio. Mas a parte de compra de imóveis e investimentos é toda centralizada na sede. Acredito que até hoje esteja assim, é o mesmo sistema que a Petrobras adota. Com o avanço, que foi rápido demais, essa chamada, da Amea, foi o que sustentou a Ambep. A Ambep se sentiu, vamos dizer assim, segura, porque a Amea começou a avançar, muita gente [contribuiu], muitos que se aposentaram, que os filhos já estavam maiores de idade, que a AMS já não pegava mais; sobrinhos, Petrobras nem quer saber. Outra coisa que a Petrobras não quer saber: enteados e cunhados. Só se for com decisão judicial. A Ambep não. Por exemplo, se você, como eu, cria um menino, se eu não levar com o pátrio poder, a Petrobras não aceita como dependente da AMS, a Ambep aceita. Eu não imaginava [que cresceria tanto]. O Bastos, o Ramiro e o Zury imaginavam. Porque a minha parte é financeira, sabe como é, financeira começa a contar muito dinheiro... Eles tinham uma visão geral, e foi necessário. O maior chamariz que a Petrobras tem ainda é a sua assistência médica, o Banco do Brasil é igual.
CENTRO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL
Nós todos fizemos muitas viagens. A [maior parte] das viagens que eu fiz foi com o presidente Marco Túlio. Naquela fase, com o Ramiro e o Haroldo, não dava para viajar. Com o Marco Túlio, já estava tudo praticamente sacramentado, então nós fomos mais para visitas, para ver algumas unidades, para fazer alguns convênios. Por exemplo, em São José dos Campos, nós procuramos a Beneficência Portuguesa para ver se poderia fazer um convênio, para aqueles idosos, como se diz. O Julio, que hoje também está lá, foi nessas viagens. A viagem que se fazia e que ainda se faz mais é para verificar onde se pode, dentro desses convênios, atender um idoso que está sozinho. Agora mesmo saiu isso na televisão: [um idoso] com 90 anos, os filhos abandonaram, os vizinhos que tomaram conta, isso acontece muito. Então, esse Cedis, Centro de Integração Social, que vocês estão vendo, surgiu com essa finalidade. Por isso que foi feito um plano, que o Davi fez junto com o Ramiro e com o falecido Maurício, para que esses associados e idosos, que estão sós, passassem pelo menos um dia naquele local. Não é hospital, não tinha condição de ser. Nós fomos na Aeronáutica, no Galeão, para verificar o custo por dia. A Aeronáutica já estava preocupada com aqueles custos, já estava em 35 mil e não era muito grande, não. Não tinha nem 100 lugares. Haroldo, Ramiro e eu fomos verificar no Galeão. Nem sei se tem hoje, mas eles só tinham lá brigadeiros e parente de brigadeiros e o dinheiro era alto para pagar. Tem custo. Não estou falando asilo de velho, estou falando, como chamam hoje, é como um apart hotel, de vez em quando se vê aí a propaganda, de vez em quando anunciam. Eles dão toda a assistência e essa é a intenção do Cedis. A Ambep também foi com essa intenção. Foi a partir da Maria Regina, que eu trouxe junto com o Ramiro, ela que deu essa idéia do Cedis.
