P/1 - Oi Jacirema, vou começar perguntando seu nome, local e data de nascimento. R - Local você quer dizer Sete Barras ou residência? P/1 - Não, onde você nasceu. R - Ah, onde eu nasci? P/1 - Seu nome completo. R - Jacirema Firmino de Souza. P/1 - Onde você nasceu e que ano? R - Pariquera Sul, 1964. P/1 - E que Mês? Dia? R - 10 de julho de 1964. P/1 - Como é o nome da cidade? R - Pariquera Sul. P/1 - Pariquera Sul. R - Porque era a primeira maternidade. P/1 – Ela fica aonde, essa cidade? R - É, ela fica seguindo para Iguape. P/1 - Mas a sua família morava lá mesmo? R - Não, a gente mo...sempre morou aqui. Nasci aqui, mas... P/1 - Em Sete Barras? R - É, em Sete Barras. Mas a primeira maternidade era lá aqui da região, então as pessoas da minha época nasceram lá. O meu marido já nasceu aqui, em Sete Barras, porque não tinha maternidade na época dele. P/1 - E seus pais são aqui de Sete Barras também? R - São de Sete Barras também. P/1 - E você lembra a sua casa de infância aqui em Sete Barras? R - Lembro. Até um tempo atrás eu sonhava muito porque eu fiquei muito triste de ter mudado para outra casa. A minha casa hoje é onde é o Banco do Brasil. Até esses tempos tinha a árvore que eu marquei como o marco da minha infância. É, o “Chapéu de couro” que tinha lá, eles não tinham arrancado. Até eu bati algumas fotos, aquilo lá ficou registrado como a única memória, assim, viva ainda da minha infância. P/1 - Tem ainda? R - Não, eles cortaram. Morava bem no Centro. Eu lembro quando eu era criança, que não existia luz, é, a gente brincava até uma certa hora porque depois seria só à base de vela, lampião... Então a gente não tinha... P/1 - Quem morava com você na sua casa? R - Cinco irmãos, nós éramos em cinco irmãos. São duas moças e três rapazes. P/1 - E como, como que eram as brincadeiras de infância, do que que vocês brincavam? R - Ah, tinha de...
Continuar leituraP/1 - Oi Jacirema, vou começar perguntando seu nome, local e data de nascimento. R - Local você quer dizer Sete Barras ou residência? P/1 - Não, onde você nasceu. R - Ah, onde eu nasci? P/1 - Seu nome completo. R - Jacirema Firmino de Souza. P/1 - Onde você nasceu e que ano? R - Pariquera Sul, 1964. P/1 - E que Mês? Dia? R - 10 de julho de 1964. P/1 - Como é o nome da cidade? R - Pariquera Sul. P/1 - Pariquera Sul. R - Porque era a primeira maternidade. P/1 – Ela fica aonde, essa cidade? R - É, ela fica seguindo para Iguape. P/1 - Mas a sua família morava lá mesmo? R - Não, a gente mo...sempre morou aqui. Nasci aqui, mas... P/1 - Em Sete Barras? R - É, em Sete Barras. Mas a primeira maternidade era lá aqui da região, então as pessoas da minha época nasceram lá. O meu marido já nasceu aqui, em Sete Barras, porque não tinha maternidade na época dele. P/1 - E seus pais são aqui de Sete Barras também? R - São de Sete Barras também. P/1 - E você lembra a sua casa de infância aqui em Sete Barras? R - Lembro. Até um tempo atrás eu sonhava muito porque eu fiquei muito triste de ter mudado para outra casa. A minha casa hoje é onde é o Banco do Brasil. Até esses tempos tinha a árvore que eu marquei como o marco da minha infância. É, o “Chapéu de couro” que tinha lá, eles não tinham arrancado. Até eu bati algumas fotos, aquilo lá ficou registrado como a única memória, assim, viva ainda da minha infância. P/1 - Tem ainda? R - Não, eles cortaram. Morava bem no Centro. Eu lembro quando eu era criança, que não existia luz, é, a gente brincava até uma certa hora porque depois seria só à base de vela, lampião... Então a gente não tinha... P/1 - Quem morava com você na sua casa? R - Cinco irmãos, nós éramos em cinco irmãos. São duas moças e três rapazes. P/1 - E como, como que eram as brincadeiras de infância, do que que vocês brincavam? R - Ah, tinha de tudo quanto é brincadeira, essas