P/1 – Gleidson, então primeiro eu queria agradecer você por dar um pouquinho aí do seu tempo pra gente.
R – É uma honra.
P/1 – É aquilo que eu te falei. Obrigado. É um bate-papo, tá? Por uma questão de identificação do vídeo, eu queria que você falasse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Antônio Gleidson da Silva Roque. Nasci em 11 de junho de 1983 aqui em Fortaleza, Ceará.
P/1 – Fortaleza mesmo.
R – Isso.
P/1 – Gleidson, fala uma coisa, antes de entrar na sua história pessoalmente, queria que você falasse um pouco dos seus pais, a sua família, o nome deles, de onde eles vieram, que eles são daqui, né?
R – Cara, minha mãe e meu pai são todos os dois daqui mesmo, do Ceará. Minha mãe do interior, de São Benedito, acho que o meu pai assim eu não tenho muita informação sobre de onde que ele é, mas eu acho que ele era daqui mesmo da capital. Aí ela veio pra cá, conheceu-o, aquela velha história. Aí a gente foi morar num bairro próximo que eu moro atual agora, que é no Bom Sucesso e de lá eu to até hoje. Vinte, 30 anos morando no mesmo bairro.
P/1 – Sua mãe veio pra cá já pro Bom Sucesso? Não entendi.
R – Não. Ela veio do interior de São Francisco pra cá, pra Fortaleza e ficou lá nesse bairro.
P/1 – Você também ficou lá? Morou lá um tempo.
R – Isso. Eu to lá até hoje.
P/1 – Como que era o...
R – Bom Sucesso.
P/1 – Então, ela já veio pra Bom Sucesso então?
R – Isso. Isso.
P/1 – Ah, entendi. Conta um pouco como é que era esse bairro aí.
R – Cara, lá é a periferia de Fortaleza. Lá é bom, não tem confusão, trânsito calmo. Não é essas coisas toda, não, mas é um local bom de se viver, né?
P/1 – Mas mudou muito de quando você era criança pra hoje?
R – Cara, mudou, mudou, mudou. Mais em relação a trânsito. O trânsito tá caótico aí. Fortaleza tá crescendo demais, tanto carro quanto moto. De alguns anos pra cá carro e moto deu um salto enorme. Deu um salto enorme e aí a gente vai acompanhando, né?
P/1 – É verdade, né? Mas pensa assim, Bom Sucesso como que era? Como foi sua infância? Você brincava na rua? Qual que era a...
R – Ah, cara, às vezes era bom demais. Apanhava dos meninos da rua, mas era bom demais. Minha infância foi assim a melhor que uma criança pode ter sido. Apanhei da minha mãe. Que hoje em dia não pode bater, não, em filho, cara. Aí por isso que os filhos fazem o que fazem com a mãe, com o pai, é porque não pode apanhar. Porque se fosse antigamente, na infância de vocês aí tinha, antigamente você apanhava, não apanhava?
P/1 – Se necessário.
R – Não é? Tá aí. O que nós somos hoje? Cidadãos decentes, não faz nada de errado. Hoje se a mãe for lá e bater numa criança: “Ai, vamos chamar a polícia ali, tal, tal e tal”. Vai lá e prende a mãe. Certo que não pode bater e dar uma surra de matar a criança, não, mas pra educar eu acho que é válido.
P/1 – Mas você aprontava muito, é isso?
R – Eu era um terror. São três, minha irmã mais nova, Michele, eu sou o do meio e o meu irmão mais velho. Se qualquer um de nós dois fizesse alguma coisa quem ia levar a culpa é meu irmão mais velho. Meu irmão era o mais calmo, quem era a ovelha negra da família? Aí, meu amigo, se eu fizesse qualquer coisa de errado minha mãe ia lá e...
P/1 – Mas conta um causo seu aí, moleque o que você fez aí? Conta uma história boa pra nós.
