Projeto Memória Petrobras
Entrevistado por Márcia de Paiva e Cláudio Terra
Depoimento João Luis de Oliveira Feldman
Local Rio de Janeiro, 07/05/2009
Realização Museu da Pessoa
Depoimento MPET COMPERJ HV 017
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
P/1 – Boa tarde, Feldman.
R – Boa tarde.
P/1 – Gostaria de começar pedindo que você nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome completo é João Luis de Oliveira Feldman. Nasci aqui no Rio de Janeiro, em 27 de setembro de 1949.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Meu pai chamava Mars Feldman, minha mãe Haydée Oliveira Feldman.
P/1 – Seu pai, qual é a origem do seu pai? Ele nasceu aqui?
R – Meu pai era britânico. Já faleceu. Nasceu na Escócia, em Glasgow.
P/1 – E ele veio para cá...?
R – Meu pai veio para cá em 1929, por conta da grande depressão. Sem emprego na Inglaterra veio para cá tentar a vida. E viveu aqui até os 80 anos. Veio com 28, viveu até os 80 aqui.
P/1 – Ele trabalhava com que?
R – Ele, antes de se aposentar ele era representante comercial. E fez várias coisas. Foi professor de inglês, como muita gente que chega sem ter uma coisa definida. Trabalhou na Light no Rio, em Recife, em São Paulo e, mas nos últimos anos, digamos assim, do meu crescimento e até se aposentar, como representante comercial.
P/1 – Ele conheceu sua mãe aonde?
R – Conheceu minha mãe em São Paulo. Minha mãe estudava em São Paulo e era colega de, de escola, de escola de contabilidade Álvares Penteado das sobrinhas do meu pai que moravam em São Paulo. E aí se conheceram na casa da minha tia, irmã do meu pai.
P/1 – Vieram para o Rio?
R – Isso. Casaram-se, depois de um ano mais ou menos vieram para o Rio.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tinha um irmão, também já falecido. Que nasceu em São Paulo logo que eles casaram e veio para o Rio com um ano e meio, dois anos, mais ou menos.
P/1 – E você aqui no Rio...
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Entrevistado por Márcia de Paiva e Cláudio Terra
Depoimento João Luis de Oliveira Feldman
Local Rio de Janeiro, 07/05/2009
Realização Museu da Pessoa
Depoimento MPET COMPERJ HV 017
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
P/1 – Boa tarde, Feldman.
R – Boa tarde.
P/1 – Gostaria de começar pedindo que você nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome completo é João Luis de Oliveira Feldman. Nasci aqui no Rio de Janeiro, em 27 de setembro de 1949.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Meu pai chamava Mars Feldman, minha mãe Haydée Oliveira Feldman.
P/1 – Seu pai, qual é a origem do seu pai? Ele nasceu aqui?
R – Meu pai era britânico. Já faleceu. Nasceu na Escócia, em Glasgow.
P/1 – E ele veio para cá...?
R – Meu pai veio para cá em 1929, por conta da grande depressão. Sem emprego na Inglaterra veio para cá tentar a vida. E viveu aqui até os 80 anos. Veio com 28, viveu até os 80 aqui.
P/1 – Ele trabalhava com que?
R – Ele, antes de se aposentar ele era representante comercial. E fez várias coisas. Foi professor de inglês, como muita gente que chega sem ter uma coisa definida. Trabalhou na Light no Rio, em Recife, em São Paulo e, mas nos últimos anos, digamos assim, do meu crescimento e até se aposentar, como representante comercial.
P/1 – Ele conheceu sua mãe aonde?
R – Conheceu minha mãe em São Paulo. Minha mãe estudava em São Paulo e era colega de, de escola, de escola de contabilidade Álvares Penteado das sobrinhas do meu pai que moravam em São Paulo. E aí se conheceram na casa da minha tia, irmã do meu pai.
P/1 – Vieram para o Rio?
R – Isso. Casaram-se, depois de um ano mais ou menos vieram para o Rio.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tinha um irmão, também já falecido. Que nasceu em São Paulo logo que eles casaram e veio para o Rio com um ano e meio, dois anos, mais ou menos.
P/1 – E você aqui no Rio você cresceu aonde?
R – Cresci no Flamengo. Flamengo e terminei, vamos dizer assim, já era adolescente, em Copacabana.
P/1 – Quais são suas lembranças de infância? Que é que você se lembra desse flamengo da tua infância? Qual era a rua que você morava?
R – A rua chamava-se Senador Eusébio, chama ainda. Embora tenha aumentado, depois que eu me mudei ela cresceu. Porque derrubaram uma construção aí e ela foi aumentada um pouco. As lembranças de infância se comparar com hoje em dia a questão da segurança deve ser a primeira coisa que vem à mente. Era muito comum, principalmente fim-de-semana, a gente sair para brincar na rua de noite. De noite significava, sei lá, quase até meia-noite. Quer dizer , sem grande problema na rua, brincando de, jogando bola, polícia e ladrão, é, tsc, aquelas outras brincadeiras de criança. Coisa que hoje em dia não se faz mais. E uma liberdade, quer dizer, de ir para a escola sozinho. E depois tomar um ônibus para ir para o colégio quando era mais longe, sozinho também. Quer dizer , coisas que eu acho que já ficam mais raras no Rio hoje em dia.
P/1 – Você estudou aonde?
R – Eu fiz o meu primário numa escola pública perto, ali no Flamengo também. Na Avenida Oswaldo Cruz, chamada Escola Alberto Barth. E depois fui, fiz o ginásio e o clássico - que era uma das opções da época, que é o colegial, né - no Colégio Anderson. Que na época era em Botafogo, já não é mais, que agora...
P/1 – Lá na Praia do Botafogo, né?
R – Na Praia do Botafogo, toda noite.
P/1 – Que é que você gostava de estudar, quais são as suas recordações desse período de escola? Você era bom aluno?
R – Era, era bom aluno. Que é que eu gostava de estudar? Eu acho que variou conforme a fase da minha vida. Eu acho que no primário eu gostava de tudo. Tinha aquele negócio de, era uma professora só na época que acompanhava a gente o tempo todo. Então tinha um relacionamento quase de, de filho com a mãe ou coisa parecida. E então acho que não tenho lembrança assim de preferência especial. Era bom aluno, gostava de estudar, não tinha. No ginásio é que eu fui criando minhas preferências e minhas não preferências. Por exemplo, passei a não gostar de Matemática, por isso que eu fui fazer o clássico, porque não tinha, na época não tinha, era ênfase em línguas e mais para o lado das Humanas, né? E, mas acabei no final, no terceiro ano, o clássico, quer dizer, que eu tive no começo do terceiro ano que se fazia o convênio eu tive que escolher que cursinho eu ia fazer. E aí tendo feito o clássico eu pensei assim: "Bom, eu vou fazer o que agora? Eu vou ser professor? Não me atrai. Advogado também não." E, na época, falava-se muito, estava muito meio que em moda ser economista. E os meus maiores amigos iam fazer Economia. Então eu fui fazer o cursinho de Economia e tive excelentes professores de Matemática. Passei a ser apaixonado por Matemática. Quer dizer , eu mudei da água para o vinho. Tinha ódio e passei a gostar de Matemática. E virei Economista.
P/1 – Isso já na faculdade? Ou você fez algum curso anterior à faculdade?
R – Fiz o vestibular no final do cursinho e entrei na UFRJ, na Faculdade de Economia e Administração que funcionava na época ali em frente ao Iate.
P/1 – Na Urca.
R – Ao lado da Reitoria. Hein?
P/1 – Na Urca.
R – Na Urca, exatamente. Onde ainda é.
P/1 – Prédio bonito.
R – Muito bonito.
P/1 – A faculdade correspondeu? Você começou a gostar logo de cara? Como é que foi também esse gosto pela Matemática que foi se desenvolvendo assim?
R – Olha, a faculdade foi, na verdade, uma grande transição. Porque eu entrei na faculdade em 68.
P/1 – Período bom.