brincadeiras antigas brincadeiras de roda, brincadeiras de médico, papai-mamãe, brincadeiras de bonecas, de carrinho. Eu tinha muito, é, muita brincadeira de menino porque eu tinha três irmãos então eu jogava bola, era a goleira, subia em árvores... Era bem machinha, como minha mãe cham, me chamava, era muito machinha. P/1 - E como é que era a cidade nessa época, Sete Barras? R - Nessa época, eu não sou muito bem, assim, de recordar de memória, a única coisa que, que eu gravo bem é a escuridão, tinha muita escuridão, as festas eram um momento que a gente encontrava as pessoas... P/1 - Escuridão você diz o quê? Que não tinha luz? R - Quando não tinha luz pública nas ruas, não era iluminado. Depois, é... P/1 - Que ano que era isso mais ou menos que não tinha luz pública? R - Ai, acho que 1969...antes de eu ir para a escola, depois que eu entrei na escola parece que já tinha luz. Uma das coisas que eu recordo muito bem é que o point da cidade pra gente ter um lazer, era vir na praça aos domingos. Era aos domingos a gente se arrumava, vestia a melhor roupa, para vir à praça, tomar um sorvete, encontrar as pessoas e conversar... Era um hábito da população. P/1 - É, com quantos anos você entrou na escola? R - Com sete anos, 1971. P/1 - Como é que era a escola? Como é que você ia pra lá? R - Na verdade todo mundo quando ouve a minha história, eles riem porque nessa época as escolas faziam aquela merenda que não era a merenda industrializada e eu sempre como fui faminta, Magali , eu quis ir para a escola porque meus irmãos falavam que a merenda era excelente, era delicioso. Antigamente faziam até aquele sopão de ossos, com bastantes verduras, tudo. Aquilo lá era a minha paixão, eu sempre adorei. Então eu quis entrar na escola por causa da merenda. Até hoje eles riem pelo fato de eu querer entrar na escola por causa da merenda. Até hoje eu trabalho em escola mas eu acho que sempre tem um atrativo na escola: Uns vão porque, pelo conhecimento porque querem ser alguém e outros vão por outro atrativo, que em casa não tem alimentação, ele acaba indo, é, para escola por causa da alimentação. Eu mesma na minha família cinco irmãos não era fácil não, era tudo contadinho o pratinho de comida era aquele, a quantidade era aquela. Não tinha aquela fartura. Então isso é uma coisa que chamou muito a minha atenção na escola. E a escola era aquela rigorosidade você não podia se mexer, não podia conversar, naquela época o professor podia bater o diretor podia bater, né. Tanto é que a, a diretora na época, ela era muito rigorosa, a dona Maria Santana de Almeida, que é o nome da escola que eu trabalho hoje. Eu tenho uma recordação muito grande dela, apesar de ela ser uma pessoa, assim, que adorava as crianças, que amava, mas eu via, assim, a pessoa dela, a autoridade dela. Todo mundo tinha medo dela porque algumas pessoas que não obedeciam dizem que levavam reguada dela, apanhavam bastante . P/1 - Essa escola que você estudou qual que era o nome? R - A escola que eu estudei era Plácido de Paula e Silva. É a escola aqui em baixo, próximo... P/1 - Plácido...? R - De Paula e Silva. Eu adorava uma árvore que tinha bem no centro do pátio. Era uma árvore de Chapéu de couro frondosa, assim. A gente sentava nas raízes dela que eram grossas que serviam até de banco. E ali a gente brincava, ali a gente lanchava, era o marco da escola era essa árvore. Até sofri muito quando eles cortaram essa árvore e fizeram o pátio cimentado. Aí ficou tudo cimentado e cobriram. Mas a minha recordação é aquela árvore, aquele pátio. Eu adorava ir para a escola para brincar, para estudar não era muito chegada não , mas pra brincar, encontrar os colegas eu adorava. Eu demorei pra me interessar pelos estudos. Eu acho que eu só fui me interessar para os estudos depois que eu fui me