Projeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de João Bosco Leite
Entrevistado por Larissa Rangel
Macaé, 10 de junho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB392
Transcrito por Viviane Cristina Pinto
P/1 - Pra começar a entrevista, gostaria de saber seu nome completo data e local de nascimento.
R - Data de hoje? Que data? Desculpe.
P/1 - Data de nascimento.
R - Data de nascimento. João Bosco Leite, 3 de outubro de 1952, local Itajubá, Minas Gerais.
P/1 - Minas Gerias. O senhor veio pro Rio, pra cá, Macaé, através da Petrobras?
R - É a Petrobras, antigamente a Petrobras fazia a seleção, recrutamento e seleção do pessoal, inclusive nas escolas federais e eu sou oriundo da Escola Federal de Itajubá e a Petrobras fazia os testes admissionais lá. Fazia o recrutamento lá na escola. Eu fiz a prova lá, e passei, e vim pro Rio trabalhar. Conheci o Rio inclusive, trabalhando na Petrobras.
P/1 - E quando foi?
R - Em 1978.
P/1 - E qual era a função?
R - Engenheiro de equipamentos. Eu fiz o curso de Senecsim (?), né. Curso de equipamentos e instalação no mar, que foi um primeiro curso, praticamente misto, né? Porque a gente tava começando, iniciando assim a instalação no mar. A gente foi admitido inclusive pra trabalhar no GECAM, que era Grupo Executivo da Bacia Campos, pra gerenciamento das primeiras sete plataformas da Bacia de Campos, que foi Garopa, Enchova, Namorado 1, Namorado 2 e de Pampo. Se eu me esqueci de alguma dessas, são sete total. Certo? E nesse período, a gente trabalhou no Rio, foi admitido, fizemos curso no Rio Senecsim(?), e começamos a trabalhar e ficamos quatro anos no Rio, nesses quatro anos, as plataformas foram construídas e vieram pra Bacia de Campos. Quando elas foram instaladas a gente se deslocou também, junto com as plataformas, pra Macaé e aqui, eu particularmente, estou até agora, vários colegas já saíram, ou saíram e retornaram, mas eu continuo aqui em Campos desde...
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Depoimento de João Bosco Leite
Entrevistado por Larissa Rangel
Macaé, 10 de junho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB392
Transcrito por Viviane Cristina Pinto
P/1 - Pra começar a entrevista, gostaria de saber seu nome completo data e local de nascimento.
R - Data de hoje? Que data? Desculpe.
P/1 - Data de nascimento.
R - Data de nascimento. João Bosco Leite, 3 de outubro de 1952, local Itajubá, Minas Gerais.
P/1 - Minas Gerias. O senhor veio pro Rio, pra cá, Macaé, através da Petrobras?
R - É a Petrobras, antigamente a Petrobras fazia a seleção, recrutamento e seleção do pessoal, inclusive nas escolas federais e eu sou oriundo da Escola Federal de Itajubá e a Petrobras fazia os testes admissionais lá. Fazia o recrutamento lá na escola. Eu fiz a prova lá, e passei, e vim pro Rio trabalhar. Conheci o Rio inclusive, trabalhando na Petrobras.
P/1 - E quando foi?
R - Em 1978.
P/1 - E qual era a função?
R - Engenheiro de equipamentos. Eu fiz o curso de Senecsim (?), né. Curso de equipamentos e instalação no mar, que foi um primeiro curso, praticamente misto, né? Porque a gente tava começando, iniciando assim a instalação no mar. A gente foi admitido inclusive pra trabalhar no GECAM, que era Grupo Executivo da Bacia Campos, pra gerenciamento das primeiras sete plataformas da Bacia de Campos, que foi Garopa, Enchova, Namorado 1, Namorado 2 e de Pampo. Se eu me esqueci de alguma dessas, são sete total. Certo? E nesse período, a gente trabalhou no Rio, foi admitido, fizemos curso no Rio Senecsim(?), e começamos a trabalhar e ficamos quatro anos no Rio, nesses quatro anos, as plataformas foram construídas e vieram pra Bacia de Campos. Quando elas foram instaladas a gente se deslocou também, junto com as plataformas, pra Macaé e aqui, eu particularmente, estou até agora, vários colegas já saíram, ou saíram e retornaram, mas eu continuo aqui em Campos desde 1983, 1984.
