IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Giovanni de Sousa Almeida, eu nasci em Uberaba, Minas Gerais, tenho 32 anos. Nasci no dia 29 de agosto de 1976. FAMÍLIA Meu pai é Adagmar Vieira de Almeida e minha mãe é Maria Aparecida de Sousa Almeida. Meus avós são Adário Vieira e Ruth pais do meu pai; e Elpídio e Alvina da minha mãe. São pessoas falecidas. Eu os conheci. Só tem um agora que é o Adário. Meu pai era economista, trabalhava na Fosfértil que era aquela empresa do sistema que foi privatizada na década de 90, minha mãe é advogada. A minha avó tinha uma pensão por parte de mãe que cuidava junto com meu avô, meu avô também era aposentado, não tinha nenhuma atividade específica. Convivi com meus avós, meu avô faleceu faz uns três anos por parte da minha mãe; minha avó tem em torno de três e também minha avó por parte de pai faleceu já a uns três ou quatro anos também. Tenho dois irmãos que estão em Minas, uma irmã que tem 24 anos e um irmão com 28. Sou o mais velho, cuidei um pouco deles quando meu pai faleceu. Meu irmão é formado em Geografia e a minha irmã formou agora esse ano em Psicologia. INFÂNCIA Cresci em Minas, em Uberaba. Sou um pouco cigano, fiquei até 18 anos em Uberaba depois fui para Belo Horizonte fazer faculdade. Fiz Administração na UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais], morei durante oito anos em BH e mudei para o Rio, moro aqui há sete anos. Na infância era uma casa com cachorro, com área verde na frente; vários amigos, várias brincadeiras de criança. Infância no interior de Minas que você podia aproveitar bastante, não é uma infância igual hoje em grandes capitais do país, dentro de casa com problemas de violência; todo mundo era assim: brincado, se divertindo com vários amigos sem problema algum, até altas horas da noite, foi muito bom por isso. São aquelas brincadeiras de antigamente mesmo. Jogava futebol. Tinha uma área verde na frente que tinha um campinho, a...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Giovanni de Sousa Almeida, eu nasci em Uberaba, Minas Gerais, tenho 32 anos. Nasci no dia 29 de agosto de 1976. FAMÍLIA Meu pai é Adagmar Vieira de Almeida e minha mãe é Maria Aparecida de Sousa Almeida. Meus avós são Adário Vieira e Ruth pais do meu pai; e Elpídio e Alvina da minha mãe. São pessoas falecidas. Eu os conheci. Só tem um agora que é o Adário. Meu pai era economista, trabalhava na Fosfértil que era aquela empresa do sistema que foi privatizada na década de 90, minha mãe é advogada. A minha avó tinha uma pensão por parte de mãe que cuidava junto com meu avô, meu avô também era aposentado, não tinha nenhuma atividade específica. Convivi com meus avós, meu avô faleceu faz uns três anos por parte da minha mãe; minha avó tem em torno de três e também minha avó por parte de pai faleceu já a uns três ou quatro anos também. Tenho dois irmãos que estão em Minas, uma irmã que tem 24 anos e um irmão com 28. Sou o mais velho, cuidei um pouco deles quando meu pai faleceu. Meu irmão é formado em Geografia e a minha irmã formou agora esse ano em Psicologia. INFÂNCIA Cresci em Minas, em Uberaba. Sou um pouco cigano, fiquei até 18 anos em Uberaba depois fui para Belo Horizonte fazer faculdade. Fiz Administração na UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais], morei durante oito anos em BH e mudei para o Rio, moro aqui há sete anos. Na infância era uma casa com cachorro, com área verde na frente; vários amigos, várias brincadeiras de criança. Infância no interior de Minas que você podia aproveitar bastante, não é uma infância igual hoje em grandes capitais do país, dentro de casa com problemas de violência; todo mundo era assim: brincado, se divertindo com vários amigos sem problema algum, até altas horas da noite, foi muito bom por isso. São aquelas brincadeiras de antigamente mesmo. Jogava futebol. Tinha uma área verde na frente que tinha um campinho, a bola sempre caía no vizinho, passava o muro, tinha cachorro que comia a bola. Tinha o que a gente chama de “bete” que são colocar dois tijolos e pegar um cabo de vassoura; pique esconde, porque tinha os quarteirões a gente podia circular em volta; subir em árvores que o pessoal não conhece. Tinham muitas brincadeiras tradicionais de grupo. ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO Sempre teve cachorro na minha casa. O último que foi o mais duradouro, foram mais do que 15 anos, foi o Bob que era um cachorro branco, um vira-lata. Sempre teve vira-lata na minha casa. Teve o Bob, o Lulu, um morria, dava alguma doença e a gente substituía com outro. Tinha o Bob e tinha outro que chamava Kurt, na época eu já tinha saído de Uberaba, não tinha muito afeto com ele não; mas o Bob sim, ele está enterrado na frente da casa, no jardim. INFÂNCIA Era uma casa que tinha quintal. Eram conjuntos habitacionais que sempre anunciam as alamedas com quatro casas e com área verde na frente. Lembro de ter árvores no fundo do quintal, tinha pé de goiaba que subia, uma vez meu pai subiu e caiu, fez um corte na cabeça. Era bem interessante pela natureza que tinha em volta da casa, muitas árvores. Eu ia a escola a tarde até a quarta série e depois da quinta começando a ir de manhã. Até a quarta série brincava antes de ir para a escola e brincava depois também com certeza. De quinta a oitava, a gente se reunia depois por volta do fim da tarde, reunia fim de semana com o pessoal todo, pegava a bicicleta e saía andando pela cidade a fora. Uberaba era tranqüilo, hoje tem quase 300 mil habitantes, mas é uma cidade do interior com bastante infraestrutura. É bem calma mesmo. Tem muita diferença [de idade entre os irmãos], eu tenho 32, meu irmão tem 28, são cinco anos praticamente e minha irmã tem 24, são nove anos para a minha irmã. São gerações diferentes. Lá em Uberaba tem isso, as gerações; o pessoal da mesma idade fazia um grupo similar, eu era do grupo do pessoal mais velho, tinha o meu irmão que tinha os amigos dele e minha irmã com as amigas, as meninas; tinha muita distância. ESCOLA Minha mãe conta que eu não queria ir pra escola de jeito nenhum, ela fez uma simpatia que tinha que ir fazer umas orações no cemitério. O cemitério estava fechado, ela teve que pular o muro para fazer as orações e conseguir. Me encaminhou, aí sim eu comecei a gostar de escola. Eu me dava bem, era uma das pessoas que sobressaía nos estudos, e gostava muito de estudar. Dava muita importância para o estudo. Foi a minha mãe que fez essa oração na base da simpatia; funcionou e estou hoje aqui por isso, por toda essa base que tenho de estudo, com certeza me valeu. Depois fiz teste, pulei o pré e fui direto para a primeira série, porque sou do meio do ano, deveria ter entrado com sete anos, mas fui antes. A escola que comecei era Castelo Branco, na época militar, Escola Estadual Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco da primeira a quarta série. Não foi a primeira; a primeira foi no jardim que era Irmão Afonso, era próximo da minha casa. Depois mudei, fiz esse