P - Então vamos lá, queria que você começasse dizendo o seu nome completo, o local e a data de nascimento. R - Meu nome é Vanderli Teixeira Barbosa, nasci no dia 12/06/1976, sou natural de Formosa, Goiás. P - Você nasceu em Formosa e passou lá a sua infância? R - Passei a minha infância toda, tem um período que eu saí dela, poucos tempos mas eu saí, vou falar. P - Que seus pais faziam? R - Meu pai, comerciante e minha mãe, dona de casa. P - Você freqüentou a escola? R - Freqüentei, eu fiz o primeiro incompleto, né, mas foram fases, não foi direto não, devido a alguns problemas que eu tive na infância, aí... P - Mas você começou a estudar quando você era pequeno? R - Quando pequeno, tinha 7 anos. P - E você lembra da escola? R - Lembro. P - Como que era? R - Acho melhor começar de casa para chegar na escola. P - De casa, então me conta da sua casa? R - Até os 4 meses o meu pai gostava de brincar comigo, saia com ele na rua, a partir de uns 4 meses, ele tomou raiva de mim P - Quatro meses de idade. R - Quatro meses de idade, qual o motivo até hoje eu não sei, eu pergunto ele não sabe responder. Começou a me espancar, me bater, ia trabalhar de guarda à noite e quando ele chegava, 5, 6 horas da manhã, aí minha mãe ficava doida para mim parar de chorar, que eu chorava muito, "Pára, meu filho.", e ele chegava e se estava chorando ele batia, aí que piorava mais a coisa mesmo, não tinha nem um ano de idade. Fui crescendo, veio o meu irmão, o segundo, mesmo tratamento para ele, veio o terceiro, mesmo tratamento e na nossa infância nós não podia brincar, não podia sorrir, podia falar alto, não podia sair para a rua, não ia na casa de parente. Aí acho que eu estava com 6, 7 anos, ele me levou, não sei porque, ele me levou no casamento da minha tia, aí ele falou assim: "Você fica aqui com a sua avó, que eu vou ali, não sai.", e era daquele jeito, se saísse... Mas aí eu pedi para ir ao...
Continuar leituraP - Então vamos lá, queria que você começasse dizendo o seu nome completo, o local e a data de nascimento. R - Meu nome é Vanderli Teixeira Barbosa, nasci no dia 12/06/1976, sou natural de Formosa, Goiás. P - Você nasceu em Formosa e passou lá a sua infância? R - Passei a minha infância toda, tem um período que eu saí dela, poucos tempos mas eu saí, vou falar. P - Que seus pais faziam? R - Meu pai, comerciante e minha mãe, dona de casa. P - Você freqüentou a escola? R - Freqüentei, eu fiz o primeiro incompleto, né, mas foram fases, não foi direto não, devido a alguns problemas que eu tive na infância, aí... P - Mas você começou a estudar quando você era pequeno? R - Quando pequeno, tinha 7 anos. P - E você lembra da escola? R - Lembro. P - Como que era? R - Acho melhor começar de casa para chegar na escola. P - De casa, então me conta da sua casa? R - Até os 4 meses o meu pai gostava de brincar comigo, saia com ele na rua, a partir de uns 4 meses, ele tomou raiva de mim P - Quatro meses de idade. R - Quatro meses de idade, qual o motivo até hoje eu não sei, eu pergunto ele não sabe responder. Começou a me espancar, me bater, ia trabalhar de guarda à noite e quando ele chegava, 5, 6 horas da manhã, aí minha mãe ficava doida para mim parar de chorar, que eu chorava muito, "Pára, meu filho.", e ele chegava e se estava chorando ele batia, aí que piorava mais a coisa mesmo, não tinha nem um ano de idade. Fui crescendo, veio o meu irmão, o segundo, mesmo tratamento para ele, veio o terceiro, mesmo tratamento e na nossa infância nós não podia brincar, não podia sorrir, podia falar alto, não podia sair para a rua, não ia na casa de parente. Aí acho que eu estava com 6, 7 anos, ele me levou, não sei porque, ele me levou no casamento da minha tia, aí ele falou assim: "Você fica aqui com a sua avó, que eu vou ali, não sai.", e era daquele jeito, se saísse... Mas aí eu pedi para ir ao banheiro e a minha avó: "Não, pode ir." quando eu estava voltando ele viu e já começou a me espancar, bater em mim, mandou dar benção em todo mundo e saindo, aí veio me batendo do salão de festas lá no casamento até em casa, espancando, ele dirigindo a Belina dele lá e só virava e dava os tapa, virava e dava os tapa. Chegamos em casa e ele me espancando, batendo, minha mãe foi perguntar, ele deu um tapa na cara dela, aí eu falei para ele não bater nela que quando eu crescesse eu ia matar ele. Aí ele me espancou, me espancou com gosto de gás, mesmo. Aí 6 anos nós morava num certo bairro, 7 anos nós mudamos para outro, é um bairro onde ele mora até hoje, que é na Formosinha, aí ele colocou para eu estudar na escola, como eu não tinha liberdade dentro de casa, não podia fazer nada, aí toda a minha energia, a minha raiva, o meu ódio que eu tinha, eu extravasava dentro da escola, batia nos colega, apanhava, quando os colega não dava conta juntava dois, três para me bater. Ele tinha um comércio, até hoje ele trabalha com comércio, a gente não podia pedir nada, era o que ele quisesse. Aí eu caí na besteira, 7 anos de idade, de pegar três moedas escondido dele, e por azar, sei lá, acho que tem que ser, ele pegou. Ele me levou na escola, porque ele me levava, mas daquele jeito, deixava lá, pronto, ia embora, buscava. Ele abriu a minha bolsa, ele: "É quem te deu essas moedas?", eu falei: "Foi minha mãe.", "Vou conversar com ela.". Chegou lá, minha mãe não apoiou, eu agradeço também não ter apoiado mesmo, não. Chegou, falou: "A sua mãe falou que não te deu.", "Não, eu peguei mesmo.". Mas aquele jeito, já não tinha como esconder, aí ele foi com gosto, bateu, ele atingiu o meu órgão genital, inchou, machucou, aí foram falar com ele: "não isso só para ele aprender.". Eu fui crescendo, eu tenho várias marcas na cabeça, que nas minhas brigas, nas confusões que eu tive na rua, ninguém nunca arrancou sangue de mim, nunca me machucou, mas ele chegava.... Eu lembro uma vez estava eu e os meus irmãos sentado no banco, nós três, nós estava rindo. Ele chegou da rua, ele chegava caladinho de carro, ele descia lá de cima, apagava o carro e vinha, sssssssssss, descia do carro calado, aí ele chegou com um martelo e me deu uma cacetada na cabeça, aí o sangue desceu, para ele era normal, o que ele tivesse na mão ele batia em mim, nos meus irmãos. Aí, eu fui crescendo com ódio, eu tinha ódio, eu não gostava dele, mas cada vez que ele me dava uma surra minha mãe chamava a gente para ir para o quarto para rezar, para pedir a Deus que mudasse aquela forma, aí foi... Na sexta série que foi onde rolou o problema, sexta série... deixa eu ver, acho que eu estava com uns 11,12 anos, mais ou menos isso aí. Eu curti com uma menina, novinho, né, e faltei uma semana de aula e ele falou assim: "Hoje vou lá no seu colégio", porque ele ia diretamente. Só que eu não acreditei, curtindo