P/1 - O senhor pegou desde o início, né?
R - Desde o início.
P/1 - E qual foi a sua emoção de ter passado pra Petrobras? Qual foi sua expectativa?
R - Foi muito boa. Até porque eu fiz o curso, eu fiz a prova, estava terminando o curso em 1977, eu fiz a prova, setembro, outubro e nesse período me formei e já comecei a batalhar empregos em São Paulo. Porque Itajubá fica quase assim, divisa de São Paulo. Então eu comecei a procurar e você a dificuldade que era, você sair do sul de Minas, pegar o jornal, ver quem está precisando admitir gente, engenheiro principalmente. A gente ia, fazia teste, fazia concurso, voltava pra Itajubá, e ficava aguardando, aquela expectativa. E quando foi abril, maio, eu recebi o telegrama da Petrobras, aí foi uma satisfação muito grande.
P/1 - E como foi ficar longe da família?
R - Olha, eu acabei não ficando muito longa da família, né? Eu tive que, porque Itajubá fica assim no sul de Minas, ela fica próxima, fica quase um triângulo, na mesma distância. Mais perto de São Paulo, do que do Rio de Janeiro. A dificuldade de vir pro Rio era uma das dificuldades mais de horários de ônibus, mas praticamente de quinze em quinze dias dava pra ficar, dava pra ir em casa, pra ver a família sem problema.
P/1 - E hoje, qual é a sua atuação? Qual é a sua função dentro da Petrobras?
R - Minha função, eu trabalho hoje na US-SUB, Engenharia Submarina e ISBM, que a parte de, eu trabalho na parte de, praticamente a gente fazia uma parte de interlocução entre a área técnica e a área de compra, das linhas flexíveis e umbilicais.
P/1 - Então o senhor é responsável pelo todo gerenciamento?
R - Não seria gerenciamento, seria uma, um elo de ligação, porque você tem a proposta técnica, né? A partir dessa proposta técnica você tem que colocar ela dentro do sistema de compras, tá certo? A partir daí você, o sistema de compra juntasse com outras documentações, outras informações e passar pro setor de compras, que é outra unidade de serviço que compra, que é a UEP-SERV. O UEP-SERV, qualquer lance de dúvidas assim, ele também faz uma interlocução ao contrário com a gente, no sentido inverso, e também junta os fornecedores, ou seja, todas as dúvidas que tem dos fornecedores, ele repassa pro setor de compras, o setor de compras repassa pra gente e a gente distribui internamente pros interessados.
P/1 - E dentro dessa sua trajetória de trabalho, qual foi o maior desafio?
R - Olha, foram vários. Eu trabalhei assim muito, eu trabalhei sempre em área assim bastante operacional, né. Eu peguei, quer dizer, desde a implantação das primeiras plataformas, eu fui gerente de dois setores aqui, né. Setor de Mecânica, na época foi bastante pesado porque as plataformas estavam começando a operacionalizar, então, muitos equipamentos dando os problemas, você tinha que mandar pra terra, tinha urgência em devolver esses equipamentos, então foi bastante desgastante, mas foi bom.
P/1 - Mas o problema do equipamento era devido a qual motivo?