formar, que fui estudar a faculdade... P/1 - Como é que você virou professora? R - Na verdade eu era muito ligada com o esporte. Eu era chegada no, no movimentar o corpo. Eu queria fazer Educação Física porque eu achei que era o meu robe. Eu gostava muito, né. Mas como não deu certo eu estudar em Santos, porque era a única escola mais próxima era Santos, aí eu escolhia a matéria que eu me interessava quando eu estudava o Ensino Médio que antigamente era o Ginasial. Não, o Colegial. E aí eu escolhi Letras porque eu sempre adorei inglês. Tanto é que eu queria aperfeiçoar o inglês e acabei indo para os Estados Unidos e fiquei quatro meses lá trabalhando como estrangeira não legalizada, fui como turista. Mas eu passei legalmente, não foi pelo México não P/1 - Você ficou quatro anos fora aqui de Sete Barras estudando nos Estados Unidos? R - Não, quatro meses. Desculpa. P/1 - Quatro meses. R - Quatro meses. Acho que eu troquei... P/1 - Você não ficou com vontade de continuar morando lá ou queria voltar pra Sete Barras? R - Não, na verdade eu queria ficar lá. Se eu tivesse ido solteira eu ficaria, mas eu tinha família, larguei os meus filhos aqui com o meu marido, então eu tinha que voltar. Mas eu me adaptei muito bem lá. Até fui convidada para trabalhar como Babysiter, aí eu falei que ia ficar pouco tempo aí eu não queria assumir nada que fosse depois ter que abandonar, então eu acabei largando. Deixei o pessoal lá porque chegou o Natal, o Natal é triste lá o inverno é rigoroso, aí comecei alembrar da minha família, lá o serviço não estava muito bom porque no inverno cai bastante o movimento em hotéis. E o meu serviço era...eu trabalhava como housecleaner tipo, faxineira na, no hotel, depois fui para lavanderia e depois nós fomos limpar casa de pessoas lá, americanas. P/1 - Deixa eu voltar um pouquinho o seu depoimento na sua história. É, seus pais são daqui também. Qual que era a atividade deles? R - Meu pai foi sempre carpinteiro. Fazia barcos, barqueiras... P/1 – Aqui em Sete Barras? R - É. Ele sempre construiu barco, a especialidade dele, (bateira?). E o meu pai, ele era uma pessoa, assim, que fazia de tudo. Ele trabalhou com uma família ali na beira do rio, que Sete Barras começou pela beira do rio trabalhava com os japoneses ali na beira do rio fazendo tudo quanto é serviço. Até ele aprendeu o ofício de carpinteiro lá com eles. Eles mexiam com madeira. Aí o meu pai se apaixonou pela minha mãe que é descendente japonesa. É uma das famílias de imigrantes aqui japoneses em Sete Barras, é, que deve ter chegado aqui em 1920, 22. Meus avós eram muito rigorosos, não queriam mistura de raça. E quando meu pai começou a namorar a minha mãe, eles deram conta. Aí a minha mãe, a casa dela era o primeiro comercio que tinha ali na beira do rio, lá tem uma sacada. Minha mãe subia no quarto dela, é, comia banana, escrevia o bilhetinho pro meu pai, colocava dentro da casca de banana e jogava. Lá em baixo meu pai pegava o bilhetinho. Esse foi o primeiro encontro deles, assim, o contato que eles tinham, né. Na verdade, o encontro deles provavelmente foi na época que ela foi rainha do Carnaval, então foi aquele destaque na cidade. Então ela, diz os mais antigos, que ela era muito bonita quando jovem, ela chamou muita atenção. Ela era filha única de cinco irmãos, acho. Eu não lembro bem dos meus tios, mas eu acho que eram cinco irmãos. Ela foi a única mulher da família e eles não queriam que casasse com outra raça. Queriam que casasse com descendente de japonês. Aí a minha mãe teve que fugir, foi pra...foi casar em Santos... P/1 - A sua mãe, só voltando um pouquinho, ela foi Miss daqui de Sete Barras? R - Foi rainha do Carnaval. P/1 - Rainha do Carnaval. R - Eles faziam um baile... P/1 - A primeira rainha do Carnaval? R - É. Faziam um baile no