Meu nome é Geraldo Francisco Borges, nasci em São Domingos do Prata, Minas Gerais, em 3 de dezembro de 1949.
Eu comecei a trabalhar na Petrobras quando eu fiz concurso na Regap [Refinaria Gabriel Passos] lá em Betim, Belo Horizonte. Passei no concurso mas não fui admitido lá em Belo Horizonte, fiquei no quadro de reserva e me ofereceram uma vaga para cá. Eu não conhecia nada no litoral, mas vim conhecer. Me deram um dia pra conhecer o local, eu conheci e gostei. Deixei lá a Usiminas – eu tinha passado na Usiminas, mas deixei – abandonei e vim pra cá. Conheci aqui no dia do meu aniversário: 3 de dezembro de 1973. [Foi] presente de aniversário. [Eu estava] recém-formado. Como eu tinha me formado em instrumentação, eu entrei como instrumentista, inicialmente como instrumentista estagiário, porque naquela época você entrava e ficava um ano como estagiário. Fiquei como instrumentista por um ano e meio, depois fui promovido a instrumentista de sistemas, que era um nível um pouco acima. Fiquei nesse cargo até 1980 e poucos, quando fui promovido a mestre de instrumentação. O instrumentista trabalha fazendo manutenção em equipamentos, proteção dos grandes equipamentos, [como] bombas e motores, toda essa parte de controle e automação dos equipamentos de grande porte.
Hoje estou na parte de supervisão de manutenção, mas na área elétrica e de instrumentação. Eu apóio o coordenador na parte de supervisão da manutenção aqui do Terminal. Trabalho mais na parte de controle agora, parte de acompanhamento do pessoal da manutenção, não mais diretamente no campo, mas na parte de controle da manutenção em si, como um todo. [A equipe com quem eu trabalho] é responsável pela manutenção desses equipamentos, manutenção elétrica, instrumentação e automação de todo o Terminal de São Sebastião.
Nós sabemos que aqui é o maior terminal da América Latina. A gente abastece quatro refinarias aqui do Estado de São Paulo. Nós temos...
Continuar leituraMeu nome é Geraldo Francisco Borges, nasci em São Domingos do Prata, Minas Gerais, em 3 de dezembro de 1949.
Eu comecei a trabalhar na Petrobras quando eu fiz concurso na Regap [Refinaria Gabriel Passos] lá em Betim, Belo Horizonte. Passei no concurso mas não fui admitido lá em Belo Horizonte, fiquei no quadro de reserva e me ofereceram uma vaga para cá. Eu não conhecia nada no litoral, mas vim conhecer. Me deram um dia pra conhecer o local, eu conheci e gostei. Deixei lá a Usiminas – eu tinha passado na Usiminas, mas deixei – abandonei e vim pra cá. Conheci aqui no dia do meu aniversário: 3 de dezembro de 1973. [Foi] presente de aniversário. [Eu estava] recém-formado. Como eu tinha me formado em instrumentação, eu entrei como instrumentista, inicialmente como instrumentista estagiário, porque naquela época você entrava e ficava um ano como estagiário. Fiquei como instrumentista por um ano e meio, depois fui promovido a instrumentista de sistemas, que era um nível um pouco acima. Fiquei nesse cargo até 1980 e poucos, quando fui promovido a mestre de instrumentação. O instrumentista trabalha fazendo manutenção em equipamentos, proteção dos grandes equipamentos, [como] bombas e motores, toda essa parte de controle e automação dos equipamentos de grande porte.
Hoje estou na parte de supervisão de manutenção, mas na área elétrica e de instrumentação. Eu apóio o coordenador na parte de supervisão da manutenção aqui do Terminal. Trabalho mais na parte de controle agora, parte de acompanhamento do pessoal da manutenção, não mais diretamente no campo, mas na parte de controle da manutenção em si, como um todo. [A equipe com quem eu trabalho] é responsável pela manutenção desses equipamentos, manutenção elétrica, instrumentação e automação de todo o Terminal de São Sebastião.