R - Todo equipamento novo né, sempre você tem problema de. Você pegava o sistema de água de geração de água potável, né. Muitas plataformas tinham, hoje se perguntar pra mim nem sei como que é hoje, mas no passado, você tinha uns equipamentos que foram projetados pra pegar água salgada e transformar em água doce, por exemplo. Esse equipamento era muito sensível, qualquer erro de operação se danificavam os mancais e esses mancais eram importados e você tinha que, ou você comprava importado ou você fazia a nacionalização desses mancais, entendeu? Então, constantemente este equipamento estava descendo pra terra, pra ser reparado e aquela correria, bomba de transferência de óleo, quer dizer, a bomba de transferência de óleo danificou, você não transfere óleo pra terra, você deixa de produzir. Então, era muito, era bastante trabalho. Você entrava na Petrobras sete horas, oito horas e saía dez horas e saía preocupado ainda sem saber se no dia seguinte você ia conseguir resolver os problemas que você tinha que resolver. Eram bastante problemas.
P/1 - E cada plataforma tem uma característica própria?
R - Sim, eram mais ou menos parecidas, as características eram parecidas, né? As bombas de água, de injeção de água, as bombas de captação de água pra combate a incêndio. Eram todas mais ou menos parecidas, não diria que eram todas iguais. Os problemas, digamos assim, não eram, quer dizer a solução dos problemas não eram tão difíceis não.
P/1 - Houve um problema com a plataforma de Enchova, né? Um incêndio?
R - Teve, teve um problema com Enchova exatamente o que vou contar. Alguma coisa de Enchova, exatamente de Enchova porque, não sei se eu posso? Começo a contar agora?
P/1 - Pode contar.
R - Então, o que aconteceu. Quando eu fui admitido. Quando a Petrobras decidiu pela fabricação dessa, pela construção dessa plataforma, devido a produção, que já estava sendo, sendo digamos assim identificada na Bacia de Campos, lá produzido, em 1977, alguma coisa assim. Então houve a criação do GECAM, que foi decidida a construção, gerenciamento e a construção, instalação dessas sete primeiras plataformas. E essas plataformas, algumas foram as jaquetas, que é aquela parte que fica submarina e tem a top side, que são os módulos de produção. A jaqueta, ela, algumas, quer dizer, Namorado 1 e Namorado 2, se não me engano, foi feita lá fora e demais foi fabricado no Brasil. E top side e os módulos foram distribuídos no Brasil todo. Então eu trabalhei no Rio, quando eu fiz o curso, a gente terminou a fase de estágio, eu fui trabalhar na parte de, digamos assim, de, como se fosse assim, um planejamento de como esses módulos iam sair do canteiro, que eles estavam sendo fabricados no Brasil todo. Tinha aqui no Rio, um canteiro aqui, esse canteiro aqui do Rio, na Bahia de Guanabara. Tinha em Salvador e tinha em Aracaju. Então eu praticamente fiquei com esse módulo de Aracaju que são, eram os módulos de Anchova, eles foram fabricados lá no Porto das Redes em Aracaju, na margem do Rio Sergipe e os outros eram todos praticamente na beira do, em praia, na beira mar, né? Exatamente no cais já era divisa entre o canteiro e o mar. E no caso de Porto das Redes é um canteiro da área Urge(?), que fabricou os primeiros módulos, quer dizer, os primeiros módulos que hoje eles foram incendiados, pegou fogo, aquele negócio todo. Então, os módulos originais, eles foram fabricados em Porto das Redes, às margens do Rio Sergipe. O Rio Sergipe, ele tem a desembocadura dele no mar, mas você tem um, do canteiro de obras até a desembocadura do mar, acho que tinha mais ou menos, sei lá, alguma coisa entre uns dez quilômetros pra chegar lá, ta certo? Mas ela tem, ela continuava tendo a influência do mar, quando o mar sobe, a maré sobe, empurra a água do rio e você têm a influencia aí da maré. Então, e Porto das Redes você tinha um prático lá muito experiente, que praticamente só ele que tirava tanto os navios do porto, do porto de Aracaju para o mar, na saída lá da barra. É só ele que fazia, um determinado horário, certinho, só ele que fazia. Ele chamava Zé