IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Geyse Ribeiro de Assunção, eu nasci no Rio de Janeiro, em 14 de novembro de 1961.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Sou Administradora de Empresas com especialização nas áreas de Marketing e Sistemas de Informação. Foram as oportunidades da vida que me levaram a essa faculdade, porque quando eu quis desenvolver uma carreira profissional, procurei um curso de Programação de Computadores, e com esse curso, eu fui para a Força Aérea Brasileira (FAB). Antes disso, eu tinha feito Normal, para ser professora. Eu estava fazendo Educação na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), mas quis ser militar e fui fazer o curso no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial). Ali eu encontrei uma área mais lógica do que aquela que eu estava conduzindo na Educação. Fui para a FAB e fiquei cinco anos lá como sargento. Depois desse período, eu quis sair e procurei outra entidade que fosse um lugar estável e seguro. Fiz o concurso da Petrobras para programadora de computadores e fui aprovada. Comecei como programadora na Área Comercial. A escolha pela Administração veio em seguida por não me encontrar mais na área de humanas. Depois que eu fui para a Computação, eu não me encontrei mais dentro da Educação, nem da Psicologia, que foi uma segunda faculdade que eu comecei. Terminei Administração de Empresas e fiz especialização na UERJ, na área de Sistemas. Hoje, eu estou entre exatas e humanas. Mas houve um momento em que me dediquei somente a uma área lógica.
INGRESSO NA PETROBRAS
Meu ingresso na Petrobras foi em 1987, no Departamento Comercial. Os computadores pessoais estavam entrando no mercado e eles fizeram um concurso para contratar programadores, para dar apoio à utilização desses novos equipamentos. Nós fomos: eu e o Paulo Vital, dois programadores para um departamento. O departamento tinha uma sala com quatro computadores para servir a todos dali. Ficávamos esperando as pessoas virem usar e, desse...
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Meu nome é Geyse Ribeiro de Assunção, eu nasci no Rio de Janeiro, em 14 de novembro de 1961.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Sou Administradora de Empresas com especialização nas áreas de Marketing e Sistemas de Informação. Foram as oportunidades da vida que me levaram a essa faculdade, porque quando eu quis desenvolver uma carreira profissional, procurei um curso de Programação de Computadores, e com esse curso, eu fui para a Força Aérea Brasileira (FAB). Antes disso, eu tinha feito Normal, para ser professora. Eu estava fazendo Educação na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), mas quis ser militar e fui fazer o curso no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial). Ali eu encontrei uma área mais lógica do que aquela que eu estava conduzindo na Educação. Fui para a FAB e fiquei cinco anos lá como sargento. Depois desse período, eu quis sair e procurei outra entidade que fosse um lugar estável e seguro. Fiz o concurso da Petrobras para programadora de computadores e fui aprovada. Comecei como programadora na Área Comercial. A escolha pela Administração veio em seguida por não me encontrar mais na área de humanas. Depois que eu fui para a Computação, eu não me encontrei mais dentro da Educação, nem da Psicologia, que foi uma segunda faculdade que eu comecei. Terminei Administração de Empresas e fiz especialização na UERJ, na área de Sistemas. Hoje, eu estou entre exatas e humanas. Mas houve um momento em que me dediquei somente a uma área lógica.
INGRESSO NA PETROBRAS
Meu ingresso na Petrobras foi em 1987, no Departamento Comercial. Os computadores pessoais estavam entrando no mercado e eles fizeram um concurso para contratar programadores, para dar apoio à utilização desses novos equipamentos. Nós fomos: eu e o Paulo Vital, dois programadores para um departamento. O departamento tinha uma sala com quatro computadores para servir a todos dali. Ficávamos esperando as pessoas virem usar e, desse modo, oferecíamos a nossa ajuda, mas ninguém ia e ficávamos usando os computadores. Com o tempo, começamos a dar cursos, trazer as pessoas para visitação: "Venham visitar os computadores, ver a utilidade deles". A partir disso, o uso de computadores foi ganhando corpo. Era uma divisão de apoio, não me lembro exatamente se era uma Divisão de Apoio Gerencial, mas com certeza transformou-se em Divisão de Apoio Comercial. Minha dúvida é se em 1987 tinha esse nome. Mas era uma Divisão de Apoio de Gestão – digamos assim –, para as outras divisões que eram mais voltadas para o negócio. Fiquei nessa divisão, num primeiro momento, como apoiadora no uso dos computadores. Com o tempo, cada empregado passou a ter um computador, nós oferecíamos cursos de utilização e também começamos a estruturar o que se formou depois como um help desk, uma central de apoio, que chamávamos de tele-ajuda. Existia um ramal vermelho para quem tivesse algum problema na utilização de computadores ou precisasse instalar um software, remanejar algo etc. Fiquei uns cinco anos nessa área.
