P – Diga, por favor, o nome completo, data e local de nascimento. O nome e o local do projeto.
R - Meu nome é Gilberto de Palma Augusto. Trabalho no Instituto Ágora, em Defesa do Eleitor e da Democracia, em São Paulo. Nasci em 27 de julho de 1955. Eu tinha 44 anos quando a Ashoka me descobriu, porque eu nem sabia o que era um empreendedor social.
P – Como estava sua vida, quando a Ashoka te encontrou? E como é que foi esse encontro?
R - Eu fui professor durante toda minha vida. Eu mal saí da escola e já entrei na escola, apenas mudei de lugar. Esse foi meu primeiro emprego, como professor, na rede pública, em lugares carentes. E depois de muito tempo, mais de 10 anos e cansado de ser aviltado no meu salário e ser desrespeitado, não pelos alunos e pelo meu meio, mas pelo país em que vivemos, resolvi mudar de emprego, mudar de vida. Abri uma editora e disse para mim mesmo: “Vou ser empresário”. E minha vida de empresário foi rapidíssima. Um verdadeiro fracasso na área empresarial. O empreendedorismo foi minha terceira descoberta na vida. Só que tardiamente, para uma pessoa com a visão de que devemos descobrir o que confere sentido à vida. Eu me sinto uma pessoa profundamente religiosa, embora não tenha religião. E não sei onde vou ancorar meu barquinho nessa questão espiritual. Então, tenho que extrair sentido da vida na própria vida, nessas relações comuns, nessas relações ordinárias da vida.
Aos 44 anos, a mudança de vida
Imagino que todos nós sentimos essa necessidade de extrair sentido da vida e, para mim, é no trabalho. Ser empreendedor social aos 44 anos foi a grande oportunidade que eu tive, sinto isso com muita clareza e, por isso, o encontro com a Ashoka foi um divisor de águas. Recebi um telefonema da Mônica (de Roure, diretora da Ashoka). Passei por todo o rito de entrevistas e fiquei sabendo que era um empreendedor social.
P – O que representou o processo de seleção? Foi importante?
R - Minha vida era...
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P – Diga, por favor, o nome completo, data e local de nascimento. O nome e o local do projeto.
R - Meu nome é Gilberto de Palma Augusto. Trabalho no Instituto Ágora, em Defesa do Eleitor e da Democracia, em São Paulo. Nasci em 27 de julho de 1955. Eu tinha 44 anos quando a Ashoka me descobriu, porque eu nem sabia o que era um empreendedor social.
P – Como estava sua vida, quando a Ashoka te encontrou? E como é que foi esse encontro?
R - Eu fui professor durante toda minha vida. Eu mal saí da escola e já entrei na escola, apenas mudei de lugar. Esse foi meu primeiro emprego, como professor, na rede pública, em lugares carentes. E depois de muito tempo, mais de 10 anos e cansado de ser aviltado no meu salário e ser desrespeitado, não pelos alunos e pelo meu meio, mas pelo país em que vivemos, resolvi mudar de emprego, mudar de vida. Abri uma editora e disse para mim mesmo: “Vou ser empresário”. E minha vida de empresário foi rapidíssima. Um verdadeiro fracasso na área empresarial. O empreendedorismo foi minha terceira descoberta na vida. Só que tardiamente, para uma pessoa com a visão de que devemos descobrir o que confere sentido à vida. Eu me sinto uma pessoa profundamente religiosa, embora não tenha religião. E não sei onde vou ancorar meu barquinho nessa questão espiritual. Então, tenho que extrair sentido da vida na própria vida, nessas relações comuns, nessas relações ordinárias da vida.
Aos 44 anos, a mudança de vida
Imagino que todos nós sentimos essa necessidade de extrair sentido da vida e, para mim, é no trabalho. Ser empreendedor social aos 44 anos foi a grande oportunidade que eu tive, sinto isso com muita clareza e, por isso, o encontro com a Ashoka foi um divisor de águas. Recebi um telefonema da Mônica (de Roure, diretora da Ashoka). Passei por todo o rito de entrevistas e fiquei sabendo que era um empreendedor social.
P – O que representou o processo de seleção? Foi importante?
R - Minha vida era muito irregular. Há momentos em que se conseguem contratos, compromissos de trabalho e se ganha dinheiro. Mas há períodos em que você fica em situação difícil perante sua companheira, sua família. Você tem que trabalhar e não há pleno emprego neste país. Aliás, eu vinha desse processo negativo junto às empresas. Eram poucos os projetos na área cultural que vingavam. E já estava até habituado a ouvir respostas negativas e andava meio triste com minha vida.