Peixe. Até, não sei se vocês tiveram oportunidade de, até você ou quem tá me ouvindo deve ter, já deve ter assistido na Globo, um especial, mostrando esse prático. Ele é, só um parênteses aqui, ele pegava um navio do porto, passava a Barra, navegava um pouco, quando o navio já tivesse, já tava assim, no curso normal, ele saltava de cima do navio e vinha nadando até a praia e voltava de novo pra posição dele. Então, nessa época que eu tava em Aracaju, que a gente foi tirar os módulos, pra colocar na balsa e ser rebocado pra sair na Barra, eu não conhecia o Zé Peixe. Então, ele chegou na, ele chegou junto com a, na época da liberação desses módulos. Tinha comitiva, tava o Governador do Estado de Sergipe, tava o Prefeito lá de Aracaju, tava o Presidente da Petrobras. Então, ele estava subindo, no sentido contrário, estava subindo o Rio Aracaju, até vinha próximo ao canteiro de obras que ia ser feita a liberação da balsa. E a Marinha foi lá pra fazer a vistoria, pra ver se estava tudo bem, pra liberar a balsa, e o prático era o Zé Peixe, né. Então ele chegou, chegou num carro todo pomposo, chegou, eram quatro carros da Marinha, todo bem vestido, todo bem uniformizado e no meio dos quatro lá da Marinha, estava o Zé Peixe, lá no meio assim, um senhor. A hora que ele desceu, eu falei pro cara "Será que prenderam alguém aqui dentro do canteiro e colocou aqui?", mas não era, é o cara mais experiente aqui, pra poder, ele que tinha autoridade, quer dizer, a voz dele era a última pra poder liberar a balsa e tinha um horário pra marcado, pra sair a balsa. Então ele ficou olhando lá o tempo, a maré, tal assim, só de, só usava uma bermuda, a pele toda já ressecada, não vou dizer que tinha escama não. Ele tinha uma pele bem ressecada do tempo de trabalho ali do sol e água salgada. Ele, e deu assim, por volta de quinze horas, quinze e trinta era o horário arriscado. Até quinze e trinta, se a gente não sair agora, até quinze e trinta, a gente só vai sair amanhã. Pô e com comitiva e tudo ali, como é que vai fazer? E o pessoal ainda era assim, por volta de, sei lá, treze horas, treze e pouco estavam soldando ainda algumas estífanes, que é a amarração do módulo na barcaça. E deu quinze e trinta em ponto, ele simplesmente soltou as amarras da balsa, começou a soltar a balsa e o pessoal, a peãozada toda pulando pro canteiro, jogando máquina de solda, aquela confusão toda, entendeu? E por quê? Porque ele tinha uma voz assim realmente positiva. Se não saísse aquela hora, só sairia no dia seguinte e ninguém mais teria assim, diziam assim, "não, a comitiva tá vindo aqui, o Governador está chegando aí, vamos esperar". "Não tem que esperar não, o mar não espera não". A maré sobe em uma determinada velocidade que você, se você não saísse ali, a balsa podia encalhar ao longo do caminho do percurso dali do canteiro até a saída da Barra lá, né. Então aí um caminho sinuoso porque rio, todo mundo tem experiência com o mar. Falei pra você. No mar tem a maré, subiu, o calado navio, por exemplo, o rebocador oceânico, ele tem calado (?) aí pra oito metros, de cinco a oito metros e o rio, você tem uma largura razoável, mas você tem um afunilamento em certos pontos que você tem que fazer uma curva assim, né, e banco de areia, ele muda. Então você tem que ser um prático com muita experiência pra poder ter certeza, pra, "conduz a embarcação pra cá agora, conduz pra lá, você tem que passar aqui". É só ele mesmo que poderia fazer isso aí. Que foi feito e com sucesso,gente conseguiu tirar a balsa, foi assim, um momento ali preocupante, porque você, assim, você imagina se uma balsa dessa encalha no Rio Sergipe, com um monte de módulo em cima. Como é que você vai tirar? Pra você fabricar uma balsa, pra você fabricar uns módulos desses é dois anos, três anos. Então foi bastante preocupante o tamanho da embarcação. Eles estão acostumado a ali com, passar barquinho, aqueles barcos de passageiros, né? Mas você coloca uma balsa de quase duzentos metros, com três módulos, quase três mil toneladas. Então foi bastante preocupante, meio que tenso esse momento.