R – Bom. A minha faculdade foi a faculdade que foi invadida naquela época. E veio o AI-5 em dezembro. A qualidade era, quer dizer, vamos botar as coisas mais em perspectiva. Eu acho que eu e outros, na minha época, saímos de um, de um back ground assim muito protegido em termos de escola, colégio. Quer dizer , um tipo de suporte que a faculdade não oferecia. E eu fiquei muito decepcionado na época. Quer dizer , desanimei um pouco da faculdade. E estava com toda aquela agitação política.
P/1 – Você acompanhava?
R – Muito pouco, muito pouco. Eu não era muito ligado nisso não.
P/1 – Como é que você, o que você se lembra dessa agitação? Como é que isso também...?
R – Olha, se refletia...
P/1 – Ali a própria faculdade que foi invadida também, né, mais de uma vez foi, sei lá.
R – Teve uma vez histórica, né? Que foi aquela que depois puseram as pessoas no Estádio do Botafogo, se não me falha a memória, que era ali perto. Era, eu diria que, do meu ponto de vista pessoal, foi a minha época mais malandra em termos de estudante, entende? Quer dizer , numa idade que eu estava de namorico. E ali é um lugar bonito, quer dizer, o próprio campus da faculdade é um lugar bonito para você fazer gazeta (riso) e passear. E dava para fazer isso e ao mesmo tempo passar. Então, digamos que não foi um período muito brilhante em termos de qualidade de ensino. E eu talvez não tivesse a maturidade que outros tinham de saber que faculdade é diferente. Não tem ninguém, nenhum professor para pajear a gente. É um professor para cada matéria, quer dizer, a cada seis meses muda de professor. Então não tinha essa ligação que antes eu via. E você que tem que fazer a sua faculdade. Quer dizer , é muito mais do aluno do que do que você encontra lá.
P/1 – E aí você, enfim, foi levando a faculdade, se formou no tempo correto?
R – Me formei em quatro anos, tempo correto. E aí, quer dizer, nesse momento eu já trabalhava, eu já fazia estágio, mas era um estágio que não era como o de hoje. Quer dizer , na verdade era um, carteira assinada, era um estágio de seis horas. Então era mais, mais ou menos, como se fosse um trabalho. Isso nos dois últimos anos da faculdade. No terceiro e no quarto ano da faculdade eu estagiava. Então, na verdade, quando eu me formei, eu fiquei no mesmo trabalho.
P/1 – Qual era?
R – Era um banco, se eu lembro dos lugares onde eu trabalhei antes da Petrobrás, é uma infinidade de bancos que não existem mais. O primeiro...
P/1 – Eu estava vendo pelo seu currículo.
R – Pois é, o primeiro chamava Comércio e Indústria de Minas Gerais.
P/1 – Esse foi seu primeiro emprego formal assim, mais, emprego mesmo, que você considera?
R – Foi. Nesse eu fiz esse estágio/trabalho de carteira assinada, durante dois anos e continuei quando me formei. O curioso é que ao me formar, ao apresentar o diploma, meu salário triplicou.
P/1 – Pra você foi uma surpresa?
R – Uma surpresa agradável, né? Mas ao mesmo tempo eu estou até hoje tentando entender o que é que mudou de um dia, do dia que eu não tinha o diploma para o dia seguinte que eu tinha o diploma (riso) dentro da minha qualidade como profissional.
P/1 – E as exigências continuaram as mesmas ou mudou também o tipo de trabalho?
R – Não mudou muito não. Aliás, para falar a verdade, não mudou nem um pouco. Era exatamente a mesma coisa. Só que aí eu tinha um título e passei a ganhar três vezes mais. E aí lá fiquei até, eu fiquei de, entrei lá em 70 fiquei até 73.
P/1 – Saiu por uma outra oferta? Você quis sair?
R – Era uma época de mercado de trabalho muito boa para o empregado, né? Quer dizer , eu, o estágio que eu fiz, diferentemente do que eu, agora está melhorando um pouco, mas durante o meu tempo de vida eu já vi estágio sendo batalhado como uma coisa absolutamente impossível, né? Ou enfim, estágio sem remuneração. O meu estágio na época foi me buscar em casa. Quer dizer , recebi um telefonema em casa de uma amiga minha perguntando se eu estava interessado em trabalhar num banco, porque eles não queriam contratar mulher. Então que ela tinha me indicado. Eu falei: "Quero sim." Aí liguei. Eu estava de férias, liguei, fui fazer entrevista e fui chamado. Em seguida, então, depois desse Banco Comércio e Indústria de Minas onde eu trabalhei eu fui para um outro banco que até existe, mas está em outra, com o mesmo nome mas é outro banco agora. Banco Brascan de Investimento. Fiquei lá de 73 a 79, seis anos. Foi onde eu fiz, mais ou menos, a minha formação profissional. De lá eu fui para um outro, mais um banco que não existe mais, que é o Banco de Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro. Passei dois anos mais ou menos. De lá eu fiquei um tempo sem trabalhar porque não, não, saí, quer dizer, era um cargo mais político, fui demitido. Fiquei uns dois ou três meses sem trabalhar e fui para outro banco, que foi uma passagem rápida, o Banco Aimoré. Que também não existe mais. E daí fui para o Banco Boa Vista, que também não existe mais. E onde eu passei três anos. E em seguida fui para o Mercantil de São Paulo, que também não existe mais. Depois para o Bozzano Simonsen. Aí eu comecei já a ficar meio cansado de banco, achei que o negócio estava muito repetitivo demais, e as alternativas...
P/1 – O trabalho era sempre o mesmo? Qual era a variação de um banco para outro?
R – Não era muito, não, não, eu sempre, quer dizer, eu comecei a minha vida profissional trabalhando com crédito, análise de crédito. Isso nos primeiros sete, oito anos da minha vida profissional. Depois fui me encaminhando para a área Internacional por conta de Línguas. E até por conta de vocação do banco que eu estava, na época o banco Brascan. Que era um banco com sede no Canadá. E fiquei muito nessa coisa de área Internacional. Crédito com área Internacional, quer dizer, Operações Internacionais. Que, na verdade, foi o que veio me trazer à Petrobrás. Porque neste último banco que eu estive, o Bozzano Simonsen, eu entrei numa fase meio de estafa, meio de cansaço de trabalhar em banco, tal. Resolvi trabalhar por conta própria com consultoria. A época já não estava muito boa para isso. Eu resolvi fazer o mestrado de Administração na PUC. E, no final dos créditos desse mestrado surgiu esse concurso da Petrobrás, que era assim, o edital parecia um convite pessoal. Quer dizer , era essa, foi a sensação mais ou menos do pessoal da minha turma do concurso. Porque pedia uma experiência muito específica que era a experiência que a gente tinha de, de operações de crédito, empréstimo e negócios internacionais. Foi isso que me trouxe à Petrobrás.
P/1 – E aí esse concurso você ingressou em que ano?
R – O concurso foi em 92, a gente entrou em 93. Eu entrei em agosto de 93. Vou fazer 16 anos este ano.
P/1 – Você entrou direto para trabalhar ou fez algum outro curso interno? Como é que foi essa entrada?
R – Não, o nosso concurso foi para pessoas com experiência. Então o que teve foi uma ambientação de 15 dias. Que foi feito lá, no que seria a antiga UP, né? Lá na...
P/1 – Universidade Petrobrás.
R – Mas ainda no Edib, na Praça da Bandeira. A gente fez uma ambientação de 15 dias que era mais para as pessoas se conhecerem e conhecerem as áreas diferentes da Petrobrás. E depois teve um programa de visitas a algumas unidades. Fomos à Reduc, fomos ao Tebig, fomos ao Cenps e fomos à uma plataforma.
P/1 – Você vindo dessa seqüência de bancos, como é que foi chegar na Petrobrás? E até passar por essa ambientação, conhecer esse mundo de refinaria completamente diferente?
R – Foi, foi muito interessante. A Petrobrás é um, um, como chamar? É uma empresa muito diferente, muito, muito sui generis, né? A gente aprende a gostar. Quer dizer , a minha primeira sensação eu digo sempre para os meus amigos que como eu fazia na época o mestrado de Administração, e eu gostei muito da área de Organizações e Cultura Organizacional, essas coisas. Quando eu via coisas assim que eu estranhava, que eu achava assim meio esquisitas, enfim, de comportamentos, essas coisas e tal, eu procurava olhar assim com os olhos de cientista. Quer dizer , para não ter muito, muito choque cultural ou emocional.