O que foi interessante [também] sobre o Cedis foi o seguinte: tinha um casal que freqüentava muito o Itanhangá [Golf] Clube e o Ramiro foi um dos presidentes desse Clube, aí eles disseram pra ele: “Temos uma propriedade em Vargem Grande, 48 quilômetros quadrados, estamos criando galinha e até fornecendo plantas ornamentais para a Petrobras. Mas eu só quero vender pro pessoal da Petrobras”. Aí o Ramiro falou: “Nós temos uma associação que é da Petrobras”. Fomos lá falar com eles, visitamos, o negócio era uma maravilha. Eles queriam 500 mil dólares. Eu chamei o Ramiro e falei: “Não tenho esse dinheiro, não, 500 mil é muito caro”. Nós conversamos com a dona Leopoldina na cozinha, a senhora dele, ela disse: “A Cotia está entrando [no mercado].” Cotia era uma empresa de São Paulo, que disputava a criação de galinha com eles. Eu disse: “Vamos fazer o seguinte, vou depositar todo mês na conta de vocês, quanto é que você quer?” “500 mil dólares.” Calculei, dava 12 bilhões de cruzeiros. Criei uma conta no Bradesco, na Rua do Catete, pra ninguém movimentar essa conta aqui. Quando chegou ao fim de dois anos e meio, devido à inflação do Sarney, que foi de 20%, o dinheiro foi lá pra cima. Aí o Ivan era o presidente e o Ramiro era o vice, eles não acreditaram: “Onde que está esse dinheiro?” “Está aqui.” “Eu quero ir lá no banco.” Levei eles no banco e [nos mostraram]: “Aqui tem, em nome de vocês, 12 bilhões.” Foi assim que compramos. Hoje, transformando isso, dá dois, três milhões. Foi assim que nós conseguimos essa propriedade, algo que eu acho importante. A Petrobras pode até aproveitá-la para os cursos, porque ali é um espaço enorme. O Júlio foi o engenheiro, o Ivan foi coordenador lá também, e eles começaram a expandir. Primeiro, começou com os apartamentozinhos, mas agora tem salões, pavilhões em que se pode fazer treinamentos e tudo.
AMBEP CORRETORA
Mesma coisa é a Ambep Corretora. Nós trouxemos o Paulo Leal, que se aposentara tesoureiro-geral, responsável pelos seguros da Petrobras. Eu falei assim: “Vamos fazer um seguro aqui, porque ninguém está querendo fazer seguro de velho. Você entra na Sul América, qualquer empresa, se tem mais de 60 anos: ‘Não quero fazer’. Mas nós vamos bancar esse seguro”. Ele falou: “A grana é alta” Nós conseguimos uma empresa de seguro de São Paulo, chamada Nacional de Seguro, e o presidente era o Lauro Lucas Vale. Nós o chamamos, ele começou a ajudar a gente: “Muito bem, vocês vão fazendo o seguro e a Nacional vai bancar isso, desses idosos”. Como a gente recebia uma comissão de 10%, o Paulo Leal, que era da minha área financeira, me chamou: “Vocês vão perder a isenção, porque estão recebendo comissão e isso é receita fora da Ambep. Vamos ter que criar uma corretora”. Aí nós fomos na Unei [União Nacional dos Economiários]. Na Caixa Econômica, no 33° andar, tem uma associação mais antiga do que a gente, chama Unei, que é uma associação que eles criaram, que uniu tudo que é associação da Caixa. Não sei quem arrumou. Falaram com a gente, nós fomos numa festa na Associação Atlética do Banco do Brasil, na Rua Itaipu, esquina com a Rua do Bispo, e tinha lá o falecido General Tório, que era um dos diretores dessa Associação e que trabalhou com gente na Petrobras, no tempo dos militares. O Bastos, e não sei quem mais estava com ele, falou: “Nós estamos criando uma associação”. “Procure o seu Nobre, na Avenida Nilo Peçanha, nº. 75, em frente à ABI [Associação Brasileira de Imprensa], no oitavo andar, a chamada associação Afabb, Associação de Funcionários e Aposentados do Banco do Brasil”. Essa associação foi o nosso paradigma. Foi através dela que nós começamos a evoluir, porque cada um estava dando uma idéia, uma cá, um estatuto aqui. Ali foi aquele farol, aquilo que nos comandou, dali é que se criou esse projeto na Ambep, através dessa associação que existe até hoje. Eles sempre tiveram convênio com a gente. Foi através dessa associação do Banco do Brasil que nós fomos criando a nossa, mas tem coisas que eles não tinham, como a assistência médica que, no Banco do Brasil, ficava totalmente por conta do Banco. Apontam que a assistência médica da associação do Banco do Brasil, estourou, não agüentou, porque ela cobria tudo. Quando nós criamos a Ambep, cinco, seis anos depois, vieram nos procurar: “Como é que vocês estão fazendo isso?” Eu disse: “Porque a Petrobras faz de um lado e nós complementamos.” “Então é por isso que vocês conseguiram. Nós não temos isso.” Eu disse: “Nós conseguimos isso. Nós complementamos a Petrobras, pela AMS”. Eles não tiveram essa sorte. O Banco do Brasil encerrou essa atividade. Hoje, a Ambep, com relação à Afab, ela é mais cultural e social, e a Ambep, não. Embora a Afab também defenda os interesses previdenciários dos seus associados junto a Previ, ela não tem o porte que tem a Ambep.