R – Oh, cara, tanta coisa. Acho que soltar raia. Soltar raia. Eu passava o dia soltando raia. Amanhecia, não tinha nada pra fazer, menino, ia lá com a minha raiazinha, passava um cerolzinho, colocava no ar e ficava... Chegava pra soltar raia umas dez horas da manhã, chegava em casa cinco, quatro, cinco horas. O dia todinho. Magro, preto, no sol. Aí minha mãe pegava chegava: “Gleidson, vamos pra casa, vamos pra casa, vamos pra casa...” “Não, mãe, vou já. Vou já, vou já, vou já...”. E nesse vou já ela: “Pois fique que eu vou chamar a polícia pra você”. Porque não pode soltar raia, né? Passar cerol na linha nem nada. Aí eu: “Tá certo”. Cara, questão assim de dez minutos lá vem um meninozinho correndo: “Gleidson, Gleidson, lá vem uma viatura da polícia”. Eu pá, enrolei minha linha e corri pra casa. A polícia chegou lá: “Rapaz, soltando raia aqui que não sei o que...”. E eu já estava em casa, né? Todo me tremendo. Roubava manga, sabe como é que é, né? Criança não podia ver um terreno ali murado que ia lá. Tirava uma manguinha, goiaba.
P/1 – Essas coisas continuam no bairro? Essas árvores, esse espaço.
R – Não. Tudo foi derrubado pra construir casa. Que agora o que tá dando lucro agora mais pra periferia é casa, né? Quem tem mais condições compra um terrenozinho e faz casa aí pra alugar. É lucro, né?
P/1 – E me fala, e escola? Você foi que escola? Era escola do bairro mesmo?
R – Cara, escola eu era muito danado. Já fui expulso de algumas, já passei acho que foi numas oito escolas diferentes, porque eu não queria estudar. Desde o dia que minha mãe falou: “No dia que você terminar os estudos, eu não vou lhe perturbar mais pra estudar.” “Então tá certo”. Aí pronto, dediquei aos estudos, em pouco tempo terminei. Aí ela também não falou mais nada, não. Aí vim procurar meu emprego, porque eu cheguei pra ela uma vez, disse assim: “Mãe, eu queria comprar uma bicicleta pra mim.” “Não, meu filho, eu não tenho condições de comprar a sua bicicleta agora.” “Tá certo. Eu posso trabalhar pra comprar?” “Pode”. Aí eu fui lá, arrumei um empregozinho educativo, primeiro salariozinho eu comprei uma bicicletinha.
P/1 – Do que você foi? Como que é? Trabalhar no que?
R – Trabalhei com muita coisa também.
P/1 – Não, mas no primeiro... Vamos aí, desde o primeiro e vamos embora. Vamos aí.
R – Primeiro foi com, deixa lembrar aqui, acho que foi no corpo de bombeiros, eu arrumei um estágio de seis meses. Aí saí do corpo de bombeiros, fui pra Cagece, da Cagece fui pra uma escola. A mulher achava bom porque eu era bom lá em informática e tal, perguntou se eu queria e eu fui. Passei seis meses lá também. Já costurei roupa, já passei acho que uns dois anos e meio. Aí eu peguei e desisti, que não dava pra mim, não, doía muito as costas. Aquilo não era pra mim, não. Era fascinado pelo mundo de desenho, desenhava super bem e tal. Qualquer coisa que colocasse com desenho eu ia lá e fazia o meu desenho. Aí fui, fui, fui, fui, fiz uns cursos de desenho, aperfeiçoei mais, aí fui começando aos poucos a entrar no mundo da tatuagem fazendo uns desenhozinhos aqui e acolá. Fiz uma máquina caseira escondido da minha mãe.
P/1 – Como isso?
R – Fiz uma bobinazinha de carro, um garfo, um pedaço de caneta. Aí fiz uma tatuagem num amigo meu dizendo que já sabia tatuar: “Cara, eu sou profissional.” “Mas não é, não.” “Sou.” “Pois vamos fazer?” “Vamos”. Era o cara gritando de um lado e eu todo me tremendo do outro. Fiz uma tatuagem no pé dele, até hoje ele briga comigo, mas eu já ajeitei, né? Claro. É sério.
P/1 – Mas me conta como é que foi que você foi entrando nesse meio?
R – Aí eu fui entrando no meio. Peguei, depois dessa experiência eu fiquei meio assim, um amigo meu tem um estúdio aí disse assim: “Gleidson, você não quer fazer uns bicos no meu estúdio, não?” “Mas como é que é?” “Deixa eu te ensinar a aplicar piercing e tal, fazendo a limpeza do material, colocando a bancada pra eu começar a trabalhar”. Aí eu: “Cara, eu vou”. Aí beleza então. Aí a gente foi começando aos poucos, né? Fui lá dar uma olhada no desenho, desenhar algo quando o cliente chegasse e quisesse e tal, né?
P/1 – E tem algum causo aí? Uma tatuagem... (interrupção) Então, mas me fala um causo aí de cliente. O que você já fez que foi muito louco, ou que foi um lugar estranho?