P/1 – Que é que você achou esquisito que você se lembra assim que você achou? Que deu essa estranheza?
R – Olha, deixa eu tentar buscar exemplo, acho que eu não me lembro agora. De uma maneira geral as pessoas na Petrobrás têm uma, uma, uma, uma tolerância grande à comportamentos assim mais, mais diferentes. Como é que eu te explico isso? Eu, da primeira vez que eu fui chefe, uma das coisas que eu vi que achei assim bastante estranha foi eu pedir para um subordinado fazer um negócio e diz: "Eu não vou fazer isso não." que tinha toda uma história por trás. Quer dizer , era um negócio que depois eu soube que ele não, incomodava ele, ficava constrangido e tal. Não que tivesse nada de constrangedor, mas enfim, era responder uma demanda, uma demanda interna. Eu não me lembro bem o detalhe. Mas era alguma coisa em que ele ia se sentir, eu pedi para ele fazer porque foi de uma época que eu sequer estava na Petrobrás. E era uma reclamação, algo, não era bem uma reclamação trabalhista. Mas um reclamação de tratamento dentro da área que eu pedi a ele para responder. Preparar uma resposta porque eu não tinha conhecimento, porque sequer estava lá na época. E ele disse: "Não, eu não faço isso não." coisa que em outros lugares as respostas são mais radicais.
P/1 – E aí passado esse período de, enfim, de adaptação e tudo, de você conhecer, aí você entrou em que área também? Aqui nessa parte de Crédito, mas dentro de que?
R – É, na época era uma outra estrutura. Quer dizer , foi, foi muito modificada hoje em dia. Mas era o Serviço Financeiro que se dividia em duas áreas: tinha uma parte propriamente Financeira e tinha a parte de Contabilidade. Eu trabalhei de início numa área que cuidava dos, do acompanhamento de contratos de crédito, quer dizer, contratos de empréstimo e financiamentos que a Petrobrás tinha. Cumprimento desses contratos, né? Foi o setor em que eu entrei. E depois eu passei para um outro setor da mesma divisão, estou te falando tudo a estrutura da época, né? Da mesma divisão. Esse outro setor cuidava da contratação de empréstimos e financiamentos de curto e médio, de médio e longo prazo da Petrobrás. Quer dizer , todo financiamento de unidades, Revamps de refinarias, financiamentos de plataforma, importação de equipamentos. Tudo passava pela gente ali. A gente analisava os contratos e negociava os contratos com os credores e propunha, via essas condições financeiras e contratuais e propunha ou não que fosse contratado o negócio.
P/1 – Como é que estava a situação da própria Petrobrás nesse momento da sua entrada? Quais eram os projetos? Como é que estava mesmo até para financiar esses projetos? O que é que vocês precisaram?
R – Olha, isso foi de 93 até 94, mais ou menos, era uma situação, era uma época de, de caixa curto, tá? Quer dizer , eu não participava disso, porque como o meu trabalho era médio e longo prazo não, mas eu vivia nesse clima de uma certa apreensão, né? Quer dizer , todos os dias as pessoas se reunindo para ver o que é que tinha que pagar, como é que tinha que levantar dinheiro etc e tal. E, ao mesmo tempo, uma época de, que estavam começando muitos investimentos por conta da Bacia de Campos. Muitas plataformas. E muitas modernizações de refinaria por conta da, da, do crescimento da produção, e produção de óleo pesado na época. Quer dizer , era, o óleo a refinar era pesado, implicava muito a adaptação das refinarias para esse óleo pesado. Porque antes eles refinavam mais o leve importado. E a área Financeira teve que corresponder à isso levantando o dinheiro para dar suporte a esses investimentos. Foi uma época interessante de se trabalhar. Não tinha, não tinha talvez tanta facilidade quanto a gente vê hoje. Ou, não sei se hoje ou até seis meses atrás, mais ou menos, digamos assim, considerando a crise. Mas uma época boa porque é boa de você aprender nos momentos mais complicados. Quando tudo é muito fácil você não aprende muito, não tem que fazer grande esforço.
P/1 – E você pegou também meio aquela até virada de real, e toda uma modificação. Como é que estava o mercado também nessa época? Até para, né, toda essa área?
R – Olha, a virada de real já tinha acontecido. O mercado, justamente porque os nossos resultados não eram muito brilhantes, porque a gente tinha contenção de preços, né? Dos preços de combustíveis e custos altos. Então tinha esse negócio de a cada dia era um problema para se resolver. Então o mercado, quer dizer, o mercado que a gente buscava dos emprestadores não era tão, não era muito bom. Quer dizer , não tinha muitos bancos logo de início com disposição de, de, foi um final daquela época em que houve corte, que o Brasil fez a moratória. Quer dizer , rescaldo dessa época ainda tinha bancos que não emprestavam para o brasil. Ou que emprestavam com restrições. Então a gente viu muita gente voltando. E as tradings japonesas é que foram muito atuantes nessa época. Elas financiaram muitas plataformas. E mesmo novas unidades, revamps refinaria, meio que ocupando um espaço que os bancos não estavam querendo ocupar por causa de temor de risco de, porque tinha havido uma moratória. Quer dizer , essa época foi o final dos pagamentos retidos, dos pagamentos para o exterior retidos durante a moratória. Eu não sei te dizer exatamente que ano que foi mas a gente ainda conviveu com isso um pouquinho quando entrou na Petrobrás. Então tinha muito banco reticente em fazer negócio. Quer dizer , diferente de algum tempo depois quando as coisas melhoraram e passou a ter fila de banco para emprestar dinheiro para a gente.
P/1 – Isso a partir de quando? Como é que foi essa mudança?
R – Isso eu já não peguei mais na área Financeira. Porque nisso eu já tinha, dessa, dessa área de Contratação de Empréstimos de Médio e Longo Prazo eu fui, tive uma passagem rápida como assistente do superintendente do Serviço Financeiro. Que seria o gerente executivo hoje em dia. E fui trabalhar como assistente do gabinete do diretor de Exploração e Produção.
P/1 – Quem era o diretor nessa?
R – Era o Antonio Carlos Agostini. Isso foi em, é, 97, 98. Quer dizer , ele era diretor antes, eu fui em 97. E lá, aí lá era uma outra realidade. Onde a gente trabalhava basicamente dando suporte ao diretor nas decisões de, em votos de Diretoria. Quer dizer , vendo os assuntos que iam à pauta da reunião de Diretoria. Então tinha, éramos uns três ou quatro, dependia da época, que examinávamos as pautas e dávamos sugestão de voto para ele.
P/1 – Mas aí como assistente de um diretor de E&P/1 – você extrapolava até essa lado financeiro junto com outros assuntos da área, de, ou o que?
R – É, eu fiquei, as áreas eram divididas. Porque o diretor opina sobre todas as grandes decisões que a Petrobrás toma. Então ele tem que olhar todos os assuntos. Então a gente dividia, mais ou menos, por conhecimento prévio, enfim, eu pegava as áreas financeiras, pegava a parte de, da Distribuidora, enfim. E às vezes variava um pouco essa divisão. Mas basicamente a área Financeira que eu dava parecer para as decisões dele. E, e tinha algumas outras, alguns outros _____. Muita participação em grupo de trabalho, enfim, coisas assim, assuntos variados que o diretor tinha que mandar algum participante. Grupos de trabalho de outras áreas, enfim. Lá fiquei dois anos, pouco menos, e aí mudou a Diretoria e eu voltei para a área Financeira. Mas enfim, já não tinha de imediato lugar para eu ficar. Então acabei indo para a TBG, que é a Operadora do Gasoduto Bolívia-Brasil. Lá fiquei cinco anos.
P/1 – E nessa área também do gasoduto você pegou, o gasoduto ficou, estava já finalizado em 2000? Não, né?