demais, não fui, não, aí ele foi. O momento que eu estava lá senti coisa ruim, meu pai foi para lá. Eu cheguei em casa apreensivo olhando, aí eu olhei ele de longe, ele não me viu, fiquei bicando ele, e ele com uma cara assim que se me pegasse ia me judiar demais, eu gelei, eu tinha medo dele, mas nunca tive medo igual esse dia, falei: "Ah, não vou apanhar, não", aí catei um par de roupa meu, aí deu um apagão na hora, faltou energia e eu caí no mundo, aí eu corri para a rodoviária, não lembro agora no momento como eu consegui o dinheiro, sei que eu consegui um dinheiro lá, só dava para pagar a passagem também, eu queria ir para qualquer lugar, eu queria ir para Brasíla, queria ficar longe, só que não deixavam embarcar de menor, tinha que estar acompanhado, agora fazer o quê. Aí eu tinha uma tia minha que morava lá perto, corri para a casa dela, só que aí eu caí para dentro do lado dela e ninguém me viu, portão aberto, fui para uma horta dela, que antigamente o povo fazia muito jirau, chuchu tampava, fazia tipo uma casinha e eu caí lá para dentro e fiquei quieto. Aí num momento de descuido meu lá, que aí eu fui beber água uma prima minha me viu, e todo mundo nessa hora já estava correndo, os parente tudo, avisaram tia, a minha madrinha, e corre daqui, corre para acolá, já tinha avisado essa tia minha e ela saindo para fora toda hora para ver se me via e eu calado, aí eu vacilei a minha prima me viu, me entregou, aí ligaram para a minha mãe: "Ó, o seu filho tá aqui" aí eu não queria ir não, aí minha mãe foi implorando: "Meu filho, vamos voltar", "Não, meu pai vai me matar dessa vez", falou: "Não, ele não vai te bater não, falei: "Vai, eu conheço", até que eles me convenceram, aí fui, cheguei lá, estava minha madrinha, minhas tia, fui bem miudinho para dentro com medo da reação dele. Quando eu entrei na sala, o bar estava fechado, ele foi para dentro do bar. Nós, a família toda, na hora eu não me liguei, mas minha madrinha e minha tia pensou que ele ia se suicidar, da raiva, ele, sei lá. Ele tem um ódio dentro dele que não é normal, um ódio fora do comum. Minha madrinha já correu mais a minha tia e conversando com ele: "Não, Valdir não, calma". Aí beleza, falou: "Só que aqui eu não quero ele mais na minha casa não, ah dou um mês para Geraldo arrumar qualquer lugar para ele ficar, casa de parente, quero ele fora daqui, não quero mais ele aqui." Aquela batalha, era 11, 12 anos que eu tinha porque na época eles não aceitavam meninos da minha idade, pegavam mais novo, né, aí foi uma batalha, perguntou em Brasília, aí conseguiu lá em Posse. P - Conseguiu o quê? R - Conseguiu um internato para mim lá em Posse. Aí cheguei lá, já no primeiro dia, o ódio que vinha eu carregava junto comigo, o sofrimento que eu tive, então a única pessoa que eu nunca respondi sem bater na minha cara, sem nunca tirou sangue de mim, foi meu pai, tudo em conseqüência da minha mãe estar ali do meu lado, me aconselhando, chamando: "Não, vamos rezar", aí que eu não fiz nenhuma besteira com meu pai, devido a minha mãe. Muitas vezes eu pensei: "Vou esbagaçar mais ele, não estou nem aí", mas de ver a minha mãe é o que me impedia, e o que me impediu de muitas coisas, de entrar para o crime, muita coisa errada, foi só o amor da minha mãe, que até então ninguém existia, existia a minha mãe e os meus irmãos. Cheguei lá, como eu já vinha um moleque revoltado, em todos internato é a lei do mais velho, é a lei do mais forte, então eu tive que chegar e tinha que me impor. Já no primeiro dia eu já briguei, peguei um tal de Zé Pequeno lá, era o cabeça, o moleque que mandava, batia e ninguém fazia nada, ele chegou: "Aqui você me obedece". Eu: "Não obedeço nada, único que eu obedeço é meu pai, mas ele não esta aqui e você não é ele". E ele caminhou para o meu lado, meteu a porrada eu grudei ele, joguei ele no chão, aí eu espanquei ele, bati e falei: "Ó, você não manda em mim, você não manda, você fica longe de mim". Aí os moleque, porque esse Zé Pequeno batia em todo mundo lá, ele judiava mesmo, aí todo mundo vibrando: "É, é isso aí neguinho Bate nele, neguinho" e eu estraçalhando ele. Aí chegou o caseiro, a pessoa que tomava conta lá, me tirou, já chamou o dono lá, o Seu Célio, aí o Seu Célio: "Pô, você chegou hoje" e já ligou para a minha mãe: "Ó, não tem como ficar com o filho da senhora, porque ele é um menino problemático, já bateu num aqui". Mas ele não falou que o moleque tentou me bater, né? Simplesmente me defendi e aí fui pedir desculpa para ele, implorar, chorar para ele deixar eu lá, ele não queria, queria me mandar no mesmo dia de volta. E foi a minha mãe me deixando lá de manhã, quando foi ela chegando em Formosa de noite ele já estava ligando para mandar no outro dia ela voltar para me buscar e eu chorando, implorando: "Pelo amor de Deus, não manda, não.". Falei: "Eu prefiro fugir daqui e cair no mundão.". Falei "Eu saio daqui, mas para Formosa eu não volto, não volto.". Minha mãe chorando do outro telefone, conversou comigo chorando, falei: "Não, mãe, eu vou me comportar.". Beleza. Logo em seguida tinha uma menina também - sempre nas bagunça tem uma mulher no meio, né? - aí aquela paquerinha, a gente ficou conversando, ela pediu um beijo, eu dei um beijo nela, fui dormir, só que graças a Deus eu tinha uma testemunha: o meu colega estava lá junto. Como os quartos lá era internato, era com os quartos dos dois lados só quarto, só que nesse não tinha separação, só meia parede. Aí deitei, estava eu e o moleque conversando lá, ela começou gritar sozinha, sozinha, do nada. Aí o caseiro ouviu já foi correndo, só que aí ele não fez alarme. Ela falou para ele, ele não fez alarme, ficou quieto. No outro dia cedo quando eu acordei, estava armado. Todo mundo querendo me linchar, ela disse que eu tentei estuprar ela. Aí vai outra lenga-lenga, e ela chegou na minha cara: "Não, você tentou, você tentou". E eu chamava o moleque, o moleque: "Não, ele não fez nada, estava junto com ele". Mas aí como eu era o cara de fora, ela já estava há vários anos lá, ela tem mais credibilidade, aí mais uma vez ligaram para a minha mãe: "Ó, seu filho fez isso, eu vou mandar ele de volta." e minha mãe: "Pelo amor de Deus, não faz isso.". E aquela lenga-lenga. Aí eu falei: "Seu Célio, eu não fiz isso e eu vou provar, pode ser hoje, amanhã, uma hora eu vou provar, se eu tivesse feito eu assumia." - aí eu falei - "A partir de hoje eu não quero contato com ela, eu não quero conversa com ela, eu quero distância e me transfere.". Lá a gente não ficava à toa, cada um tinha uma função, lá como é uma comunidade grande, tinha a casas dos barão, dos cara rico, que era os que comandava a entidade, tinha a oficina mecânica, elétrica de carro, marcenaria, solda e lá embaixo tinha que cuidar