Clube Bandeirantes, ali próximo à prefeitura. Foi o primeiro clube que eles fizeram e fizeram o baile de Carnaval e ela foi a rainha do Carnaval. A primeira rainha de Carnaval. P/1 - Isso lá em Barras? R - É. Isso lá em mil novecentos e bolinha. Não sei a época exata, mas ela era solteira na época, né. P/1 - E lá ela teve contato com o seu pai? R - É, provavelmente sim, foi a partir... P/1 - Ela era uma pessoa, assim, animada? Vocês frequentavam bailes, festinhas? R - Ela gostava muito de baile, apesar de ser descendente de japonês, que é fechado tímido, ela sempre gostou de bailei. Acho que isso que eu herdei dela porque eu adoro baile também . Baile, Carnaval, tanto é que nós estamos montando aí um bloco. P/1 - Que outras memórias você tem dessa sua infância aqui, sua adolescência? R - Olha, eu não lembro muita coisa que a minha memória é meio falha, meio difícil de gravar . P/1 -Ah, não tô achando não. R - Mas a única coisa boa que eu acho que, que eu gravei bem mesmo é essa vida simples, esse contato com a natureza, a gente ter esse sossego. Eu acho que eu não me acostumo em cidade grande por causa disso. Eu sempre morei aqui, vivi aqui. P/1 - Você estava contando uma história pra gente lá fora, do Lamarca... R - Do Lamarca a única coisa que eu tenho de lembrança, que meus pais contaram... Eu até lembro do dia do tiro que minha mãe quase levou, mas não foi por causa do Lamarca. O Lamarca ninguém, acho, que chegou a vê-lo, a não ser quem morava na zona rural no sítio onde ele se escondeu... P/1 - Mas ele morava aqui em Sete Barras? R - Ele se escondeu aí nesse fundo de mato que o pessoal, dizem que ou foi Quilombo ou foi areado...é lá pro fundo. Que meu pai tem um sitiozinho no areado e ele falava que ele via muito rastro, assim, de caminhada de pessoas. Provavelmente ele se escondeu pra esse lado. E a única coisa que eu recordo é que a minha mãe lá em casa, na época não tinha água encanada, era poço e minha mãe sempre ia tirar água do poço e em frente a minha casa tinha uma outra casa aonde os militares se instalaram, bem em frente. Tinha um guarda lá limpando uma arma e nesse dia, eu lembro bem porque eu estava na porta e ouvi, eu escutei o estampido do, da arma quando o rapaz sem querer atirou em direção ao poço onde a minha mãe estava, mas passou raspando. P/1 - Mas que rapaz? O do posto militar? R - É, do posto militar. P/1 - Mas ele atirou o que, pra pegar em algum guerrilheiro? R - Sem, não, foi sem querer. Ele estava limpando de repente apertou o gatilho. Não foi proposital. P/1 - Mas eu não entendi essa relação com a história do Lamarca... R - Então, esses militares, eles estavam caçando o Lamarca, então eles se instalaram lá pra ir encontrar o Lamarca, que eles estavam na caça do Lamarca, então eles viviam perguntando para os moradores se tinham visto alguma coisa. P/1 - Mas eles perguntavam "onde está o Lamarca"? Mesmo? Citavam nome? R - Perguntavam. É, se eu perguntar ao meu pai ele deve lembrar. Mas ninguém chegou a ver... P/1 - Seu pai já deu depoimento aqui? R - Ah, posso tentar ver se ele pode vir, mas eu não seria se... P/1 - Ah, bacana essa história. R - Mas ele deve saber, porque ele tinha um sítio e ele ia para o sítio e ele falou que ele via o rastro, né. Mas eu acho que ninguém teve, assim, contato direto com o Lamarca, não. A única coisa que ficou marcada foi isso, foi um tiro acidental que depois o, o militar ficou até preso pelo erro que ele cometeu. P/1 - Então em frente à sua casa ficava um posto militar. R - Militar. E os militares ficavam lá tanto é que fazia a troca do alimento deles que era tudo enlatado, tudo preparado e o da gente era fresco. P/1 - Porque que, ele atirou sem querer, é isso? R - É, ele estava limpando a arma e atirou sem querer. Ou foi também, ninguém sabe, se realmente ele