Sobre a corretora, nós fomos lá, junto à diretoria, o nome [de quem nos atendeu] era Rogério; fomos para perguntar como que a gente faria essa corretora, pois a gente estava com a ameaça de perder aquela isenção. A gente não agüentaria pagar esse imposto de renda. Eles nos indicaram o escritório de dois despachantes da Luminar na Praça Mauá. Eles foram lá, sentaram com a gente, com o Haroldo e o nosso amigo Ramiro, para ver como é que a gente criaria essa corretora. Tinha que abrir uma empresa, uma S/A, porque se abrisse uma limitada e colocasse sócios estranhos, poderíamos perder essas cotas mais tarde. Foi criada uma sociedade anônima, porque teria a figura do acionista majoritário e ficou a Ambep como a acionista majoritária. Ela indicava os seus dirigentes na assembléia ordinária, por causa da lei nº. 6.404. Mas como é que a gente ia começar isso? Voltamos à Petrobras, Ramiro, Haroldo, o chefe do serviço financeiro da Petrobras, o chefe do setor de seguro e eu. Como é que a gente ia reabastecer essa corretora? Ficou combinado – vou falar algo político, de antes do Collor – que todo co-seguro que a Petrobras tinha, de todas as plataformas, ao invés de devolver ao IRB [Instituto de Resseguros do Brasil] – a lei permitia que ela fizesse o que ela quisesse –, ela nos repassava 10%. Com isso, nós criamos o capital da Ambep Corretora. Todo mês, ela repassava todo co-seguro que ela não poderia absorver, que ela teria que doar. Em vez de doar ao IRB, ela foi lá e provou que tinha uma corretora registrada. O senhor José Luiz, que era o presidente –e que agora está voltando –, todo mês mandava para mim um valor e eu depositava, pra gente criar um capital. Todo mês, eu tinha que mandar a documentação desse dinheiro para o financeiro, para ser auditada, para ver que nós não estávamos desviando esse dinheiro. Ficamos nesse controle. A Corretora começou praticamente do incentivo desse co-seguro, aí foi se formando. Onde nós estávamos, naquela salinha lá, ficou uma outra sala com a corretora, pois, ao mesmo tempo, um fazia pelo outro. Mais tarde, ela conseguiu [uma sala] na Avenida Rio Branco. Hoje ela está em boa situação.
AMBEPTUR
O Haroldo foi lá na Petrobras conversar: “Olha, nós vamos fazer o seguinte, tem muita viagem aí em que essas companhias dão uma comissão. Não seria bom passar tudo para nós e nós passaríamos para vocês e a Petrobras ganharia com isso?” Quer dizer, em vez de dar àquelas empresas de agência de viagens, para a Varig, para a Transbrasil, a Ambep passaria a ser uma, não operadora, mas uma agência de viagem, e esse repasse seria o nosso capital e retornaria para a Petrobras. Mas, infelizmente: “Acontece que eles dão cortesia individual para o superintendente.” Aí o Haroldo: “Não, não importa, nós vamos criar assim mesmo”. Quando nós fomos criar a Associação, que é Limitada, nós tivemos a sorte de encontrar esse senhor, pai do Mario Sérgio, que tinha uma experiência muito grande. A Embratur exigiu que nós tivéssemos três anos de mercado ou, então, que comprássemos uma empresa. Aí tivemos uma sorte, o seu Adelmo disse: “Tem um casal em Ipanema que quer vender a sua agência de viagem.” Fomos lá, pagamos a marca de patente e criamos a Ambeptur, que até hoje está aí. Qual a vantagem da Ambeptur? Qual é a vantagem da corretora? Eu tenho um carro, se eu for ao Bradesco, eu vou pagar uma apólice. Só que, sendo funcionário da Petrobras ou não, quer dizer, aposentado ou não, ativa ou não, você tem 30% de desconto, não só no seguro de carro, como também de apólice. Você vê a vantagem? Trinta por cento. Se eu pago 800 de prêmio, eu vou ter, praticamente, 240 reais. A mesma coisa, eu tenho dois apartamentos, eu entrego lá. Qual foi a vantagem da viagem? Aquela comissão que a Ambep ficava pra ela, ela repassa para a passagem, diminui a passagem. Eu fiz uma viagem com a minha senhora, através da Ambeptur, por 15 países: Israel, Rússia, Noruega, Suécia. Tudo através da Ambeptur, com esse desconto. Está vendo as vantagens? Duas entidades: uma limitada, porque a lei obriga que se tenha um sócio que já tenha registro dentro da Embratur, que é o Mario Sérgio, mas o presidente, hoje, é o mesmo presidente da corretora. A corretora é S/A e a outra é limitada. É como se tivessem feito um curso de viagem. Num ponto eles têm razão: não se vai botar um elemento estranho. Foi por essa razão que nós criamos essas empresas, para dar não só suporte à Petrobras, como, também, ao seu pessoal ativo e aposentado. Eu já usei [essas empresas] e ainda vou usá-las muito. Em muitos momentos nós estamos usando. Agora, precisa ser sócio da Ambep. A Ambeptur e a Ambep corretora, acabamos com isso, você pode sair da Petrobras, que você vai ter o mesmo desconto.