da chácara, era limpar a piscina, todo dia catar folha no imensidão de chácara, todo dia tinha que estar lá, esses serviço assim de limpeza, ficar lá todo dia a mesma coisa, todo dia a mesma coisa não é comigo. Aí devido a esse acontecimento falei: "Não, me transfere lá para cima.". "Eu só vou lhe dar mais uma chance, mas se tu pisar, se desobedecer, tu vai embora.". Eu falei: "Beleza, né, fazer o quê", eu implorando para ele para deixar eu ficar aqui. Aí me transferiu, fui trabalhar como ajudante de mecânico, tinha um chefe da oficina, aí ele colocou o apelido em mim de Tatá, de tarado, né, aí vai, aí todo mundo foi, falei: "Cara, não faz isso, não faz isso.". Aí eu tinha feito amizade com o moleque lá que também era do internato, nós dois trabalhava junto, aí pegou uma semana, todo dia, todo dia, não me chamava mais pelo meu nome: "Ó Tatá, vem cá.", "Ó, Tatá, faz isso.", "Ó, Tatá, faz aquilo.". "Eugênio, chama pelo meu nome, chama pelo meu nome.". Aí esse colega meu veio: "Ó, Tatá, Tatá.", coletando e tipo assim todo mundo chegava, cliente eles na frente do cliente me chamando: "Não, isso é porque foi fazer isso com a menina.". Eu falei: "Velho, eu não fiz isso não.". Aí veio o moleque, veio coletando, eu cobri ele, aí eu saio de mim, cobri ele de pancada mesmo, bati, aí eles me separaram, aí: "Eu vou falar para o Seu Célio.". "Não precisa ir lá falar eu vou lá falar.". Cheguei lá e Seu Célio estava numa reunião: "Bati ele.". "Calma aí, Vanderli.". "Não posso esperar, porque depois chega outro aí e não vai me deixar falar, então deixa eu falar, é coisa séria mesmo, cabei de espancar mais um ali.". Aí ele: "Não, entra para cá.". Falei: "Ó, fulano lá esta fazendo isso, isso e isso, eu tenho estopim curto, entendeu? E eu não fiz aquilo que ele está falando, eu vou provar ainda.". "Calma, Vanderli, calma.". "Se ele não parar, o próximo trem que eu vou tacar na cara é dele, vou tacar para derrubar, que no murro não vai dar não, eu taco uma pedra, um pedaço de ferro, qualquer coisa, não me defenda se for homem.". "Calma, velho." Foi lá, mandou chamar o cara, pôs nós dois frente a frente e eu falei tudo novamente, o cara calado, aí tentou: "Não, não sei o que... ". "Você está aqui para dar exemplo, não é isso que faz com o moleque.". Aí o cara mudou da água para o vinho, passou a me respeitar, pelo meu nome. Aí começou a me convidar para ir almoçar na casa dele, jantar, tinha uma vez por mês eles faziam compra, igual se fosse um mercado, aquele monte de coisa, colocava no depósito: "Para fulano, vai tanto.". Nesses dias ele começou a colocar eu para carregar, me dava uma bolacha, um suco, aí ele viu que eu não era aquilo, nós ficou amigo, mas ainda pairava, ainda tinha no ar o que eu tinha feito com aquela menina, aí passou um mês, um mês e pouco, eu fiquei quatro mês lá, depois eu volto nesse negócio da menina. Aí eu tive mais um problema, tive três problemas lá violento. Três não, quatro. Como meu pai judiava muito de mim e eu nunca pude me defender, então na rua, qualquer lugar, até parente - o único que eu aceitava era meu pai e minha mãe, minha mãe não me batia, que tapa de mãe, surra de mãe não dói. Agora de pai dói, pai é... Tinha um filho de uma mulher que era irmã do Dr. Célio, cabeça lá, e esse cara toda vez ele descia lá para baixo, lá para chácara, batia em todo mundo, puxava orelha, pegava nós assim e ficava puxando, jogava no chão, pisava nele, os meninos nunca falou nada, aí ele: "Quem é esse neguinho aí, esse loirinho novo?" Só que ele estava fazendo alguma coisa que ele não estava lá um mês antes, acho que ele estava de férias, aí ele voltou, e isso tudo aconteceu em pouco tempo, foi um atrás do outro se acontecendo. Aí ele falou: "Não mexe com ele, não, que ele já quebrou Zé Pequeno.". "Ah, mas Zé Pequeno... mas eu sou eu." - grandão, né? - "Eu quero ver se ele é brabo mesmo.". Me jogou no chão: "E aí, vai reagir? Vamos, reage.". Aí ele virou as costas pra mim, tinha um pedaço de pau assim, eu pá na cabeça dele. Novamente eu para a reunião com o Dr. Célio: "Por que você fez isso?". Eu falei: "Por causa disso, disso e disso.". Aí veio a mãe dele, já tinham até ligado para minha mãe: "Pode vir buscar amanhã.". Aí eu nem sabia mais não, já era para mim vim. Aí eu fui e falei: "Não, ele fez isso e isso e pode chamar os menino lá. Só que os menino tinham medo dele: "Agora se vocês derem garantia que ele não vai bater no menino, mas pergunta os menino.". P - Então vamos lá você estava contando que eles tinham chamado a sua mãe... R - É, eles já tinham chamado a minha mãe, né, aí eles foram chamaram, já tinha vindo outras reclamações só que eles não acreditaram: "Ah, isso é intriga.". Eles não acreditaram porque o moleque, moleque não já era um rapazão, era um homem já, era filho da mulher irmã do dono, era o cara que comandava tudo, aí não acreditaram. Chamaram os menino, chamaram Zé Pequeno e os outros lá: "Ó, fulano faz isso, isso com vocês?". Falou: "Faz." "Por que vocês nunca falou?", "Não, já falamos, mas vocês nunca acreditaram.". "Você não desce mais na chácara, proibido.". Aí tirou ele, aí nunca mais desceu para lá, enquanto eu estive lá, né. P - Você ficou lá por quanto tempo? R - Quatro meses. P - Quatro meses? R - Dois meses rolou meio mundo de coisa, aí vem a última que foi por cima. Parece que eu tinha que ir lá para mudar a parada, mudar muita coisa ali. Tinha um problema com um caseiro e a mulher dele, eu até voltei a estudar lá, que eu tinha parado no mês de junho mais ou menos, que foi que aconteceu, junho, veio julho, agosto que era o início das aula, aí eu tinha voltado a estudar. Uma noite eu estava escrevendo, fazendo as tarefa, era final de semana, no sábado à noite, que de dia trabalhava. E a mulher dele, eu não lembro qual foi o motivo, ela já chegou caçando encrenca e meteu a mão nos meus trem assim, no material e jogou tudo no chão, eu caminhei para dar um murro nela. O marido dela apontou na porta. Ela: "Aí ó, Vanderli quer me bater.". E agora?: "Não, olha o que ela fez comigo.". "Não, bicho, você tem é que ficar é calado, ela fez e você não pode fazer nada, não.". Falei: "Beleza, deixa quieto.". No outro dia cedinho, porque eles queriam de toda forma me tirar de lá. Ele falou: "Ó, cedinho eu vou comunicar o Dr. Célio.". Falei: "Porra, agora eu vou mesmo. A quarta [vez] Aão, não vai ficar assim não.". Quando deu 5 e meia, 6 horas, levantei e descambei antes do caseiro levantar. Quando o caseiro chegou para falar eu já estava lá e abri o jogo, falei tudo: "Ele espanca os menino, ele é pior que o filho da Dona Zefa, ele maltrata, os menino tem medo, tem pavor dele. A mulher dele bate, puxa orelha, dá no sangue.". "Não é possível isso.". E na frente dele, e ele: "Não, não