R – Ele estava só o primeiro trecho. Até perto de Campinas. E faltava, e estava, nos primeiros seis meses ou pouco mais que eu estava lá terminou, foi inaugurado o segundo trecho até Canoas, perto de Porto Alegre. Então eu não peguei a fase pioneira do gasoduto, que foi a construção propriamente dita desde o início. Peguei um final de construção e peguei o início de operação.
P/1 – E tudo ligado à área Financeira também.
R – Na área Financeira, trabalhando em Planejamento Financeiro.
P/1 – O que é que, qual foi a diferença que viu entre trabalhar com a parte, era mais fácil trabalhar lá com essa área? Conseguir financiamento, enfim para uma área de Exploração e Produção do que para um gasoduto? O que mudava?
R – Olha, no gasoduto, na verdade, já tinha todo o financiamento equacionado. Era mais ver o que é que tinha que precisava de ajuste. E havia, do plano financeiro, já tinha sido praticamente todo cumprido. Tinha parte em atraso que era um lançamento de títulos no exterior que foi basicamente mais o que eu fui cuidar. Mas que ao longo do tempo, por conta de mercado lá fora, estava mais difícil, ele foi se tornando difícil e ao mesmo tempo desnecessário. Porque o gasoduto começou a ter receitas que resolviam o que esse financiamento, o que esse lançamento de títulos iria resolver em termos de fluxo de caixa.
P/1 – Receitas da própria venda do gás?
R – É, não da venda, do transporte. Porque o gasoduto fatura pelo transporte, não pela venda. E aí tivemos outros trabalhos, depois ficamos, nossa área ficou responsável pelo modelo econômico do, da TBG. Que era um modelo que acompanhava toda a performance da empresa, os indicadores econômicos inclusive para relatar para os credores. Porque tinham cláusulas que exigiam isso. E para relatar para os sócios que tinha, era 51% Petrobrás, através da Gaspetro, e 49% os sócios minoritários estrangeiros. E aí depois desses cinco anos voltei para a Petrobrás na Petroquímica.
P/1 – Só para a gente ter uma idéia também, explica como é um lançamento de título. Por onde você começa? Foi mais fácil lançar também o gasoduto?
R – Olha, não foi mais fácil porque o mercado não ajudou. Quer dizer , o mercado estava meio...
P/1 – Por conta do momento ou...
R – É, eram duas razões: por conta do momento, quer dizer, ainda não estava bom para títulos brasileiros; e porque era um título muito específico e tinha dificuldades dele. Quer dizer , era um título, uma novidade, porque era um título garantido pelo Banco Mundial. Era uma alternativa, a gente tem um empréstimo do Banco Mundial, o Banco Mundial queria lançar um título da TBG com garantia dele. E foi uma espécie de teste de como é que esse título funcionava no mercado. Como ele tinha restrições e não era qualquer investidor que podia comprar ele tinha um mercado comprador muito menor. E aí não, não aconteceu o casamento do interesse do mercado em comprar os títulos e a nossa, a nossa previsão de ______. Chegou um momento começou demorar demais e o próprio fluxo de receitas tornou desnecessário isso. Desnecessário, ia ser caro se saísse, porque era difícil. Então era um negócio que depende muito de como o mercado aceita esses títulos, né?
P/1 – E na sua volta para a Petrobrás como é que foi? Você foi convidado, você queria voltar?
R – Eu fui convidado, bom, então no início aí. Eu queria voltar, me manifestei e fui convidado a voltar para a Petroquímica. Quem estava como gerente, na época chamava Área de Novos Negócios da Petroquímica. Quem estava como gerente geral era meu saudoso amigo Abdalla. Que já faleceu tem uns dois anos. Um ano e meio. E ele tinha assumido fazia pouco tempo e estava formando uma equipe. Ele me chamou para trabalhar com ele.
P/1 – Você pode falar o nome todo do Abdalla?
R – Antonio Jorge Abdalla Kurban.
P/1 – Obrigada. E aí ele te chamou para...
R – Ele chamou, eu vim em janeiro de 2005. E estou na Petroquímica até hoje.
P/1 – E a Petroquímica também, quais eram os desafios para você nessa época também? Saído lá do gasoduto.
R – Olha, primeiro lugar entender o que é que era a Petroquímica. Toda essa novidade que era para mim. Quer dizer , sair de uma, quer dizer, eu tinha na verdade na minha história profissional eu tinha trabalhado, a bem dizer, praticamente o tempo todo em área Financeira. Área Financeira é muito um trabalho assim de gabinete. É um trabalho de, você vê muito balanço, muito contrato, muito cheque, realidade quase nenhuma. Então quando eu trabalhava em banco uma das coisas que eu gostava é quando alguém me convidava para ir ver uma unidade que tinha sido financiada pelo dinheiro do banco. Ver o negócio funcionando. Como é que todo aquele papelório que a gente trabalhava, papelório e números, se transformavam em coisas e trabalho para as pessoas. E isso na verdade foi assim minha grande descoberta na Petrobrás. Na Petrobrás é muito mais fácil você ver essas coisas em qualquer área que seja, né? Até na área Financeira. Porque a área Financeira trabalha muito por demanda. É como se fosse um banco interno para atender as demandas de investimento das áreas que são operacionais. Então a gente tem mais contato com isso. Mas enfim, eu cheguei na Petroquímica, primeiro mês fiquei assim tentando descobrir o que é que era a Petroquímica. Do que é que se tratava. Porque eu tinha um conhecimento assim de leitura do passado, surgimento da Petroquímica, desse modelo tripartite da década de 70 aqui no brasil. Que, na verdade, já tinha sido desfeito em 90, 92, mais ou menos na época.
P/1 – E foi desfeito da época do Collor também?
R – Na época do Collor, exatamente. Que ele mandou privatizar uma, a parte substancial da Petroquímica como existia na época, né? Que era a Petrobrás com um terço, em geral um grupo estrangeiro que tinha tecnologia ou conhecimento comercial, operacional, com outro terço. E um grupo nacional com outro terço.
P/1 – E da própria Petrobrás, né? Teve um certo também, com o Collor aqui era, ou não?
R – Como assim?
P/1 – Parte da Petroquímica que também tinha sido, também...
R – É, a Petroquímica era uma área super importante da Petrobrás nessa época. Quer dizer , na década de 70, 70 e poucos a privatização foi mais tarde um pouco. A estruturação começou na década de 70, mais ou menos, um pouco antes. E a Petroquímica era super importante.
P/1 – Mas o Collor deu uma achatada também, né?
R – Completa. Completa e geral.
P/1 – E quando você vai para essa área é o quê? É uma retomada da, é o início da retomada?
R – Era uma retomada sim, era uma retomada com alguns projetos importantes como o Comperj - Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. Foi uma época em que a Petrobrás resolveu ser importante e relevante de novo na petroquímica. Porque o que tinha sobrado dessa privatização eram empresas menores que não, que não despertaram interesse dos grupos privados na época da privatização. Então foi o começo dessa época. Quer dizer , foi uma época realmente que a Petroquímica estava se tornando mais importante, relevante, trabalhando mais e buscando fazer mais coisas.
P/1 – Lá na Petroquímica você foi para, quais eram as suas ocupações? Sua tarefa lá?
R – Olha, como eu te disse: no primeiro mês eu fiquei procurando descobrir o que é que eu podia oferecer. Primeiro saber, tomando pé, saber o que é que se fazia lá e o que é que eu podia fazer. Eu entrei como coordenador. Trabalhava na Gerência de Desenvolvimento de Projetos Petroquímicos. Que era a Gerência, na época, ocupada pelo Dirceu Baleroni. E que depois foi para o Comperj. E depois de um mês, um mês e pouco eu fui chamado e me disseram que eu ia coordenar um grupo de trabalho de localização do, de um complexo. Que na época não se chamava Comperj ainda, chamava UPB, que era Unidade Petroquímica Básica. Que era a primeira geração junto com as UPA´s, que eram as Unidades Petroquímicas Associadas. E me deram para coordenar um grupo de trabalho. Eu no começo confesso que fiquei até meio assustado, porque eu achei que, enfim, era uma responsabilidade. Eu falei assim: "Pô, mas eu ainda não entendo nada de Petroquímica. Depois de um mês e meio." mas eu tive sorte de, eu não escolhi, do grupo original eu não escolhi ninguém. Porque eu não conhecia ninguém. Já me deram um grupo pronto e acabado. Que foi uma, foi assim um presente as pessoas que estavam no grupo.