SETOR DE MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
Depois de cinco anos nesta divisão de apoio, fui chefiar o Setor de Métodos e Procedimentos, um setor de Organização e Métodos, mais voltado para padrões, definição de manuais de procedimentos, de ajuda na definição dos organogramas da atribuição de cada órgão dentro do departamento. Era da mesma divisão, isso já era Diage, Divisão de Apoio Gerencial, mas era um setor diferente. Nós tínhamos documentos bastante importantes para a área Comercial, haviaa um manual de comercialização, que depois deixou de existir. Tínhamos um manual com detalhamento de todas as atividades, funções e tarefas do faturamento como também as atribuições de cada gerência, setor, órgão, divisão. Era tudo por nós definido, como também éramos responsáveis pela manutenção e atualização das informações. A documentação da implantação, dentro do Departamento Comercial, de grandes projetos de gestão da Petrobras também estava lá. Eu me lembro que nós implantamos o DIP, Documento Interno Petrobras, uma versão eletrônica do que já eram os nossos documentos internos, que seria uma troca de cartas, ofícios etc. Já existia um projeto nesse sentido de inovação, modernização da área de gestão, era o Setime que apoiava esses projetos. Era esse o setor que definia o padrão e escrevia os procedimentos. Nós não tínhamos tantas gerências ou setores responsáveis pela comercialização, era um número muito menor. Definíamos juntos com aqueles vários elementos atuantes no processo qual era a prática que deveria prevalecer para os demais. Definíamos uma única prática e colocávamos isso nos documentos oficiais: nos manuais, nos procedimentos por escrito. Era muito mais difícil do que hoje em dia, não tinha internet, nem intranet. Não tinha nada disso, mas tinha uma forma de manter todo mundo atualizado com o mesmo procedimento: eram geradas cópias em papel e espalhadas por todas as áreas que deveriam usá-las. O faturamento, por exemplo, é executado por todas as refinarias do Brasil inteiro, cada refinaria tem um setor específico para emitir as notas fiscais dos produtos que são vendidos, como também geram faturas que fazem com que os clientes paguem e gerem a receita da Petrobras. Todas essas áreas eram chamadas núcleos de comercialização. Eles tinham que executar uma mesma tarefa, um mesmo passo a passo para emitir uma nota fiscal, para desempenhar a atividade faturamento. Da mesma forma, o pessoal da sede que se incumbia da comercialização tinha que seguir o mesmo manual, que era o manual de comercialização, um único documento para todas as áreas, todos seguiam exatamente o que estava escrito ali. Não era um documento que limitava a atuação das pessoas, se houvesse a necessidade de uma melhoria, se alguém observasse uma oportunidade de melhoria no processo, tinha que chamar o Setime – fazíamos a revisão do processo e mudaríamos o manual. Falava-se muito pouco, naquele período, obviamente, de mercado, de cliente, quase nada em termos de Petrobras. A Petrobras estava mais cumprindo uma obrigação de abastecimento da sociedade. Nosso objetivo era o abastecimento de combustíveis para a sociedade. Se através de dois clientes, três clientes, ou um, ou cem, não interessava, contanto que se cumprisse a missão de manter a sociedade abastecida. A nossa preocupação era manter os procedimentos bem detalhados para que não houvesse falhas, erros, nem dolo, nem tentativas de roubo ou de algo parecido. A nossa preocupação era essa, muito menos voltada para a satisfação de cliente e tal, não se falava nisso. Eu lembro que o nosso superintendente da área Comercial quis dar uma caneta e uma lapiseira para o presidente de outra empresa. Nós tivemos que pedir autorização ao Ministério de Minas e Energia para gastar o dinheiro dos cofres públicos na aquisição de um bem que seria doado a outra empresa. Isso era brinde, isso é o início do brinde. Hoje a Petrobras até inova em termos de brindes, nessa área de Marketing de Relacionamento. No início era muito mais difícil, mais limitado. Eu imagino que isso tenha sido entre 1990 e 1992, por aí, nesse intervalo. Nós éramos do Setime, Setor de Métodos e Procedimentos, que ficava na Diage, Divisão de Apoio Gerencial. Além da Diage, existia a Diplan, a Divisão de Planejamento, a Difin, que é a Divisão Financeira, que cuidava também da gestão de todo o faturamento. Todos os núcleos eram geridos por essa Difin. A parte de créditos também era feita pela Difin. A Dinave, Divisão de Abastecimentos a Navios, também já existia. Existiam duas gerências de comércio exterior: uma para petróleo e outra para derivados. Existia uma única divisão que fazia a comercialização, aliás, era uma Divisão de Comercialização no Mercado Interno, que pegava tanto a parte de comercialização quanto a parte de logística que, também, era dentro dessa mesma divisão. Disupe era o nome da Divisão de Suprimento. Não existia venda, não existia mercado; era o suprimento do mercado brasileiro, da sociedade brasileira. Era o suprimento do país em termos de energia.
