Jaketá Que Vá, o veleiro dos sonhos
Dois amigos, eu o Pedro ou simplesmente Tuco como é meu apelido de infância e o Carlos Elly ou Galego como é conhecido até hoje, nós dois com idades entre 15 e 16 anos passávamos horas conversando à noite tomando uma garrafinha de vinho pra refrescar no verão e pra esquentar no inverno, e conversa vai, conversa vem seguíamos fazendo planos, antigamente
havia a função social daquele espaço, as pessoas se supriam de gêneros, ferramentas, sementes, vestimentas e calçados tudo mais barato do que em outros pontos da cidade, hoje só pra comer um pastel de berbigão e perpetrado, a ilha do Carvão, antiga ilha dos Ratos foi totalmente aterrada, dando lugar ao pilar insular da Ponte Nova. Mas nós jovens em uma época de liberdade, rock, surf e brotos, calças boca-de-sino, sapatos cavalo-de-aço, muito sol e praias todas elas cheias de garotas bronzeadíssimas de fio dental mínimo, não percebíamos pois a felicidade pairava no ar, problemas tô fora, a gente se mandava pra acampar em qualquer praia, pois isso era permitido sim, não era como hoje onde tudo é proibido, ainda bem que nascemos naquela época!
Mas como eu ia dizendo, depois de o esqueleto do barco estar
pronto, e a gente contava com um vizinho, sem nós sabermos de nada ele começou a dar palpites, seo Aliatar o nome dele, e depois ficamos sabendo que ele era marinheiro aposentado e construtor de pequenas embarcações. As dicas que o seo Aliatar ia nos dando foram ótimas para que o barco não desse errado. O único defeito, se é que dá pra chamar assim, foi ele ficar “boieiro” como disse um pescador lá do Ribeirão da ilha, ele comentou que o nosso barco era muito boieiro, o que nos fez rir, e foi consertado com alguns sacos de areia no fundo que trouxeram mais estabilidade ao Jaketá que vá. Depois do “esqueleto” pronto ele foi virado de borco e totalmente ripado, passo seguinte resina de poliéster e fibra de vidro para...
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Dois amigos, eu o Pedro ou simplesmente Tuco como é meu apelido de infância e o Carlos Elly ou Galego como é conhecido até hoje, nós dois com idades entre 15 e 16 anos passávamos horas conversando à noite tomando uma garrafinha de vinho pra refrescar no verão e pra esquentar no inverno, e conversa vai, conversa vem seguíamos fazendo planos, antigamente
havia a função social daquele espaço, as pessoas se supriam de gêneros, ferramentas, sementes, vestimentas e calçados tudo mais barato do que em outros pontos da cidade, hoje só pra comer um pastel de berbigão e perpetrado, a ilha do Carvão, antiga ilha dos Ratos foi totalmente aterrada, dando lugar ao pilar insular da Ponte Nova. Mas nós jovens em uma época de liberdade, rock, surf e brotos, calças boca-de-sino, sapatos cavalo-de-aço, muito sol e praias todas elas cheias de garotas bronzeadíssimas de fio dental mínimo, não percebíamos pois a felicidade pairava no ar, problemas tô fora, a gente se mandava pra acampar em qualquer praia, pois isso era permitido sim, não era como hoje onde tudo é proibido, ainda bem que nascemos naquela época!