(pausa)
P/2 – Bom, então agora a gente vai focar bastante no caso mesmo do Comperj. Depois a Márcia continua, ________. E, bom, aqui o foco, pelo que nos passaram, é discutir bastante essa, exatamente a escolha do local.
R – Sei.
P/2 – Então eu queria que você contasse como é que surgiu o grupo, como é que estava constituído o grupo, quais eram as competências desse grupo. Por que é que esse grupo funcionou. E depois contar um pouquinho quais foram os desafios técnicos, políticos, gerenciais de escolher um local com tanto impacto, não apenas para a Petrobrás, mas para onde ele fosse escolhido. Então sei que é uma pergunta ampla, mas a gente começa por aí. Depois eu encaixo outras.
R – Então, o grupo foi constituído, posso te dar a formação do grupo. Era por áreas. Tinha uma área, a área Corporativa do Abastecimento, que era uma área mais assim de planejamento, mandou um colega chamado Kleber Porto Silva, que é um especialista em logística. A Engenharia mandou o Luis Antonio Zucco, colega engenheiro. A parte de meio-ambiente ficou por conta da Viviana Canhão, que era também do Abastecimento. E éramos esses quatro participantes, né? E quando, logo no começo, quer dizer, logo nos primeiros dias antes mesmo que a gente se reunisse eu comecei a estudar. Enfim, ver o que é que eu ia precisar. E pedi para chamar mais uma pessoa da área Tributária, que eu achei que os assuntos tributários seriam importantes nessa escolha. Quer dizer , como é que seria o tratamento tributário entre as alternativas que se apresentavam. E veio a Adriana Nunes Nogueira trabalhar com a gente. E o grupo começou com uma, a demanda era escolher entre Itaguaí, que era o site que originalmente se divulgava, porque tinha uma história o site. Quer dizer , era um site, o local já era de propriedade da Petrobrás há muitos anos. Porque estava previsto acho que 20 anos antes fazer um pólo petroquímico lá, em Itaguaí perto do porto. Que ia se chamar Porto de Sepetiba, agora chama Porto de Itaguaí. Logo foi, nessa época que mudou de nome. E a outra alternativa seria fazer no norte fluminense. E numa localidade chamada Guriri, no município de Campos. Que era, isso tem uma história de um estudo que foi feito há 20 anos atrás para esse pólo petroquímico dessa época, 20, agora deve fazer uns 25 anos. E esse pólo era pensado para uma outra situação, quer dizer, era uma outra configuração, um outro tamanho, uma outra realidade, uma outra economia. As soluções técnicas completamente diferentes. E, na época, os melhores lugares eram, tinham sido definidos no estudo como Itaguaí e Guriri, lá no norte fluminense. Então pediram que o grupo estudasse as duas alternativas e sugerisse uma como a escolha para se localizar o complexo. A gente começou por estudar aquilo que a gente não conhecia nada, que era o local novo, Guriri, no norte fluminense. E começamos a, houve um decisão técnica do: "Vamos estudar isso do ponto de vista diferencial." quer dizer, a gente tinha um projeto já estudado em nível de FIAO 1, que é a Fase Inicial de Avaliação de Oportunidade, para Itaguaí. "Então vamos ajustar." Quer dizer , como se a gente pegasse o projeto inteiro tirasse de Itaguaí pusesse lá em Guriri e visse quais eram as conseqüências.
P/2 – O que melhorava e o que piorava.
R – É, exatamente. As conseqüências, as principais são logísticas, porque você sai de um lugar que estava ao lado do porto para ir para um lugar que não está ao lado de um porto, e ambientais. Ambiental é sempre o, o, eu diria que era quase que o desempatador dessa história. Porque dependendo do, tem sempre impacto. Uma unidade desse tamanho tem um impacto grande. E isso tem que ser medido para ver se você, em outras palavras, cabe ali dentro do lugar que você está pensando. Então começamos a fazer todos esses cálculos para o norte fluminense. Então cálculos que a gente foi, foram, foi se demandando uma complexidade cada vez maior. Tinha muita coisa que a gente não sabia. Porque era um lugar que não tinha sido estudado. Quer dizer , ele precisou ser visitado, sobrevoado, mais de uma vez até para a simulação, escolhido o, escolhida a microlocalização. Você tem que simular a partir de alguma coisa. E você começa a fazer os cálculos todos de, primeiro, os de logística que são aqueles, como que eu vou dizer? Mais simples de fazer sem pesquisa de campo. Você sabe onde estão as estradas, as estradas de ferro. Ali a complexidade seria fazer um porto. Então: "Quanto custa fazer um porto? Onde vai ser o porto? Quais são as limitações ambientais para se fazer um porto?" O melhor lugar em termos de proximidade do site era o Barra do Açu, que, aliás, estão fazendo um porto lá agora de outro empreendimento. E começamos a calcular quanto custaria isso. Quer dizer , investimento no porto que era um diferencial em relação a Itaguaí onde já tinha um porto feito. O impacto ambiental que a gente começou a medir era menor do que em Itaguaí, porque Itaguaí era uma região já com muita atividade industrial na época. Na época e hoje mais ainda. Então começamos a fazer essas contas. A Engenharia foi muito demandada para isso, porque a gente teve que calcular quanto custaria um porto. A gente calcula logicamente num nível de detalhe muito aproximado, muito abrangente. Mas são números que você vai juntando e comparando. Porque você, o dado do outro lado você também tem no mesmo grau de sofisticação. E fomos calculando, fomos calculando. A parte ambiental que a gente tinha uma expectativa de que seria muito melhor não se mostrou tão melhor assim ali. Porque ali não tem atividade industrial nenhuma, ou praticamente nenhuma de relevância. Mas tem cultura de cana. Cultura de cana tem queimadas, que já são muito poluentes. A própria atividade do complexo geraria poluição. A chamada pluma, que é o lugar onde caem os resíduos da queima, enfim, de todos os processos químicos que se dão lá dentro. E percebemos que não era, quer dizer, a parte ambiental era contornável, a parte de logística era bastante ruim. Porque um lugar muito isolado, teria que fazer estrada, porto, etc. Nem tudo você pode escoar por mar, ou receber por mar. Você tem matérias-prima que você recebe. Voltamos então, aí percebemos, a gente foi sofisticando o trabalho lá em, no norte fluminense, e percebemos que a gente tinha que olhar se o projeto original no local original tinha ido a esse grau de aprofundamento. Percebemos que não. Parte de logística e de impacto ambiental não tinha sido feita. A logística tinha alguma coisa feita, de impacto ambiental muito pouco. Voltamos e fizemos todo esse exercício para Itaguaí. Em Itaguaí descobrimos que a parte ambiental era, quanto mais a gente se aprofundava mais complicado ficava ter uma solução para o impacto que o complexo ia causar. Porque você já tinha duas termoelétricas lá funcionando. Tinha a Cosigua, é, Cosigua, acho que eu estou esquecendo de alguma coisa. E tinha um projeto mais adiantado que o nosso que ser o da CSA, que é uma siderúrgica. Ali você tem também outros dois grandes problemas, sendo o, Itaguaí tem, foi durante muitos anos um local de mineração de areia. Dizem que foi, que essa areia foi muito usada para construir a Barra da Tijuca inteira. Então você tem as chamadas cavas, que são buracos assim, um cone invertido que se enche de água. É lógico, né? Quer dizer , eu tiro a areia dali, enche de água, e com profundidade de 70 metros. Você sobrevoando parece uma beleza. Porque você vê uma piscina assim de água turquesa. É turquesa porque aquilo é completamente poluído. Visto de cima muito bonita a vista. Então a gente tinha além disso, quer dizer, esse era um grande problema. Exagerando um pouco na imagem, talvez, aquilo era uma, um queijo suíço. Um monte de buraco muito grande que você teria que contornar para construir um complexo. A outra coisa é que ali na região você tem o chamado Passivo da Ingá. Que não sei quem se lembra disso, já tem uns anos, Ingá era uma indústria de, de, tinha a ver com amianto eu acho. Tem ali um depósito de, de, um lago. Uma espécie de lago de, de produtos químicos que qualquer vazamento, ali já teve muita contaminação do mar inclusive quando houve vazamento. Porque envenena os peixes com mercúrio e envenena quem come os peixes, né? Enfim, a gente viu todo um passivo ambiental ali que no limite não tinha dinheiro no mundo que resolvesse. Porque a gente teria que mitigar numa quantidade que não era comercialmente viável na época, quer dizer, não havia mitigação que você pudesse comprar equipamentos para mitigar o tanto que era necessário baixar as emissões de forma a aquilo tudo - além das emissões já existentes - aquilo tudo caber ali. O último problema maior, quer dizer, era o próprio tamanho do site. O site tinha pouco menos de 10 milhões de metros cúbicos e a gente, quando a gente fez a apresentação final, a gente pediu 25 milhões de metros cúbicos. É meio difícil botar 25 milhões num...