acontece isso, não.". Eu falei: "Não acontece? Fica quieto aqui, faz igual fez com o filho da Dona Zefa, chama os menino lá, chama lá.". Foi chamar, chamou um neguinho. Que ele era branco o caseiro e era racista, ele judiava mais de um neguinho, ele era mais escuro do que eu, ele tinha uma orelhona grandona, uns dentão assim para a frente e ele grudava assim, o menino chorava mesmo. Aí na frente falou Dr. Célio: "Pode falar, não tenha medo dele, ele não vai encostar a mão em você.". Aí o menino começou a chorar e falou: "Não, ele faz isso, isso e isso. As coisa que ia lá para nós comer que nem arroz, feijão, carne, ele vinha dar só as coisas mais ruim, bolacha recheada era dele, só de sal para nós. A gente comia o que ele desse. Carne era um pedacinho e ele lá no prato dele com uns pedação de carne.". E entreguei tudo. Na mesma hora já transferiram ele. Falaram: "Não, você não vai ficar aqui não.". Aí transferiu ele para trabalhar num galinheiro, cuidar de galinha, de porco, já não ia mais mexer com criança, já não ia tomar conta. Aí eles trouxeram duas mulheres, aí sim, aí começou a minha fase boa no internato, aí por fim só estava faltando eu provar que eu não tinha feito nada com a menina. O Dr. Célio tinha alertado as mulheres: "Ó, o Vanderli teve esse problema e tal, fica de olho nele.". Como o caseiro e a mulher foram transferido para outro [lugar], a menina começou a se aproximar de mim novamente. Começamos a conversar, hora que eu estava tomando banho na piscina ela começou a querer brincar e... Aí eu raciocinei e falei: "Eu vou fazer o seguinte: vou chamar ela para perto de mim e ela mesmo vai se entregar.". Pegamos amizade, eu comecei a brincar com ela, puxar assunto, aí um dia eu falei para uma das mulheres: "Ó, vocês estão sabendo que aconteceu isso, isso comigo e eu quero provar a minha inocência, que se eu tivesse feito eu não estava nem aí, não. A senhora vai ficar atrás da porta e eu vou chegar com ela, vou bolar uma idéia, vou chamar ela para lá e vou puxar o assunto, por que ela fez isso comigo.". Aí assim eu fiz. Conversa vai, conversa vem, ela brincado, não sei o quê. Falei: "Mas me diga uma coisa, só para nós dois - por que que você me acusou daquele negócio?". "Ah, não sei, é que eu queria causar ciúme no Juscelino.", que era um outro cara lá, esse também era um cara já velho. Aí eu falei: "Eu quase fui mandado embora, o caseiro queria me linchar. Nesse dia o caseiro só não linchou porque a mulher dele não deixou, ele ia me linchar.", e a mulher ouvindo atrás da porta. Aí ela confessou, me pediu desculpa, a mulher saiu de trás da porta. Fomos lá nós três agora na frente do Dr. Célio e ela confessou. Aí eu ganhei o respeito lá: "Não, ó, aquele lá, o moleque não é aquilo que a gente pensava.". Aí foi dois meses trabalhando no horário certo, a gente trabalhava de segunda a sexta. Sábado e domingo a gente ia divertir, era piscina, futebol. Um belo dia eu estou lá almoçando, era uns mesão, tô num canto assim, almoçando, eu olho para a porta, minha mãe. Aí já tinha quatro meses, aí assustei, né, falei: "Pô, o que aconteceu?" P - Aham. R - Ela me falou: "o Seu Célio te avisou?". Eu falei: "Não, não falou nada, não.". "Eu vim te buscar que eu não agüento ficar sem você.". Ela estava magra, abatida, os olhos fundos. Aí eu comecei a chorar: "Não, eu não quero ir, não quero ir.". Ela disse: "Não, pelo amor que você tem a mim, nem que você tiver um tiquinho de amor em mim, não precisa muito não, um pouquinho, vamos voltar comigo.". Falei: "Mãe, pai vai voltar a me bater, não quero isso.". Ela falou: "Não. Vamos, vamos voltar.". Aí chorei, chorei, chorei, a mulher que tomava conta lá veio conversar comigo - foi de surpresa, eu vim para almoçar, eu trabalho. Falei: "Bom, vamos embora.". Aí a gente arrumou as coisa, todas as menina lá choraram porque eu estava indo embora, que foi uma coisa pega de surpresa e já tinham dois meses. Igual eu falo sempre: eu vivi um paraíso. Eu vi dois meses de inferno (foi pior do que na minha casa) e dois meses de paraíso: ninguém me espancava, ninguém me xingava, era a vida que eu tinha pedido a Deus. Despedi de todo mundo, todo mundo chorando, subi para a oficina mecânica para despedir do pessoal, neguinho com nó na garganta, os olhos enchiam de lágrima: "Porra, logo agora que estava dando certo?", porque eu tava aprendendo a profissão, vim embora para Formosa. Chegamos lá, dei benção em meu pai, ele abençoou. Entrei para dentro do quarto, jantei, fui dormir. No outro dia cedo acordei, fui conversar com ele: "Pai, queria conversar com o senhor.". Falou: "Não tenho conversa com você. Você aqui em casa é apenas uma visita, tu tem um mês para arrumar um serviço, um emprego para você trabalhar, para se virar. Eu vou dar só a comida, o resto você vai se virar.". Eu fui vender geladinho. Um dia eu fui para uma lagoa que tem lá, a Lagoa Feia, e era longe para caramba, e eu fui, vendi todos os geladinho e estive tomando banho lá. Aí eu de pé de lá até onde eu morava demorava muito, quando eu cheguei já estava escuro, meu pai me esperando com a mangueirona pronta e se atraca com eu. Aí ele foi descontar tudo que ele não tinha descontado na época que eu tinha fugido: "Esse aqui é porque você fugiu e paf. Esse é por causa disso aí. Ó, esse é por causa do outro, esse porque você ainda não arrumou um emprego, e esse aqui ó é porque você chegou tarde, paf e paf.". P - Como você reagiu? R - Aí, os meus braços, ele pegava nesse aqui e eu defendia com esse aqui, aí ele foi batendo que eu não agüentava mais, aí eu tirei o braço, ele aproveitou as perna, bateu nas costa, eu caí no chão e mangueira comendo, e pisava nas minha perna e nas costa, paf e paf, a minha mãe orando dentro do quarto, porque se ela entrasse ele ia. Ele me espancando, espancou com vontade mesmo, o ódio que ele tinha de mim, a raiva de tudo que eu tinha feito ele descontou nesse dia, ele esperou uns 10 minutos, me largou, eu fui para dentro do quarto, minha mãe foi olhar e chorando e passando remédio, aí ele entrou dentro do quarto e falou: "Ó, aqueles dois caminhão de cascalho você vai carregar tudo para dentro hoje.". Eu carreguei, aí toda hora ele vinha, me dava um tapa. No outro dia cedo ele levantou eu cedo: "Vai vender geladinho, se vira, vai trabalhar.". Não agüentava, aí meu irmão me emprestou a bicicleta dele, eu andava nas ruas, quando batia em mim não agüentava, isso aqui tudo ficou igual, aí meu ódio por ele cresceu. Aí parei de estudar, eu parei na sexta série. No início do outro ano... P - Isso era que ano? R - Isso deve ser 90 mais ou menos. Na lista está 90 internato, né? P - É. R - Então é 91, de 90 para 91. Aí, eu fui jogar bola num campo de futebol, um cara grande me bateu, eu: "Isso não