CERTIFICADO DE PRIVATIZAÇÃO
Infelizmente, vou ser obrigado a falar. O FNDE [foi difícil], você já pensou tirar 25% do patrimônio e voltar, depois de 20 anos, com juros que nem sabe quanto seriam? O segundo momento difícil foi com o certificado de privatização. Mesma coisa, tirar 25% do nosso patrimônio, quer dizer, tirar das reservas matemáticas. O que é uma reserva matemática? Conforme você está contribuindo, tanto aposentado e tanto ativo, você vai formando uma reserva matemática, se chama benefício a conceder. Se começasse a tirar aquela reserva matemática, aquela turma, depois, na idade de se aposentar, no período daqueles 20 anos, que é quando o governo vai devolver, ia gerar déficit da Petros. Porque ela ia começar a conceder benefícios – eles chamam benefício concedido – sem ter fundo, com o fundo parado no governo, para devolver daqui a 20 anos. Na mesma hora, então, foi derrubada. Quando chegou o certificado de privatização foi a mesma coisa: retirar 20% de patrimônio líquido das fundações estatais para formar o quê? Para comprar as estatais. Deu pra entender o certificado de privatização? E também ficava 25 anos parado. [Os 25%] voltariam com juros de mercado, que, naquela época, estavam abaixo de 6%. Derrubamos com uma liminar. E a última foi a obrigação do Tesouro Nacional, do Fernando Henrique, 25%, resolução número 58. Essa nem entrou. Na mesma hora que entramos com a liminar, o Banco Central tirou. Essa foi na hora, tirou no ato. Então, nós não passamos por momentos críticos? Passamos. Hoje, estaríamos no déficit e todos nós estaríamos pagando. Porque a lei, a emenda complementar é bastante clara, deu um déficit.
MANUTENÇÃO DOS FUNDOS
A minha filha está no Previndus [Associação de Previdência Complementar], ela já teve aumento na contribuição de 50%. Ela saiu com 5.500 e já abaixou, devido a esse desconto. Ela já está quase com dois mil e pouco, eu ainda a ajudo. Esse déficit, dentro da nova emenda constitucional, não tem jeito, tem que ser rateado entre a patrocinadora, por isso houve a repactuação. Com a repactuação, quem repactuou saiu da tabela de salário, está em cima de um IPCA [Índice de Preço Atacado ao Consumidor] ou de um INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor]. O caso de fundo de pensão, como está acontecendo agora com a [Fundação] Refer, e a [outra] do Rio de Janeiro, estão com o maior estouro, ali pode acabar. Você sabe que a [Fundação] Metrô não agüentou muito tempo, acabou. Esse é o maior sentido da Ambep, não só a parte dessa assistência médica, mas também preservar o fundo. Se você preservar o fundo, você preserva para aqueles que estão trabalhando e para os futuros pensionistas, pois eles também dependem. Por exemplo, a minha morte, se eu for primeiro que a minha senhora, ela já tem 60% garantido da Petros e mais 100% do meu INSS. Aquele que não repactuou só tem 60%.