R – É. Lugar estranho tem. Mas assim, o mais louco que eu já fiz foi na mãe de um amigo meu, porque foi logo começando assim, depois que eu fui começando a fazer minhas tatuagens, eu cheguei pra ela, ela não tinha nenhuma: “Tereza, você não quer fazer uma tatuagem, não?” “Eu não. Sou muito velha.” “Não, rapaz, vamos fazer uma e tal, e tal, e tal”. E a convenci. Aí hoje, quando eu quero fazer algum desenho novo assim eu a chamo. Tá cheia de tatuagem a mulher agora. Tá cheia, cheia, cheia mesmo. “Vamos lá, Tereza. Vamos lá, vamos lá, vamos lá.” “Só mais uma.” “É. Só mais uma. Vamos lá”.
P/1 – E as suas, cara? Quem que faz?
R – Cara, eu faço as minhas com os companheiros aí de trabalho aí.
P/1 – E tem história? Qual que é? Tem a história cada uma?
R – Cara, aqui são duas rosas, uma mãozinha, né, mais religioso e um terço e uma chavezinha. Eu sou um cara que se a pessoa contar um segredo pra mim eu vou lá e guardo, né? Não espalho pra ninguém. Fica só entre eu e a pessoa que pediu o segredo. Estou conversando uma conversa: “Não, mas não fala essa conversa pra ninguém”. A gente pega e segura mais. Aí tem um dragão, uma carranca, que é aquelas máscaras japonesas da sorte, tem uma caveirazinha e tem uma perna toda fechada, uma biomecânica. E minha esposa também tem várias.
P/1 – Suas?
R – É. Um bocado. Um bocado. Se eu não a tivesse conhecido talvez eu não estivesse aqui contanto a história pra vocês, né?
P/1 – Ah, é? Por quê? Como é que foi que você...
R – Porque assim, antigamente eu me envolvia assim muito com a... Tipo “Maria vai com as outras”. “Ah, vamos fazer aquilo”. Eu pegava e ia fazer. “Ah, vamos fazer isso?”. Eu ia lá e fazia. Aí a partir do dia que eu conheci ela tudo mudou. Ela mudou minha cabeça, meu ponto de vista do mundo. Isso ai, salvou, né? E assim, foi a minha primeira namorada. Estou com ela já há 15 anos. É, eu tinha 16... Não. É, 14 anos. Eu tinha 16, ela tinha 13, a gente começou a namorar e estamos até hoje. Uma filhinha de seis anos, Ana Kelly que é a minha esposa e Gabriele que é minha filha. E na chapa, hoje ela me acompanha, viu? Fica lá sentadinha perto de mim olhando.
P/1 – É mesmo?
R – Aí quando termina eu faço um desenhozinho, uma borboletinha, pego o estêncil, colo nela lá, grudo um lápis na máquina, aí ligo a máquina e fico lá dizendo que estou fazendo uma tatuagem nela. Ela fica toda feliz. Pede pra comprar figurinha: “Ô, pai, compra figurinha de tatuagem pra mim?”. Aí eu vou lá e compro as figurinhas e colo nela. “Olha como eu tô parecida com o senhor agora”. Ela gosta. Ela gosta.
P/1 – Que legal. Você lembra como foi esse dia que você conheceu a sua mulher, a sua esposa? Você consegue descrever esse dia pra gente?
R – Ah, você é doido? Comecei a dançar quadrilha. Minha irmã me chamou e tal, eu peguei e fui uma vez pra olhar e tal aí me interessei. Achei legal e tal. Aí tinha umas meninas lá, mas pra esses cantos, né? Um cara novinho, estava atrás de mulher: “Vou lá atrás de mulher. Lá tem, né?”. Aí cheguei lá e tal, e tal e vi uma magrinhazinha no meio: “Ah, magrinhazinha bonita e tal”. Aí estava ela e a prima dela e eu e um amigo meu. Aí quando foi no final do ensaio tal, eu chamei meu amigo: “Vamos conhecer aquela mina ali?” “Vamos.” “Tal, vamos ali conversar e tal”. A gente foi conversando, aí dei um beijinho nela e tal. Desse beijo estamos até hoje. De tarde, uma rua antes da casa dela, morrendo de medo da mãe dela, tudo se tremendo, né?
P/1 – Mas não teve problema, né?