teste da primeira a quarta no Irmão Afonso; da quinta a oitava num colégio de freiras, das irmãs Veritas que era Colégio Nossa Senhora das Dores. No ensino médio, no primeiro ano fiz uma tentativa de ir para uma escola que tinha um nível mais rígido que era José Ferreira e não adaptei muito, porque me desvinculei do meu grupo de amigos; fui lá para ver qual era, era uma escola muito focada só em passar no vestibular, não me adaptei bem. Retornei para onde meus amigos foram, para ficar acompanhando os meus amigos que eram desde a quinta série. Fiz o segundo e o terceiro grau numa outra escola que é do sistema Objetivo. Não tive uma identificação tão grande com os professores. Mas tem um ou outro, por exemplo, a primeira professora que era a Elza que é uma lembrança muito boa, de acolhida. Tem alguns professores que foram importantes, na época que você é jovem, que te iluminam, a gente pensa assim: “esse professor tem umas ideias interessantes”, como os professores de Redação; tinha um muito bom no segundo ano do ensino médio, professores de Português. Fazia inglês fora, no CCAA, tem professores de línguas, de referência, que são bem interessantes o dono da escola que era o Jerry, um americano que a gente conversava e foi meu professor em alguns períodos. São pessoas legais pela experiência de vida que a pessoa passa, pelo exemplo que a pessoa dá. Adorava a área de humanas, Português, Geografia, História e Matemática também gostava bastante, mas não era muito a fim de Física, de Química isso não era a minha praia. Até ajuda a formação, porque segui pela área de humanas que é como administrador. ESCOLHA DA PROFISSÃO Na época de ensino médio a gente faz aquelas coisas vocacionais, ajuda com psicólogos. Eu ia fazer Geografia, História ou seguiria para a área de Letras e tinha Administração também. Tinha afinidade, vendo um pouco dos pais, com Economia, aliada com a área de humanas, com outras matérias; vi que tinha mais vocação mesmo para área de Administração. Abre um leque muito grande, é uma área do conhecimento que você perpassa várias outras. Daria muita oportunidade para crescimento e eu queria sair de Uberaba, porque sabia que não haveria um futuro tão promissor se ficasse numa cidade daquele estilo, uma cidade focada para negócios agropecuários. Se você não quer seguir por essa linha ou se não nasceu, como se diz no interior, numa família de nome, você não tem muita perspectiva, tem que batalhar e para batalhar emprego numa cidade dessas realmente não ia ser possível. Por isso que desde o ensino médio, eu já tinha muito claro a minha meta: sair de Uberaba, porque preciso conquistar minhas coisas e quero ter oportunidades melhores; aqui não é meu lugar, não me oferece possibilidades. Não tinha faculdade federal e eu precisava fazer uma faculdade que fosse federal, porque não tinha como custear os estudos numa faculdade particular. Foi ampliar meu universo para sair de casa, ser independente, isso me motivou bastante, apesar dos pais quererem que a gente fique. Meus pais deixaram que eu decidisse a vontade, como os dois têm formação superior entendiam muito bem essa situação. Não tinha aquela ideia que era tão arraigada no interior de que filho tem que ser engenheiro, tem que ser um doutor, tem que seguir a área de medicina; lá tem Medicina, mas eu não quis seguir por essa área. Mas eles deixaram muito bem claro que tinham receio de liberar o filho para cair no mundo e sair fora das asas. Foi no momento do falecimento do meu pai quando eu tinha 16 anos no terceiro colegial. Eu já estava preparando o terreno, mas tive que continuar meu projeto de vida com mais sensibilidade, porque era um momento muito difícil para minha mãe, perdeu o marido e ainda tinha a possibilidade de perder o filho, porque o filho iria sair; mas mesmo assim ela foi muito forte, me incentivou bastante e conversamos muito. Eu queria isso, queria ter uma oportunidade melhor e ali não teria. Queria mesmo passar e sair. Fiz vestibular, não tive sucesso na primeira tentativa no final desse terceiro ano, mas depois fiz um cursinho pré-vestibular pelo sistema Anglo e consegui passar em duas faculdades. Passei na UFMG em Belo Horizonte na Universidade Federal de Minas Gerais e na USP [Universidade de São Paulo] em Ribeirão Preto. FAMÍLIA / PAI Meu pai então trabalhava na Fosfertil, na área de fertilizantes. Era em Uberaba, no Distrito Industrial. Ele tinha essa questão do trânsito, toda manhã ele acordava cedo, de vez em quando eu acompanhava, algumas vezes pegava carona no ônibus da empresa para seguir porque era em torno de 40 minutos da cidade; todo dia indo e voltando para casa. Ele trazia alguns trabalhos para casa, fazia relatórios e medições. A gente vai ficando adolescente começa a entender melhor o mundo, ele trazia trabalho e eu o ajudava, de vez em quando, a fazer umas contas no material, ele comentava muito das medições que fazia de enxofre. Ele tinha que ir junto com o pessoal técnico para medir aquelas montanhas de enxofre. Eu já tinha feito visitas na Fosfertil algumas vezes pela escola. Ele era economista, mas atuava na área administrativa e também acompanhava a parte técnica. Porque precisa de alguém para fechar toda uma questão de relatório, de informação, ele fazia esse papel. Era uma época conturbada, época das privatizações, você não sabia qual era seu futuro, porque se a empresa fosse privatizada iria ter programa de demissão. Todo mundo sabia do que estava acontecendo, a gente não podia cometer nenhum excesso, não ter nenhum gasto. Realmente estava meio complicada a questão do futuro, mas foi um período que para mim deu até mais força. Com esses períodos você cresce. Eu consegui e fui aprovado fora, me mudei; foi um aprendizado muito grande, quando você sai de casa e começa a se virar na vida, está por conta própria. É muito interessante. Tinha de 18 para 19 anos. FACULDADE / MUDANÇA PARA BELO HORIZONTE Minha mãe foi comigo, ela estava procurando algum local, minha primeira moradia foi um pensionato que tinha refeição no local. Eu estudava a noite, porque queria ter a possibilidade de poder trabalhar durante o período da manhã e da tarde. Fiquei um mês nesse pensionato, fiz amizade com uma pessoa e depois fui para outro pensionato, fiquei uns quatro meses; fiz amizade na faculdade, fechei com um grupo de amigos e a gente foi morar em uma república. Os oito anos que morei em Belo Horizonte, morei sempre em república, sempre revezando, bem nômade, cada ano o contrato mudava, aumentava o aluguel e a gente mudava. Morei em um condomínio que passei de um bloco para o outro, a gente ia sempre fazendo isso. E sempre mudava a dinâmica da república, porque uma pessoa saía e entrava outra, era bem interessante, tinha o convívio com as pessoas, respeitar limite, porque conviver quatro rapazes dentro de uma república tem que ter certa ordem, porque se não o caos se instala. FACULDADE / REPÚBLICA Sempre foi muito tranquilo porque a gente delimitava muito bem as responsabilidades, eu