P/2 – Sem empilhar.
R – ...um complexo de três andares ou dois andares e meio. E, na verdade, hoje em dia Itaboraí o que a gente tem são 45 milhões de metros cúbicos. Estou falando em números redondos. Porque se pretendeu ter um cinturão verde. Enfim, fazer uma coisa bem feita, um serviço bem feito em matéria ambiental. E, no entanto, a alternativa norte fluminense também não parecia ser uma alternativa brilhante, por que...
P/2 – Quanto tempo durou essas duas avaliações?
R – Olha, isso no total demorou mais de um, um ano e um mês entre começar o grupo e se propor uma solução final demorou um ano e um mês, mais ou menos. Foi de final de março de 2, perdi o ano, falhou.
P/2 – Acho que é 2006, uma coisa assim.
R – Não, final de março de 2005 até março de 2006. E aí nós chegamos, nós voltamos ao então gerente executivo que tinha constituído o grupo, o Kuniyuki Terabe, que e chegamos para ele e pedimos para olhar uma outra, um terceiro lugar. Porque não era, não era, a gente não tinha como recomendar um lugar como o bom. Os dois eram ruins. Um era ruim por ser impraticável. Quer dizer , era impraticável de se mitigar do ponto de vista ambiental. O outro não era bom o suficiente, saía muito caro por causa da parte de logística. Aí ele levou isso para cima e nos deu mais prazo para procurar um terceiro lugar. Aí a gente partiu de alguns lugares assim que a gente já tinha na cabeça por esse tempo todo tentando fazer conta e chegar a alguma coisa, e vendo que cada vez ficava pior a escolha. A gente dos lugares que a gente tinha na cabeça a gente achou, fez um brandstorm, e achou que Itaboraí tinha, não é o lugar perfeito porque nenhum lugar é perfeito para um empreendimento desse. Você vai poluir em qualquer lugar. Quer dizer , você tem é que evitar ao máximo a poluição mas não é, tem conseqüências. Você vai movimentar estrada, você vai fazer uma revolução no entorno. E aí a gente já tinha, mais ou menos, Itaboraí na cabeça como um lugar que tinha uma logística muito boa, praticamente tão boa quanto Itaguaí. E que, ao mesmo tempo, a parte ambiental o impacto seria tolerável. E aí iniciamos uma série de simulações atmosféricas para ver qual seria esse impacto para propor uma coisa com base. Quer dizer , toda parte logística a gente já tinha sofisticado bastante, o ajuste foi mais rápido, porque são cálculos numéricos, né? A parte ambiental é que você no final chega à conclusão que é o que vai decidir, finalmente, é o que pode dizer assim: "Não, aqui não pode ser."
P/2 – É o passa, não passa.
R – Exatamente. E passou. Passou. A gente fez todos os testes e propôs Itaboraí.
P/2 – Agora, me diga uma coisa, vai lá e no final você olha três sites em nível de profundidade, análise técnica robusta, e como é que é propor? Enfim, hoje a gente sabe um pouco do impacto, não apenas ambiental, mas o impacto econômico, social, enfim, para toda uma região. Ao anunciar, você podia contar depois um pouco do anúncio, como é que foi decidido quem ia fazer o anúncio, como ia ser feito o anúncio? Porque eu imagino que não de ter sido muito fácil chegar no momento de anunciar, né?
R – É verdade.
P/2 – E porque eu imagino que sempre alguém pode falar: "Bom, mas você não olhou aqui?" Porque, teoricamente, você pode olhar que aqui é bom, mas será que do outro lado, sei lá no sul, no norte, no Espírito Santo, ou em São Paulo, enfim, alguém sempre pode levantar a mão, né? Ou isso não teve...
R – Não, tinha uma, tinha uma determinação que seria no estado do Rio.
P/2 – Ah, isso já tinha?
R – É, isso a gente teve essa sorte. (risos) Porque se não fosse no estado do Rio, não sei, demoraria mais tempo para estar localizando.
P/2 – Vocês já trabalharam com esse contorno?
R – Ainda bem. Ainda bem, porque aí quando você trabalha no mesmo estado é muito mais simples, é muito mais simples. Porque você não, não se vê no meio de uma guerra fiscal. O que pode acontecer facilmente se você estiver dois, três estados concorrendo. E a idéia era um, quer dizer, nunca foi colocado que se fizesse em outro lugar. A motivação era porque, eu acho que tinha uma dívida antiga da Petrobrás com o estado do Rio, de ter 80% do petróleo que é explorado ser basicamente em frente ao estado do Rio. E muito menos do que isso, eu não sei a cifra, mas muito menos do que isso, muitíssimo menos do que isso ser refinado no Rio. Quer dizer , você agregar valor no Rio que é o que, que é o que gera mais recurso para o estado. Então havia já essa definição. Isso não foi, felizmente, não foi cogitado. Senão eu acho que a gente não tinha acabado até hoje, (riso)
P/2 – Entendi. Então fala do outro aspecto que eu perguntei, sobre a questão do anúncio. Como é que é isso? Como é que se faz um anúncio desse tipo? O que fazer e o que não fazer quando se vai fazer um anúncio dessa magnitude?
R – Olha, a gente trabalhava cercado de muito sigilo. Porque dentro desse grupo de trabalho que eu mencionei, essas pessoas, quer dizer, a gente acrescentou. Uma das minhas grandes preocupações ao ser convidado para essa entrevista, você tem que falar de todo mundo que participou. Porque eu comentei com a Cláudia quando ela me ligou a primeira vez, esse foi um trabalho absolutamente de equipe. Acho até meio esquisito, meio injusto que eu esteja sozinho como... Tá bom, digamos que eu tenha a memória do conjunto que talvez nem todos tenham. Mas foi um trabalho absolutamente de equipe. E me transformou num adepto do trabalho de equipe, do grupo de trabalho como uma, essa forma matricial de trabalhar que você agrega talentos de várias áreas. É, não tem melhor. Me faltam adjetivos. Mas é, foi, esse foi um trabalho absolutamente de equipe. E agregou muito mais gente do que as pessoas do próprio grupo, quer dizer, da Engenharia, o Danilo um engenheiro já aposentado que prestava serviço à Engenharia. Acho que está lá até hoje. Que fez os cálculos do porto com uma eficiência, uma rapidez e um prazer que é um negócio muito complexo, né? A parte ambiental também que a Viviana foi a representante principal no grupo. Teve o André Monsores que participou muito também num ponto mais avançado, até talvez tanto quanto ou mais que a Viviana. Teve a Glenda Sterling do Refino, que era uma especialista em emissões. Quer dizer , ela é a especialista em emissões que acompanha todas as refinarias que a gente tem no brasil. Vigiando essas emissões. E nos ajudou muito nesse trabalho. E, mas tinha também no grupo um representante do Grupo Ultra, que, parceiro privado da Petrobrás nesse empreendimento. E então tinha uma, digamos, uma restrição. Quer dizer , a recomendação era que o assunto ficasse dentro do grupo. Uma recomendação que eu ouvi do Kuniyuki Terabe, o gerente executivo da época, dizendo: "Nesse assunto você está subordinado a mim." Eu entendi aquilo como um, quer dizer, eu até buscava, buscava informações. Busquei muito suporte, tive muito suporte de todas as pessoas que talvez vocês já tenham entrevistado, ou vão entrevistar ainda, que estiveram no Comperj. O Vitor, o Dirceu Baleroni, e a Luiza França. Principalmente, quer dizer, que me supriram com n informações e lacunas técnicas que eu tinha quanto à petroquímica, né? Então houve muito sigilo. Eu não tinha a liberdade de comentar com os meus colegas. Enfim, me _____
P/2 – Na Petrobrás mesmo.