R – Mas a mãe dela era braba, viu? A mãe dela é zangada. Eu passei acho que foram uns cinco anos namorando ela escondido assim sem a mãe dela saber. Aí depois foi que eu cheguei lá e conversei com ela e tal. A gente levou devagarzinho aí, como até ela autorizou.
P/1 – E o dia do nascimento da sua filha? Você lembra bem esse dia?
R – Cara, eu tinha me acidentado de moto. Passei sete meses com a perna quebrada sem poder colocar ela no chão. Quebrou a tíbia e tal, complicou um pouco. Aí eu descobri que ela estava grávida pouco tempo antes do meu acidente. Ela passou toda a gravidez comigo lá com a perna imobilizada, não podia se mexer e tal, tal, tal. Aí quando chegou um mês antes de eu ter a minha filha, Gabriele, ela pegou e disse assim: “Não. Eu não tô aguentando mais ficar aqui na casa da tua mãe, não. Vamos alugar uma casa pra gente”. Aí minha mãe: “Não, não sai daqui, não. Fica aqui. O Gleidson tá com a perna quebrada, você vai ter essa criança, como é que vocês dois vão se virar?”. Aí ela: “Não tem problema, não. A gente vai se virar, Deus tá com a gente”. Eu: “Beleza. Então vamos”. Alugamos uma casa eu, ela, uma televisão, um tapete que nós colocamos na sala, duas almofadas pra dizer que era hippie e tal. Uma visita na casa: “Ah, vamos sentar aqui no chão que a gente não gosta de cadeira, não”. Que nada, é porque a gente não tinha. Uma geladeira, um fogão, uma televisãozinha que a gente arrumou emprestada lá. Aí pronto. Pouco tempo nós compramos televisão, sofá, essas coisas assim de mais e tal. Minha filha nasceu foi no dia 26, aí eu dormindo, né? Eu peguei: “Kelly, está se sentindo bem?” “Tô.” “Então beleza”. Eu fiquei lá deitado, peguei no sono e tal. Quando foi de madrugada ela acordou: “Gleidson, Gleidson.” “Oi.” “Tô sentindo umas dores.” “Tá certo. Quer ir pro hospital?” “Não. Dá pra aguentar.” “Tá certo”. Quando foi mais ou menos umas cinco horas da manhã ela: “Gleidson, Gleidson, Gleidson.” “O que foi? O que foi, mulher? O que foi?” “Tá nascendo.” “Ah, meu Deus do céu. Cadê? Cadê?”. Peguei o controle da televisão, discando os números lá no controle da televisão: “Alô, alô...” “Menino, isso é o controle da televisão.” “Cadê o celular?”. Saí pulando dentro de casa igual um saci. Peguei o telefone e liguei: “Rapaz, vem aqui. Vem aqui ligeiro que a Kelly tá tendo um menino”. Aí a levaram pro hospital. Aí enquanto ela estava no hospital, que foi cesárea, eu fiquei na casa da minha mãe, acho que uns dois dias. Quando ela voltou do hospital passaram lá em casa, pegaram-me e eu fui pra casa. Ela teve cesárea, aí eu a deixei dormindo na cama com a criança e fui colocar a rede. Fiquei lá pertinho delas, lá. Porque eu tinha medo se acontecesse alguma coisa e tal e eu não saber como é que ia agir a criança, aí eu peguei e deixei com ela lá.
P/1 – Legal. Gleidson, fala uma coisa, você tinha alguma história, por exemplo, qual que é a sua primeira lembrança que envolve os Correios?
R – Os Correios, cara? Cara, foi um emprego que eu arrumei na... Pode falar o nome da empresa?
P/1 – Pode, opa.
R – Credmobile. Ela presta serviço pra Caixa Econômica, tomara que o meu patrão não esteja assistindo isso aí, viu? Que a gente tinha que fazer muito depósito pra banco, essas coisas assim. Aí eu ao invés de fazer no Banco do Brasil, eu vinha fazer no Banco Postal dos Correios. Por quê? Porque demorava menos, eu conheço os caixas aqui já, a gente conversava, tinha certa amizade. Deixava aí e ficava fazendo as minhas coisas. E pro tempo reduzir, eu ficava mais tempo sem fazer nada, ia matar no Centro. Comprava material, minhas coisinhas, saía com a mulher, rodava pelo centro. Aí pronto. Vim pelos Correios. Aí pronto, agora freguês dos Correios.
P/1 – E você tem uma... É freguês hoje? Continua sendo?