ajudava a gerenciar as despesas. Vamos tirar as notinhas para pagar as contas no fim do mês, todo mundo com responsabilidade e todo mundo tinha projetos parecidos. Nessa república tinham pessoas, por exemplo, um amigo meu era de Santa Maria do Suaçuí, tinha outro que era de uma região também do interior de Minas. Tinha propósitos comuns, por isso que era interessante, você cresce, aprende a se virar, tem que ter um respeito muito grande. Batia muito porque tinha muita afinidade com essas pessoas. Tinha festa, o ritmo das pessoas era sempre esse: estudava, tinha um trabalho durante a manhã toda para de noite ir para a faculdade; cada um tinha a faculdade específica e depois sobrava pouco tempo, deixava a festa mais para o fim de semana. Mas sempre tinha comemorações de aniversário, chamava o pessoal para ir para casa. Com república de menina não tinha contato, porque o bairro que eu morava era o bairro Floresta, um bairro de muito pessoal idoso, não era tanto o pessoal dos estudantes, que ficavam mais próximos do Campus. Floresta é um bairro próximo do centro, as repúblicas eram geralmente próximas a faculdade para deslocamento. A minha faculdade não era no Campus que era no centro, era deslocado. FACULDADE / BELO HORIZONTE Tinha muitas festas da faculdade que chamam de chopada, tinha muita festa no Campus, até proibirem, aconteceu um incidente em que uma pessoa faleceu. Mas tinham muitas festas, muitas festas temáticas, um dia você estava na festa da Engenharia, outro dia na festa do Direito. Era bem interessante por isso e também Belo Horizonte é uma cidade muito convidativa, é a capital mundial de bares, tem a maior concentração de bares por metro quadrado. Tem muitos eventos na cidade, a gente era meio duro, mas tinha muita coisa gratuita, tinha uma oportunidade muito boa. Tinha o festival Internacional de Teatro; muitos centros culturais; bastantes shows. Nessas festas da universidade tinha muita banda local que fazia show. Foi uma juventude de muita diversão. Mas aliado com responsabilidade. Claro tem que aliar as duas coisas se não a gente não consegue. Ia para Uberaba aproveitando os feriados. De Uberaba até Belo Horizonte são em torno de 500 quilômetros. É uma viagem de sete horas e meia, não dava para ir numa sexta e voltar num domingo, nem viabilizava até pelo valor da passagem. Ia esporadicamente, em intervalos de feriados, a gente pegava o feriado do carnaval, da semana santa. No começo falava com minha mãe umas três vezes por semana, depois vai diminuindo, depois são duas e hoje em dia é uma. Por telefone, na nossa república sempre teve telefone, a gente fazia o rateio das despesas, vinham as despesas fixas do valor do telefone e os interurbanos, cada um apontava o seu telefone, “ah, esse aqui é meu” tinha aquela época também “e agora quem ligou pra isso daqui?” tiveram até casos que a gente sabia quem ligou para esse número que não deveria ter ligado; é muito complicado, todo mundo a princípio nega, mas depois você vai conversando numa boa e a pessoa identifica que foi ela. PRIMEIRO TRABALHO Foi uma ocupação, foi uma pesquisa que a gente fez em 95, um senso econômico para levantar informações de empresas. Era um convênio da faculdade com o Instituto de Pesquisa, eles selecionavam alunos para serem os entrevistadores e você ia visitar essas empresas, colhia informações básicas de números de empregados, faturamento. Era em toda região metropolitana de Belo Horizonte, era bem interessante. Tinha a razão social da empresa, restaurante e lanchonete, você batia estava no número e se deparava com um motel, “mas que estranho, não é motel aqui’ “ah, não a razão social é aqui mesmo, mas o nome de fantasia é outro completamente diferente.” Era bem interessante, era um grupinho de pessoas conhecidas. Essa pesquisa durou em torno de seis meses. Adorava esse tipo de campo, depois emendei no senso populacional do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] em 96, eu era supervisor, tinham os recenseadores que eu coordenava de uma área que era uma comunidade, o Alto do Vera Cruz. Era um lugar que tinha que ter cuidado, certa ressalva, mas era muito interessante porque você vê a realidade de outras pessoas e começa a entender essa dinâmica; vê a pobreza, a dificuldade das pessoas batalhando, tinham casos que cortava o coração. Entrei numa casa uma vez e estou verificando uma criança brincando, mexendo próxima ao fogão, aquelas casas são minúsculas, um quarto que dormem cinco pessoas; a pessoa para fazer comida no dia tem só arroz; na favela com esgoto a céu aberto; eu estava na casa, vendo esse menininho que estava brincando, eu falei: “com que você está brincando?” “ah estou brincando aqui pra gente ver se sai o rato que estava aqui”. Corta o coração mesmo. Vi uma mancha e perguntei: “e essa mancha aqui o que é?” “ah, foi o rato que a gente matou ontem.” Você começa a ter essa percepção mais aguçada sobre a vida, começa até a dar mais valor naquilo que você tem. Sempre é uma experiência muito gratificante tudo isso. Tinham cosias interessantes, você entrava na favela e ia procurar uma casa, a casa estava no buraco do sapo; você entrava no beco, porque tinha que conferir o trabalho dos recenseadores, tinha duas alternativas para a direita ou para a esquerda; vou pra esquerda depois a esquerda se bifurcava em três, tinha uma hora que você tinha que procurar a saída, porque já estava perdido. Depois fiz estágio no Banco do Brasil também na área administrativa. A gente tinha que se virar e pagar as contas. Trabalhando, sempre me ocupando, não com emprego com carteira assinada, mas empregos temporários como esse. PRIMEIRO EMPREGO De carteira assinada foi em 2000, depois de acabado a faculdade,cinco anos, foi numa empresa de consultoria. A gente fazia monitoramento de projetos na área de saúde, de capacitação para o pessoal da área de enfermagem; tinha também monitoramento de projetos educacionais no Espírito Santo. Era uma empresa voltada para esse nicho de mercado, era interessante, eu era o administrativo, o RH; acumulava todas essas funções: fazia pagamentos; fazia o gerenciamento do fluxo de caixa da empresa; fazia o pagamento das pessoas que a gente contratava. Essa empresa quando eu estava ainda na faculdade tinha feito um processo seletivo para contratar estagiário para um projeto de fazer um plano de avaliação e desempenho para a Prefeitura de Betim. Não foi viabilizado nessa época e depois que me formei, eles fizeram contato comigo e verificaram que eu tinha sido bem classificado no processo de recrutamento. Me fizeram essa proposta e eu fui; meu início foi esse, o projeto em Betim, era Prefeitura do PT [Partido dos Trabalhadores], queria mesmo fazer uma avaliação de desempenho para todos os servidores públicos. Esse foi meu primeiro projeto, trabalhamos com algumas parcerias, com consultores externos só que foi aquele esquema, acaba a gestão PT vem a próxima gestão e não levou a frente todo o trabalho que a gente tinha feito. Isso foi no final