vai ficar assim.". Todo mundo coletando de mim, porque lá no bairro eu brigava direto, não levava desaforo para casa. Muito difícil apanhar, apanhava quando o cara era maior, aí não tinha como, apanhava mesmo, no colégio cansei de apanhar de cara maior, juntava dois, três me batiam e espancavam, mas também chegava em casa não falava para o meu pai não, deixa quieto, depois a gente resolvia. Dava um jeito de descontar de qualquer forma, esperava o cara num vacilo jogava pedra na cabeça dele, fazia qualquer coisa, ele não dava fé que era eu e... me vingar, o negócio era esse, dava o troco mesmo. Falei para esse cara: "Hoje você está me batendo, tu é maior, marca aí todos os moleques, um ano eu quero que você seja homem de meter o braço em mim de novo, um ano, eu quero só um ano.". Todo mundo coletando, cá-cácá-cácá. Não fui mais em campo de futebol, fiquei olhando as academia para mim aprender alguma coisa, fui no karatê, não gostei, fui numa academia de capoeira, neguinho ficava pulando, eu falei: "Salto para mim não vai resolver nada, não.". Fui numa outra academia, aí eu vi um cara maior do que eu pouca coisa e o cara jogava, pegava uns cara grande lá e metia o pé mesmo e botava o cara no chão. "É esse cara, vou pedir ele para me ensinar.". Procurei saber onde ele morava, seguia ele, primeiro saber quem era, um dia eu estava num Banco do Brasil, fui entrando eu vi ele, eu falei: "Nossa, é hoje que eu vou falar com ele, não. Vou deixar para amanhã, não.". E já tinha uns três, quatro meses que eu já tinha feito a promessa, e a galera me cobrando, tinha neguinho que ia lá na minha casa falar: "Ó, Lorão, tá te chamando lá, não, ainda não.". Ele ia saindo, falei: "Queria falar com você, o meu nome é tal, tal e eu vi você jogando capoeira, você é bom e eu queria que você me ensinasse.". "Por que você quer?". "Não, porque eu gosto.". Mentira, né? Na verdade não era isso. "Só que eu tenho umas regras: vcê sabe onde eu moro?", "Sei, sei tudo.". "Então vai lá hoje de tarde para nós conversar.". Falei: "Tá bom, eu vou.". Aí eu fui, cheguei lá estava uns primo meu, só que esses primo meu a gente não tinha amizade, devido meu pai não deixar eu ir na casa de meus parentes nós não tinha amizade, era eles para lá, eu para cá, nem cumprimentava. Cheguei lá para conversar, só que no primeiro dia eles não estavam, ele falou assim: "Ó, o que eu ensino não é para você sair na rua brigando, aqui tem umas regras, você não pode beber, você não pode fumar, você não pode andar armado.". Quando ele falou armado - porque aí armado eu andava, eu andava com duas faquinhas assim pequena - falei: "Não, beleza. Do jeito que você quiser.". O que eu queria era aprender, concordei com ele. Vim no outro dia, quando eu cheguei estava meus primo, nós treinamos, ele começou a me passar algumas coisas, eles foram e falaram para ele: "Ó Teixeirinha" - meu apelido lá é Teixeirinha nessa época - "Ó, Teixeirinha está treinando para pegar Lorão, que Lorão bateu nele, ele fez uma promessa assim, assim, assado, e ele está cumprindo, nunca mais foi no campo de futebol, não anda mais com ninguém e está aqui agora.". Aí ele me chamou, falou: "Teixeirinha, você está treinando para pegar fulano, não, mas você sabe que...". Falei: "Não, se você não for é pior, se você não me ensinar é pior, ele aceitou o desafio, que ele ia mudar o meu jeito de ser.". Ele é uma das pessoas que foi e é importante na minha vida. Comecei treinar, e eu tinha um ódio, com um mês eu estava batendo sem dó, aí deu um problema na escola, eu voltei a estudar no início de 91, comecei a treinar capoeira. Com um mês eu tive um problema na escola, novamente uma menina, mulher que traz confusão para mim. P - (risos) R - Tinha dois cara avacalhando com ela dentro da sala de aula. Um me conhecia, sabia que eu era encrenqueiro, que eu era brigão, o outro não, aí eu falei: "Ó, velho, pára de mexer com a menina aí. Por que você não mexe com um homem?". O que me conhecia falou: "Tá bom, Teixeirinha, tá bom." e vazou e o outro: "Que é baixinho? Que que você quer, quem você pensa que você é?", já meteu a mãozona nos meus peito me empurrando, que ele meteu já entrei na boca do estômago, bati e ele sentiu e entrei noutro, ele se jogou na porta, bateu a cabeça na porta, eu já vim correndo pisar no pescoço dele, queria pisar. No que eu pulei, uma menina me tirou, ela me empurrou, tinha um conhecimento mais ou menos com ela: "Calma, Teixeirinha", me puxou, falei: "Não, deixa esse folgado aí, vou arrebentar ele. Ele não vai avacalhar com mulher? Vem avacalhar comigo.". Aí entrou um cara, o Perneta, e comprou a briga. Esse Perneta era bem mais encrenqueiro que eu, só que ele não agüentava uma porrada, ele tinha uma gangue. Aí na saída juntou esse Perneta e mais uns dez para me pegar, me cercou de uma forma que não tinha como eu correr. Aí chegou o cara que eu tinha batido, esse cara é maior do que eu: "Ah, você fica batendo em cara menor, quero que você bata em um cara maior.". Falei: "Olha o tamanho dele, bota ele na roda mais eu dinovo, se eu der conta de bater nele, vocês põem outro, aí vem um por um. Se ninguém der conta, aí pode vir todo mundo.". Mas tinha uns lá que tem um braço dessa grossura, era só um e eu caía, mas abri também não. Aí a mesma menina que salvou o cara entrou e me tirou. Ela salvou o moleque para eu não machucar o cara, já me salvou para os caras não me linchar, porque eles iam me linchar, eles faziam isso, botavam revólver nas boca dos cara, queriam me intimidar, aí eu fui embora. Contei para o meu professor, meu professor falou: "Eu vou lá para conversar com eles para largarem essa perseguição, parar com isso.". Chegou lá, no outro dia tinha mais, muito mais cara para me bater mesmo, ia me massacrar mesmo. Quando viu o meu professor e o irmão dele que é um monstro o cara, meu professor era franzino, mas bate, e esse conhecia ele, um dos cara já tinha vindo treinar com ele, com o professor meu, o Mestre Moreno. Todo mundo abriu, esse cara da academia já tinha treinado foi lá conversar com ele para resolver, parou de me perseguir, eu não conversava com ele mais. Vamos voltar para a minha casa, eu mais meus irmãos nós brigava muito. Todo mundo nervoso, todo mundo tinha muito ódio no coração, não sabia desculpar não, era bater, deu conta, batia, não deu conta, apanhava. E era assim, meu pai e minha mãe podiam bater nos meus irmãos, mas se eu botasse a mão eu apanhava, mas não ficava daquele jeito. Um dia eu briguei com um irmão meu, dei um chute nele, mas não foi para machucar, ele contou para o meu pai. Aí eu fui treinar, voltei, quando eu voltei meu pai me cercou no portão falou: "Ó, você bateu no seu irmão, quero que você bate agora, você esta jogando capoeira, você está