P – Gilson, para começar eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, data e local de nascimento. R - Bom, meu nome é Gilson Santana Lima. Eu nasci em Vitória, Espírito Santo. Em 1/12/1963. P – E foi em Vitória que você entrou no Aché? R - Sim, foi exatamente lá. P – Como foi a tua entrada na empresa? R - Ah, foi super interessante. Inclusive antes de começar a entrevista eu tive a oportunidade de conversar contigo e falar que eu trabalhei na Cesan. Que é a Companhia de água do Espírito Santo. Só que eu trabalhava em um contrato para essa empresa. Era contratado. E como todo contrato ele um dia acaba. E depois de 10 anos de serviço prestado a essa empresa eu fiquei desempregado. Nesse ínterim fiquei um pouco tenso. Era casado. Todo mundo tem suas despesas. E comecei a contatar alguns colegas. Nesse meio tinha um colega que trabalhava na profissão de propagandista. Profissão que eu conhecia os propagandistas mas desconhecia totalmente o que era feito. Resultado: ele me chamou um dia, foi até uma surpresa. Eu estava em casa sozinho. Estava desempregado sem fazer nada em casa. Ele chegou na minha porta, bateu. E falou: “ Gilson, você quer trabalhar na indústria?” Eu falei: “Quero.” Aquele negócio. Eu falei: “Quero, mas e aí? Como é que é?” Ele disse: “Não, você se encaixa perfeitamente. Você tem perfil que a indústria farmacêutica gosta. Eu trabalho já há 6 anos na indústria farmacêutica e conheço um pouco disso.” Aí eu falei: “Como é que eu faço?” Ele disse: “Bom, você tem meia hora para fazer a barba, se arrumar e procurar essa pessoa e fazer uma entrevista.” Eu falei: “Meia hora?” Me pegou assim no susto. Me preparei e fui no endereço que ele citou. Procurei a pessoa. Só que ao chegar lá fiquei espantado porque tinham 100 candidatos. Aí na entrevista procurei me informar com o entrevistador que inclusive é um...
Continuar leituraP – Gilson, para começar eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, data e local de nascimento. R - Bom, meu nome é Gilson Santana Lima. Eu nasci em Vitória, Espírito Santo. Em 1/12/1963. P – E foi em Vitória que você entrou no Aché? R - Sim, foi exatamente lá. P – Como foi a tua entrada na empresa? R - Ah, foi super interessante. Inclusive antes de começar a entrevista eu tive a oportunidade de conversar contigo e falar que eu trabalhei na Cesan. Que é a Companhia de água do Espírito Santo. Só que eu trabalhava em um contrato para essa empresa. Era contratado. E como todo contrato ele um dia acaba. E depois de 10 anos de serviço prestado a essa empresa eu fiquei desempregado. Nesse ínterim fiquei um pouco tenso. Era casado. Todo mundo tem suas despesas. E comecei a contatar alguns colegas. Nesse meio tinha um colega que trabalhava na profissão de propagandista. Profissão que eu conhecia os propagandistas mas desconhecia totalmente o que era feito. Resultado: ele me chamou um dia, foi até uma surpresa. Eu estava em casa sozinho. Estava desempregado sem fazer nada em casa. Ele chegou na minha porta, bateu. E falou: “ Gilson, você quer trabalhar na indústria?” Eu falei: “Quero.” Aquele negócio. Eu falei: “Quero, mas e aí? Como é que é?” Ele disse: “Não, você se encaixa perfeitamente. Você tem perfil que a indústria farmacêutica gosta. Eu trabalho já há 6 anos na indústria farmacêutica e conheço um pouco disso.” Aí eu falei: “Como é que eu faço?” Ele disse: “Bom, você tem meia hora para fazer a barba, se arrumar e procurar essa pessoa e fazer uma entrevista.” Eu falei: “Meia hora?” Me pegou assim no susto. Me preparei e fui no endereço que ele citou. Procurei a pessoa. Só que ao chegar lá fiquei espantado porque tinham 100 candidatos. Aí na entrevista procurei me informar com o entrevistador que inclusive é um treinador na empresa, que hoje é um gerente distrital; O Diniz. Um cara muito bacana inclusive. Comecei a observar que as entrevistas duravam em média 10 