de 1999, foi quando me formei e entrei em 2000 nessa empresa com esse objetivo. INGRESSO NA PETROBRAS Fiz processo seletivo público em 2001, mas só entrei em 2003, em janeiro, porque era aquela época que não tinha definição do plano de previdência. Eles suspenderam as admissões, era um período que foi bem configurado porque as pessoas começaram a se mobilizar. Na internet tinha toda informação, as pessoas se mobilizavam e enviavam cartas para o pessoal em Brasília, fazia passeata no Rio de Janeiro para que fosse admitido, porque o concurso tinha validade de um ano, prorrogável por mais um e estava quase expirando. Vim para a Petrobras, fui admitido no dia 10 de janeiro e o concurso expirava no dia 15. Eu estava empregado em uma empresa e precisava me desvincular. Soube do concurso pela Folha Dirigida, um dos jornais específicos que tratam de concurso. A minha questão era sempre essa, vejo a vida como uma progressão, uma melhoria contínua, você não pode ficar estagnado, sempre na mesma atividade e sem perspectiva de futuro. Queria certa estabilidade financeira, já tinha um namoro fixo de bastante tempo, já tinha intenções de casamento. Eu sou uma pessoa muito metódica e muito bem organizada, não queria assumir um compromisso desses se não tivesse minha vida estruturada profissionalmente. Estava relativamente bem na consultoria, porque nessas consultorias a gente ia sempre progredindo, tendo aumentos salariais, mas não era aquela Brastemp não era um emprego tão interessante assim; era uma empresa pequena, não eram aqueles majors de consultoria, era uma empresa bem pequena e muito de acordo com os projetos que entravam; se não entrasse nenhum projeto a gente tinha um período ruim mesmo de fluxo de caixa. Era complicado, eu não podia viver com essa perspectiva de que: hoje tenho um emprego e amanhã posso não ter. Aliado a essa vontade de sempre aprimorar, verifiquei que tinha o edital e o salário era o dobro do que eu ganhava, uma empresa de referência nacional, a maior empresa do país na qual você pode se desenvolver. Eu era administrador, estava atuando como administrador, mas não precisava ser uma pessoa administrativa para fazer aquilo, aquela possibilidade de atuar decisivamente na tua área mesmo, ser um administrador porque não uma empresa desse porte? Aliou tudo isso: essa visibilidade que a empresa tinha, com a perspectiva pessoal, essa vontade de sempre progredir. Fiz o concurso para o cargo de Administrador Júnior, esse que você entra e faz aquele curso de formação. IMAGEM PETROBRAS Eu já conhecia [a Petrobras] pelo sistema porque meu pai trabalhou na Fosfértil que era ali do lado, já tinha essa referência e esse orgulho que tem dentro da empresa como um todo. INGRESSO NA PETROBRAS Quando fui pedir demissão para entrar para a Petrobras foi assim: a minha classificação não foi uma das melhores, já tinha feito uma turma, eu era suplente. Fui convocado em dezembro por volta do dia 15 para assinar contrato no dia 10 de janeiro, não dava nem para cumprir aviso prévio. Estava me preparando espiritualmente para ir lá e conversar com a diretora da empresa para pedir demissão. Quando eu vou pedir demissão, abro o escritório, tinha a chave, entrei e o que aconteceu? Tinha dado uma chuva tremenda no dia anterior e o teto era de gesso, tinha alagado o escritório. Eu tinha que dar duas notícias para a minha diretora, a primeira que o escritório tinha alagado e a segunda que eu ia pedir demissão. Primeiro fui contornar a situação do escritório, cobrir arquivo, armário, salvar a documentação toda para depois dar um tempo e falar: “olha, tenho que te comunicar, mas estou indo pra Petrobras.” Sempre tenho uma relação muito boa por onde passo, foi uma transição muito tranquila, o pessoal me incentivou, falavam: “olha é isso mesmo tem que ir pra Petrobras, você tem potencial, você sempre demonstrou isso aqui. Com certeza é uma empresa muito interessante pra você, você vai se dar super bem lá.” CURSO DE FORMAÇÃO / ADMINISTRAÇÃO Era concurso pólo nacional; você fazia o curso de formação e no final do curso tinham umas vagas delimitadas e você poderia ir para qualquer lugar do país. Fiz o curso aqui no Rio, uns sete meses, fiquei hospedado em Copacabana no Othon, fazendo as aulas aqui com o pessoal vindo das diversas partes do país. É muito legal isso, a Petrobras permite você ter acesso diretamente a outras culturas, outras pessoas nesse círculo de relacionamento. Tenho amigos em Manaus, no nordeste, no sul do país. Na minha turma tinha em torno de 45 pessoas; eram cinco pessoas específicas para o pólo Manaus, que voltariam para Manaus e as demais pessoas, os 40, para distribuição no âmbito nacional. Era um curso que praticamente reaplicava as matérias que você tinha durante a faculdade, porque era a segunda turma de administradores. Eles não tinham conhecimento tão específico e não customizaram a turma; nas próximas, eles já customizaram agregando informações mais específicas da realidade Petrobras. Era muito esporádico, o pessoal engenheiro vai fazer um curso da área de petróleo, vamos estender para os administradores. A gente ia meio que a reboque, mas não tinha o específico da realidade, o que tinha específico da realidade Petrobras era o estágio de 45 dias que a gente tinha, 15 dias em cada área da companhia: o Abastecimento; o E&P [Exploração e Produção] e a área corporativa no RH. Tinha essa visão, mas as matérias eram exclusivas mesmo da área administrativa que você via na faculdade, quase duplicava a sua faculdade durante o curso de formação que era feito com a fundação Dom Cabral, uma escola de referência. A gente estudava claro, mas não era tão puxado, tão exigido igual é um curso de engenheiro. Tinha aquela pressão, porque você tinha que ser aprovado no curso, mas não era um fator psicológico tão forte igual era na faculdade. No curso você tinha que obter nota sete que é o mínimo para ser aprovado em todas as provas; provas específicas, trabalhos que iam sendo feitos de acordo com cada disciplina: Matemática Financeira, Recursos Humanos e Marketing. Caso contrário você era desligado e suspenso o seu contrato de trabalho. Quando você entra na Petrobras assina um contrato de trabalho, é desligado porque não obteve êxito, é uma etapa eliminatória o curso de formação. Mas era um momento ótimo para trocar com vários amigos. No fundo no nosso não teve uma competição tão grande, era inócuo ter uma competição dessas porque a gente sabia que o processo de distribuição no final do curso não era exclusivamente baseado em nota. Não tinha essa preocupação tanto de nota e a gente formou um grupo muito legal de amigos que se reúne até hoje. Todo ano a gente faz comemoração de um ano de empresa, dois anos de empresa; esse ano já foi, só que a cada ano vai diminuindo o número de pessoas, porque as pessoas vêm de diversas partes do país e retornam. Ficam aqui só as pessoas que querem mesmo ficar no Rio de Janeiro. Mas sempre tem um grupo, meu grupo de administradores sempre está