A Ambep entrou através de uma lei, tinha que ser cumprida. Aquilo saiu do presidente da República como se fosse um decreto-lei, tinha que ser cumprido. Se não fosse essa liminar que a gente fez, [a Ambep] estaria liquidada, esse déficit já teria ocorrido antes. Vamos fazer um cálculo: a Petros foi criada em julho de 1970, quantos anos a Petrobras tinha? Eu entrei em 1956, ela começou em 1954, muita gente já tinha idade, eu entrei com 29 anos. Quantos eu vi entrar lá com 30, 40, 50 anos? Já estavam todos aposentados e, de repente, você tira uma parcela grande desse patrimônio. Como é que ela ia pagar a conta? Como é que ela iria pagar esses benefícios concedidos? Furnas [Centrais Elétricas S.A] tem uma associação boa também, eu conheço a Alzira de lá. Eles brigaram, não deixaram, iam meter a mão no dinheiro deles, eles não deixaram, porque foi uma associação. É por isso que sindicato não tem condição. Não adianta se criar um sindicato, um departamento de aposentado. A minha filha trabalha no Tribunal Superior do Trabalho, ela viu isso lá, houve um caso em que a Ambep entrou na justiça pedindo o aumento para os aposentados, com os ativos deles. Sabe o que o juiz respondeu? “Isso é da área trabalhista, não é a tua área.” Aumento de salário não é benefício, nós não temos mais salário, nós temos um benefício. A Petros é uma fundação jurídica, que pode encerrar. Pela nova lei, a Petrobras agora administra o fundo da Petrobras. Se a Petrobras resolver, um dia: “pago a minha parte, vou embora, escolho outro fundo”, ela pode fazer isso.
PETROBRAS / AMBEP
A nossa relação com a Petrobras, em nosso período, foi muito frutífera. Primeiro, porque não podia chamar de desobediência civil, pois nós éramos uma sociedade, pessoa jurídica sem fins lucrativos, não tínhamos nada a ver com a Petrobras, nós tínhamos o CNPJ [Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica], nós tínhamos o alvará, então o juiz pediu o estatuto e concedeu a liminar. Se a gente fosse uma associação, como tem muitas dentro da empresa, e não tivéssemos estatuto, não teríamos direito a discutir na justiça, porque não seria a área dela. Lembram-se do negócio da revisão dos benefícios? O que aconteceu? A Petros ia complementando a diferença. Agora você vê, eu ganho três salários mínimos e meio, a Petros completa a diferença e isso gera débito. A Petros quis entrar na justiça contra a União. Recebeu uma ordem do presidente, do Collor: “Se vocês entrarem, vai todo mundo ser demitido.” Procuraram a gente para dar uma procuração, para chamarmos para o pessoal, eu entrei e ganhei. Mas eu entrei com uma ação individual, que não foi nem da Petros, nem da Petrobras. Primeiro, nós fomos na Petros, Ramiro, o falecido Haroldo e eu: “Nós vamos entrar.” “Podem entrar que a Petros não vai ser prejudicada, mas vocês entram com o nome de vocês, individual.” Foi o que nós fizemos e a Ambep ajudou. [Então] é importante porque se caso os diretores da Petrobras fizessem uma ação, na mesma hora já estavam demitidos, porque o governo está com a maioria das ações. Na assembléia ordinária, a Petrobras tem 51% mais um, ela que determina quem é o seu presidente. Vocês nunca viram um presidente da Petrobras ser indicado por uma empresa privada. O governo está com a maioria das ações, ações ordinárias. Eles iam ser todos demitidos. Chamaram a gente e eles não apareceram, por isso não puderam nos pagar. Se eles pagassem o advogado que nós pagamos naquela época, hoje em torno de 15 mil, sairia um dinheiro do caixa, ou da Petros e da Petrobras, aí o governo ia querer saber: “Por que vocês pagaram esses 15 mil?” “Ah, foi para uma ação de liminar contra vocês.” Mas não faz mal, arcamos com esse custo, mas não foi um bom negócio? Nós não conseguimos preservar? Valeu a pena, não valeu?