P/1 - E qual foi o momento mais difícil, dentro da, dos equipamentos, em termos de utilização dos equipamentos, das plataformas?
R - Assim, eu não trabalhei na plataforma, né. Eu não tenho, não tive vivência de plataforma. Eu não embarquei. A gente, os momentos difíceis foi, quer dizer, eu trabalhei na parte de instalação. A gente retirou os módulos do canteiro, colocou na balsa, da balsa a gente navegou, veio pra Bahia de Guanabara, da Bahia de Guanabara, você transferiu da balsa para o navio guindaste. Do navio guindaste, a gente foi instalar lá na plataforma. Quer dizer, o momento, são momentos assim, mais que perigosos. Eram momentos perigosos, não é nem momento assim difícil, eram momentos de.
P/1 - De técnica, né?
R - Não é nem muita técnica, porque você, era digamos assim, tinha que ta tudo certo. Você, por exemplo, você caminhou com os módulos em cima de uma balsa, ou em cima de um navio guindaste, convés de um navio guindaste, você chegou junto a plataforma, você já tem que ancorar a embarcação, né, bastante ancorada, pra você, primeiro você, e você chega (mudo de 41:21 até 42:24 ). na estrutura da plataforma. Então esse é um momento bastante perigoso e tenso também, porque uma hora dessa você pode afunda tudo, né.
P/1 - Então continuando, falando sobe essa dificuldade que você tava descrevendo.
R - Dando continuidade, é o seguinte, quando você, a gente pega os módulos, ou em cima de uma balsa, ou em cima de um navio, você pegava esse módulo e ia em direção à plataforma. Então você chegava lá, você teria que ter as melhores condições de tempo possíveis. Alguns navios como semi-submersível, ela são menos suscetíveis aos movimentos do mar. Já o navio, como é um tipo de uma banheira, um tipo, um reservatório de água, vamos dizer assim, um reservatório, como todo mundo conhece um navio, ele tem mais é, qualquer onde que bate nele, ele vai fazer aqueles movimentos que ele tem de rol (?), de pite (?), com maior velocidade. E você, quando toma a decisão de cortar a amarração desse módulo, você tem que tomar a decisão, depois não tem mais volta. Você cortou a amarração, você tem que pegar ele e colocar na plataforma novamente. Colocar novamente, quer dizer, colocar na plataforma. E nesse levantamento você tem uma compensação de lastro e a hora que você chega com ele na plataforma, você, há um alívio do peso em cima da plataforma, automaticamente não tem velocidade do lastro pra compensar esse alívio de peso. Ele repete o movimento várias vezes, batendo como martelete dum módulo sobre o top side da plataforma, sob a estrutura da plataforma. E esse momento é um momento bastante tenso, que você não sabe se o módulo vai cair na condição correta, se vai cair, se nem, se cair de alguma forma totalmente errada, pode vim a virar e cair no mar e aí vai o navio também, porque está tudo interligado, o cabo do guindaste está interligado com o módulo e automaticamente se um módulo desse caísse, ia todo mundo afundar junto. Muito arriscado.
P/1 - E essa dificuldade é ainda, nos dias de hoje, ela se encontra? Como que é essa mudança?