COTIDIANO DE TRABALHO
Eu queria fazer um histórico com relação à cliente, Marketing de Relacionamento etc. Nós tínhamos o que chamávamos de reunião de suprimentos. Nesta reunião, participavam o pessoal da Petrobras e representantes dos clientes. Os clientes são empresas distribuidoras. Os representantes dessas empresas, nós chamávamos de coordenadores, eram coordenadores de uma região geográfica. O mesmo coordenador representava três, quatro empresas naquela região. Era ele quem falava com a Petrobras, e a empresa definia os volumes para esse coordenador passar para as distribuidoras. Era esse o único contato com o mercado, isto é, a reunião de suprimentos com os coordenadores das companhias.
ABERTURA DO MERCADO
Com o tempo, nós começamos a nos capacitar mais, a nos preparar mais para o mercado aberto, com as mudanças da legislação, a quebra do monopólio de direito – porque, de fato, no Brasil, ainda não vivemos em um mercado competitivo, em termos de combustíveis, mas a legislação permitiu que outros viessem atuar no mercado brasileiro e se transformassem em concorrentes da Petrobras. A partir da reunião de suprimentos, criamos outra, com os clientes efetivamente. Foi um momento bastante difícil pela mudança cultural, para trazer clientes. Fazíamos uns fóruns. Eu lembro de quando nós começamos a fazer festas no fim de ano, contratávamos cantor para animar a festa de clientes. Os primeiros eventos foram bem marcantes. Eu me lembro da contratação do Emílio Santiago, a dificuldade que foi para a Petrobras fazer aquilo: um contrato com um cantor para uma festa Coisas bem difíceis na época, mas nós fomos nos acostumando a atuar no mercado competitivo: Marketing de Relacionamento, satisfação dos clientes. A primeira coisa é cliente, não é? Colocar na cabeça das pessoas essa palavra, esse conceito de cliente foi uma coisa bem interessante. Naquele momento de quebra de monopólio, da mesma forma que a legislação permitiu que outros players entrassem no Brasil para concorrer com a Petrobras, permitiu que outros distribuidores também fossem criados no Brasil para concorrer com aqueles poucos clientes que nós tínhamos. Nesse momento, já havia sido criado o Abastecimento. Com o Abastecimento foi criado o Decom, o Departamento Comercial, mais o Depin, que era o Departamento Industrial e mais o Detran, que era o Departamento de Transportes. Decom, Depin e Detran se fundiram e foi criado o Abastecimento, um único abastecimento. No Abastecimento, nós tínhamos uma área de Marketing e Comercialização – onde nós continuamos –, e a parte de Logística, Refino, Petroquímica, Corporativo – como temos até hoje no Abastecimento. Mais uma vez uma única divisão, só que agora não era mais uma divisão que cuidava de comercialização e logística, porque a logística ficou separada, junto com o transporte, que veio da área da Detran, numa gerência-executiva chamada Logística, mas tínhamos uma única Gerência de Comercialização, chamada Gecomb. A Gecomb era a Gerência de Comercialização de todos os produtos combustíveis. Ali tinham dois setores: Secomb I e Secomb II. O Secomb I, com os combustíveis claros: gasolina, diesel, QAV (querosene de aviação), mais os escuros: óleo combustível, o coque e mais GLP (gás liquefeito de petróleo), que é o gás de cozinha. Estavam ali num único setor. O outro setor cuidava de álcool, estava se iniciando a energia alternativa através do álcool da cana nesse segundo setor. Nesse primeiro setor nós fazíamos o quê? Nós recebíamos os pedidos que os clientes colocavam para a Petrobras em termos de volume que eles iam receber de combustíveis nos próximos períodos. Esses pedidos, além de vir para a Petrobras, tinham que ser enviados também para o DNC – Departamento Nacional de Combustíveis. Era o DNC que homologava, que definia o volume que cada distribuidor iria receber. Depois o DNC passou a ANP - Agência Nacional de Petróleo. Não tínhamos contrato com os clientes, o que nós tínhamos era a celebração de pedidos através do Diário Oficial da União. Saía no Diário Oficial da União o que cada cliente iria receber. Nós tínhamos um aparelhinho de fax que recebia os pedidos num determinado dia do mês; no dia 25 do mês os clientes mandavam os pedidos, eram nove, oito clientes. O papel fazia trim, trim, trim, pronto, chegavam os pedidos de todos os clientes. De repente, o mercado muda e nós passamos a ter 180 distribuidores, 180 clientes e aí não era mais trim, trim, trim. Era uma coisa maluca com papel embolando e nós não sabíamos mais onde aquilo ia parar. Eu, com minha origem de tecnologia, falei: "Não podemos ficar assim, temos que desenvolver alguma coisa". Foi aí que começamos a usar a tecnologia da internet, que era usada pelo meio acadêmico. No desenvolvimento da medicina também era muito usada, nos Estados Unidos era usada para fins bélicos. Aqui no Brasil não se falava de internet, não se falava nada disso. Mas com a Petrobras, com acesso, patrocínio, estudos, nós começamos a conhecer mais. Criamos, primeiro, uma planilha que deveria ser preenchida pelos clientes com os pedidos e eles passaram a transmitir esses pedidos pelo iniciozinho do que seria a Internet. Em seguida, a Internet rapidamente começou a entrar no país com maior facilidade de utilização. Nós desenvolvemos então o site de comércio eletrônico, que é o Canal Cliente – Petrobras.