No processo de seleção eu completei as idéias que já vinha colocando em prática paralelamente ao meu insucesso na área empresarial e me dediquei a essa idéia que é o Ágora, em Defesa do Eleitor, que também é uma conseqüência do meu trabalho na área pedagógica. Quando me formei, fui ao Ministério da Educação perguntar em que poderia trabalhar. Saí de lá apreensivo porque me incumbiram de ensinar Educação Moral e Cívica (OSPB), que aparecia no currículo, mas sem Filosofia, sem Sociologia e sem Psicologia, no Segundo Grau [Ensino Médio]. Era uma imposição do regime militar, uma coisa horrorosa.
P – Depois de colocar as idéias no papel naquele processo de seleção o que aconteceu?
R - Durante o processo, houve momentos de muita insegurança. Particularmente com uma fellow que me entrevistava, que foi muito dura comigo. E resolvi ser duro com ela também e, a certa altura, pensei que estava perdido. Mas eu compreendi tudo isso, porque vinha de uma área muito competitiva, a área empresarial. Eu não gostava desse aspecto, eu não gosto disso, mas depois tive a certeza de que passaria pela seleção.
Ágora, nome inspirado na Grécia
P – Como foram os três primeiros anos a partir do processo de seleção da Ashoka?
R - Quando a Ashoka me encontrou, meu projeto era muito embrionário Eu sabia o que queria, mas eu não sabia como fazê-lo. Foi um período de ensaio. A ágora, para os inventores da democracia, na Grécia, era a praça pública onde qualquer cidadão se expressava livremente através da representação, da arte, era um espaço também da troca, de mercado, da economia. A Ashoka foi uma porta de entrada para um negócio que eu nem sabia existir. Pelo menos de forma consistente. Percebi que existe o empreendedor e o empreendimento. Por que é que eu digo isso? Porque eu tive oportunidade de conhecer empreendimentos que não me entusiasmam, que tem uma visão mais caricatural, sem grande impacto transformador.
Quando você me pergunta assim: “Como é que foi a trajetória do Ágora em três anos?” Foi a trajetória de idas e vindas, refluxos, pisadas na bola de maneira muito clara. E a grande aventura, o grande barato é poder ter isso não como traumático, mas como degrau. Só no terceiro ano que o Instituto Ágora conseguiu parceiros financeiros. Nos primeiros dois anos, foi totalmente ancorado no trabalho voluntário, que é muito irregular e problemático. O meu velho trauma na área empresarial de captação de recursos teve uma grande revelação.
Projeto ganhou vida própria
Quando eu captava recursos para um projeto que era meu, padecia de um monte de problemas, mas quando o projeto não é da pessoa que o idealizou, porque foi incorporado pela sociedade, é notória a mudança de espírito. Fica clara a promessa para a sociedade, há uma proposta séria. E o grande trabalho foi o de tentar sociabilizar o projeto, o que foi feito intuitivamente. Quando as pessoas conhecem o Ágora, comentam: “Esse negócio vale a pena”. Ora, se não é mais meu e se vale a pena, posso dizer que superei muitas barreiras e entro na sala dos empresários com tranqüilidade. O Ágora é mesmo um excelente projeto, um empreendimento viável, factível.
P – Houve altos e baixos na interação com a Ashoka?
R - No primeiro ano eu ainda não entendia direito qual deveria ser o diapasão na relação com a Ashoka. Mas eu procurei não ficar muito afoito sobre isso. Procurei descobrir os nós, na medida em que os dados iam ficando claros. E por isso, e também por necessidade de aprendizado, eu nunca faltei a um convite da Ashoka. Na verdade, recebi convites que aceitei prontamente e depois, na última hora, me ligavam falando: “Olha, a gente está dando prioridade para as turmas novas. Se você não se incomoda, vamos deixar para outra oportunidade”. Por duas vezes eu fui preterido.
Nas reuniões, muito aprendizado
Mas não importa, porque assim que me convidavam eu aceitava e era muito grato por estar no grupo. Há momentos especiais, que são de encontro afetivo. Encontro meus amigos fellows para trocar idéias. A relação com a Ashoka sempre foi muito boa, com larga vantagem para mim, que sempre aprendo. Na verdade, sempre me senti em falta com a Ashoka em certo sentido.
P – Em que sentido?
R - Nos relatórios semestrais que respondemos sempre tem uma questão do tipo: “O que você tem feito para difundir o nome de Associação Ashoka?”. E eu tenho feito muito menos do que gostaria. Porque já é uma grande luta colocarmos nosso projeto na mídia, e, sempre que isso acontece, cortam o nome dos parceiros. Estou um pouco aliviado também por essa relação de irmandade na Ashoka, que não pede nada em troca. Mas eu me sinto um pouco devedor em algum nível. Eu solicitei muito pouco da Ashoka, mas quando isso aconteceu, fui atendido muito além das expectativas.
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