R - É depois houve grande evolução nisso aí. Houve, por exemplo, como falei anteriormente, as semi-submersível são mais, menos susceptíveis a esses movimentos. Elas ficam mais paradas, ou seja, o movimento é bem menor. Ela consegue trazer muito mais módulos, e depois assim, houve a evolução também, isso em questão de balsa e guindaste, que você tem, balsa e guindaste na época era pra 1300 toneladas, quase no limite do peso de um módulo, você no final das instalações das plataformas, você tinha balsa já pegando sete mil toneladas. Quer dizer, então, com capacidade muito acima daqueles primeiros navios que foram instalados nas primeiras plataformas. E hoje você, depois evoluiu tanto que, sete mil toneladas, em vez de você fazer dez módulos, você fazia dois módulos só. Você fazia dois içamentos. Então, em vez de dividir uma área em vários quadradinhos, você dividi somente em duas partes, né, porque? Você poderia aumentar o peso. O limitante antes eram os guindastes de até mil e duzentas toneladas, depois você passou a ter guindaste que pegava até sete mil toneladas. Então você aumento a capacidade, você aumenta, você diminui o fracionamento desse top side.
P/1 - E qual fase da produção da Bacia que foi mais marcante? Por quê?
R - Ah, eu acho que foi quinhentos mil barris, né. A gente começou a produzir lá 100 mil, 110, 120, foi subindo. A marca de quinhentos mil foi, não sei se foi porque foi bastante divulgada e você tá trabalhando intensamente, um serviço que não pára, Acho que foi quinhentos mil barris.
P/1 - E quem é o trabalhador da Bacia de Campos? Como você identificaria as pessoas que trabalham na Bacia? As características?
R - Olha, acho que tanto Petrobras, como contratado, todos eles, eu acho que dão tudo de si pra que a coisa aconteça, entendeu? Então, é lógico que tem as dificuldades inerentes aí do processo em si, de ser uma Estatal, de ter as suas, estar sempre sendo vigiada. É diferente de uma empresa privada. Então a gente tem esse lado da dificuldade, mas também, acho que todo mundo é bastante empenhado em, eu não vejo ninguém assim de corpo mole não, entendeu? O trabalho é intenso.
P/1 - E uma grande diversidade cultural também, né?
R - Ah também.
P/1 - Como que é essa experiência? Com tantas pessoas de várias regiões do Brasil?
R - Ah, você convive com isso aí, né. Você, não sei se é porque a gente tá tão envolvido com o serviço que você, você não percebe muito essa diferença. Você convive com todos eles naturalmente. Há um respeito mútuo de o cara ser amazonense, cearense, eu mineiro, de vez em quando sai umas piadas, tal, mas não, acho que é importante, é válido essa convivência.
P/1 - E o senhor pode contar alguma história interessante, engraçada, ocorrida nesses anos?
R – Pô, engraçado, o mais engraçado que eu tinha era dessa do Zé Peixe que, naquele momento ali, você vê todo mundo pulando fora da balsa pro canteiro. E alguns até acabaram ficando na balsa e foram descer lá em Porto das Redes, lá, lá em Aracaju, mesmo no cais do porto lá. Quer dizer, então, assim, engraçado eu não tenho. Eu acho que tem mais momentos perigosos, assim que eu passei, do que mesmo engraçado, entendeu?
P/1 - Então fala um pouquinho.