Nós sabemos que aqui é o maior terminal da América Latina. A gente abastece quatro refinarias aqui do Estado de São Paulo. Nós temos aqui quatro berços que recebem navios de grande porte e nós bombeamos petróleo pra quatro refinarias: a Replan [Refinaria do Planalto Paulista], a Revap [Refinaria Henrique Lage], a RPBC [Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão] e me fugiu da memória agora a outra refinaria. São quatro refinarias do Estado de São Paulo. Fazemos a manutenção de bombas de grande porte, motores de alta potência, motores realmente que consomem muita energia, que são motores de grande porte, de 8125 cavalos. Bombas que bombeiam 5 mil metros cúbicos de petróleo por dia, isso um de nossos sistemas. Por isso é o maior terminal da Petrobras, o maior da América Latina.
Cheguei aqui bem no início do Terminal, morando em Caraguatatuba. A Petrobras trouxe realmente dinheiro, porque na verdade traz movimentação, traz mais pessoas. No início aqui tínhamos muita gente própria da Petrobras mesmo; quando eu entrei aqui eram só funcionários próprios, não existia terceirização. A movimentação de dinheiro era bem grande, porque o salário do pessoal naquela época era melhor do que hoje, bem melhor. Havia [uma] movimentação muito grande de pessoas aqui e de capital que a Petrobras trouxe para cá com esse pessoal. Além de empregos para as outras áreas, porque na verdade, quando você traz um grupo de pessoas com um salário razoável você acaba gerando mais emprego na região. Então isso foi gerando mais empregos, depois vieram as obras de ampliação do Terminal, mais dois bombeios foram instalados aqui. Quando eu cheguei só existia um bombeio e um segundo bombeio estava iniciando, um segundo parque de bombas. Depois foi montado um terceiro parque de bombas de grande porte, então com isso vieram as obras. Foi feito um novo oleoduto que levou o petróleo daqui para Guararema; então isso também trouxe várias empresas que vieram fazer esse trabalho aqui. Então trouxe movimentação para a cidade, a cidade evoluiu com isso, cresceu; Caraguatatuba também cresceu junto, porque há muita gente daqui morando em Caraguatatuba. Foi um crescimento para a região como um todo.
No Terminal eu acompanhei a ampliação das áreas, porque quando eu cheguei aqui tinha a gleba A e a gleba C; depois foi adquirido um terreno ali, ampliado para a gleba D. Foram mais 10 tanques colocados. Havia um bombeio só e o outro iniciando, que era o bombeio do Osbat [Oleoduto São Sebastião], que bombeava para RPBC e estava sendo instalado o bombeio do Osplan [Oleoduto do Planalto] que abastecia a Replan. Nesse período foi instalado o bombeio do Osbat que é o maior bombeio que nós temos aqui hoje, que leva petróleo e abastece a Replan e a Revap. A Osplan depois ficou nessa área e teve uma grande ampliação. Houve também a construção de linhas novas para esse Osbat. Foi feito um novo oleoduto, de 42 polegadas, que é um grande oleoduto também que bombeia os cinco mil metros cúbicos paras duas refinarias do Estado de São Paulo. Essa foi uma das evoluções.