CANAL CLIENTE-PETROBRAS
O Canal Cliente–Petrobras foi criado em 1999 ou 2000. No site, os clientes começaram a colocar os pedidos, a definição das cotas – que era o pedido depois de processado dentro dos direitos de recebimento de cada distribuidor. Começamos a desenvolver mais o site, colocamos o certificado de análise de produto, colocamos as atas das reuniões que aconteciam, colocamos a programação de cabotagem etc. Hoje, o site tem dois mil acessos por dia. Como é um site de um seguimento, de relacionamento industrial – nosso seguimento é industrial –, então é considerado de uma utilização expressiva. Porque num ambiente empresarial você não tem motivo para estar entrando num site para papo, chat ou notícias que se modificam tanto. A nossa indústria não se modifica tanto assim. Mas os clientes conseguem ter ali todo o processo comercial, operacional, financeiro, todo o acompanhamento do produto. O Canal Cliente é hoje conhecido no Brasil inteiro e fora também. Temos alguns prêmios bastante importantes na área de Marketing, na área de Tecnologia também, por conta do Canal Cliente. Mas outras áreas, também de relacionamento com os clientes, passaram a se desenvolver, desde então. Foi criada a pesquisa de satisfação dos clientes, que já tem dez anos . Anualmente, acontece essa pesquisa, levantamos dentro de diversos constructos atributos de valor para o cliente e aí questionamos como está o nível de desempenho da Petrobras nesses atributos. Em cima dessas pesquisas, nós fazemos grandes direcionamentos da Companhia. Foi criado nesse momento também o SAC – o Serviço de Atendimento ao Cliente, uma central telefônica de 0800. Hoje, são 45 atendentes que se revezam em 12 postos de atendimento, 24 horas, por sete dias da semana. Também são utilizados recursos de portadores de necessidades especiais; desde a criação, o SAC é composto com pessoas deficientes físicas. Cada vez mais, tem evoluindo a importância disso para a Petrobras. O que era no início uma obrigatoriedade de lei, com a implantação de ouvidorias, serviço ao consumidor, se tornou um grande direcionador para a Petrobras.
ENTREGA DE PRODUTOS
A Petrobras entrega produtos nos diversos pontos onde há clientes para receber. Alguns pontos são próximos de refinarias da Petrobras e outros pontos são mais afastados. Nós chamamos de modal de entrega a forma de passar os produtos para os clientes. Temos o modal dutoviário quando o local que vai receber o produto está perto da refinaria que é levado por um duto: abrimos uma válvula, uma bomba, onde o produto passa e vai sendo registrado tudo, terminado o envio, se fatura aquela quantidade do produto que passou; esse é o modal dutoviário. Tem o modal rodoviário, onde os clientes mandam os caminhões e eles são carregados nas nossas estações de carregamento rodoviário, chamadas de ECR. Carregamos ali o combustível todo e vamos levando para uma base secundária. Essas bases onde nós entregamos os produtos são chamadas de bases primárias, porque levam para as bases secundárias em qualquer ponto próximo ali. Ou eles vão por cabotagem. Na cabotagem, eu encho um navio em Santos e vou entregar esse produto em Suape, em Pernambuco. Eles vão por navio. São viagens na costa próxima, são viagens de cabotagem. Entregamos também modal ferroviário e fluvial, por barcaças.