Mas como eu ia dizendo, depois de o esqueleto do barco estar
pronto, e a gente contava com um vizinho, sem nós sabermos de nada ele começou a dar palpites, seo Aliatar o nome dele, e depois ficamos sabendo que ele era marinheiro aposentado e construtor de pequenas embarcações. As dicas que o seo Aliatar ia nos dando foram ótimas para que o barco não desse errado. O único defeito, se é que dá pra chamar assim, foi ele ficar “boieiro” como disse um pescador lá do Ribeirão da ilha, ele comentou que o nosso barco era muito boieiro, o que nos fez rir, e foi consertado com alguns sacos de areia no fundo que trouxeram mais estabilidade ao Jaketá que vá. Depois do “esqueleto” pronto ele foi virado de borco e totalmente ripado, passo seguinte resina de poliéster e fibra de vidro para impermeabilizar totalmente o casco. Não foi ligeiro não, só pra chegar nesta etapa levou um ano mais ou menos, e nós ao final do dia sentávamos dentro dele e ali ficávamos sonhando com os passeios que faríamos. No final das contas ele ficou com cerca de vinte cinco pés náuticos o que correspondia à sete metros e meio, fora o gurupés. O convés era fechado, contendo uma cabine relativamente confortável, uma
bolina móvel para permitir manobras em águas rasas, paiol de proa e outro de proa pra acomodar toda a tralha de âncoras, cabos, bombona de combustível pro motor mais barulhento e fumacento e que rendia pouco que eu já havia visto. Dentro da cabine tinha dois beliches na proa um à bombordo outro à estibordo, armários, ou melhor prateleiras pra guardar
mantimentos e tralhas de uso na cozinha pelo taifeiro, e aqui quero fazer duas observações. Eu falei cabos ali atrás, fora de uma embarcação, qualquer fio de ráfia, seda, náilon, etc comprido e torcido é uma corda, certo?
Pois bem, uma vez que essa corda está dentro de um equipamento náutico ela como num passe de mágica passa a
ser designada como cabo, e o mesmo ocorre com o cozinheiro, quando ele está embarcado passa a ser chamado de taifeiro!
Tínhamos também algumas cartas náuticas das duas baías,
meio ultrapassadas, mas assinalavam rotas, nos mostravam as
profundidades em cada local que estivéssemos, além das ilhas, pedras e lajes a serem evitadas. E isso é óbvio não mudou quase nada nas últimas centenas de anos. Depois do Jaketá Que
Vá pronto, conseguimos à muito custo um transporte para a marina de Coqueiros, naquela época não existiam caminhões plataforma como hoje, tudo era muito mais difícil. Barco na água, estável, enxuto por dentro, e todos os nossos medos se dissiparam. Agora era começar a planejar as aventuras que teríamos pela frente. Colocamos uma bombona de vinte
litros de água doce e carregamos mais duas de dez litros como garantia, um fogãozinho de duas bocas com um bujão de gás de 2kg, panelinha, frigideira, bule e chaleira, mantimentos como salsicha e sardinhas em lata, pão, bolachas, óleo, café, açúcar sal, sopas instantâneas, leite em pó e outros mantimentos que eu não lembro. Uma pequena mesa que era colocada por cima da caixa de bolina quando ela estava abaixada, o que era a maior parte do tempo, e tinha esquecido de falar, ela era de concreto pra dar peso e estabilidade ao Jaketá, mas mesmo assim ele ficou
“boieiro” e tivemos que corrigir com sacos de areia, como já disse, além de uma caixa de isopor que a gente enchia de gelo cada vez que passava pelas empresas de pesca ali embaixo da ponte Hercílio Luz. Na “mesa de navegação” tinha as cartas náuticas mas não tinha nenhuma régua de cálculo, muito menos paralela, nem transferidor ou esquadro, só um compasso, era tudo feito “no olho”, no mais ou menos, além de um relógio de pulso com a pulseira estragada pendurado na parede, não tinha sonar, não
tinha quadrante, GPS nem tinha sido inventado nem celulares, não tinha rádio de comunicação, só um radiozinho à pilha que nos fazia companhia de vez em quando tocando músicas ou notícias e a previsão do tempo. Queres saber nossa bússola era um chaveirinho, só básico do básico pra navegar a gente tinha. E isso rendeu boas gargalhadas do nosso amigo Horácio proprietário da Scuna Sul, frota de escunas que fazem passeios até hoje nas baías. A gente se encontrava com frequência nas nossas
navegações e ele com seu bom humor e seu sotaque castelhano sempre nos recebia festivamente dizendo: - Mes amicos de la navegación salvaje! E soltava uma sonora gargalhada, dali não importava se ele estivesse com um grupo de turistas na ilha de Anhatomirim, ou lá na própria sede da Escuna Sul, nós estávamos em casa, e com mordomias. Certa ocasião uma tempestade de vento sul jogou um veleiro grande na praia de Naufragados, e nós estivemos ajudando na operação, não propriamente
no desencalhe, mas como guias deles com nossas lanternas pela trilha na mata da praia até a Caieira da Barra do Sul, pois estávamos acampados lá e por coincidência houve o sinistro com o barco e a presença do Horácio para avaliar o que deveria ser feito pra resgatar a embarcação, no dia seguinte após o desencalhe, nós fomos de carona na escuna dele. Tragicamente ele faleceu há alguns anos em um acidente rodoviário.