forte, então eu quero que você..." Só que o dia que aconteceu isso eu já estava mudando, meu professor me dava muita aula teórica, conversava muito comigo, ele já tinha passado ser meu amigo, coisa que meu pai não era, não conversava comigo, ele sabia me espancar, dar ordem, faz isso, faz aquilo, não faz isso, você não pode, só isso. Vários dias eu vinha tendo problema com meu pai, ele falou: "Ó, você nunca desrespeita o seu pai. Deixa ele falar, se ele te bater, não reaja.", tanto ele como a minha mãe, e foi equilibrando as coisa, aí, nesse dia eu falei: "Não, pai, eu treino porque eu gosto e eu não brigo mais.". Eu já não estava brigando mais em rua, não brigava mais, meu tempo todinho era para a capoeira, eu queria treinar, ficar bom. P - Você estava na escola? R - Aí eu estava estudando. P/1 Você estava em que série? R - Aí eu estava na sexta, sexta série. P - Você foi na escola até? R - O primeiro ano, o primeiro ano incompleto. P - O primeiro... R - Só que aí também eu parei, que aí teve outros negócio. Veio o meu batismo de capoeira, eu ia pegar meu primeiro cordão, foi anunciado e lotou. Lá onde nós treinava era no chão, terra batida, era tipo um ringue, cercado de ripinha e arame farpado, que era tipo um lote marcado perto do lote do vizinho, uns trem lá, aí batia, rasgava tudo, mas não estava nem aí, metia o pé no chão saía cada toco, arrancava unha, sabe rasgava o pé, mas queria aprender. Nós estava num grupinho bom, quando começou querer batizar chegou o cara que eu tinha feito a promessa. P - Que você ia bater. R - Chegou, olhei para ele assim, saí. Aí batizou um, batizou outro, aí me batizaram. O batismo o professor tem que jogar a gente no chão, ele me deu uma queda, deu duas, deu três e eu não queria cair, caia, levantava e eu falei: "Pode bater.". E metia o pé também, só que aluno, primeiro cordão para professor, não tinha nem chance, quando eu achava que ia acertar eu já estava no chão e nervoso, eu queria mostrar para o cara que não era mais aquele, que não era aquele moleque que ele tinha batido mais. Aí colocou um outro professor, e o professor paf em mim e eu pé nesse professor, a hora que eu conseguia acertar ele, descontava também. Ele dava três, quatro, cinco e eu pá no chão e levantava, tinha hora que doía, chorava, levantava, só as lágrimas rolava e aí vai, como era no treinamento também, a gente treinava até eu chorava ele dizia: "Pára.", eu dizia: "Não." - dizia - "Eu não vou parar, não.". Falava: "Agora está bom.". Vai bater no saco de pancada, aí eu ficava batendo no saco de pancada, batia no saco de pancada até cansar, até torrar. P - E você bateu no final nesse menino? R - Aí o professor começou a colocar uns outros alunos menos graduados, até chegar um aluno lá, ele era maior, só que a mesma graduação minha. E ele achou que estava podendo, queria me bater, e eu paf nesse aluno também. Aí eu meti o pé, eu bati mesmo. Aí ele falou: "Não, você está batizado.". E eu jogando e num relance no outro eu pá olhava pra ele lá e ele com o olho desse tamanho, e os cara cutucava: "Ó, Teixeirinha tá bom Ó Lourão, Teixeirinha.". O trabalho que ele veio fazendo para tirar esse ódio do cara, que era uma briga de moleque, esqueci, não queria brigar mais com ele e falei: "Deixar esse trem quieto.". Ele nunca mais brigou comigo, nunca mais mexeu comigo, nem fala meu nome e a mesma coisa eu. Agora deixa eu ver o que tem mais em 91. P - Agora você tem que tentar ser um pouco mais conciso. Hip Hop em 92. R -Meu primo me apresentou ao hip hop, que na época não se falava hip hop era funk rasteiro. Em 92 fiquei observando, querendo aprender mas eles não me ensinavam. Aí, 93 conheci um cara que até me apresentou a minha esposa, que está comigo até hoje. Aí ele me chamou para nós dançar, montamos um grupo de dança, Águias do Funk. Quando o meu primo deu fé, nós já estávamos disputando com eles as disputas de dança, e nós ganhando: "Orra, Teixeirinha você mudou". Em 94 nasceu a minha filha, minha filha mais velha, a Priscila. 94 foi para Formosa um cara que dançava break mesmo, fazia giro de cabeça, moinho de vento. O cara era bom mesmo, e nós só sabia os passinho, simples, e o cara ficava falando: "Porra, vocês é da roça, não sabe disso, não sei o quê.". Aí nós ficamos naquilo. 95 nasceu uma outra filha minha com uma outra mulher - que não entro em detalhes - aí eu tive um problema, o cara que eu dançava com ele me deu um banho, tirou um som para ele, não pagou, eu fiquei com ódio, tomei raiva dele, sai do grupo. Aí chamei uns cara das antiga, meus primo para montar um grupo de break, nós ia todo último sábado de cada mês para Brasília, ver os cara dançando lá e vinha para Formosa e treinava, de segunda a segunda, dia e noite, até dia santo, a gente fazia esse pecado, a gente treinava assim ó, e o cara lá de Formosa ensinando alguns cara lá de Formosa e Formosa em peso contra nós. Nós começamos a se encontrar nas festas, nos lazer, aí ficava oito cara contra o resto, todo mundo aplaudia só o cara. Aí nós ia para lá e ó, treinava, eu especializei no giro de cabeça, o outro no moinho de vento, o outro no break... Aí fomos treinando, fomos treinando e nós marcou um racha oficial, dia 11 de agosto de 96. A gente entrou, só cara profissional. nós não ganhamos, não, mas baqueamos os cara, ele falou ó está começando a melhorar. Foi nessa noite também que eu tive uma grande perda, que meu irmão faleceu em um acidente de moto, ele e a namorada, então foi uma coisa boa e uma ruim ao mesmo tempo, numa noite só. Final de 96, eu era muito curtido com som, queria aprender a mexer com som para mim tocar rap, tocar o meu som, ter uma equipe, ter um sonzinho pequeno, mas que fosse meu, só que eu tinha que aprender. Cheguei no cara, pedi para mim aprender: "Não, você não precisa me pagar nada, eu só quero que você me ensina.". Comecei carregando caixa, foram uns vários meses, só carregando caixa. Aí ele começou: "Dá um boa noite aí.". Eu tinha que bolar um apelido para mim. Teixeirinha ficava paia, falei: "/não, Teixeirinha é outra época, não quero Teixeirinha.". Aí eu curtia muito o programa Mix Mania, que é feito em Brasília, que era apresentado pelo DJ Celsão. Falei: "Mania, mania, eu vou colocar Mania.". O cara falou: "Ô velho, vai ficar Teixeirinha mesmo?". Falei: "Não, começa a me chamar de Mania.". E naquela época não tinha muito, os cara que fazia som eles chamavam de DJ, só que hoje nós temos outra concepção do que é DJ, aí ficou DJ Mania. Só que ninguém gostava da minha voz, sabe? Uma tristeza, eu gaguejava, ficava com medo do microfone, aí quando o Alcides pegava, ele animava, a galera ia ao delírio. Em 97, nós fomos para uma danceteria, tocar forró, e ele: "Está a fim de trabalhar mesmo, está a fim de