VENDAS / PROCEDIMENTOS
Todos os produtos passam pelo Canal Cliente. Vou falar um pouco da minha memória sobre os instrumentos de venda. Antes, a venda acontecia por determinação da ANP (Agência Nacional de Petróleo) e do DNC (Departamento Nacional de Combustíveis). Eles definiam os volumes e as condições de entrega e publicavam no Diário Oficial da União. Houve uma época em que nós começamos a escrever contratos com cada distribuidor sem a presença do órgão regulador. Isso depois da quebra do monopólio. Começamos a desenvolver contratos. Nesses contratos, nós definíamos os volumes: como esses volumes se modificariam com o tempo, se poderia, por exemplo, aumentar o volume do mês, que viria mais ou menos em 10% da previsão que você fez sobre esse recebimento. É uma indústria muito complexa. Não dá, por exemplo, para exigir num dia: "Amanhã eu quero um milhão de litros", e no outro dia: "Eu não vou querer mais um milhão de litros". Porque eu comecei a produzir o milhão de litros ou me preparei para importar um milhão de litros. E quem fica agora com esse custo? As condições comerciais passam muito por limitações nesse sentido, dependendo da troca, se ela pode acontecer ou não, a mudança que você planejou pode acontecer dentro de certos limites, senão cria um prejuízo grande. Começamos a desenvolver os contratos gerais de venda, o CGV. O contrato geral de venda é algo que todos os clientes podem ter, inclusive um novo cliente, porque esse é o básico de tudo. Temos outros contratos particulares que o cliente pode ter acesso, ou por tempo de relacionamento, ou pelo volume que ele compra. Mesmo que ele tenha muito tempo de relacionamento, mas se o volume que ele comprar for muito pequeno, não se justifica um contrato particular, ficando assim nas condições gerais de venda. Hoje, nós temos contratos diferentes para os mesmo seguimentos de produto, e contratos mais diferentes quando os seguimentos de produtos são outros. Por exemplo, dentro da área de gasolina e diesel, nós temos um conjunto de contratos possíveis. A diferença de contratos vai acontecer principalmente em condições de pagamento, faturamento, flexibilidade para alterar o planejamento. Dessa área de “claros” – gasolina e diesel – para outro seguimento de produtos, por exemplo, os especiais como lubrificante e parafina, você encontra uma diferença muito maior. Existem contratos bem diferentes. Mas o interessante é que todos saíram de um mesmo setor, de uma mesma divisão. De repente começamos a ter uma divisão para cada segmento de produto e instrumentos contratuais diferentes. Aqueles antigos manuais que eram de grande valia ficaram de lado, se tornaram obsoletos. O manual de comercialização é de 1993, a última revisão. E o manual de faturamento, a última revisão é de 1996.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Recentemente eu saí dessa Área de Relacionamento com o cliente, eu estava como Gerente de Relacionamento com o Cliente, que tinha o desenvolvimento do Canal Cliente, mais o SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) e mais as reuniões, o Marketing de Relacionamento, os eventos com os clientes. Eu saí dessa área e fui para o Suporte à Comercialização. Saí da Gerência de Relacionamento com o Cliente para a Gerência de Suporte à Comercialização Interna. Foi uma decisão superior, mas eu estou muito feliz porque é muito bom mudar de vez em quando. Eu estou voltando a pegar esses manuais, vendo a importância de ter balizadores das condutas, processos, atividades, fica muito mais fácil para todo mundo trabalhar dessa forma. Nessa gerência, nós vamos fazer de novo a revisão desses manuais e tentar ter um balizador das condutas, como tínhamos há anos.