R – Sempre que posso venho aqui nos Correios, ou pra fazer as minhas coisas ou então pra falar com os amigos que estão aí, né?
P/1 – Você tem vários conhecidos?
R – Tenho, tenho. Faz um tempinho que eu frequento aqui os Correios.
P/1 – Mas então você procura serviços diversos?
R – Isso, isso, isso. Em geral. Postar documentos, receber, fazer pagamentos, depósitos. O que eu sei que está fazendo aqui, ao invés de fazer em outro canto, eu venho pra cá que é mais rápido.
P/1 – Fala uma coisa, você tem alguma história de carta que você recebeu, enviou ou encomenda?
R – Uma que o cara me rejeitou. Quase que ia lá nas vias de fato com ele lá.
P/1 – Como é que é?
R – O cara... Mandei uma carta dizendo que não ia querer pagar um imposto e o cara recusou, né, a empresa lá. Eu ia querer ir lá pra uma satisfação com ele aí eu decidi não ir, não, porque senão ia mudar, ao invés de eu estar com a razão eles iam ficar com a razão, né? Aí eu desisti.
P/1 – Mas você mandou uma carta...
R – Mas eu sempre compro muita coisa, né? Celular pela internet pra chegar aqui e tal. Material pra mim também, tinta, agulha, eu faço pedido em outros cantos aí vão deixar pelos Correios lá em casa e tal. Muito bom o serviço.
P/1 – Entendi. E você tem algum causo assim, tipo uma, não sei, carta que você recebeu de amor, você mandou pra alguém, você escrevia?
R – Cara, eu não sou muito de escrever, não. Eu não gosto, não, de escrever. E assim, os Correios não foi nada de mais, não. Foi só o básico mesmo.
P/1 – Serviços, né?
R – Só os serviços mesmo.
P/1 – E-Commerce que você está usando...
R – É.
P/1 – E me fala uma coisa, por exemplo, hoje você mora aqui, você trabalha aqui com serviços, Fortaleza hoje, como que tá pra você?
R – Caos.
P/1 – Conta um dia seu. Conta um dia da sua vida aqui.
R – Cara, é um caos. Eu que ando de moto direto é um caos. Motorista não me respeita. Aqui o cara tem que arrancar um retrovisor pra... Mas não é sempre, às vezes o cara chega lá e dá uma de bichão, aí a gente pega e... E vai embora. “Anota a placa aí, cara”. Apesar de que não dá tempo, no meio do trânsito o cara... Bati nuns carros. Tem alguns que eu sei que estou errado mesmo, eu paro, identifico-me lá: “Eu vou me responsabilizar pelo seu prejuízo e tudo”. Mas tem outros caras que dão nos nervos mesmo. Trancam-me, motorista de ônibus.
P/1 – Trânsito é uma questão aqui, é isso?
R – Você é doido, cara? Fortaleza agora... Ano que vem vai ter a Copa do Mundo, né? Aí o prefeito tá querendo ajeitar tudo de uma vez só, não veio se programando pra fazer aquela mudança aos poucos, né? Ele não: “Faz aí, pronto e acabou. O pessoal que se vire”. Aí o cara vai, vamos supor, vai a aldeota ali, vai resolver uma coisa em algum campo, engarrafamento pra chegar lá... Assim, é que eu vou de moto, e a pessoa que vai de ônibus? Umas duas, três horas pra chegar num local. No caso de moto 40 minutos, a pessoa de ônibus leva uma hora, duas horas pra chegar num canto.
P/1 – Só uma coisa então, Gleidson, só pra gente ir terminando, né? Que esse aqui é um recorte menor. A gente poderia, enfim, ficar a tarde aqui, mas tem alguma história que a gente não perguntou que você gostaria de contar, algum causo, alguma questão que eu não perguntei?
R – Cara, assim minha vida foi muito louca. Tem coisa que eu não posso contar aqui, não. É mais barra pesada. Mas não negócio de droga, essas coisas assim, mas é coisa de moleque mesmo, de fazer putaria na rua, de tocar campainha e jogar leite na cara dos outros.
P/1 – Essa a gente pula.
R – É. A gente pula. Coisa de adolescente.
P/1 – Tá bom. Pô, Gleidson, então em nome do Museu da Pessoa e dos Correios eu queria agradecer muito a sua participação.
R – Eu que agradeço aí, viu? E vou levando…
FINAL DA ENTREVISTA
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