junto, sempre tem informação de uma pessoa ou de outra, sempre se ajuda é uma rede de relacionamento muito legal. PETROBRAS / ALOCAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS A escolha de vagas se baseava em compatibilização do interesse da companhia, com o interesse do empregado. Você tinha a disponibilidade das vagas e os empregados sinalizavam qual a área de interesse. Nessa época não tinha escolha por classificação, não conheci o processo, porque era aluno; mas depois conheci o processo porque entrei na área de Recursos Humanos, era responsável por esse processo de alocação de efetivo. Evoluiu e amadureceu esse processo, você ia compatibilizando as áreas de interesse da pessoa com a disponibilidade da gerência e ia fechando. Agora eles fazem dessa forma, começa com as pessoas que foram melhor classificadas, até o último; mas a nota não é decisiva. Você verificava se o candidato queria ir, por exemplo, para a área de Abastecimento e o Abastecimento queria essa pessoa, fecha e passa para o subseqüente; tenta compatibilizar da melhor forma possível. O processo é assim: todas as áreas fazem uma apresentação para a turma de onde há vaga; quais são as atribuições da área fisicamente onde você estará lotado. Fazem essa apresentação e disponibiliza os quantitativos. Anteriormente todos os empregados já enviaram currículo para as áreas analisadas e já têm uma ideia prévia de quem ela tem interesse. No final do curso tem um currículo padronizado pela universidade Petrobras, encaminha para a coordenação e a coordenação vai encaminhar para as áreas; as áreas já vão ter o primeiro conhecimento das pessoas. Tem a etapa de apresentação de vagas, cada gerência apresenta vaga, você sinaliza os seus interesses por aquelas vagas. São feitas as entrevistas, depois da entrevista é que tem a rodada final mesmo, a hora da verdade, qual lugar você quer ir? Você indica e todos os recursos humanos, porque conheço os processos, vão depois para uma sala de reunião de alocação e fecham essas compatibilizações aliando o interesse do empregado ao interesse da companhia. Claro que tem ajustes, se você, por exemplo, não encaixa onde você queria, eu mesmo, eu tinha uma vaga em Minas, mas uma colega minha já tinha feito contato e o pessoal se interessou por ela, ela foi para Minas e voltou. No princípio você fica assim: “nossa, eu queria ter ido pra Minas”, mas não deu certo, hoje vejo que foi uma reviravolta ótima, porque ficando no Rio tive muito mais possibilidades e foi muito melhor. Tem algumas questões na vida que você não pode ter um olhar puro e simples daquele momento, porque aquela situação pode ser uma oportunidade. O pessoal que trabalha comigo fala: “Giovanni você é muito otimista” eu falo: “eu tenho que ser otimista, eu tenho que ver o lado bom da questão se tiver um lado ruim, a gente vai resolver.” A princípio achei que era algo ruim, mas foi algo muito bom que me permitiu estar onde estou hoje na companhia. CASAMENTO A namorada do tempo de faculdade virou esposa, tem dez anos que a gente está junto. Foi no último ano da faculdade, já estava entrando para o quarto ano de namoro, já estava na hora de decidir. Ela chama Viviane. Era aquele momento, vim para o Rio; senti o curso, o compromisso era sempre assim: “vamos ver no final do curso se eu vou ser aprovado ou não” fui aprovado; a gente ficou noivo e ficamos um ano à distância, no planejamento para o casamento que foi lá em Minas. Em outubro de 2003 foi o noivado e o casamento em setembro de 2004. Conheci Viviane na noite. De olhar e bater papo a noite inteira e não ficar e encontrar em outra época e ficar depois. Ela vira para mim e fala: “Giovanni aquele dia quando a gente se conheceu, eu pensei que eu tivesse feito um grande amigo” mas a gente é amigo até hoje também, além de amigo a gente virou namorado e agora somos casados. A Viviane é psicopedagoga. A minha família é de Uberaba e a família dela é de Belo Horizonte, a gente brinca que no Natal a gente se divide para conquistar, cada um vai para sua família e depois se reúne no Ano Novo é o jeito que a gente tem enquanto não tem filhos; porque depois é escolha, Natal com um e Ano Novo com outro. MUDANÇA PARA O RIO DE JANEIRO Foi um momento crítico depois do curso: você vai querer vir para o Rio ou a gente não tem como continuar junto, porque a minha história agora é aqui. Ela veio para o Rio. Foi um período de adaptação, a pessoa sempre se assusta para vir para o Rio ainda mais vindo de Minas, porque os relacionamentos lá são muito diferentes. Eu me assustei um pouco quando vim, porque é o estilo das pessoas, elas são muito espontâneas, muito abertas aqui no Rio de Janeiro. O mineiro é muito restrito, fechado; o mineiro é uma pessoa que se arruma, se emperiquita todo para ir na esquina, na padaria. Estou com a minha mãe e minha irmã agora em casa, elas vão na praia e demoram meia hora para se arrumar, eu falo: “gente põe um chinelo, uma camiseta.” É um jeito mais despojado, um jeito de ser diferente e a gente assusta, porque a pessoa é espontânea, fala o que pensa e tem um jeito expansivo que você acha que pode ser agressivo. Depois a gente vai acostumando e é ótimo. As pessoas param no supermercado e contam a vida inteira para você. Em Minas é muito diferente. CASAMENTO Nós casamos lá em Belo Horizonte, por causa da família; era muito difícil, a minha família de Uberaba tinha que trazer o pessoal todo para Belo Horizonte. Logisticamente foi mais tranquilo. Teve festa, mas a gente não estava muito preocupado com isso não, apesar da gente ter a origem do interior de Minas e ter ido para a capital depois, festa foi só para agradar os parentes. A gente não investiu muito não, porque a ideia é investir em você, investir na sua casa, juntar dinheiro para fazer as coisas não é pra ficar gastando dinheiro com festa de casamento. Isso para mim não era importante, o importante era selar o compromisso e ponto. MUDANÇA PARA O RIO DE JANEIRO A princípio ela ficou bastante relutante querendo voltar, de vez em quando tem aquela vontade de voltar, porque ela tem uma família grande, são cinco irmãos; tem sobrinhas e o mineiro é muito ligado a essa questão do vínculo familiar é difícil. Ela nunca tinha saído de casa, para mim era muito fácil, porque eu já morava fora de casa há bastante tempo. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Fui para o Recursos Humanos da área de Engenharia, não era a área que eu queria, a que eu queria era Minas. Não deu Minas, falei: “o que vier pra mim é lucro” só queria que a área fosse de recursos humanos. Optei por todas as minhas escolhas na área de recursos humanos que é uma área que me identifico bastante, me identificava já na época da faculdade. Não fiz entrevista, não fiz nada porque já estava um pouco frustrado com a minha alocação; tinha combinado com o pessoal mineiro e eles falaram: “você pode voltar, a gente não tem interesse nessa vaga.” Deu essa surpresa, essa reviravolta no final e fui para a área de recursos humanos da Engenharia. Entender o que um administrador fazia na área de engenharia, ainda bem que era recursos humanos que eu tinha mais afinidade. Depois que você vai começar a entender a dinâmica da área e para que ela existe. A princípio era para gerenciar mapeamento de processos na área de recursos humanos, auxiliar em um contrato de umas que não tinham saído ainda; não tinha clareza da área e dos processos que ficariam sob a minha responsabilidade. Depois comecei a trabalhar com uma pessoa que era meu chefe que começou a direcionar mais. O pessoal falava que era a dupla dinâmica, eu e o Leo; a gente começou a cuidar dessa parte de gestão de efetivo que é alocação desse pessoal que vem para a Petrobras. Nesse período todo que fiquei no RH minha função era essa: distribuir as pessoas de acordo com as necessidades das áreas de Engenharia; também fiquei responsável pela parte de promoção e avanço de nível que é a progressão da pessoa na carreira, um processo que acontece anualmente no âmbito corporativo. ENGENHARIA PETROBRAS A Engenharia está espalhada no país inteiro. Tem N funções. Tem gente que entra na companhia e vislumbra só a área de exploração e produção que é uma área mais nobre, quem prospecta petróleo faz acontecer; brincava nas minhas apresentações e falava: “gente, vamos pra Engenharia lá tem área de exploração e produção, você pode fazer plataforma, você pode ir pra área de abastecimento e fazer refinaria, você pode ir para a área de gás e energia e fazer duto, você pode ir para área de gestão. Tem um leque de oportunidades, você não gostou da área? Depois vai para outra.” Dá uma possibilidade muito grande, a Engenharia para mim é o melhor órgão da companhia no sentido que você consegue vislumbrar o produto que ela entrega. Você vê a plataforma, por exemplo, a P-50 saindo foi um marco; agora no projeto que estou, vou ver o pólo sendo erguido desde o início e depois no final. Dá um sentimento muito interessante ver o produto do seu trabalho; pode ter feito um pedaço muito pequeno, mas contribuiu para aquilo. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Fiquei na Engenharia desde que entrei, em 2003, até final de 2007. Em 2008 fui para esse empreendimento que estou agora, a Implementação de Empreendimentos para o Comperj [Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro]. Quando estava no RH da Engenharia fui progredindo ao longo do tempo. Nessa companhia você tem possibilidade de crescer na careira; com 11 meses fui promovido de Júnior para Pleno, recebi em 2005 o prêmio destaque como desempenho individual da área corporativa. Em 2006 fui designado como coordenador de gestão do efetivo, que é uma função gerencial, era praticamente o substituto do gerente. Ele me inscreveu em um programa da Engenharia que é de potenciais gerentes, pessoas que são identificadas para ocuparem posições na companhia. A Engenharia estava muito envelhecida; naquele momento a preocupação era fazer novos sucessores para que o conhecimento não se perdesse. Para aquela posição que era de uma pessoa que poderia sair a qualquer momento, tinha que preparar uma pessoa para substituí-la. Foi criada essa estrutura da gerência geral, a pessoa que era gerente geral na época deve ter visto esse banco, deve ter feito a prospecção devida e verificou meu nome para essa gerência, a Gerência de Serviços que tinha como uma das funções o recursos humanos. Foi feito o convite e eu aceitei esse novo desafio no final de dezembro de 2007. IE-COMPERJ / FORMAÇÃO DA EQUIPE Comecei arrumando a casa, para dar identidade de IE-Comperj [Implementação de Empreendimento para o Comperj]. Na Engenharia é sempre assim: tem um órgão, uma gerência que embriona os empreendimentos; é como dar a luz ao empreendimento, quando ele já começa a engatinhar, a criança já está crescendo, cria uma estrutura específica para ela. O IE-PQF que é Implementação de Empreendimento de Petroquímica e Fertilizante embrionou o projeto do IE-Comperj. Depois pela magnitude, pela importância e relevância do projeto foi criada uma gerência geral específica para isso. Quando cheguei era transferir os empregados do IE-PQF para o IE-Comperj, montar a equipe. Eu tinha só expertise em recursos humanos, tinha que montar as outras áreas; herdei uma equipe do pessoal do IE-Comperj, a equipe de comunicação. Foi um trabalho mesmo de organização dos processos; montagem de equipe; organização das rotinas; tentando fazer aproximação com cliente, com o abastecimento. Fizemos o primeiro workshop de integração com o cliente. Brinco que nunca passei por um lugar em que tive tanto chefe em tão pouco tempo; no recursos humanos eu tinha uma gerente, a Solange Mozart – que teve uma oportunidade para ser gerente executiva de recursos humanos na BR e saiu, era a Solange e virou o Mário; do Mário eu passei para esse convite do Justi [Antônio Carlos Alvarez Justi] que era o primeiro gerente geral. O Juste foi convocado para área do IEEPT [Implementação de Empreendimentos para E&P e Transporte Marítimo] sendo substituído pelo Orlando [José Orlando Melo de Azevedo], por fim assumindo o Jansem [Jansem Ferreira da Silva]. Nesse momento da transição de gerência nós tentamos colocar o trem no trilho e dar uma cara de IE-Compej e começar a sistematizar e organizar esses processos. Tem duas vertentes para incorporação de pessoal. A vertente dos empregados próprios que você recebe através do processo seletivo, mas não era o momento; ou então de movimentação interna da própria companhia, você faz contato. Eu fiz contato, trouxe uma pessoa do Abastecimento, trouxe uma da área de Tecnologia da Informação para trabalhar comigo, fora o pessoal que presta serviço de apoio técnico gerencial que havia o contrato específico e a gente agrega à equipe para prestar serviço. O pessoal de comunicação, por exemplo, ficou com a gerência que tinha mais afinidade que era a gerência na qual estou ligado que é a Gerência de Serviço. O pessoal de projeto foi para a área de Engenharia e o pessoal da fiscalização de campo foi para a área de infraestrutura, que começou a terraplanagem. As pessoas foram organizando e a gente contribuiu para organizar essas pessoas, para começar a dar um sentido de implementação de empreendimento. Quem abriu a porta primeiro foi o Juste, depois foi a Andréa, depois eu cheguei, em fevereiro de 2008 bem no começo do empreendimento. Já existiam todas as pessoas que estavam no projeto da outra gerência, mas era o pessoal que era lotado no edifício Torre Almirante e foi para o edifício Sulacap, na Rua da Alfândega; daqui em diante para Itaboraí. A Engenharia é ótima porque a dinâmica é bastante rápida; as coisas acontecem numa velocidade muito grande e você tem que ter essa propensão a se adaptar, porque se não você perde o bonde. COMPERJ / PLANO DE COMUNICAÇÃO Esse ano [2009] nós começamos a construir o plano de comunicação, estamos fazendo o procedimento de gestão da comunicação na IE-Comperj; estamos fazendo outro produto que é o fluxograma de