minutos. Média não. No máximo, nem 10 minutos. Nisso eu entrei, conversando com o entrevistador e a entrevista durou uma meia hora. Eu achei espantoso. Ou o cara demorou a tirar as informações ou realmente queria algo mais. e fiquei naquela expectativa. Ao chegar em casa, saí dali fui resolver alguns problemas pessoais. Cheguei em casa já tinha um recado para mim retornar no outro dia. E para, depois dessa primeira entrevista passei por uma bateria de mais umas oito entrevistas. Até realmente fazer o curso. Sem vínculo empregatício nenhum. E tem uma média desejada dentro desse curso. Inclusive foi ótima a média. P – Curso de duração? R - São 10 dias úteis. E mudou muita coisa de lá para cá. Na época não tínhamos vínculo empregatício durante esse curso, entendeu? Você fazia. Se fosse bem no curso de produtos. Anatomia, fisiologia você estaria admitido. Fiz esse curso fiquei dentro da média. E era apenas uma vaga para aqueles 100 candidatos que estavam ali sendo entrevistados. Nós entramos em 10 para fazer o curso. 10 selecionados. Desses 100. Dos 10 saía um.negócio bem apertado. E no ínterim do curso, durante o curso surgiu mais uma vaga. Muito novo em Vitória e era muito grande naquela época. Haja visto que eu sou o mais antigo representante propagandista da empresa. É diferente no Brasil todo, mas eu tenho 12 anos. Vou fazer 12 anos de empresa. Agora em agosto. E eu sou o mais antigo. P – Você foi um dos dois? R - Eu fui um dos dois. Daí comecei a trabalhar na empresa. A empresa sempre exigiu muito. Você vê, passei por uma série de mudanças. Mudanças essas muito boas de lá para cá. Porque a concorrência sempre pinta a imagem. Eles querem é derrubar um o outro. isso pintava.”Rapaz, o Aché isso aí só quer cobrar, sugar.” Aquela velha história. Você ouvia isso da concorrência. Você novo tinha que escutar alguma coisa. E eu não via por esse lado. E eu peguei uma época de realmente mudanças. Comecei a trabalhar de gravata, camisa de manga comprida. Um mês depois já eliminaram o uso da gravata. O que eu acho muito justo porque nós moramos em uma cidade tropical. Vamos ficar lá... P – Você começou a trabalhar em Vitória? R - Eu trabalhei em Vitória. P – Qual era a área que você cobria? R - Eu trabalhava na praia do Canto até o município da Serra. Serra mas é Serra município. Não é Serra montanha não, tá? P – E eram o quê? Consultórios, hospitais? R - Sim. Englobava tudo. P – Como é que era um dia típico de trabalho nesse começo? R - Eu tive um começo um pouco turbulento. Em função desse turn over que eu estava citando. Eu fiquei até meio assustado no início porque uma semana após a minha admissão na empresa o meu supervisor foi demitido. Aí você fica meio apavorado. Porque se o supervisor que era um cara, um staff foi demitido, você logicamente qualquer passo errado você estaria fora. E você fica um tanto assustado. Eu comecei a trabalhar, fiz um setor que até certo ponto hoje é um setor dos mais difíceis para trabalhar. Que é um setor de muito consultório. Consultório na nossa profissão o acesso é bem mais difícil, entendeu? Mas em contrapartida fui fazendo, acertando endereços, horários e organizando para poder desenvolver melhor o trabalho. Todo começo é difícil. P – Como é que organiza uma agenda de propagandista? R - Uma agenda? Nós temos hoje roteiros. P – Ah. R - Antigamente não existia o roteiro fixo já estipulado. No caso hoje nós temos que manter um roteiro fixo para manter uma visita constante, ao médico. Sempre nos períodos corretos para não haver uma visita em cima da outra ou ficar um longo período sem visitá-lo, entendeu? Para atingir o nosso objetivo. Hoje você já tem essa agenda. Já é bem mais tranqüilo trabalhar. A empresa antigamente ela exigia um número de visitação muito maior do que hoje. P – Quantos por dia? R - Antigamente, uns 20 médicos por dia. P – Como é que fazia para cumprir, para ganhar