R – Na Petrobrás mesmo. Num dado momento a gente teve muito contato com o estado, quer dizer, com a Secretaria de Petróleo e Energia, que na época o secretário era o Wagner Victer, nosso colega de Petrobrás. E o subsecretário era o Marco Abreu, que tinha mais interface com a gente, porque, eventualmente ele voava com a gente em vôo de helicóptero. Enfim, procurava muito, procurava dar informação. E no final a gente teve muita conversa mais técnica já de como é que ia ser feito o tratamento tributário do site. Chegou em, quer dizer, houve uma defasagem de mais ou menos uns três meses, entre a gente ter proposto e ser aceita a indicação, e o anúncio, que foi em junho. Quanto tem de intervalo exatamente eu não sei.
P/2 – Junho de 2006?
R – É. Talvez uns dois ou três meses. E não tivemos grande problema de vazamentos não. Não tenho lembrança assim de divulgação na imprensa, de...
P/2 – O estado estava sabendo já, não? Ou era...
R – O estado soube no anúncio. É, numa cerimônia que teve aqui no Salão Nobre. Não...
P/2 – Não tinha nenhum receio quanto à reação do estado, assim, ele, ou era: "Essa é uma decisão absolutamente da Petrobrás, e pronto."
R – Não, receio propriamente não. Nisso a gente é muito protegido pela estrutura, né? Porque a gente, o nosso trabalho é exclusivamente técnico. Eu acho que se você se escora nos números e testa eles, eles têm que ser indiscutíveis, né? E isso a gente enfatizou muito. A gente se baseou muito em, o princípio que a gente seguiu e foi do grupo inteiro, foi a conversa que a gente sempre tinha o tempo todo é: "Se tiver enfoque político não é nosso. Quer dizer , o nosso trabalho é fazer as contas para cada alternativa existente. Isso é o nosso trabalho e a nossa defesa ______. O que a gente não pode é fazer errado." E até eu diria que por isso talvez tenha demorado um pouco de tempo mais do que seria de se esperar. Mas foi um tempo que também nós não fomos pressionados a correr.
P/2 – Mas o anúncio em si ele tem um caráter político, né, o anúncio em si?
R – O anúncio em si tem, tem. Tem toda uma expectativa, toda uma expectativa. E pra nós que trabalhamos no projeto tinha uma coisa assim de festa, né?
P/2 – E simbólico também, né?
R – Simbólico, absolutamente simbólico. É você chegar num ponto de um marco absolutamente importante.
P/2 – E agora, o que me parece ouvindo a tua história é que vocês não apenas trouxeram as inteligências, mas vocês montaram modelos, né? Isso daí virou, digamos, um ativo da Petrobrás ter esses modelos? Está sendo utilizado isso nas refinarias do Nordeste? Enfim, como é que vocês tomam essas decisões logísticas que por muito tempo não teve que tomar nessa amplitude? Isso virou um ativo, assim, de uma certa maneira? Como é que você tem tratado esse know-how? O know-how taí, né, enquanto está nas pessoas.
R – Olha, eu acho que isso é um critério mais ou menos universal na Petrobrás. Eu te diria o seguinte: não criamos um modelo no sentido de termos: "Olha, toma aqui uma ferramenta para fazer uma avaliação." A gente seguiu um padrão de exigência técnica, de exigência de clareza, de qualidade dos números, das contas que acho que é mais ou menos um padrão da Petrobrás.
P/2 – Então você usou referências?
R – Eu acho que pode ter havido sim, talvez por ter sido um complexo desse tamanho pioneiro, né? Então talvez tenha servido de referência para outros. Mas eu, para te ser sincero, não sei dizer pelo seguinte, quando, como eu, eu nunca trabalhei num complexo em si na, quer dizer, o meu trabalho foi coordenar a localização. Uma vez isso feito eu assumi outra função. E o nosso trabalho na verdade foi tão, tão, o tratamento dado foi tão confidencial que eu, eu tenho o arquivo eletrônico do relatório, que a gente chama de PSD, quer dizer, Pacote de Suporte à Decisão. Que é o relatório do grupo recomendando a localização. E imprimi uma única via. Que eu entreguei, na época já tinha trocado, era a hoje diretora Graça Foster, que era gerente executiva da Petroquímica, presidente da Petroquisa. E eu entreguei para ela a única, eu mesmo não tenho uma, é um documento deste tamanho como você pode imaginar. Eu mesmo não tenho impresso. E entreguei para ela a única via. Então fica até difícil achar que ele pode ter virado assim uma espécie de modelo. Mas eu acho que ele seguiu um padrão da Petrobrás de exigência. Porque não, não teria grande originalidade esse trabalho.
P/2 – Para finalizar, pelo menos da minha parte, acho que tem uma partezinha adicional aqui, eu entendo que, logicamente, foi um trabalho do grupo e que você teve o papel da coordenação do grupo, né? Uma coisa mais genérica, porque uma das facetas desse nosso estudo de caso é falar especificamente de Comperj, mas falar também de habilidades gerenciais, competências gerenciais, enfim. Eu queria que você refletisse um pouco até sobre o seu próprio aprendizado, sobre alguns aspectos relacionais à habilidades gerenciais para conduzir um grupo que está com uma missão tão importante e tão multidisciplinar. Acho que a pergunta é ampla, mas deixo você à vontade aí para...
R – Eu acho que foi uma escola para mim. Para mim foi uma escola porque eu, quer dizer, do ponto de vista pessoal eu aprendi uma enormidade de coisas que eu tinha um conhecimento absolutamente teórico, de leitura sobre logística. Porque com uma empresa como a Petrobrás, do tamanho da Petrobrás é um tema de uma importância fundamental. A outra questão é a questão ambiental. Isso eu acho que para qualquer empresa, mas para a Petrobrás especialmente, porque trabalha numa área que é muito sensível com isso, né? E pode causar impactos muito grandes pelo tamanho e pelo tipo de produto esse meu aprendizado foi muito grande. Do ponto de vista gerencial, o coordenador não é um gerente, né? O coordenador não manda. Quer dizer , o coordenador é um, talvez um bom sinônimo seja um facilitador. Quer dizer , eu acho que ele tem que criar um ambiente para deixar as pessoas trabalharem o melhor que podem e exigir sem...
P/2 – Sem mandar, né?
R – ...sem mandar. E eu acho que, enfim, eu talvez pelo tipo do trabalho, pelo interessante, pelo inédito e pelo, porque é um projeto que no final você vira assim meio partidário. Você vira defensor. Então eu entrei com muito entusiasmo e eu acho que todas as pessoas que trabalharam também. Quer dizer , foi um negócio que motivou todo mundo com quem se falava na época. E eu trabalhei com gente muito competente. Quer dizer , pra onde quer que eu me virasse nesse trabalho de coordenação eu tive atendimento rápido, trabalho de qualidade. E dos meus colegas mais imediatos do grupo uma participação que foi muito além de uma participação profissional correta. Foi de adesão ao projeto também. Teve uma cumplicidade muito grande entre todos os membros mais efetivos e todo mundo que se agregou ao projeto em fazer o melhor possível. Em fazer a coisa, propor a melhor decisão para a Petrobrás. Mas para a Petrobrás no sentido de não desconhecer os aspectos ambientais, sociais, econômicos. A gente sabe do impacto que tem um projeto desse em qualquer lugar. E não são só ambientais. Porque você modifica a vida de, sei lá, centenas de milhares de pessoas. E teve uma...