Mas este relato é para falar de coisas boas então vou começar
a narrar nossas aventuras pelas duas baías que banham nossa capital. Historicamente o ilhéu e o catarinense de um modo geral é um povo que despreza o mar, vive construindo suas cidades de costas pra esta importante via, e por isso hoje em 2023 vive sofrendo em congestionamentos rodoviários pra tudo quanto é lado, não pode ser sexta feira, ou ser um dia chuvoso, ou um caminhão quebrar em cima de uma ponte que a cidade inteira, se transforma num caos. Seria tão simples, utilizar o mar como alternativa para ir do ponto A ao ponto B com ferry boats, balsas,
catamarãs de grande velocidade, táxis náuticos, etc, para alcançar o norte e o sul da ilha ou do continente fronteiro em poucos minutos em um agradável passeio, ao invés de gastar horas torrando parado ou andando a passo de tartaruga nas rodovias que cortam a região, devido a lentidão do trânsito rodoviário!
Como o mar era praticamente só nosso, navegávamos pra cima
e pra baixo sem preocupação nenhuma. Na verdade não tínhamos documentação nenhuma do Jaketá e muito menos licença da marinha pra navegar, mas como tudo naquela época era menos burocrático e mais fácil, nós nunca fomos incomodados por causa desse detalhe bobo. Nosso plano era pernoitar pelo menos uma noite em cada ilha, e nas mais aprazíveis retornar e permanecer por uma temporada maior. Na ilha Ratones Grande por exemplo, por causa de sua bela praiazinha, acampamos por
diversas vezes, pescávamos o que comeríamos sem desperdício, e o resto do tempo ocupados com as mais diversas atividades tanto em reparos e melhorias no barco, como no acampamento. As noites eram passadas dentro do barco, era mais confortável e seguro. Certo dia estávamos com um vento de popa (parte de trás do barco) muito bom e para aproveita-lo melhor surgiu a ideia de usar o sobre-teto da barraquinha como spinnaker, ou vela balão, descemos a vela grande, amarramos dois cordéis do sobre-teto junto e subimos tudo as outras duas pontas foram presas em
abitas a bombordo e estibordo da popa, que sensação maravilhosa quando tudo aquilo estufou com o vento, o Jaketá queria sair da água de tanta velocidade, o Galego estava no leme e chegou a ficar com bolhas nas mãos de tanta força que fez pra não perder o rumo! Passamos pelo pontal da Daniela no maior “sarrafo” e já estávamos saindo pela Barra Norte com a ilha do Arvoredo pela proa, mas o mar lá fora estava muito “grande” e o Jaketá começou a pular demais, nós sem equipamentos náuticos
adequados, ficamos temerosos, ainda mais que a tarde já estava avançada em horas. Tratamos de baixar o balão e começar manobras de “pernadas” ou seja, orçar contra o vento, nessa hora que uma boa bolina mostra seu valor, e voltamos até a ilha de Anhatomirim, atracamos no trapiche da ilha e ali pernoitamos. Acordamos cedo e fomos dar um passeio pela ilha de tantas mórbidas histórias do passado, onde foram executados centenas
de bons cidadãos pelo carrasco Moreira César a mando do “Marechal de Ferro” Floriano Peixoto, na Revolução Federalista, pelo simples fato de serem simpatizantes da monarquia. E nesse ínterim, chegou à escuna de onde desembarcou nosso amigo Horácio que mais uma vez nos recebeu com sua entusiástica saudação seguida de um abraço. A ilha ficou muito cheia de gente pro nosso gosto, embarcamos e rumamos para o sul à
motor, porque não tinha vento nenhum, estava a maior calmaria. Eu creio que esse foi o pior passeio que tivemos, além do motor render muito pouca velocidade, fazia um barulho ensurdecedor e uma fumaceira sufocante, decididamente aquela geringonça deveria ser utilizada só pra alguma curta emergência. Após cerca de uma hora ou mais, ainda estávamos
mais ou menos no meio da baía Norte, ou seja, ainda estávamos com a ilhota de Ratones pequeno à bombordo, então desligamos o motor, preferível a vela “paneando” do que aquela máquina infernal nos torturando, aproveitamos o silêncio e a calmaria pra dar umas linhadas e tentar garantir o almoço. Pegamos algumas anchovas, tainhotas, e um burriquete de bom tamanho, foi quando encerramos a pescaria e uma leve brisa do norte enfunou nossa vela fazendo a gente se deslocar em direção ao sul.