tempo? Tinha uns truques? R - Sim, sim. Você... P – Por exemplo? R - Eu associava consultórios com ambulatórios ou hospitais. Onde os hospitais e ambulatórios a penetração é muito melhor. Muito mais fácil. Você encontra maior número de médicos. Você consegue desenvolver mais rapidamente seu trabalho. Ao contrário do consultório que você depende de uma sala de espera, de uma atendente, da amizade. E como começo isso é difícil. Você primeiro tem que fazer sua imagem. Vender sua imagem. Ser simpático. Para poder ter uma boa penetração nesses ambientes. Mas hospitais não. Hospital como hospital público por exemplo você tem uma entrada livre. Entra qualquer um, aquela coisa toda. Depois você vai se orientando melhor e consegue manter um trabalho bem mais tranqüilo. P – Você falou da sala de espera: tem histórias boas de sala de espera? Você levou muito chá de cadeira já? R - Olha, chá de cadeira costuma-se tomar. Isso aí depende muito da quantidade de pacientes que tem. Da sua amizade com secretária. Ou até mesmo do bom humor dos médicos. A gente depende disso tudo. Tem dia que a pessoa não está de bom humor para receber ninguém. Não propriamente o propagandista. Mas não quer receber ninguém. Não quer nem ver, quer desmarcar a agenda. E você chega exatamente naquele dia. Naquele dia impróprio. Mas eu nunca tive muito problema relacionado a esperas excessivas ou a contratempos em sala de espera. Eu particularmente não tenho muita história para contar da sala de espera em relação ao médico. A história que a gente tem para contar é relação a colegas, né, aquela coisa toda que acontece. P – Por exemplo? R - Bom, eu tenho uma história interessante. Eu até ia contar uma outra história mas essa é super interessante. Não vou citar nome. Foi um colega da empresa ele era novo na empresa. eu deveria ter uns 5 anos e ele estava entrando na empresa. Querendo mostrar muito serviço, eu ajudei. Que a gente tem esse costume. São várias linhas a gente procura ajudar o colega porque a gente sabe o quanto é difícil. E esse colega estava em uma clínica, uma clínica de ambulatórios. De salas de consultórios. E era em um corredor de um andar de um prédio. Os consultórios ficavam nas salas, salas comerciais. E a salsa de espera em uma outra sala anexa. E ele estava lá. Eu e ele na sala de espera. E ele ansioso para falar com a médica. Pressionando a secretária. Só que ele na verdade não estava pressionando a secretária. Ele estava pressionando era a médica. E ele não sabia disso porque a médica era uma pessoa aparentemente muito humilde. Se vestia assim de uma forma, não é que o médico tenha que se vestir dessa maneira, mas ela se vestia de uma forma bem informal mesmo. Botava aquelas blusinhas de malha, de propaganda. Ela não tinha o luxo. Aquelas vaidades excessivas da mulher praticamente. E era escura. Bem escura, né? Aí resultado disso: ela vinha até a sala de espera chamava a paciente e levava a paciente para o consultório. Ela sempre gostou de fazer isso. E faz isso no consultório dela até hoje. Aí nesse vai e vem ela estava um pouco atrasada pediu para o colega: “Fulano, você aguarda um pouquinho que o doutor já vai falar com você.” Mas brincando com ele. Que ela é super brincalhona, receptiva, né? “Fulano, você aguarda um minutinho que ela já vai falar.” Aí ela foi atendeu a paciente. Aí apareceu uma paciente grávida, passando mal. Ela falou: “Olha, daqui a pouco atende.” Ele falou: “Puxa vida, você podia quebrar meu galho. Está demorando demais, né?” Ele ansioso para falar, adiantar o serviço. Ela falou: “Aguarda um minutinho que você já vai falar com ela, tá, por favor.” Aí nesse , atendeu essa paciente e voltou e falou: “Agora você pode entrar.” Ele levantou saiu correndo entrou na sala. Quando ele entrou na sala ela entrou atrás dele. Ele procurou na sala, aquela sala aberta, sem banheiro. Ele procurou, ele parou, ele pensou: “Pô, fiz bobagem.” Ele estava tratando, assim pela ansiedade dele, estava achando que estava lidando com a secretária. Ele pediu tanta desculpa à médica. E a médica rindo da cara dele. “Fulano, deixa isso para lá. Isso eu já passei muito na minha vida.” E ele pedia tanta desculpa que não conseguia nem fazer a propaganda. (riso) P – E com você aconteceu alguma situação engraçada? R - Bom, uma história que roda muito no nosso meio que aconteceu comigo, mas foi até certo ponto premeditado por mim, mas era de desconhecimento dos colegas que estavam ao meu redor. Tem um médico em Vitória que ele é professor da faculdade. Um cara jovem. Deve ter uns 40 anos hoje. Na época ele tinha um pouco menos. Um cara bem sucedido. Um professor renomado. Mas muito amigo meu. Particular. Apesar de ser médico e eu visitá-lo. Mas era um amigo particular e os colegas não sabiam disso. E eu tenho um péssimo hábito de fumar. E sempre guardei desde garoto, desde a época que comecei a fumar cigarro na meia. Inclusive ele está agora na meia. E esse médico pelo fato de me conhecer de outros lados ele sabia disso. E ele fumava esporadicamente escondido dos acadêmicos. Dos alunos. Ele chegava no canto e dizia: “Me dá um cigarro aí.” Ele chegou lá perto dos colegas e falou: “Gilson, me dá um cigarro.” Aí eu saquei o maço de cigarro da meia e dei o cigarro para ele. Ele falou: “Você não perde essa mania rapaz de botar o cigarro na meia. Por que é que você faz isso?” Eu simplesmente respondi naturalmente para ele: “Isso é para esconder dos filão.” E ele tinha acabado de me filar um cigarro. O pessoal caiu na minha conta, né? Isso foi motivo de gozação durante muito tempo. Até hoje ninguém esquece disso. P – Ninguém perdoa? R - Nem eu explicando a verdadeira razão de eu ter feito aquilo de uma forma bem descontraída. Sem problema nenhum, tendo certeza em não ofender as pessoas. P – Depois de trabalhar nessa região de Vitória você chegou a mudar um pouco a sua atuação? R - Sim, houve mudanças. Havia muito remanejamentos na empresa. E eu fui alvo de alguns desses remanejamentos, não é? Uma vez me colocaram para trabalhar no norte do estado. Outra no sul. P – Como é a realidade do norte do Espírito Santo? R - Olha, na época que eu trabalhava o norte estava passando por uma situação difícil. Uma época de seca muito grande. E atingiu muito o norte do estado do Espírito Santo. Você via muita seca, muita pobreza. Hoje a coisa mudou um pouco. P – Como é que era essa viagem de Vitória para o norte? A estrada asfaltada? R - Sim. estrada asfaltada, outras que eram estradas vicinais, estrada que você fugia e pegava até muitas vezes estrada de chão. Até muitas vezes fiquei atolado (riso) em estradas. E nós, o Aché sempre teve a característica de visitar locais que a concorrência não ia. Era uma vantagem nossa, porém era um desgaste muito maior. P – Você lembra de alguma cidade que era o único propagandista? R - Bom, o único propriamente não. Mas era um dos únicos. Era Laranja da Terra. P – O que é? R - Laranja da Terra. Um distrito de Afonso Cláudio. Que é um município do Espírito Santo, que mexe com café. É a principal cultura lá. Agora esse Laranja da Terra tinham três médicos e um, dois curandeiros. Os curandeiros receitavam mais do que os médicos. P – E vocês iam visitar? R - Eu propriamente não ia. Eu fui uma vez conhecer como curandeiro tinha acesso a nome de produtos de marca. Produtos de empresas sérias. Produtos, nomes comerciais conhecidos e de laboratórios renomados. Na verdade você imagina curandeiro prescrever o quê? Indicar raízes, chazinho. Ou fazer benzimento. Benzer. Essas coisas exóticas aí que eu particularmente não acredito muito. Você imagina essa coisa. Ele não. Ele atuava como médico prático. E isso existe muito em cidadezinhas e locais de pouco acesso. P – E você descobriu como é que eles tinham acesso a esses nomes? R - Através do