CRISES ECONÔMICAS
Isso é interessante porque na realidade nós temos tribos diferentes dentro da Petrobras. Têm pessoas que a atuação dentro da Companhia fica mais afeta com esses cenários de mercado e têm pessoas herméticas, que independem disso. Nossa área, a Comercial, a área de trade, de venda, de comercialização, sempre esteve muito preocupada com rentabilidade, em ter os maiores ganhos para a Companhia. Por quê? Porque ao comercializar cargas falamos de centavos; as diferenças, às vezes, estão em centavos. Esses grandes movimentos de despesas, de momentos de glamour da Petrobras, nós sempre ficamos meio resistentes a eles, porque nós sabemos o valor que isso tem na hora de uma negociação, o quanto é difícil trazer essa rentabilidade para a Companhia. Nos momentos em que a Petrobras passou por situações financeiras ruins, nós vimos a escassez dos recursos, como o mobiliário de aço que nós tínhamos e nós não conseguimos comprar outro novo. Cada vez que queríamos uma mesa melhor, íamos ao depósito lá embaixo, no térreo, para escolher uma cadeira, uma mesa melhor. Eu me lembro de quando nós começamos a receber clientes, eu procurei criar uma sala para reunião com clientes e nós fomos ao depósito para pegar as melhores cadeiras. Só que não tinha uma da mesma cor que a outra. Eram cadeiras totalmente diferentes, modelos diferentes, cores diferentes. Tentávamos ver o que não estava rasgado, o que não estava quebrado, mas era assim a nossa sala de reuniões. Eu lembro que nós queríamos também melhorar a entrada, a recepção, o andar onde passavam os clientes. Eu mesma fui comprar um arranjo de flores artificiais para fazer um ambiente mais requintado. Fiquei procurando alguma coisa mais ou menos mais barata e até hoje esse arranjo está lá em uma das entradas. De vez em quando eu passo e vejo: "Nossa, que troço resistente". Eu mesma fui comprar quadros alusivos às atividades da Petrobras: uma foto de plataforma ou uma foto de Urucu que tem uma clareira naquele mar de selva, com a Petrobras ali no meio daquela selva. São coisas bonitas para o cliente ver a importância das nossas atividades. Mas era muito difícil fazer aquilo, tudo era muito caro para nós. Depois teve um momento de melhoria total para a Petrobras. E nós vimos outras áreas gastando muito, mas a Área Comercial sempre muito resistente: não é isso que queremos, por causa das rentabilidades das negociações que têm que trazer um ganho realmente. Não adianta gastar tanto porque vai minimizar o lucro. Mas foram momentos bem diferentes que assistimos. Hoje, as instalações de mesas, baias, divisórias são de primeiro mundo, mas vivemos momentos bem difíceis.
CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL / 2008
Estamos reduzindo drasticamente todas as despesas da Companhia: as contratações, patrocínios, treinamentos, deslocamentos e viagens. Nós estamos num momento de contenção total de despesas para superar, para passar melhor por esse momento em que toda a economia mundial está abalada. Obviamente, nós ficamos bastante afetados, principalmente com relação ao caixa, à disponibilidade de caixa. É um momento bem sério e bem diferente que estamos passando. As reuniões, que antes eram feitas presencialmente, mudaram – porque nós somos uma empresa que atua no Brasil inteiro. A nossa gerência de suporte à comercialização faz a organização de um encontro trimestral de alinhamento de toda área comercial e de faturamento, esses encontros eram feitos presencialmente e agora eles são feitos por meio de vídeo conferência para minimizar os custos de deslocamento, de hospedagem das pessoas, de contratação de locais. Contratávamos hotéis para fazer essas reuniões, e agora fazemos por meio de vídeo conferência.
CLIENTES DA PETROBRAS
Quem são os clientes da Petrobras? As empresas que compram o produto que a Petrobras como refinadora oferece. Por força da nossa legislação, a Petrobras não pode levar o produto até o consumidor. Ela tem que refinar e passar para um distribuidor. A própria Petrobras, o Sistema Petrobras, tem a Distribuidora BR. A BR é outra empresa, embora subsidiária integral do Sistema Petrobras. Mas ela é um cliente, ela tem um CNPJ próprio e nós a encaramos como cliente. Quando eu falo “tem um contrato com os distribuidores, tem um contrato com a BR”, o distribuidor tem que colocar o pedido no Canal Cliente para receber o produto, a BR também tem que fazer isso lá no dia 25; no dia tal ela tem que fazer isso. Nós emitimos uma nota fiscal para cada operação de entrega independente do modal, para cada cliente, a BR também recebe. De tudo isso a BR participa. Além da BR, existem outros clientes: a Chevron, que é a antiga Texaco, a Ipiranga, a Ale [Combustíveis] e outras distribuidoras menores. Estou falando do seguimento de combustíveis porque as pessoas conhecem mais porque abastecem seus carros. Mas temos também o GLP, que é o gás da cozinha. A Ultragás, a Copagás, são empresas que fazem a distribuição da GLP no botijão, são clientes da Petrobras. Na área de produtos industriais, grandes empresas utilizam os produtos da Petrobras no seu processo produtivo, também são clientes. A Petrobras tem duas refinarias, duas fábricas de fertilizantes na Bahia e em Sergipe. O maior número de clientes da Petrobras está nesse segmento de fertilizantes. Temos grandes distribuidores de fertilizantes e temos pequenos fazendeiros também comprando da Petrobras. Nessa área de fertilizantes, nós podemos chegar até o pequeno fazendeiro. Tem a área de produtos especiais: lubrificantes, parafinas, enxofres, todos esses produtos nós vendemos para grandes distribuidores, grandes empresas. Esses são os nossos clientes.