HISTÓRIA DE VIDA
PARTE 2
Continuando a minha estada no Vale do Jatobá, uma boa lembrança de fim de semana eram os nossos passeios à Cachoeira do Coquinho que fica - se não me engano - município de Betim.
Subíamos a rua 240, passávamos a caixa d’água do bairro, entravamos em uma trilha no mato.
Descíamos morro. Subíamos morro e novamente descíamos chegando em um pequeno riacho com uma pequena cachoeira onde nadávamos um pouco. Fazíamos um lanche e voltávamos cansados quase ao fim da tarde.
Erámos como bandeirantes desbravando o interior.
Um bando de famílias com crianças de 12 a 6 anos avançando arriscadamente em mato escorregadio.
O ponto alto era o túnel feito de pedra que chamávamos de Túnel dos Escravos.
Pouco depois da boca, havia uma escadaria cheia de musgo devido a água que vinha do seu interior.
Meninos que éramos, não arriscávamos muito além da boca, com medo do que abrigava.
Até hoje não sei o que era ou a que servia.
Outra diversão era pescar na lagoa que havia no início do bairro.
Eu costumava pescar até uns vinte carás de uns dez centímetros, que punha em uma lata com água, para em casa colocá-los no barriu com água que tínhamos em casa.
Um dia, mais feliz que havia pescado bastante cheguei em casa animado, mas ao despejar o conteúdo no barril, constatei que havia sido roubado, me restando apenas uns três carás.
Nunca mais confiei nos colegas de pescaria.
Outra lembrança, essa um pouco sinistra e cruel: As caminhadas para a Escola Sesi Minas – onde estudava - em época de migração de sapinhos que saiam do córrego e caminhavam às centenas para a lagoa seguindo no encostamento da estrada.
Saímos pisando-os, nos deliciando com o barulho que faziam ao serem esmagados pelos pés destes pré-adolescentes cruéis.
De triste lembrança foram as caçadas que fazia com a minha espingarda de chumbinho que ganhei do Tio Haroldo.
Ainda bem que não era muito bom de mira e matei poucos...
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HISTÓRIA DE VIDA
PARTE 2
Continuando a minha estada no Vale do Jatobá, uma boa lembrança de fim de semana eram os nossos passeios à Cachoeira do Coquinho que fica - se não me engano - município de Betim.
Subíamos a rua 240, passávamos a caixa d’água do bairro, entravamos em uma trilha no mato.
Descíamos morro. Subíamos morro e novamente descíamos chegando em um pequeno riacho com uma pequena cachoeira onde nadávamos um pouco. Fazíamos um lanche e voltávamos cansados quase ao fim da tarde.
Erámos como bandeirantes desbravando o interior.
Um bando de famílias com crianças de 12 a 6 anos avançando arriscadamente em mato escorregadio.
O ponto alto era o túnel feito de pedra que chamávamos de Túnel dos Escravos.
Pouco depois da boca, havia uma escadaria cheia de musgo devido a água que vinha do seu interior.
Meninos que éramos, não arriscávamos muito além da boca, com medo do que abrigava.
Até hoje não sei o que era ou a que servia.
Outra diversão era pescar na lagoa que havia no início do bairro.
Eu costumava pescar até uns vinte carás de uns dez centímetros, que punha em uma lata com água, para em casa colocá-los no barriu com água que tínhamos em casa.
Um dia, mais feliz que havia pescado bastante cheguei em casa animado, mas ao despejar o conteúdo no barril, constatei que havia sido roubado, me restando apenas uns três carás.
Nunca mais confiei nos colegas de pescaria.
Outra lembrança, essa um pouco sinistra e cruel: As caminhadas para a Escola Sesi Minas – onde estudava - em época de migração de sapinhos que saiam do córrego e caminhavam às centenas para a lagoa seguindo no encostamento da estrada.
Saímos pisando-os, nos deliciando com o barulho que faziam ao serem esmagados pelos pés destes pré-adolescentes cruéis.
De triste lembrança foram as caçadas que fazia com a minha espingarda de chumbinho que ganhei do Tio Haroldo.
Ainda bem que não era muito bom de mira e matei poucos passarinhos.
Uma vez persegui um casal de coruja por todo o mato indo e voltando, para, por fim, acertar uma delas. A maior ave que já matei.
Cedinho, mesmo nas manhãs frias ouvia o grito do padeiro cortando o silêncio.
- Padeirooo!
Aquele grito, no início me parecia sobrenatural, solto no ar. Sem uma boca e garganta que o emitia.
E era mágico.
Sempre após a sua passagem, sabia que ia encontrar na sacola de pano previamente esquecida no lado de fora da porta da cozinha, uma bisnaga de pão ainda quente.
Minha mãe recolhia a sacola e logo íamos tomar café nos preparando para ir para a Escola.
Um dia o grito do padeiro ganhou boca, garganta e corpo, quando o vi pela janela.
Uma figura de jaleco e boné brancos carregando uma enorme cesta abarrotada de pão.
Seria de se esperar que a magia se diluísse após esse encontro da boca que gritava a palavra mágica, que fazia surgir o pão que nos alimentava todas as manhãs.
Isso não aconteceu. Só aumentou o respeito e a curiosidade por essa pessoa boa que entregava pão de casa em casa.
Devia ser muito rica e sem muito o que fazer para sair com chuva ou com escuridão para levar pão para todo mundo.
Havia outras mágicas e constantes presenças sem as quais o dia não nasceria bem.
Logo depois do padeiro, vinha o Luís e o seu tradicional assovio chamando os seus três cachorros.
E então o dia podia nascer com todos os seus sons, Sol e correria para ir para a Escola.
Eu corria para ir para o Colégio SESI Minas \\\"Hamleto Magnavacca\\\", onde chegava às seis e meia, antes de todos os alunos e professores.
Encontrava o portão fechado sempre, já que a aula só começava às sete horas.
Fazia isso desde o grupo e depois continuei a fazer quando estudei no IMACO.
Era o primeiro a chegar na porta do Colégio escondido no meio das árvores do Parque Municipal.
A diferença é que no IMACO eu tinha concorrência. Um outro aluno queria me destronar do posto de “primeiro a chegar”. De certa forma isso animava o dia. Ter um concorrente nessa disputa sem prêmio ou troféu. Mas isso foi alguns anos depois, quando voltamos para a Sagrada Família.
O Vale do Jatobá sempre foi um lugar diferente e mágico para nós crianças.
Logo quando mudamos para lá - em 1968 - não havia água nem luz e as casas da COHAB eram todas iguais.
Com o tempo, humanos que somos, fomos deixando nossas marcas nas casas.
Uma cortina, uma cor diferente, um cercado de arame.
O bairro deixou de ser um pombal homogêneo.
Depois do Vale, nunca mais vi aquele tipo de padeiro.
*Carlos Henrique Rangel.
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