farmacêutico. O farmacêutico o instruía através das medicações. Da parte patologia de avaliação clínica eu fiquei observando ele fazer era super engraçado. Ele botava nomes esotéricos nas doenças para poder se auto-valorizar talvez. Não sei. Ou talvez até por desconhecimento. Para você ter idéia ele olhou a amídala de um paciente em uma hora que eu estava próximo, e deu o seguinte diagnóstico: ele estava com psicose nas amídalas. Isso não existe. Não existe isso. Não combina nem uma coisa com a outra. Mas o paciente: “É doutor? Eu estou com isso?” Aí: “Está.” Passou o melhor antibiótico que tinha na época, o melhor antiinflamatório. Ele tinha uma conduta até certo ponto real. Dentro da realidade. Mas era instruído para isso. E realmente um sucesso terapêutico. Porque ele usava do bom e do melhor. Que é que eu fiz? Usei esse curandeiro contra os médicos. Falei: “Doutor, o senhor está reclamando que seu consultório está vazio mas o curandeiro está cheio. Você sabe por quê? Porque ele prescreve tudo que há de bom e melhor.” Entendeu? Você prescreve, não liga para essa parte de custo. Aí eles foram acordando, entendeu? Aí eu falo; “Puxa doutor, eu enfrento 30 e poucos quilômetros de estrada de chão ruim, chovendo, para chegar aqui não ter retorno nenhum.” Tentando conscientizar de alguma forma os médicos a me apoiarem. Eu era um dos poucos representantes que iam lá levar alguma coisa para eles. P – E você foi acompanhar uma consulta desse curandeiro? R - Sim, foi super engraçado. P – Tinha que fazer alguma coisa diferente para descobrir argumentos novos para lidar com o médico? R - Sim, sem dúvida. Porque é diferente. Hoje você, é interessante essa mudança esse remanejamento ele te trás muita bagagem no tocante a pessoas diferentes, modos diferentes de vida. Apesar de o Estado ser muito pequeno você vê diferenças de um município para o outro. P – E a paisagem do sul como era? R - Maravilhosa. P – Como era o teu trajeto? R - Eu costumava dizer que era um passeio. Ia fazer um tour. Eu via o trabalho, para ficar mais satisfeito ainda com o meu trabalho eu encarava aquilo como um tour. Achava gostoso. P – Como era? Você saía de Vitória... R - Você saía de Vitória com um clima x pegava as montanhas, você já pegava aquele ar mais fresco. Mais geladinho. Aquele cheiro de eucalipto, de mato. Isso aí deixa você muito mais satisfeito. Já que você vive em um meio urbano, cheio de poluição. É cigarro, bares, aquela confusão toda. Carros. Muito dióxido, monóxido de carbono. Aquela coisa toda. P – Tinha alguma parada na estrada? Algum lugar que você gostava de parar? R - No norte sim. Tinha essa parada de postos meios já tradicionais. Ou de lanchonetes tradicionais. Uma parada Ibiraçú, a parada Califórnia. P – O que tinha de especial nessas paradas? R - Você encontrava muito colega. Mas não colega só da indústria. O representante em geral. Porque o viajante é representante de alguma firma. Todo viajante está nessa área. Você encontrava com pessoas de diversas áreas. Vendedor de material de construção. Da Tigre, de tinta. Você trocava. A troca de experiência é muito boa. P – Isso no posto de gasolina. Qual que você falou? R - Parada Ibiraçú. P – Ibiraçú. Em qual estrada? R - Isso indo para o norte do Espírito Santo. Era o local para nós tomarmos café. Que saiamos muito cedo. Saía muito cedo de Vitória. Aproveitava tomar um café da manhã, entendeu? Para tornar a viagem mais agradável. P – E para o sul não tinha nenhum lugar especial? R - Não. Paradas não, porque a primeira cidade para o sul fica muito próxima de Vitória. Acontecia de tomarmos café até mesmo no hospital com os médicos. Isso quando não tomávamos em casa. Tomávamos no hospital com o médico. Era um meio até de confraternizar, de conversar. P – E ficava a semana toda fora? R - Isso depende da área. P – Para o sul? R - O sul dava trabalho. Na época que eu fiquei fazendo