Eu participei da montagem da instrumentação, acompanhei a montagem dos painéis desse novo sistema, do Osplan. Eu acompanhei também quando os ingleses vieram aqui montar o sistema de bombeio, acompanhei parte da instrumentação, da automação. Fiz muita manutenção nesses sistemas nesse período aí em que eu trabalhava no campo diretamente atuando nesses bombeios. No início o Osplan tinha um engenheiro inglês aqui que estava montando o sistema e eu acompanhava a montagem para depois fazer a manutenção. Na verdade, nessa época, o grupo de instrumentação era pequeno, tinha eu e mais dois colegas só. A gente acompanhava esse sistema, tanto aqui como no alto da serra, em Rio Pardo, que pertencia ao Terminal na época. Cheguei a fazer muita manutenção em Rio Pardo, passava noites lá em Rio Pardo acompanhando esses sistemas, em montagem e testes desses sistemas. Depois a manutenção ficou com a gente, a gente teve que manter. O pessoal que montou foi embora. Por isso que foi muito bom pra gente esse acompanhamento, porque depois a gente teve base para continuar fazendo a manutenção dos sistemas. Eu fui um dos primeiros que trabalhei nessa área aí, pelo tempo que eu estou aqui (risos). Eram noites realmente trabalhosas, muitas vezes [eu] era chamado de madrugada, subia a serra com chuva. Já cheguei a descer a serra a pé de madrugada, até o asfalto. O carro às vezes agarrava na lama e não conseguíamos descer. Já tivemos que abandonar o carro e descer a serra, viemos até o asfalto para poder pedir socorro. Foram várias vezes. Por anos e anos a gente trabalhou fazendo manutenção e subia de madrugada, a qualquer hora, porque o sistema não pode parar. A gente tem que estar sempre alerta e, normalmente, eram dois ou três só que tinham esse conhecimento. A gente era sempre acionado pra prestar esse socorro lá em Rio Pardo; tanto na parte de bombeio quanto na parte elétrica. Os nossos colegas da elétrica subiam com a gente. A gente fazia essa parte de colocar o sistema novamente em funcionamento, porque realmente o sistema não podia ficar parado. Ficava todo mundo apavorado quando parava um sistema desse. Porque se abastece todas as refinarias, as maiores refinarias do país, então não tem como ficar parado por muito tempo. A gente tinha que resolver logo isso aí.
A mudança foi substancial, foi muito grande, porque naquela época logo que eu entrei, durante alguns anos, não se tinha essa preocupação com segurança. Eu lembro que a gente andava pelo parque e o óleo todo pelo chão. Às vezes tomávamos banho de petróleo, porque não se tinha muita preocupação com isso. Em nosso laboratório de instrumentação não se tinha problema com produtos químicos; tinha mercúrio jogado para todo lado. Tinha um monte de coisa que depois, com o tempo, foi sendo aparado, pra ir melhorando o sistema de proteção do trabalhador. Realmente, naquela época, não se tinha muita preocupação com isso. Não tinha aqueles procedimentos que mantinham essa segurança do trabalhador e das instalações. Não se preocupavam muito com o meio ambiente porque não existiam essas leis rígidas que se tem hoje. Hoje nós temos vários procedimentos, temos várias palestras, temos as normas da empresa que exigem realmente que se trabalhe sempre de olho no meio ambiente. Porque realmente o meio ambiente hoje está realmente no auge. Todo mundo fala no meio ambiente. Hoje todo mundo chegou à conclusão de que é importante, porque o futuro do nosso país é o futuro do mundo. Todos os dias se fala em proteção do meio ambiente, de evitar qualquer dano e, se necessário, parar um trabalho para poder planejar de novo para evitar danos ao meio ambiente. Algumas vezes a gente já teve que parar e repensar, para não ter problema de contaminação, o que hoje em dia é muito sério e, inclusive, traz problemas com a justiça. Há alguns nós tivemos um vazamento no píer que realmente trouxe problemas. Eu, na época, era responsável pela instrumentação e realmente tive que responder algumas questões por causa disso. Sorte nossa que estava tudo em dia, que a gente trabalhava corretamente, com a manutenção em dia; então não tivemos grandes problemas porque realmente não foi uma falha de manutenção.
Eu sou da parte de instrumentação e automação e essa parte mudou muito no Terminal. Antes nós tínhamos grandes painéis, acompanhei muito, fiz muita manutenção neles. Lá na casa de controle, aquela casa de controle lá em cima, existiam grandes painéis que comandavam todo o sistema. Hoje é tudo feito através de PLCs (Controladores Lógico-Programáveis), que fazem esse sistema, que fazem esse controle dos equipamentos; tudo operado por máquinas, por computadores. Um grupo menor de operadores é necessário pra isso. As medições de tanque, por exemplo, antigamente o operador ia no tanque e media com a trena, fazia direto com a trena. Ninguém confiava na medição Hoje nós temos um sistema de medição confiável, não há necessidade de o operador ir no campo sempre pra tomar a medição dos tanques. Isso foi uma grande evolução. O operador hoje acompanha todos os tanques da casa de controle, do sistema de controle. Esse sistema de automação veio para melhorar muito a vida e a segurança do Terminal, porque se tem alarme em todos os pontos do Terminal, em todos os equipamentos. Isso melhora muita a segurança aqui.