R - Teve sim engraçado que eu poço citar. Uma vez a gente tava, nessa parte de AICMS (?), eu acho que a Petrobras evoluiu muito assim, eu multiplico por mil. Porque de primeiro você vinha do Rio de Janeiro pra embarcar aqui na Bacia de Campos, você chegava com a carteirinha da Petrobras e dizia "Olha, vou embarcar na plataforma tal", o cara simplesmente "Ah, espera naquele canto ali". Eles perguntavam seu peso, se você tinha bagagem, além disso você entrava, todos os passageiros ali e você tinha, passava as vezes aqui dentro da Embetiba, um heliponto hoje, que até é proibido pouso ali, cancelado por problema de segurança, passava ali, pegava equipamento de completação (?), colocava junto com sua bagagem, olha só que perigo, e ia embora, entendeu? E, de vez em quando é, parece piada, mas aconteceu, o cara, o piloto lá, quer dizer, o piloto também, piloto não, de onde saiu esse piloto? Não sei de onde saiu esse cara. Então o cara virava pra trás assim e "ó vem cá, tem um negócio aqui, alguém entende inglês aqui? Porque tem um negócio em inglês aqui". O equipamento lá, quer dizer, tava com falha lá, talvez no equipamento. Alguém entende de inglês, meu Deus do céu, onde é que a gente tá? Então, são momentos tensos que, você passar, por exemplo, de uma balsa guindaste com a cestinha, por exemplo, passar da balsa guindaste pra cestinha. Você um equipamento desse que pega mil toneladas. Então, essa manete do guindasteiro, ele perde a sensibilidade. Bota lá cem quilos, cento e cinqüenta quilos. Então você fica balançando ao sabor do vento ali e não tem controle de, vamos dizer, de matar esse movimento. E matava a hora que você chegava perto de um módulo daqueles e batia no módulo e aí parava naturalmente. Passagem, quantas vezes a gente passou assim de um navio pra outro navio. Porque quando eu comecei a embarcar na Bacia de Campos, você só tinha o Pepê Morais (?) de pouso. O helicóptero só descia em um navio, a partir dali você descia e ia pra o navio que você queria na Bacia, mas, através de uma lancha. Você pegava a lanchinha, pô, é um barquinho de pesca desse. Você pega um navio Pepê Moraes (?), era um petroleiro de duzentos, trezentos metros de comprimento.
P/1 - Era uma aventura?
R - Você chegava assim perto do navio a onda, a própria onda que o barco fazia, que batia no navio, voltava o barco mais uns dois metros. Até ele chegar perto, consiguir chegar perto do navio, pro guindaste pegar a gente, içar e trazer a gente pra cima do convés.
P/1 - E como o senhor vê a Bacia no futuro?
R - É, agora tá tendo, a bacia de Campos, propriamente dita, imagino que ela esteja assim, em declínio em termos de produção, mas tem outras partes da Petrobras aí que estão na produção. Então acho que não, acho que o problema aqui é o espaço aqui. Você tem pouco espaço pelas atividades que a Bacia de Campos hoje tá tendo. Então, é muito reduzido, muito comprimido. Você pode ver, a Petrobras já está alugando prédio aqui, prédio ali e continua pequeno. Então, acho que ainda tem muita coisa a acontecer e acho que não tem muito espaço aqui pra expandir, é isso aí.
P/1 - O que é ser petroleiro?
R - Pô, petroleiro é, sei lá, a minha vida, aminha vida toda. A minha, a da minha família, toda gente, todos nós. Principalmente, falar daminha família, que, acho que é tudo pra mim. Acho que não tem, já nasci pré-destinado a trabalhar na Petrobras e eu tenho o meu filho também que, recentemente passou pra Petrobras. Um dia ele falou "Ah pai, vou trabalhar na Petrobras que nem você", estou se formou e conseguiu também. Então acho que uma vitória pra todos nós, da família.
P/1 - O que o senhor achou de ter participado dessa entrevista, contribuindo pro Projeto da Memória dos trabalhadores da Bacia de Campos?
R - É bom, eu gosto porque eu passei por vários momentos que você não consegue nem contar aqui, né. Pra você contar nesse espaço, curto espaço de tempo. Você contar trinta anos, é muito complicado. Você passa por muita coisa, uma diversidade total. Acho importante, eu até falei pra você, eu fui também escolhido aí pra ser fotografado. Não sei porque que alguém descobriu aí. Fui fotografado, saí naqueles baner de trinta anos da Bacia de Campos e me sinto lisonjeado com isso aí.
P/1 - Tá ok, obrigada.
R - De nada. Espero que tenha contribuído com alguma coisa aí. Não sei o que dá pra aproveitar do que falei, mas. (risos)
P/1 - Tem momentos importantes. Toda entrevista.
FINAL DA ENTREVISTA
Dúvidas:
Senecsim (?)
Pampo (?)
telegrama (?)
USSU (?)
UEPSERV (?)
Urge(?)
(mudo de 41:21 até 42:24 )
de rol (?), de pite (?)
AICMS (?)
completação (?)
Pepê Morais (?)
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