AMBEP / OUTRAS REPRESENTAÇÕES
Nós temos muita relação, aliás, não sei se vocês já notaram, a Petrobras, geralmente, além de ter aqueles cursos, ela também faz maratonas, essas coisas, e a Petros e a Ambep sempre participam junto com eles. Quando nós estivemos lá, nós fizemos, e a Petros bancou, uma festa no Cedis, que o banco Bradesco patrocinou. Não era só para os associados da Ambep, mas também para aqueles que estavam aqui no Rio de Janeiro, aposentando-se da Petros, mesmo não pertencendo ao quadro da Ambep. Hoje eu não posso falar, porque me afastei há seis anos, mas a Petros e a Ambep tinham uma relação muito estreita. Vou contar um caso a vocês: nós fomos chamados na Petrobras, o diretor de benefícios Argemiro, o Ramiro, que era o presidente, e eu e o chefe da divisão de remuneração, que era o doutor Reinaldo, disse o seguinte: “Esperamos que vocês não criem nenhum problema com a gente, porque o governo soltou um ofício.” O governo soltou um ofício, isso foi quando eu estava saindo, o presidente era o Fernando Henrique. O ofício era o seguinte: “Devido aos custos elevados nas folhas de pagamento das empresas estatais de economia mista, somente será permitido descontos legais por força de lei.” O nosso não era por força de lei. Força de lei é o quê? Sindicato. A Petrobras até hoje mantém, ela corre o risco, mas ela mantém um custo alto de desconto de folhas, não só da Ambep, da Aepet e de outras associações. [Havia] esse entrosamento. A Petrobras sempre honrou, sempre cumpriu, ela nunca usou o poder para chegar perto de uma associação, como aconteceu agora, que a Ambep foi contra, a repactuação, ela nunca ameaçou a Ambep, [dizendo]: “Vou tirar da folha já que vocês estão contra”. Ela nunca fez isso. Legalmente ela pode fazer facilmente. É só tirar. Mas ela não fez isso. Porque ela sabe que aqueles que se aposentam, que tem os seus dependentes, que não tem mais direito à AMS, porque se casaram ou passaram da idade, ela sabe que das associações, somente a Ambep [poderá lhes conceder a AMS]. A Ambep está espalhada por todo Brasil, são quase 27 delegacias.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu trabalhei como consultor da Sucesu, que é a Sociedade de Usuários de Computadores, que até a Petrobras faz parte. Durante dez anos, fui o presidente de honra do Instituto dos Auditores Internos do Brasil, e eu avisei ao Bastos: “Bastos, de vez em quando eu tenho aqueles compromissos”, porque eu tinha um contrato assinado com a Sucesu. No final de dez anos, a Ambep começou a crescer demais e havia a necessidade de que o diretor financeiro e o administrativo fossem todo o dia, por causa dos cheques, daqueles movimentos. Aí eu fui lá, conversei com eles e disse: “Eu não posso renovar mais o contrato com vocês. Eu vou ficar me dedicando a Ambep, porque eu tenho muita coisa a pagar a Petrobras. Prefiro pagar aquilo que a Petrobras me fez”. Perdi aqueles honorários, mas não me arrependo.