aprender?". Eu falei: "Tô.". "Só que é daquele jeito.". "Não, não quero dinheiro, meu amigo. Eu quero é aprender.". Por causa desse forró que eu trabalhei que eu até me separei da minha esposa, fiquei um ano e pouco. Chegou um dia, ele falou: "Estou indo para a roça trabalhar, o som é seu, se vira. Não quero saber, comanda.". E foi lá e desmanchou o som todo, papapa: "Liga aí para mim ver.". Falei: "Moço, não assim de surpresa.". "Se vira.". Aí eu só errei algumas coisa, ele: "Só esse cabo que está errado, esse outro, se vira.". "Moço, eu não sei animar não.". "Se vira.". Já estava com as malas pronta e foi embora, isso era na sexta, que era sexta, sábado e domingo o forró. Nós ficamos dois anos nesse lugar. Aí eu só tocava música, eu errava as música que o povo gostava, não tinha pegado as manha ainda porque eu só ficava mais ajudando, esse final de semana foi um desastre: "Pô, você não tem umas fita boa que os cara gosta aqui?". Eles iam na casa deles, buscava, me dava, eu punha a fita, rolava a fita de um lado, rolava a fita do outro, conseguia, achava uma fita de lenta, tocava lenta. Na segunda-feira eu peguei as fitas tudinho, fui para casa e eu ouvi uma por uma e marcava: "Essa aqui eu lembro que ele tocava essa". Aí no outro sábado foi melhor, só que ainda não tinha pegado as manha de falar, escrevi num papel, tocava o som aí, tinha uma hora que a gente fazia abertura: "A partir de agora com vocês a equipe Tarcos com a melhor qualidade Apresentação aí do DJ Mania e não sei o quê e papapa tocando o melhor do forró, do dance, do axé, da lenta.". Aí foi indo. Um dia ele chegou, mas chegou no calado, esperou ligar tudo e ficou curtindo de longe, quando eu dou fé olha o cara, falei: "Pô, meu, você chegou na hora, vamos tomar conta", ele falou: "Não, eu estou aqui pra curtir, não quero nem saber, isso não é meu, isso é seu, se vira.". Nesse período foi quando eu separei da minha mulher, aí eu estava sem lugar para morar, aí ele me convidou para morar na casa dele, fiquei morando lá, ficamos até 98 lá, lugar onde a gente iniciou as roda de break. Todo domingo tocava, era muito bom. Em 98 um grupo de rap, o grupo Álibi, lançou um CD e tinha uma música que ele tinha feito em homenagem ao irmão dele e tinha uma música que tinha feito para o Traíra. Aí eu falei: "Pô, eu vou escrever.". Aí fiz uma letra para o meu irmão e fiz uma letra para o Traíra, para o cara que tinha me dado um banho no som e aí eu só cantava a do Traíra, desafinado, a base lá e eu cá e eu não estava nem aí, eu queria cantar e mandar o recado. Todo domingo era os racha, esse cara foi um dia lá, falei: "É hoje" - falei para a galera "Hoje eu vou rachar, eu vou humilhar ele, ele vai embora, ele não volta aqui mais não.". Liguei o microfone tenho aqui um som de câmbio-negro, "Que irmão é você?", toquei Álibi, falei: "Isso aqui é para um cara que eu considerei irmão e que me jogou para trás. Esse som é para ele e eu, quero ele na roda, só eu e ele disputando nas dança, ele um dia foi meu professor, quero ver se hoje em dia ele é o tal mesmo, se ele ainda segura.", e foi só nós dois. Não deu conta não, aí ele fazia uma parada e eu fazia outra, eu: "Ó, vai treinar, vai treinar irmão, ó vai treinar. Você é fraco, vai treinar, vai treinar.". Ele chegou no meu primo: "Eu vou dar um murro na Teixeirinha.". Meu primo falou: "Não dá, não. Aqui é quebrada que ele manda, a galera te mata aqui.". Ele olhou, montou na bicicleta dele e foi embora. Eu estava estudando ainda, ele só ia lá na sexta-feira, Alcides tinha voltado, aí eu tinha parado de estudar, voltei de novo na oitava série. Aí descobri: ele não ia mais sábado e domingo, ele só ia de sexta, que eu não estava. Falei: "Eu vou faltar um dia de aula para mim pegar ele.". Aí eu faltei e fiquei escondido esperando ele, vem ele, eu fiquei no outro bar de frente, pá, aí ele dava lá os passinhos... P - (risos) R - ...fazendo rodinha, pá, cheguei no calado e o Alcides: "É isso aí, galera, chegando com vocês é o DJ Mania na área". O cara olhou assim, eu já caí para dentro da roda, eu já intimei e ele foi embora, aí nem sexta, sábado, nem domingo apareceu lá mais. Aí 98 teve o show do Álibi, primeiro show de rap em Formosa, 13/06/98, meu aniversário é no dia 12, foi no dia 13/06, um presentão sabe? O melhor presente que eu ganhei nesse ano foi esse, fui no show, pirei, eu vou cantar, eu quero cantar, aí comecei a escrever letra, tinha um cara que me ajudava a escrever, o JM, que era o negão, Júnior, a gente colocou JM Negão. Ele era melhor para cantar e escrever do que eu, só que eu fazia correria, eu queria era divulgar, aí nós marcamos apresentação no colégio, fomos cantar, aí ele cantou legal, eu cantei ruim, mas aí eu marquei outra ele não foi. Saiu Abril para o Rap, em 99. Antes do Abril para o Rap teve o Primeiro Festival Dança de Rua, no bairro mais violento de Formosa e quando eu vi o cartazinho, um cartazinho simples: O Primeiro Festival de Dança de Rua em Formosa: "Ah, essas pessoas [que] estão fazendo isso, não entende disso, não.". Aí um cara que hoje é finado, finado Cona, ele chegou na dona Ruth que era presidente da nossa cooperativa, que realizou o evento junto com a comunidade lá, pediu: "Deixa o ..." - na época eu coloquei o Embalo Consciente - "...o Embalo Consciente é um grupo bom, faz um trabalho contra as drogas tal, dá uma chance para ele.". E eu cantava em colégio, mas não de colocar nome, era DJ Mania e JM, só, aí... P - Valderli, vamos só um pouquinho mais rápido para a gente falar um pouco mais do trabalho atualmente. R - Aí JM, né. Teve o festival, eu apresentei o primeiro festival, aí nós conhecemos. Em 2000 teve novamente, 2001 a gente engranjou, foi a arrecadação de alimentos, uma coisa que chamou, aí eu colei mais, nós doamos para os portadores de câncer, hanseníase. Nós mesmos fomos entregar, sentimos na pele as dificuldades das pessoas, aí quando eu abracei a causa dos catadores, porque eles abraçaram eu primeiro. Sempre trabalhando junto, Congresso Nacional participamos lá, a gente está todo movimento. Aí tem mais uma coisinha aí. P - 2001 Terceiro Festival do Primeiro Congresso, 2002 Quarto Festival. R - O 2001 quando ele nasceu, por que nasceu? Porque nos bairros lá, a prefeitura, as pessoas, não faziam eventos para os jovens, só fazia para os play e Dona Ruth queria fazer um trabalho com os jovens, trocou umas idéias com eles, não nós queremos festa, não, é um evento, não é bem para um lazer que nós estamos aqui, usamos o hip hop para juntar a galera, fazer um trabalho de conscientização contra as drogas, aí foi... Vê mais alguma coisa aí. P - Aí em 2003 Primeiro Congresso Latino-Americano. R - Primeiro Congresso Latino-Americano, Dona Ruth não foi, não teve como ir. Nós apresentamos o nosso trabalho, unido, igual esse segundo está agora, então foi muito importante e voltamos. Aí fomos para Belo Horizonte, Segundo Festival de Cidadania, fomos para colher materiais, trouxemos, aprender a trabalhar, aprender a se organizar. 