estava testando a mira dele, né. Aí mirou no poço pra tentar acertar e nisso a minha mãe, acho, que apareceu pra ir tirar água, foi que quando quase ela foi atingida. P/1 - Ele foi preso? R - Ele foi preso. O superior dele prendeu pelo ato infracional dele. P/1 - Ai, é, nossa que história Histórico isso assim. R - É, um marco histórico. Eu lembro que eu era criança... P/1 - É a primeira vez que está aparecendo essa coisa do Lamarca na região. R - Mas os meus irmãos e o meu pai devem lembrar mais, os meus irmãos mais antigos mais velhos. Eles devem lembrar. P/1 - E aí você voltou e começou a dar aula aqui quando você voltou dos Estados Unidos. R - Não, eu já dava aula. Eu pedi afastamento e aí eu fui. Eu fui com uma colega minha, ela ficou seis meses, eu fiquei só quatro meses porque quando chegou a época do Natal não teve jeito, eu tinha família, eu acabei deixando o coração realmente, atender o coração do atender o que a, o meu objetivo, né. P/1 - Hoje qual é, quais são os lugares, assim, qual é a sua rotina aqui na cidade? R - Aqui na cidade? P/1 - Os lugares que você vai, que você frequenta... R - Eu trabalho em uma escola estadual, hoje como coordenadora do Ensino Médio e eu não sou muito de sair à noite, a não ser quando há algum evento que seja do meu interesse, né. Mas eu não frequento, assim, lanchonete, bares, não sou muito de sair, a não ser quando tem uma reunião com alguns amigos a gente vai. Mas eu, eu trabalho oito horas na escola, às vezes ultrapassa... E como eu gosto da cultura, eu acho que a cultura e a memória é algo que faz parte do ser humano, é como se fosse o coração do ser humano que move o ser humano a fazer a... a viver. Eu acho que esse projeto de resgatar a memória é algo que eu já sonhava há muito tempo, porque quando a gente levantou a Associação Nipo-brasileira aqui de Sete Barras, a Associação Japonesa, eu já tinha o interesse de fazer um museu e até eu queria o museu lá onde era a casa dos meus avós. Eu gostaria que fosse lá. Por quê? Porque como o meu pai casou com a minha mãe que era descendente e meus avós deserdaram ela porque ela, ela contrariou uma decisão... P/1 - Eles deserdaram ela? R - Deserdaram, ela não recebeu nada, nem a própria roupa do corpo ela conseguiu levar. Ela não pôde carregar nada. Eu senti um, uma questão de honra que eu gostaria de resgatar aquele local que era da minha mãe, então gostaria de fazer um museu. E esse museu até o ano passado eu conversando com um, um irmão da Cristina lá em Registro que é ligadíssima em cultura também, ela adora isso, ela batalha pra isso, é, o irmão dela mora em Belo Horizonte, ele falou: "Ah, por que você não faz um museu da pessoa? Assim, colhe depoimentos das pessoas e põe na..." P/1 - O Museu da Pessoa é o Museu que a gente trabalha. R - Então, aí eu via com o nome de Museu em Rede. Então, era o Museu da Pessoa. "Faz assim que aí você resgata, você guarda a memória. Porque as pessoas que sabem muita coisa já estão falecendo". E realmente estão, porque eu tinha marcado com um senhor pra fazer e não deu certo de ele fazer... P/1 - Esse que morreu aqui? R - ...e ele faleceu. Ele sabia muito, muito e ele não gostava de dar depoimento, mas eu tinha conseguido. Então, aí a gente conseguiu muita coisa, ela falou que a família dela tinha criação de bicho-da-seda, que eles trabalhavam o bicho... P/1 - Aqui na região? R - É, no início no início da colonização aqui da, da cidade. Faziam criação bicho-da-seda. Meus avós também trabalharam com bicho-da-seda depois tinha a fábrica de manjuba e eles também tinham plantio de arroz, lidavam com arroz... P/1 - Então, esse depoimento dela você pode transcrever e colocar na rede. R - Eu vou tentar, é, eu vou tentar resgatar, vê se ainda tem as fitas para passar. P/1 - E esse projeto também você pode