Tentamos novamente a manobra da vela balão, mas o ventinho não foi suficiente, porém estávamos indo na direção certa. Enquanto o Galego dava uma de taifeiro, pondo as anchovas e tainhotas escaladas e salgadas dependuradas nas cordinhas dos guarda-mancebo, e preparando um caldo de burriquete, eu no leme vendo “as calcinhas” da velha senhora, é como se diz ao passar por baixo da Ponte Hercílio Luz e olhar pra cima.
No horizonte olhando a Barra sul barras de nuvens esfiapadas prenunciavam um vento sul forte ainda para aquele dia. Eu acabara de passar pela laje da Tipitinga e tencionava alcançar a ponta da Caiacanga Mirim onde fica a base aérea, e me esconder atrás da ilha Das Laranjeiras. Conseguimos chegar lá a muito custo e com a ajuda do motor barulhento pois o vento sul já estava presente naquela hora. Baixamos as âncoras, amarramos as velas, a verga do mastro, recolhemos o que estava solto para os paióis ou pra dentro do barco, fechamos tudo, conversamos um pouco sobre o que faríamos no dia seguinte, comemos o tal caldo de burriquete e ficamos observando o mar através das vigias da cabine. Nossa previsão se concretizou e foi uma ventania danada, nosso barco apesar de duas âncoras firmemente encravadas na areia e estar escondido atrás da ilha das laranjeiras, oscilava muito, mesmo assim a gente pegou no sono. Na manhã seguinte o sol estava radiante, era um domingo maravilhoso, com um sol esplêndido, mas nosso caíque de apoio havia sumido! Então toca
chegar perto da costa e começar a procurar o fujão. Andamos pelas praias do Garcia, Saco da Mutuca, tudo isso na Baía do Ribeirão e quando chegamos na praia das Flecheiras, surpresa, o caíque estava enfiado numa beirada de mangue, foi rapidamente amarrado, desta vez com um nó bem seguro, e aproveitando a brisa de norte que ainda persistia seguimos pra acampar essa noite na Ilha do Largo, que ainda não tínhamos estado.
Fundea-mos o Jaketá e tivemos a péssima ideia de dormir na ilha. Você já vai ver porque péssima ideia, primeiro, não encontramos nenhum lugar plano para armar a barraca, ela ficou em um terreno inclinado para os pés, enquanto a gente se mantinha acordado se firmava nas pernas, mas ao adormecer começava a deslizar para o fundo e acordava. Sem falar que a temperatura despencou drasticamente, nós tínhamos dois cobertorzinhos, ao invés de nos juntar e nos cobrir com os dois, nossa masculinidade nos fez dormir cada um em um lado da barraca e com um só cobertor. Em resumo, foi a pior, de longe a pior noite da minha vida até hoje.
