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Por: Museu da Pessoa, 24 de janeiro de 2020

Histórias de uma menina “aniquilada”

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Histórias de uma menina “aniquilada”

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Lembrei de quando eu ia dormir com a minha avó. Minha avó era velhinha. Ela morava sozinha. Eu tinha medo de ficar no escuro. Lá não tinha luz, minha avó alumiava com a luzinha com óleo que ela punha na lamparina; outra hora com pedaço de candeia, pedaço de pau, que ela acendia o fogo. Acendia aquele pedaço de madeira lá. Eu e minha irmã dormíamos lá no quarto dos fundos de um casarão. E a minha avó dormia no outro quarto. A gente amanhecia o dia com o nariz cheio de cinza, fumaça de querosene, fumaça de óleo. A minha avó tecia e fazia colcha para vender. Ela tinha uns animais, uns carneiros, tinha terra e umas vacas. Minha avó chamava-se Maria da Conceição, mas todo mundo a tratava como Maria Rosário, por causa do marido dela chamado Joaquim Rosário. Ela era mãe do meu pai. E a mãe da minha mãe se chamava Augusta, mas essa eu não conheci não. A gente era pobre, faltava muita coisa em casa. Para você ter uma noção, quando a gente foi criada, lá não tinha luz, as casas não tinham banheiro, tomava banho de bacia. Nem prato a gente tinha. Comia na cuia. Na casa da minha mãe, eram quatro depois de mim. Antes de mim tinha uns seis mais. E ainda tinha uma, que era gêmea comigo, essa morreu com três anos. Minha mãe teve 13 filhos, 12 partos, 13 filhos e um adotivo. Nós dormíamos igual gato, porque dormia quatro numa cama que hoje, se dormir um, já não pode ter outro. Ela mandava a gente ir dormir com a nossa avó porque a nossa avó morava sozinha e ela já era de idade. Mas justamente no dia em que não foi ninguém dormir com a avó, a avó morreu queimada. Ela andava com uma mulambada de panos nas costas, e ela foi para a beira do fogão, pegou fogo lá na roupa dela, ela saiu correndo pela casa afora - ela morava num casarão grande - e foi caindo pedaço de pano queimado pela casa afora. Um tamanco ficou em cima do fogão, outro ficou lá no chão, tinha um pedaço de pano queimado dentro da vasilha de água, porque ela não...

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Projeto Conte Sua História

Depoimento de Augusta Isabel de Oliveira

Entrevistada por Karen Worcman e Inácio Neves

Fazenda Grotão, Mogol

Realização Museu da Pessoa

PCSH _ HV 849

Em 24 de janeiro de 2020

Transcrito por Selma Paiva

Revisto por Rosali Henriques

P/1 – Então, como eu tinha explicado, o que a gente vai fazer é uma entrevista com a sua história, da sua vida. Então para a gente pensar assim, com a história da sua vida, a gente tem que dar uma respirada, ficar um pouquinho parado, porque já começou há muito tempo. E pensar e pedir para a senhora fechar o olho um pouco, respirar um pouquinho, ouvir os passarinhos, e esse silêncio levar sua imaginação, assim, para as primeiras imagens da sua vida.

R – As imagens da minha vida.

P/1 – Lá atrás, assim. Prestar atenção na respiração. E a respiração vai tranquilizar você, o nosso coração um pouco, e aí vai pensar na primeira imagem que lhe ocorre, a lembrança - às vezes pode ser só um cheiro da infância, pode ser a voz da mãe, pode ser a luz do quarto, o gosto de uma comida, às vezes a sensação... Quando a gente volta lá...

R – Ai, voltei lá no meu tempo de criança!

P/1 – Então vai me contando o que tem nesse tempo. Quando você chegou lá, o que é. Não precisa abrir nem o olho. O que você vê? Onde você está? Vai contando para mim. Que lugar é esse para o qual você voltou?

R – Lá onde eu fui criada, lá na tapera. Lembrei de quando eu ia dormir com a minha avó, saía de casa anoitecendo. Minha avó era ‘veinha’, ia dormir com ela.

P/1 – Como assim?

R – Ela morava sozinha. Aí, um dia, minha irmã falou assim... O meu cunhado falou para minha irmã... Estava indo dormir com minha avó - eu e minha irmã, que já era uma moça grande e eu era bem criança - meu cunhado falou assim: “Ô, Didi, você não fica com medo de dormir com aquela ‘véia’, não? Se ela morrer lá, só com você e a Isabel?”

P/1 – Você lembra dele falando...

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