2003, tem mais alguma coisa em 2003. P - Não, aí tem em 2004 a conquista da rádio. R - Ah, é. Nós não tínhamos rádio nenhuma que tocasse rap, aí em encabecei um abaixo-assinado e começamos a pegar assinatura de todos os bairros, todos os colégios. Um dia o diretor da rádio ficou sabendo que eu estava fazendo um abaixo-assinado para processar ele, aí ele mandou me chamar e nós conversamos: "Amanhã você vem fazer uma entrevista na rádio." eu fui, aí ele perguntou, tudo...Aí ele fez altas perguntas sobre o movimento hip hop, como foi, quem era, quando nasceu, eu fui respondendo, em Formosa como é, eu respondi e ele: "O que você acha de você apresentar o programa de rap aqui?". Falei: "Eu acho que demorou. Eu não acho nada, demorou.". "E o que você vai apresentar?", "Olha, eu vou trazer música consciente, música boa, música que não faz apologia às drogas, música que não faz apologia ao crime, que não incentiva a violência, que educa, tem o rap bom e tem o rap que não vale nada, como existe em toda camada, qualquer estilo de música, qualquer trabalho, qualquer profissão, existe o lado bom e o lado ruim.". Começamos o programa desacreditado, que no máximo no máximo estourando dois meses, três meses ele ficaria no ar. Já vamos para um ano e cinco meses, começamos com uma hora e meia, em abril de 2004 passou para duas horas, audiência total. No nosso horário tem uma outra rádio que compete, mas não tem audiência, não consegue atingir. E nós atingimos a periferia e até os play a gente consegue atingir. P - Que legal. R - Você pode andar das 3 às 5, é domingo hip hop, 92 FM, cada vez mais livre, pronto acabou. Fazendo um trabalho de conscientização, divulgamos o trabalho dos catadores, fazemos um trabalho com os presidiários, eles escrevem as cartas contando como está a vida, mandando um alô para os parente. Tem dia assim que duas horas, hoje, duas horas é pouco, porque às vezes tem dez cartas para ler, tem 60, 70 ligação eu tenho que mandar o alô. Tem vez que congestiona a linha, o pessoal manda carta durante a semana, encontra comigo ou com o meu parceiro, que é eu e o Manuelito que apresenta: "Ó, manda um alô, toca essa música.". Audiência total, patrocínio a gente não tem na rádio, a gente tem uns apoiador fraco, a rádio é capitalista, precisa de dinheiro, mas como o programa segura a audiência a gente praticamente não paga nada, um programa de uma hora é em torno de R$ 2.000 que ele cobra. P - Entendi. R - Então é pela audiência e fazemos um trabalho também de conscientização sobre as diferenças musicais, fazemos um trabalho junto com os roqueiro, o sertanejo, para mostrar a galera que a gente pode ser eclético, nós podemos curtir tudo. P - Vanderli, só para a gente amarrar, você trouxe para esse congresso essa coisa do hip hop, como é que foi a sua participação nesse congresso? R - O que acontece, como eu estou desde 2001 apresentando, participando dos congresso e eu não encontrava grupo de rap envolvido com o movimento - encontrei em 2003, que foi o Comunidade da Rima do Ceará - e hoje nesse congresso eu encontrei, eu acho nós temos cinco a seis grupos aqui hoje, aí nós fizemos uma reunião ontem com a participação da Dona Ruth, que aí ela abriu a nossa mente também, montamos um projeto, já fundamos um movimento, que é H2S HipHop Sustentável. Eles estão lá embaixo montando tudo para colocar na Internet, o e-mail via rede, um recebe já sai para todo mundo. Só que isso aí não é só estar aqui e esse trabalho é direcionado aos filhos dos catadores, aos catadores que cantam, um trabalho com eles para levar para a comunidade, para gerar emprego, gerar renda, vamos trabalhar com grafite, podemos trabalhar com estúdio, vamos procurar parcerias, aí o movimento entra junto, cada comunidade nós vamos ver se monta uma grife de hip hop, o grafiteiro, DJ, rapper, vamos ter aulas para compor, musical, vamos procurar toda essa área, trazer a cultura do Movimento Nacional dos Catadores, mostrar que eles também tem cultura, os filhos. Já é uma oportunidade, já é um jeito de tirar eles, se tinha possibilidade de eles ir para um lado errado eles já não vão, já são resgatado, já tem uma ocupação, eles vão trabalhar: "Porra, eu vou trabalhar, mais tarde eu vou ensaiar.". Mais tarde eu vou pintar, eu vou fazer alguma coisa, vai ter uma ocupação a mais, não vai ter uma mente desocupada. Mais alguma coisa? P - Não, só isso, legal a sua história, obrigada. R - Aí morreu né. P - Você pode me dar isso será? R - Eu posso a limpo para você. P - Você me dá? Por que aí a gente pode... R - Agora? Só 2 minutos. P - Tá. R - Em 2004, depois de 11 anos, eu voltei a conversar com meu pai. Fiz as pazes com ele, fui lá, conversei com ele, pedi perdão a ele, com a consciência de que eu não tinha errado, que eu nunca desrespeitei ele. Ele me perdoou, hoje nós estamos, está parecendo que era o que tinha acontecido antes, hoje sim, está acontecendo. Em 2004 também, nasceu o meu filho, que eu, aliás, era doido para ser pai de um moleque. Eu comentando um dia com Dona Ruth ela: "Não, pede a Deus, ora a Deus que ele vai te dar essa graça.". Aí graças a Deus eu consegui isso. Eu queria falar só algumas coisa Dona Ruth, porque é igual o meu professor de capoeira, o Caetano, o Alcides no hip hop e ela foi a primeira pessoa que me abraçou de coração no hip hop. Ela mudou muito o meu gênio, eu sou muito impulsivo, às vezes, teve locais que eu ia apresentar, neguinho tomava microfone e eu já estava pronto para dar porrada. Hoje não, se neguinho toma meu microfone, eu: "Obrigado, valeu.", numa outra oportunidade eu falava: "Não é assim que funciona.". Ela mudou muito o meu jeito de ser, eu fiquei mais responsável. E ela é uma pessoa muito sofredora, ela deixa a família dela para correr o Brasil todo e é por isso que eu estou do lado dela para o que der e vier, seja aqui, seja acolá, em qualquer lugar. Enquanto eu estiver respirando eu estou do lado dela e por isso também nós somos perseguidos, infelizmente. Mas fazer o quê, nós também estamos nessa guerra é para guerrear, é bater de frente mesmo, mudar o que está aí, mudar o que o sistema fez e quer fazer nós engolir, quem engoliu, engoliu, mas eu não vou engolir. Estamos lutando aí para mudar a cara, mudar a cara do conceito que eles têm sobre o Movimento Nacional dos Catadores e sobre o hip hop, mostrar uma verdadeira cara. P - Legal. R - Obrigadão. P - Muito obrigado pela sua história, pelo depoimento.
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