comunicação, que vai estabelecer e mapear as partes interessadas, mapear os instrumentos. Vamos fazer também um plano de ação com as nossas premissas e as ações de comunicação para o ano vigente, com constantes revisões. GERÊNCIA SETORIAL DE RECURSOS HUMANOS, RESPONSABILIDADE SOCIAL, COMUNICAÇÃO E LOGÍSITCA Eu faço um pouquinho em cada área, em recursos humanos a gente cuida de todas as questões de movimentação, de avanço de nível, de desenvolvimento de recursos humanos; a gente sempre faz uma pareceria com o RH da Engenharia para divulgar as capacitações e manter as pessoas capacitadas para esse propósito do IE-Comperj e mantê-las motivadas através da criação de planos e de ambiência organizacional. Em recursos humanos nós somos os grandes guardiões dos processos corporativos tanto de administração de recursos humanos como desenvolvimento e ambiência organizacional. São muitas atividades; a gente também é responsável pelo plano de comunicação do IE-Comperj, por todas as ações de comunicação com o público interno. O nosso cliente interno, que é a área de Abastecimento, faz o relacionamento externo com a comunidade, com os órgãos públicos. Nós cuidamos de força de trabalho: empregados Petrobras; as pessoas que prestam serviço politécnico gerencial e os empregados das empresas contratadas. Fazemos toda divulgação de campanhas corporativas, toda questão de anexos contratuais que regem a comunicação. A gente aplica as diretrizes corporativas de responsabilidade social, implanta projetos que a Engenharia tem do PDMO, um programa interessantíssimo, o Programa de Desenvolvimento da Mão-de-obra que tem o objetivo de elevar a escolaridade das pessoas de primeira a quarta série; essa semana estamos fazendo a primeira turma. Eu vou até lá, vou aplaudi-los de pé, porque são pessoas que trabalham o dia todo na terraplanagem naquele sol insuportável e ainda tem a disposição para no final do dia irem para a sala de aula sentar; prestar atenção e ficar no período da noite para conseguir se aprimorar. Estou muito feliz porque vou conseguir a formatura da primeira turma com relação ao RS [Responsabilidade Social], com relação à comunicação, ao RH. A gente cuida de questões assim: logística administrativa de serviço fornecimento de computadores; ajuste de layout; gerenciamento de transporte para Itaboraí; toda interface, vou ter que fazer com o compartilhado para prestar serviço para o Comperj quando tiver instalação, como restaurante; manutenção predial. Tenho uma equipe em torno de 23 pessoas, tem núcleos específicos, mas é equipe. Hoje o grande gestor é esse, é o que você constrói, a minha função é delegar para que a equipe traga resultado. Investi fortemente em uma equipe que tivesse competências específicas. Quando tirei férias procurei deixar o pessoal conduzir a gerência numa boa. Venho da área de recursos humanos, tenho muita percepção para isso, você tem que ter as pessoas corretas com a competência devida. Você tem que ser muito cuidadoso com a seleção dessas pessoas; essas pessoas precisam trabalhar energicamente, em equipe; isso eu construí e tento cada dia construir mais a minha equipe, esse relacionamento, para que sempre seja uma equipe com alta performance. Cada dia é um espanto diferente é uma novidade, algo que nunca ninguém fez e as soluções alternativas, você tem que lidar com agilidade; brinco que na engenharia você não pode usar a palavra não. Não, não existe, você sempre tem que construir uma solução, uma alternativa; sempre transcende o comum, o normal. Tenho uma paixão muito grande pela possibilidade que você tem de mudar sempre a sua rotina, mesmo trabalhando com essas quatro áreas; são processos que você acha que estão sistematizados e se depara com uma situação muito diferenciada que ninguém na companhia presenciou ainda. ENGENHARIA / PDMO O PDMO é voltado para pessoas contratadas de várias áreas. Agora tem o CTC que é o Consórcio de Terraplanagem no Comperj que está conduzindo a obra da terraplanagem, dos 11 quilômetros da área industrial; foi uma turma direcionada para os empregados do consócio da terraplanagem. Nós mapeamos quais eram as pessoas que não tinham completado de primeira à quarta série e montamos essa estrutura junto com a Engenharia. É um processo de sucesso da Engenharia o PDMO. São essas turmas que você leva escolaridade pensando em questões de QSMS [Qualidade, Meio Ambiente, Segurança e Saúda], a motivação do PDMO foi essa, quando os trabalhadores iam para o site de trabalho, eles não conseguiam ler placas de QSMS. Operadores que olhavam o painel de máquinas viam que a luzinha estava piscando que tinham que fazer aquilo, mas não entendiam por quê. Dessa motivação surgiu a necessidade da criação do PDMO que é um programa que ajuda a elevar a escolaridade e que a gente tentar implementar para diminuir os acidentes, mas também com esse viés de ter a pessoa nesse foco de responsabilidade social para que ela consiga ler uma história para o filho dela, acompanhar os estudos, é muito emocionante. Já tem mais de 50 turmas formadas pela engenharia do PDMO. QSMS A gente tem muita interface com o QSMS porque ele conhece a técnica de, por exemplo, campanhas corporativas; só que nós temos os veículos, as formas, o público. A gente potencializa a atuação do QSMS trabalhando em parceria para esse público alvo. Também estamos juntos, por exemplo, com o gerenciamento de situações de crise que temos que estar muito bem mapeados. Nossa atuação é para potencializar a atuação do QSMS. COMPERJ / COMUNIDADES Conversamos com o Abastecimento, temos fóruns específicos. Hoje mesmo eu estava em uma reunião de comitê de comunicação e responsabilidade social que integra todas as áreas que lidam com comunicação para o projeto Comperj. Estavam presentes o cliente pela figura do ABPQF [Abastecimento Petroquímica e Fertilizantes] Comperj; o EN que é Estruturação do Negócio que detém a parte de relacionamento externo; a comunicação institucional; o GAPE que é o Gabinete do Presidente; a parte de segurança empresarial e nós da Engenharia. Nós discutimos tudo isso, são ações feitas em conjunto, porque sempre tem essa questão: quem faz o relacionamento externo com a comunidade é o Abastecimento só que quem causa o impacto na comunidade é a Engenharia. A gente faz em conjunto para entender a situação e informar as pessoas no tempo devido dos impactos que essa obra tem naquela realidade, que serão enormes. O Comperj muda a configuração da região. COMPERJ / PRIMEIRO CONTATO A primeira vez que ouvi falar do Comperj foi no ano de 2007, quando começa a primeira etapa do projeto. Na verdade fui para o Comperj para uma proposta de trabalho que achei tentadora e pela configuração do próprio projeto. Eu não tinha a dimensão, não achava que era aquilo tudo. A gente brinca que complexo é complexo até no nome, porque o gigantismo, os valores que tem, as interfaces, você fica comentando, por exemplo, questões simples que eu não sabia que tomava esse vulto. A gente tem que levar equipamento