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Tem tantas histórias interessantes. Vou contar uma que eu lembrei que é a seguinte: dentro do Canal Cliente, nós desenvolvemos um módulo para agendamento do carregamento rodoviário. Eu tinha dito que um dos modais de entrega de produto é o rodoviário: o cliente manda o caminhão dele porque a entrega é FOB – free on board, quer dizer, a Petrobras não se responsabiliza pelo frete. O cliente manda o caminhão para carregar nas nossas instalações. Na hora que ele carrega, pesamos o caminhão vazio e depois pesamos o caminhão cheio. A diferença é o produto. Emite-se uma nota fiscal ali na hora, enquanto o caminhoneiro espera para pagar o referente àquele carregamento. Nas refinarias, às quatro horas da manhã, centenas de caminhões esperam a sua vez fazendo uma fila. Quem chega primeiro vai carregar primeiro, é por ordem de chegada. Só que a refinaria começa a operar às sete horas da manhã, então já temos umas três horas de centenas de caminhões parados. Às vezes, o caminhão fica parado e não consegue abastecer naquele mesmo dia por limitações operacionais de entrega. Ou, às vezes, o distribuidor que está pedindo para receber aquele produto não tem condições de crédito para receber ou de cota. Lembra que eu comentei que tem o pedido e o pedido define a cota? Ele pode estar avançado na cota, muito avançado na cota, não vai poder receber o produto e o caminhoneiro fica ali parado, às vezes, dias. Dorme ali ou então vai dormir num hotel de trânsito, num posto próximo e depois volta para tentar. No Canal Cliente, bolamos o que chamamos de CC Caminhão. Dois “C’s” porque é módulo Canal Cliente, é o módulo de agendamento do carregamento rodoviário. E como acontece? O distribuidor, um dia antes, entra no site e fala: "Amanhã eu vou mandar o caminhão placa tal". Na hora que ele escolhe a placa, o sistema já sabe a capacidade daquele caminhão, quantos compartimentos ele tem, aqueles cilindros. Na área urbana é mais comum aquele de único cilindro, único compartimento, mas existem caminhões com cinco, três compartimentos diferentes, que podem ser colocados produtos diferentes. Quando ele escolhe uma placa, sabemos quantos compartimentos, qual a capacidade de cada compartimento e o que cada compartimento pode carregar. Permitimos que o cliente, lá no site, ainda defina o que ele vai levar e em quais compartimentos. Quando ele define isso, vai ao sistema SAP, que é o sistema que guarda todas as informações, e faz a consistência de crédito, de cota e vai também pegar uma fila de utilização da ECR (Estação de Carregamento Rodoviário). Ele vê quantos caminhões nós podemos abastecer no mesmo dia, qual o tempo médio de abastecimento de cada caminhão, de cada compartimento, quanto tempo cada caminhão vai ficar ali. É como uma agenda de médico. Tudo ali se define: "Ok, está tudo certo com o seu agendamento, o seu número é tal e chegue à Petrobras nos seguintes horários: sete e meia, nove meia etc.”, no horário que tiver disponível; é como uma agenda médica. Ele escolhe um horário daqueles e esse horário não aparece mais para aquele distribuidor que está agendado para aquele horário específico. Com isso, nós acabamos com as filas. Criamos uma inovação não só na Petrobras como na indústria, porque isso não existia. As indústrias sofrem da mesma forma que a Petrobras: são aqueles caminhões parados, um perigo muito grande em termos de segurança, porque são produtos explosivos, produtos que têm uma gravidade muito grande. E o caminhão com resíduos de combustíveis parados no sol, etc., o caminhoneiro cansado dia após dia ali, isso tudo cria uma situação muito ruim. Criamos essa inovação na indústria toda de caminhão com hora marcada para carregar. Eu fui visitar uma refinaria nesse processo de implantação, de desenvolvimento dessa ferramenta. Eu cheguei lá nessa salinha toda de vidro que chamamos de sala do balanceiro, porque ali fica o cara responsável por olhar a balança. A balança está no meio da rua, embaixo do caminhão, então aquele troço enorme, aquela chapa enorme do tamanho da rua inteira... O caminhão chegou, o balanceiro dentro da salinha de vidro, no ar condicionado, olha de lá: "Ok, pode carregar". Ele entra, vai lá na estação, carrega, volta e pesa de novo, sobe de novo na balança. Ele olha: “OK, estaciona ali e aguarda”. E vai aguardar. O balanceiro vai emitir a nota fiscal com aquela diferença de quanto pesou na entrada e quanto pesou na saída. Depois vai entregar para o motorista. E nós estávamos, as pessoas da sede, só olhando o procedimento para ver o que precisávamos desenvolver nesse sistema, como é que o sistema ia se adequar à rotina deles. E o balanceiro, obviamente, muito preocupado, pensa: "O que essa gente da sede está fazendo aqui, arrumados desse jeito?” Nós nos vestimos diferentes, o olhar é diferente. “Eu não sei o que é, mas eu estou preocupado, tem alguma coisa aí que vai surtir para mim". E aí ele quis mostrar um trabalho. Ele chegou, entregou a nota fiscal por uma portinha – aquela portinhola –, pro caminhoneiro que estava lá, anotou a placa e disse: "Muito obrigado por abastecer na nossa base". O motorista botou a boca ali bem no buraquinho e falou: "Tá assim agora aqui, é? Tá melhorando, hein? Isso nunca aconteceu" (risos). Foi uma cena pitoresca desse trabalho todo. Vemos as pessoas com medo da sede, com medo do pessoal da matriz. O pessoal da filial sempre tem medo. Coitado, ele tentou mostrar que tinha um serviço diferenciado ali, mas o motorista não deixou. Foi muito interessante.