P/2 – Será que houve um sentido de missão na sua equipe? Eu estou tentando colocar uma palavra que parece que a equipe tinha uma missão de realmente fazer algo, fazer uma escolha de impacto. É isso?
R – Eu acho que sim. A gente tinha uma certa angústia de estar demorando muito porque a gente estava sofisticando demais os cálculos, quer dizer, por estar talvez sofisticando demais os cálculos. Mas não nos foi cobrado. Acho que a gente na hora certa, porque talvez nos escapasse do ponto de vista político qual era a hora certa, na hora certa a gente chegou com a proposta. Tanto é que entre, como eu te disse, entre a gente propor e o anúncio ser feito ainda demoraram uns dois meses ou pouco mais. Teve, acho que teve realmente, teve uma dedicação extra. Teve alguma coisa a mais. Todos nós somos moradores do estado do Rio. Quer dizer , a gente tem, como, esquecendo que a gente é da Petrobrás, a gente sabe do impacto de um projeto desse para melhorar a economia do estado. Então tem isso também, tem isso também. Quer dizer , tem o saber que isso...
P/2 – É aquela hora que você coloca outro chapéu, o chapéu de cidadão.
R – É, exatamente, exatamente. Eu acho que, e tudo isso vai fazendo a gente trabalhar com um gosto que, especial.
P/2 – Muito obrigado. Vou passar a palavra.
R – Obrigado a você.
P/1 – Feldman, eu queria que você repetisse qual é o seu cargo atual?
R – Eu sou gerente de Implantação de Projetos Petroquímicos, na Petroquímica. Petroquímica e Fertilizantes para o Abastecimento.
P/1 – E então a escolha da vinda para o real, deixar os numerozinhos também um pouco de lado, foi acertada.
R – Foi super. Foi, no meu trabalho de hoje como eu cuido de implantação de projetos, quer dizer, obviamente muito menores que o Comperj, né? (riso) Nem se compara. A gente procura manter esse mesmo tipo de entusiasmo. Tem uma coisa assim de curtição, de fazer a coisa acontecer.
P/1 – Quais são os outros projetos que você está acompanhando?
R – Na minha área a gente tem um projeto de, chama-se Complexo Acrílico, que é produção de acido acrílico. Acrilatos e SAP. Acrilatos são usados para tintas e resinas, sacolas. E SAP é aquele material usado para fralda descartável. Que a gente está tocando em Minas, junto à Regap, Refinaria Gabriel Passos. E tem dois outros projetos mais embrionários, sobre aproveitamento de glicerina para fazer propilenoglicol. E um outro de aproveitamento de água. Água de produção para fazer barrilha.
P/1 – Já está craque em toda a nomenclatura? Eteno, benzeno, química e toda...
R – De vez em quando eu peço socorro. Mas eu...
P/1 – Voltou aos cadernos de Química.
R – Não. De vez em quando eu peço socorro, mas eu, na verdade - vou fazer uma confidência aqui - eu nunca estudei Química na minha vida, formalmente. Eu vim conhecer Química aqui. E aí a experiência é a seguinte, mas na verdade engenheiro químico é o que não falta na Petroquímica, né? Então eu tenho socorro à minha volta 24 horas por dia. E o que eu procuro levar, acho que talvez tenha sido isso o interessante do meu trabalho no, na localização, eu procuro levar assim o olhar de quem vem de fora. Aquele olhar assim: "Mas por que é que é assim?" e tentar ver o lado econômico da coisa. Quer dizer , não ficar exclusivamente no técnico. E gosto muito, curto muito. Acho super interessante, super motivado.
P/1 – Desses 16 anos que você está na Petrobrás qual foi a grande mudança que você sentiu?
R – Olha, a grande mudança aconteceu na minha ausência quando eu estava, passei cinco anos na TBG, no Gasoduto Bolívia-Brasil. Então, propriamente, essa mudança eu não vivi. Eu vi de longe. Quer dizer ...
P/1 – Mas na sua volta você também...
R – Na minha volta eu acho que a grande mudança não, quer dizer, a Petrobrás tinha mudado muito, com certeza.
P/1 – Mas eu te interrompi, perdão, qual foi a grande mudança que aconteceu quando você estava fora?
R – Essa grande mudança de, de, que foi na época do presidente Reichstul, quer dizer, de áreas de negócios e uma maneira diferente de estruturar as coisas. Eu estava fora. Eu não presenciei aqui no dia-a-dia. E aí quando eu cheguei essa mudança estrutural da Petrobrás não me impactou tanto. Porque, sabe, como eu tinha ficado fora eu não tinha, pra mim a grande mudança foi eu passar para a área de Petroquímica. Quer dizer , essa grande novidade na minha vida profissional. Um negócio que até hoje eu fico pensando: "Tem muito do acaso nisso." quer dizer, e foi um acaso que eu fico super feliz de ter acontecido. Porque como experiência profissional é excelente.
P/1 – Feldman, você está casado atualmente? Você tem filhos?
R – Não, não tenho filhos. Atualmente eu estou separado ha algum tempo. Estou, casamento meio em casas separadas para ser mais exato.
P/1 – Às vezes dá muito certo.
R – Tem dado muito certo. Melhor do que antes.
P/1 – O que você gosta de fazer nas suas horas de lazer?
R – Leio muito, escuto muita música, gosto de cinema. Gosto de viajar. Não tenho viajado tanto quanto eu gostaria, mas eu gosto bastante.
P/1 – Passaporte inglês ou britânico?
R – Meu passaporte é brasileiro.
P/1 – Perdão, brasileiro ou...
R – Eu tenho os dois. Não tinha até mudar a lei. Porque antigamente isso era...
P/1 – Era ilegal, você tinha que optar por um.
R – ...era ilegal. É, mas hoje é permitido então eu tenho os dois. Porque é uma grande conveniência você poder entrar nos Estados Unidos sem precisar de visto, pelo menos até a última vez que eu fui.
P/1 – Enfim, a gente está terminando, gostaria só de perguntar o que você achou de ter participado, ter dado esse depoimento, contribuído para o Memória, para toda essa, também o trabalho das meninas, os desafios?
R – Olha, eu já tinha comentado com a Cláudia, eu acho um projeto como esse um negócio muito legal. Eu acho muito legal porque esse tipo de experiência, de conhecimento se perde se não for registrado, se não for documentado. Eu acho muito bom que se faça para esses grandes projetos. Porque nada disso surge, né, de apertar botão. Tem muito de esforço de muita gente a fazer qualquer projeto desses, esse, quer dizer, do Comperj e esses outros que eu vi que vocês já documentaram, já registraram. Eu acho excelente. Eu acho, a minha única preocupação é: não sei se eu citei nome demais. Mas a sensação que eu saio é que eu citei nome de menos. Porque um registro desse tem que, tem que guardar os nomes também, né? Esses projetos são feitos por gente. Profissionais dedicados e na medida que você documenta, que você registra, eu acho que tem que procurar registrar todo mundo que ajudou. Da minha parte o que eu vi foi uma dedicação muito grande. E eu temo que eu não tenha mencionado todo mundo que me ajudou. Porque eu acho que, sabe, eu tive, eu acho que se saiu um trabalho bom foi porque eu tive muita ajuda e de muito boa qualidade. Gente muito dedicada. E onde eu procurei, onde eu precisei ela apareceu. Eu acho que isso é que faz a grandeza da Petrobrás. Quer dizer , você, o conhecimento que tem aqui dentro em todas as áreas, e você poder aproveitar isso. Voltando àquela história do grupo de trabalho, do trabalho matricial, eu acho que é fundamental para esses trabalhos importantes, projetos, enfim, essas grandes coisas que a gente consegue fazer. Se não fosse essa maneira de trabalhar, quer dizer, pegando talentos em todos lugares, e tem muito na Petrobrás, isso não sairia tão bem feito.
P/1 – Tá certo. Eu agradeço a sua participação, você ter vindo aqui colaborar com a gente. Obrigada.
R – Muito obrigado. Eu estou sempre à disposição.
(FIM DA ENTREVISTA)
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