divulgar para as pessoas porque eles podem colocar as histórias delas. R - Eu adorei esse projeto que vocês vieram dar mais, assim, força enriqueceu bastante. E nós como trabalhamos com educação, nós vimos que o ser humano ele precisa dessa memória, desse resgate da memória pra se valorizar e para valorizar o lugar onde vive. Então nós tivemos a ideia, com a presença da Dona Vaneide aqui na cidade, tivemos a ideia de criar uma ONG. A ONG se chama Clara Real. Essa ONG a gente pretende fazer divulgar a educação, a cultura, o lado social, também ajudando as pessoas necessitadas e também com relação à saúde porque ela trabalha com saúde, né. Então o nosso interesse é isso. É muito grande, mas nós focalizamos mais na cultura e educação por enquanto, o projeto é grande. P/1 - Jacirema, qual é o seu maior sonho hoje? R - Hoje o meu maior sonho é atender a juventude que está sem perspectiva, sem objetivo. Eu vejo que como nós moramos em uma cidade pequena não tem muitas oportunidades no mercado de trabalho, eles não têm muito pensamento no futuro, eles acham que não vão ter futuro e então eles se envolvem em coisa que não deve e eu acho que precisa resgatar isso. Porque têm muitos também que já estão vendo o futuro, por que já acessam a internet, já sabe o que querem, já têm os objetivos... Nós temos muitos alunos que estudam em escola pública que conseguiram passar em uma Federal, estão estudando já em uma Federal, em uma Estadual. Isso há muito tempo atrás era um sonho que era praticamente impossível de realizar. Hoje nós conseguimos realizar. Eu sinto, assim, que eu faço parte porque eu trabalho já há vinte e oito anos na educação, que eu leciono e eu demorei pra cair a ficha de pensa que "Puxa vida Eu estou dando uma parcelinha pra pessoa se transformar e ser alguém na vida". E aí quando eu acordei eu falei: "Acho que eu tenho que fazer mais, o que eu faço acho que é pouco". Então por isso que nós estamos criando a ONG, pra tentar fazer mais. E como eu viajei já para o Japão, eu vi como que é a educação lá, como que é o lazer lá, eu acho que a nossa cidade precisa disso: Do lazer e da educação. E a gente está tentando transformar. E a, o lazer, o meu interesse é assim, criar praças, criar playgrounds... Porque lá no Japão é assim toda praça tem um playground. Eu acho que as crianças precisam brincar, as crianças hoje em dia ao invés de brincar elas estão fazendo coisas de adulto que não é ainda a fase de eles estarem brincando. Eu, eu pretendo fazer isso no futuro. P/1 - Jacirema, o que que você acha da experiência de ter dado depoimento para esse projeto? R - Ai, eu não estava preparada pra dar depoimento o, viu . Eu fui pra Registro, fui lá em uma igreja e voltei, só ia ver como é que estava, se estava tudo em ordem, se estava acontecendo... Eu não vi que o "cara" estava fazendo um depoimento. P/1 - Mas o que que você acha desse projeto, da oportunidade de vir... R - ...Mas eu, eu acho que essa oportunidade aqui foi muito grande, mexeu com a população, mexeu com o brio porque aqui as pessoas são bem orgulhosas de estarem aqui, né. E eles preservam muito o passado porque aqui têm famílias que eles têm uns costumes (barulho de estalar de dedos) de mu...de longos anos atrás, dos antepassados deles e eles preservam muito. Eles não gostam muito do novo, eles gostam mais do tradicional. Então para mudanças eles são assim, um pouquinho ariscos. Mas isso aqui fez valorizar acho que cada cidadão aqui da, da cidade, esse projeto. Porque eu acho que a memória, ela valoriza muito o cidadão, porque resgata a história, né. Um cidadão sem memória é um cidadão morto, né. Não fez nada, não aconteceu nada, não realizou nada... Tem que ter a memória. P/1 - Obrigada. R - Obrigada eu. Que bom
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