RELACIONAMENTO COM CLIENTES
Nós estávamos num grupo que chamávamos de atendentes de clientes, de gestores de clientes. Tínhamos poucos clientes e cada um era responsável por atender, fazer a gestão de um dos clientes. Eu era responsável pela Shell e fazia a comercialização de todos os produtos, eu e a Shell. Tinha outro colega, o Fázio, que era ele e a distribuidora dele; a Rosana também. Todos os dias íamos ali fazer aquele dia-a-dia com o cliente, se carregou, não carregou, se a cota estava em dia, se estava avançada, não estava, se ia ter parada, se ia cumprir o bombeio, como estava a questão do crédito, das notas fiscais. Fazíamos de tudo nesse dia-a-dia todo com o cliente, até que desenvolvemos o Canal Cliente. Muita coisa que era feita por telefone, por esse atendimento bem robotizado, foi substituído pelo site, pelo Canal Cliente. Hoje o cliente consegue fazer tudo pelo site, inclusive vê as notas fiscais, vê como está o status do crédito, vê os pagamentos, faz os pagamentos, pega os boletos bancários. A estrutura de atendimento continua existindo. Para cada cliente ou um conjunto de clientes. Só que agora o trabalho deles é mais de agregação de valor, é mais de perceber oportunidades de parcerias, de verificar pontos chaves de valor para o cliente, o porquê que a Petrobras não está atendendo, como podemos mudar os processos. Não existe mais aquele atendente de falar número como era no passado. Esse atendente foi substituído pelo Canal Cliente, pelo site.
Acho que falei tudo desse processo de mudança. e quanto o cenário regulatório trouxe de evolução para a Petrobras. Embora a Petrobras não esteja efetivamente inserida no mercado competitivo, ela está em condições disso, estamos prontos. E isso foi muito importante para a Companhia e para os profissionais. Isso nos deu uma capacitação enorme. Hoje, eu recebo convites para falar em congressos, entrevistas de revistas de relacionamentos com o cliente, o consumidor moderno, que não é a nossa área de atuação. Não somos uma empresa varejista, somos uma empresa de marketing industrial, relacionamento industrial, de relação empresa com empresa. Mas conseguimos evoluir bastante nesse cenário. Que venha a concorrência porque a Petrobras está pronta
FAMÍLIA
Sou casada, faço18 anos de casamento em dezembro [2008]. O nome do meu marido é Amaro. Há quase dois anos, eu adotei duas crianças, a Larissa e a Letícia. A grande inovação na minha vida é a maternidade, estou curtindo muito. A Letícia está com seis anos e a Larissa, a irmãzinha dela, está com quatro anos, vai fazer cinco no dia 19 de dezembro. Essa é a minha nova atuação na vida, depois de tantas coisas que já desenvolvi, mas a minha maior novidade agora é ser mãe da Larissa e da Letícia.
MEMÓRIA PETROBRAS
Achei muito legal. É um projeto muito importante. Realmente, ficamos penalizados de ver tanta coisa que passa, tantas informações, estruturas, momentos que passam e as pessoas se esquecerem. Às vezes, elas nem estavam ali para ver ou nem tiveram acesso a alguém que estivesse, que tivesse participado. Houve um período em que as coisas aconteciam mais lentamente na Petrobras e nós conseguíamos que antes de um colega se aposentar, outro ficasse perto dele até reter todas as informações. Hoje em dia é tudo muito rápido, a empresa cresceu demais e, infelizmente, tem muita coisa indo embora com os profissionais que se aposentam. É bastante interessante esse trabalho de deixar escrito, gravado essas memórias, esse conhecimento que desenvolvemos na Companhia.
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