para dento do Comperj e os equipamentos de grande porte, não passam nas estradas, o que tem que fazer? Tem que acionar a área que compra os materiais, fazer um contrato para logística para trazer até a Baia de Guanabara, vai ter que construir uma estada especial para passar. Uma questão vai puxando a outra, eu não tinha noção e agora ampliou meu olhar sobre isso, naquela hora era um polo petroquímico, mas não entendia o dimensionamento; a capacidade de produção; todas as unidades industriais; o esforço que você tem que fazer no começo que tinha que desapropriar todo aquele pessoal, aquelas famílias; os acessos que tem que ter; como você conecta a questão dos dutos para distribuir. Isso não passava pela minha cabeça de forma nenhuma, era só aquela figurinha dos produtos petroquímicos saindo. COMPERJ A princípio tem uma empresa que foi configurada. O pessoal está ainda em fase de definição dessa parte das parcerias. A minha atividade está muito ligada à implantação da planta do pólo. Depois a operação do pólo já é de responsabilidade da área do cliente do Abastecimento. COMPERJ / DESAFIOS Um grande desafio é embutir nas pessoas das áreas técnicas a importância desses temas de comunicação, de responsabilidade social porque as pessoas não têm a real noção do que isso significa e qual é a potencialidade dessas áreas para auxiliar no negócio delas. A área técnica vai naquele estilo: “vamos fazer e não vamos preocupar tanto com as consequências que isso causa”. A gente está tentando mudar esse patamar e com certeza nós vamos conseguir amadurecer bastante, incorporar esses preceitos, essas premissas de comunicação como uma área de apoio que vai facilitar e evitar muitos problemas para a área técnica. Se a gente fizer a comunicação devida com a comunidade com antecedência, com informação; atuar de forma responsável tem muitos ganhos que você consegue agregar ao engenheiro. Esse foi o grande desafio que continua, mas nós vamos com certeza superar. COMPERJ / NOVAS TECNOLOGIAS O grande aprendizado é que você tem que criar alternativas, você sempre tem alguma forma alternativa, você pode pensar que está no fim do túnel, em um beco sem saída, mas com certeza existe uma forma diferente de pensar, de agir que você vai conseguir contornar. Nós estamos trabalhando no dia-a-dia dessa forma. Trabalhamos com pessoas, com profissionais com competências e conseguimos ter esse diferencial. O que a gente pode falar agora que é de notório conhecimento, foi da tecnologia que existe para refinar o petróleo pesado de Marlim. É uma tecnologia inovadora no âmbito mundial, não tinha essa capacidade de refinar o petróleo pesado. Tinha que exportar o petróleo pesado e agora não; vamos poder utilizar isso, porque tem tecnologia do FCC petroquímico, do Craqueamento catalítico da forma petroquímica. Foi uma tecnologia feita pelo Cenpes[Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello], que vai fazer todo o diferencial. PETROBRAS / RELAÇÕES DE TRABALHO São tantas ações que no dia-a-dia o que é interessante é como a Petrobras tem, internamente, a capacidade de outras áreas te auxiliarem. Por exemplo, eu precisava uma vez montar contêineres em Itaboraí e não tinha experiência nenhuma para fazer uma contratação, fiquei pensando: “como eu vou conseguir implantar contêiner em Itaboraí?”. Fui conversando com uma pessoa, conversando com outra e me deram uma idéia: “olha lá na ampliação do CENPES, o pessoal conseguiu esse contêiner” fiz contato; dessa rede que você tem de relacionamento o pessoal me indicou “trata com o pessoal do compartilhado lá em São Paulo que eles têm um contrato de parada de manutenção que pode oferecer contêiner.” Liguei em São Paulo e consegui o contêiner e consegui para aquele tempo. Esse ano a gente precisou de novo e eu liguei e pedi. É muito legal isso que na companhia você consegue ter essas parcerias que te ajudam, viabilizam; é muito interessante poder contar com o apoio de outras áreas, isso é recorrente. Quando cheguei, tive que me articular com a área de tecnologia da informação porque tinha que implantar a rede em Itaboraí, porque o pessoal não tinha comunicação, eles faziam comunicação com plaquinhas, era muito lento; a gente teve que implantar a rede lá. Nós não conseguiríamos fazer isso se não fosse outro órgão da companhia que tivesse notório conhecimento nessa área para poder nos auxiliar nessa empreitada. COMPERJ / IMPLEMENTAÇÃO Toda implantação de Itaboraí vamos ter que fazer de forma coordenada integrada com outras áreas da companhia. A intenção é que agente vá para lá no final do ano que vem, pois terá uma instalação específica para abarcar a força de trabalho. Hoje a gente tem em torno de 500 profissionais na implementação, no IE-Comperj, mas quando a gente for para lá deve girar em torno de 800 ou 900 pessoas no início, chegando no pico de até 1400. O prédio não vai ser construído ainda. São outras unidades industriais. Cada gerência vai ser responsável por uma parte, a equipe daquela gerência vai para lá, porque vai ter que fazer fiscalização de campo, tem que fazer o gerenciamento do contrato. Essas pessoas são para ficarem lá em definitivo para acompanharem toda a construção e montagem das unidades, porque você não faz isso remotamente, tem que fazer isso no próprio site. As pessoas iniciais vão continuando, porque tem até a fase dos projetos. Agora começa uma unidade industrial, daqui a pouco começa outra que tem vinculação com aquela; as equipes vão agregando, vão ampliando porque você vai precisar de maior controle de gestão sobre aquele projeto. As equipes agora que tem um número X, daqui a pouco passam para dois X porque tem o pico da obra. Vou me mudar para lá, estou ansioso. Na verdade tenho parte da minha equipe lá, a gente precisa dar apoio para o pessoal. Eu fico aqui bastante distante, coloquei algumas pessoas lá de comunicação e de logística. MEMÓRIA PETROBRAS Já conhecia o Projeto Memória, quando houve aquele almanaque, eu li e achei muito interessante. É por isso que me engajei prontamente no projeto, já fiz a mobilização das pessoas, acho que é muito enriquecedora essa história e a gente não pode perder. No Comperj como a gente sempre diz a gente tem que sistematizar todas as lições que a gente tenha aprendido; toda essa configuração, todo esse registro de como era a região, como a região ficará. Eu vislumbro no futuro, a gente fazendo essa entrevista e alguém comentando daqui a 20, 30 anos como ficou a localidade, a perspectiva de futuro para aquelas pessoas que estão na região, de crescimento econômico sustentável, como é a filosofia da Petrobras. É por isso que estou bastante entusiasmado. Foi muito bom, porque você faz um encadeamento de uma forma suave, tranqüila. Vocês estão de parabéns, sou parceiro para se tiver que ir no Comperj para as próximas etapas, para os próximos projetos que tiverem na companhia com certeza vou sempre contribuir para vocês do Projeto Memória.
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