AMBEP / PERSPECTIVAS
Sou honesto, não é essa a Ambep que a gente está pensando. A Ambep não foi criada para fazer contestação a Petrobras e a Petros, nós dependemos deles. Só lamento porque não foi essa a intenção. Essa contestação, contratar advogado, em uma semana houve 1.301 ações pedindo aumento para aposentados, participação de lucros. Aposentado tem direito a participação de lucros? Ele não está na ativa Interníveis? Eu nem quero saber disso. O que acontece? Perde. Nenhum juiz dá ganho de causa para eles, nenhum. E o que a Petrobras pode fazer? Não pode fazer nada. Eu me aposentei, saí com um salário, certo? Hoje eu estou com quase 14 mil. Eu era o contador-geral, quem ficou no meu lugar, claro, o salário dele é outro, está com 35. Agora, eu vou querer ganhar o que ele está ganhando? Eu me aposentei em 1980, gente São 29 anos. Eu não tenho nada que chegar na justiça e pedir, porque eu não tenho nada com isso. Eu não contribuí, ele está contribuindo. Eu contribuí com o que ganhava; na época eu ganhava, uma hipótese, cinco mil, eu contribuía 14% sobre cinco mil. Como é que agora eu quero ganhar 35, se eu não contribuí 35? Como eu sou atuário, não há fundo de previdência que aguente isso, ele estoura, fica insolvente. Não está dizendo fundo? Você primeiro tem que formar uma reserva, para ter, durante essa reserva, direito a receber esse benefício. É por isso que a gente tem que preservar a saúde financeira da Petros, para que não ponha um plano lá e acabe com ela, pois aí ficará todo mundo dependendo do INSS e o fundo foi embora. Tem que ter uma relação boa, recíproca com a empresa, claro, olhando os seus direitos. Se você vir, como aconteceu com a [Fundação] Real Grandeza, que os seus direitos vão ser prejudicados, você tem uma associação, que lá no seu estatuto diz preservar os seus direitos. Agora, arranjar advogado “porta de xadrez” para ganhar dessas pensionistas, mentindo, dizendo a elas que vão perder a AMS... Eu falei, a AMS não tem nada a ver com a Petros, e ninguém perdeu. O gozado é isso, ninguém perdeu. A prova foi que 73% repactuaram. Qual o prejuízo que eles tiveram agora? Essas pensionistas que não repactuaram tiveram um prejuízo imenso, porque elas estão recebendo 60% sobre o total da renda global. E quem repactuou, não, 100% do titular. Por exemplo, eu morro, eu estou com dois mil, minha senhora vai receber dois mil. Na Petros, eu estou com dez mil, vai receber 60. Muito melhor do que receber 60 sobre os 12 mil, que ela recebe 100 de um lado e 60 do outro. Isso aí eu não sei se vale a pena, mas eu aprovo isso.
MEMÓRIA PETROBRAS
Sinceramente, eu estou satisfeito. A Petrobras está fazendo muito bem, não só para que todos tomem conhecimento, mas para que a gente tenha maior unidade, a empresa precisa. Nós estamos passando por um momento difícil, eu tenho certeza de que a Petrobras, como falava o Nelson Rockfeller: “Mesmo o pior negócio do mundo que é o petróleo, ainda é o melhor negócio”. Mas acontece que a Petrobras, fazendo esse memorial, ela está unindo mais, ela está procurando com isso – isso é o meu pensamento – mostrar, dar mais entusiasmo, ânimo para aqueles que estão na ativa, pois muitos não estavam vestindo a camisa, infelizmente. Nós que começamos. A primeira participação minha, do Ramiro e tudo, foi um selo, mas nós não comandávamos. Nós tínhamos fé na empresa. A Petrobras vai dar mais ânimo, mais força, as pessoas vão “vestir mais a camisa”, pois eles sabem que vão ser reconhecidos, porque vocês estão fazendo. Algumas pessoas estão fazendo isso. O Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial] já está fazendo isso, chamou a minha filha lá. O que a Petrobras está fazendo, através [do Memória Petrobras], é importantíssimo, porque ela vai mostrar aos funcionários que eles não são uma mera ferramenta. Achei muito oportuno, numa hora dessa, havendo tanta divisão, ainda mais agora, infelizmente, está havendo muita divisão. Não só religiosa não, de tudo. Acho que a unidade que a empresa está fazendo, junto a suas associações, que a Petros fez, isso tem que continuar. A Petros fez ali no antigo Teatro Veneza, agora está fazendo em Salvador. Isso que tem que continuar. E vocês também, representando a Petrobras, com esse [projeto], isso tem que continuar, para que o pessoal se motive. Com a portabilidade agora, é fácil você sair de um plano pro outro, você leva tudo que tem e vai pro outro, antigamente não. A minha filha fez uma prova no Banco Nacional Econômico, passou, mas não foi chamada. Sabe quantos da Petrobras estavam lá? Tinha mais de cem, tudo gente de salário alto. Fiquei um pouco triste, porque era o contrário, era mais gente na Petrobras. O que nós estamos fazendo agora, chamar as associações, o pessoal vai dizer: “Vou ficar nessa empresa, eu sei que vou ser reconhecido”. Aí ele vai esquecer a parte monetária.
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