Demos graças à Deus quando amanheceu e o sol começou a nos aquecer. Que tortura passamos, e se pensar bem, nem precisava ter sido assim! Estávamos ao “sabor do vento” e nossos planos eram: caso o vento fosse norte, iriamos pra Enseada de Brito, pescar e saborear umas cervejas num barzinho conhecido nosso onde a senhora limpa e frita os peixes pra gente, se fosse vento sul seguir direto pra Marina em Coqueiros, ir pra casa, passar a semana trabalhando como pessoas comuns e planejar a próxima aventura. Uma coisa que nunca ficava no barco quando a
gente saía eram as cartas náuticas, estas serviam pra nosso planejamento do próximo passeio. O vento naquela manhã foi de Norte e estava com boa força, rapidamente chegamos na baía da Enseada de Brito, fundeamos e iniciamos a pesca, pegamos um generoso “frito” e seguimos para o restaurante da dona Verônica. Lá chegando desembarcamos na prainha já com um cambão de peixes na mão, ela sabia que fritaria alguns pra nós e o restante, e eram muitos, ficariam pra ela, já serviu uma cerveja que não
era bem gelada, mas naquela época a gente não era tão exigente, e pelo menos estava um pouco mais fria que a temperatura ambiente. E estava bom demais, almoçamos aqueles peixinhos e ficamos tomando cerveja a tarde toda, resultado, ficamos completamente lisos de dinheiro, mas contentes e também, dinheiro pra que? Tínhamos mantimentos a bordo, o
mar a nossa volta, fome não iríamos passar, transporte pra casa era nosso barco, estava tudo certo, voltamos a bordo no fim da tarde cantando e dando risadas de qualquer bobagem. Deixamos o Jaquetá Que Vá fundeado onde estava, só lembramos de verificar as âncoras e o cabo que prendia o caíque, entramos na cabine fechamos as gaiútas e ferramos no sono.
Só acordamos na segunda feira já com sol alto e com um vento norte que nos impossibilitava de voltar pra casa, o negócio foi esperar pela tarde, passamos o dia organizando a bagunça que estava o barco, limpando, lavando, tive que ir duas vezes com as duas bombonas de 10 litros buscar água doce pra seguir com a limpeza, não sei se você sabe, a água do mar por ser salgada, não faz nenhuma espuma com sabão ou detergente, por isso tive que buscar água doce. Bem pelo meio da tarde, levantamos âncora e seguimos na direção norte porque tinha havido viração vinda do
sul, vento de boa intensidade, chegamos em nossa marina em Coqueiros em menos de duas horas. Fundeamos o Jaketá em sua poita, fechamos tudo com cadeado e fomos pra casa, cansados mas felizes da vida!
Dia seguinte fomos pras empresas de pesca, um ou outro estranhou nossa ausência e contamos as aventuras que tínhamos vivido naquele final de semana! Dava pra sentir a vontade daqueles companheiros de estarem conosco, mas o barco não tinha espaço pra três pessoas, era só nós dois.
E todas essas aventuras se seguiram por alguns, poucos mas bons
anos. Até que a natureza me chamou, e chamou com um brado que não pude resistir, me apaixonei, namorei e casei, abandonando meu amigo de todas as horas. Lógico que ele ficou com ciúmes, um tipo de ciúmes por ter perdido o amigo e companheiro, mas eu deixei pra ele o Jaketá como prêmio pela dedicação, soube que ele vendeu e fabricou um bem menorzinho, sem cabine, e foi com ele que seguiu navegando até sofrer um
naufrágio, ser encontrado quase morto na praia, sofrer uma traqueotomia que o acompanha até hoje, com aquele buraco aberto no pescoço. Seu pai e sua mãe faleceram e ele que era filho único e nunca casou, hoje vive sozinho em companhia de uma dúzia de cachorrinhos pincher.
Às vezes eu o visito, a gente tenta conversar, mas quarenta e poucos anos depois que eu o abandonei sinto que ele não se conformou, e nossos assuntos apesar de amigáveis não tem sentido. O tempo passa e eu fico louco de vontade de ir embora dali, deixar aquele homem com suas plantas e seus cachorrinhos além de seus sonhos e mágoas, faço oração por meu amigo Galego quando me lembro, apesar de ele ser ateu.
Ótimos momentos passamos construindo e desfrutando o Jaketá Que Vá, uma parte importante da minha mocidade ficou ali, mas agora já criei filhos e netas, a vida que seguiu em frente, vou morar pertinho do mar pra poder apreciar a brisa marinha diariamente, e me lembrar de mais histórias do passado, e prometo que vou contar, como dizia nosso querido amigo Peninha, são Narrativas Absurdas, verdades contadas por um
mentiroso!
Velho Lobo do Mar outono de 2023
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