Para a manutenção talvez não [tenha diminuído os postos de trabalho]. A operação tem um pouco de temor disso, porque normalmente a automação vem pra diminuir os seus postos de trabalho, mas aqui até que não diminuiu muito. Na manutenção também não, porque se muda de foco: ao invés de se trabalhar no campo direto, tem o pessoal que trabalha a parte de automação propriamente dita, que é uma parte mais sofisticada, que precisa de um estudo maior. Então se muda de foco, se pega pessoas de outras áreas. Aquelas pessoas que estão vindo tem que se adaptar àquelas novas áreas. Tem que estudar mais, tem que procurar avançar naquelas áreas que estão chegando. Não diminuiu o número de pessoas aqui não.
Teve uma vez que a gente estava em Rio Pardo, antigamente era [com] uma Rural Willis (risos). Naquela época tinha uma Rural ainda Nós vínhamos de lá, de madrugada, todo mundo cochilando e o motorista vinha dirigindo, aí tinha um gambá na estrada. Naquela época não se tinha muita preocupação com o meio ambiente. Passaram em cima do gambá, mataram e botaram atrás da Rural; viemos embora. Quando foi num determinado momento da estrada o colega que estava atrás dormindo deu um grito e saiu esperneando lá. Por que? O gambá não tinha morrido, começou a passar pelo pescoço dele (risos). Isso de madrugada Isso é uma coisa interessante A gente conta e dá risada, porque o rapaz, o ajudante que estava comigo naquele dia, quase morreu de susto, porque (risos) o bicho não tinha morrido Gambá é assim mesmo, ele se finge de morto, parece que morreu, mas não morreu. Quando ele levou aquele susto, aí paramos o carro, jogamos o bicho pra fora e viemos embora (risos).
Já participei [do sindicato] assim como associado, já participei das greves que eles tiveram aqui, já participei de algumas greves, sempre como associado. Na parte da diretoria não, nunca estive na parte da diretoria. Teve algumas greves. Acho que na última, aquela última greve, que foi realmente uma greve longa, realmente houve bastante sufoco, porque foram muitos dias parados e a gente ficava no sindicato, reunindo o sindicato. Aquela confusão não se resolvia. Ficamos um bom tempo com aquele medo. Você sabe que a greve traz aquele receio de você perder o emprego, todo mundo tem esse medo. A gente ficou um bom tempo de greve, não sei se foi em 1995, não me lembro a data. Eu participei de uma grande parte das greves que tiveram aqui, não diretamente, participava mais no sindicato, acompanhando o pessoal do sindicato, mas não diretamente como diretor ou qualquer coisa. Acho que [na relação com a empresa] mudou mais a parte de diálogo. Hoje em dia se tem um diálogo maior. Depois, com as mudanças na política, o pessoal realmente deu uma freada no sindicato. O governo deu uma segurada no sindicato e houve uma mudança de política. O sindicato foi obrigado a se adaptar e passar para a parte do diálogo ao invés do confronto direto, porque realmente o confronto direto hoje em dia é meio complicado. O que mudou nessa fase aí, foi que se passou para o diálogo e não para o confronto direto.
A Petrobras me deu tudo que eu tenho praticamente, lógico que eu participei, dei bastante da minha vida pra ela, isso é lógico. É uma troca, na verdade é uma troca, [entre] a empresa e o trabalhador. Eu tenho bastante coisa, graças a Deus, vim lá de uma situação difícil quando eu comecei na Petrobras e fui crescendo, tanto na vida privada quanto no meu trabalho. Eu gosto muito da Petrobras, hoje eu estou na Transpetro, cedido, também gosto do meu trabalho, tanto é que eu estou aqui, 35 anos de trabalho e ainda estou trabalhando. E não estou preocupado com a aposentadoria ainda não.
Achei bom Daqui a pouco eu me aposento e pelo menos a minha imagem vai ficar por um tempo aí na Petrobras, mostrando que eu estive por aqui, contribuindo com essa empresa, essa grande empresa. Acho que isso é importante, deixar um pouco, porque o meu trabalho eu já deixei bastante, já contribuí muito com o meu trabalho e com meu suor aqui na empresa; agora fica a minha imagem.
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