só uma parte do sul, que era 262 que envolvia Domingos Martins, Afonso Cláudio, Venda Nova, Conceição do Castelo, Ibatiba e Iúna. São sete cidades porém pequenas. De poucos médicos. Em média cinco médicos por cidade, seis médicos. Aí você desenvolvia o trabalho em dois, três dias no máximo. P – Você se torna conhecido. Quando entra na cidade o pessoal já sabe quem você é? R - Exatamente. Depois de um tempo todo mundo já te conhece, entendeu? É muito gostoso. Eu sempre viajei muito. Não só na indústria, como eu já falei anteriormente. Pela empresa que eu trabalhava. Eu sempre gostei muito da estrada. P – Quantos municípios você conhece no Espírito Santo? R - Olha, eu conheço o Estado inteiro hoje. Locais que jamais ninguém vai colocar o pé eu já coloquei. P – Por exemplo? R - Olha, eu já passei mas foi fora da indústria, tá? P – Tá. R - No norte do Espírito Santo eu trabalhei em uma cidade chamada Cristal. Que é distrito de Pedro Canário. Divisa com Bahia. Cheguei nessa cidade e precisava dormir porque não tinha terminado o serviço. Ficaram pendências para outro dia. Procurei a pensão local para dormir, só existia uma pensão em cima do posto de gasolina. Chegando nessa pensão a dona, eu não tinha visto o dono, e não sabia quem era o dono. Cheguei para o rapaz pedi um quarto. Peguei a chave. Subi. Cheguei lá o lençol com uma mancha horrível. Desci para a recepção falei: “Meu amigo, você troca para mim o quarto ou troca o lençol que está sujo.” Aí a dona da pensão estava do lado do rapaz. Simplesmente ela chegou para mim: “Bom, o que eu tenho é isso aí. Se você quiser ficar bem se não quiser ficar, você não me sustenta mesmo.” Resultado: eu nunca tinha visto tanta falta de educação. Aí eu recuei. Disse: “Olha meu amigo...” eu nunca fui grosso de bater boca com ninguém. O que eu fiz? Eu retraí e falei: “Minha senhora, então fica com a sua pensão que eu estou indo embora.” Dormi dentro do meu carro. P – Pronto? R - Passei a noite todinha no carro, entendeu? A empresa não quer isso. Pois ela dá diária para isso. P – Tem mais alguma história que você gostaria de registrar? R - Não, histórias em si. Que eu me recorde assim não. Aconteceu mas na outra empresa. P – É que as pessoas às vezes já sentam aqui com uma história na cabeça... R - Essa história eu já te contei. Inclusive essas outras que eu estou te contando nem me lembrava. P – Vai lembrando? R - Eu lembro muito de uma história que fiquei preso em um distrito desses. Caiu a ponte. Essa ponte de madeira caiu uma tromba-d’água e a ponte desabou. E fiquei preso na cidade. E não tinha hotelaria. Porque era uma cidade de passagem. Chamada Estrela do Sul. Resultado disso: tive que dormir na casa de pessoas. P – Mas já conhecia a pessoa? R - Não, nunca tinha visto. P – Como é que foi isso? R - Não, eu fiquei preso. Porque parei na ponte e voltei para a cidade. Cheguei no comércio. Quando eu entrei tinham pessoas lá: ‘Não, você pode dormir lá em casa.” Porque sabiam que eu era representante. Pelo fato de te conhecer e porém não ter muito diálogo, né? Porque você pára, você dá bom dia, boa tarde como a educação manda e você gosta. Porém mas você não tem muita afinidade porque não tem tempo de ficar conversando com Deus e o mundo, né? é muito difícil. P – A gente já está finalizando eu queria perguntar o que você achou de ter contado um pouquinho da tua história? R - Eu achei super interessante, viu? P – Por quê? R - Eu acho que como propósito de vocês mesmo eu acho que é uma boa a gente ter essas histórias para marcar, não deixar morrer tudo o que você passa dentro da empresa. Principalmente toda a experiência que você já teve. Porque isso você pode aproveitar. Eu acho que tem de alguma forma como rever muitas vezes experiências, valores e tirar proveito disso. P – Tá certo. Muito obrigado pela participação. R - Nada.
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