IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Francisco Silva Bezerra de Deus. Nasci em Jequié, Bahia, em 23 de março de 1954. MIGRAÇÃO Saí de Jequié em 1972. Fui morar em Salvador para concluir, naquela época, o que se chamava curso científico, fazer o terceiro ano e fazer o vestibular, continuar com os estudos. EDUCAÇÃO Desde essa época, eu tinha uma divisão entre geologia e jornalismo gostava muito de jornalismo. Mas, o País estava num regime militar e a profissão não era das mais promissoras. O jornalismo, naquela época, era ficar numa delegacia anotando ocorrência, não tinha muito o quê fazer. Meu pai era um geólogo pratico. Não era formado, mas exercia a atividade de prospector. Ele tinha muita vontade de ter um filho formado, em Geologia. Eu gostava. Desde de criança, acompanhava ele nas viagens de campo, gostava, também, do contato com a natureza e da própria atividade da geologia. Então optei pela geologia. INGRESSO NA PETROBRAS Ingressei na Petrobras em 1980. Na minha família, já existiam algumas pessoas que trabalhavam na Petrobras. Eu tinha dois tios que trabalhavam lá e que, não por acaso, eram os dois, que estavam melhor de vida na família. Então, entre as opções que existiam na época, a Petrobras se mostrava a mais interessante. Além disso, eu tinha uma curiosidade muito grande, com essa área de petróleo, porque, até então, o meu contato tinha sido mais com mineração. Vim logo para a Petrobras, antes de concluir o curso de geologia, em 1977. Nesse período, até fazer o concurso, tive outras atividades. Fiz mestrado em Geologia Econômica e trabalhei em empresa de mineração. Mas, tinha, no fundo, uma vontade de conhecer melhor a área de petróleo. Minha intenção era mais temporária, passar um tempo, mais para conhecer esse mundo do petróleo, uma coisa, que eu achava fascinante. Aquela crise do petróleo, exatamente nessa época, foi um assunto que me despertou muito...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Francisco Silva Bezerra de Deus. Nasci em Jequié, Bahia, em 23 de março de 1954. MIGRAÇÃO Saí de Jequié em 1972. Fui morar em Salvador para concluir, naquela época, o que se chamava curso científico, fazer o terceiro ano e fazer o vestibular, continuar com os estudos. EDUCAÇÃO Desde essa época, eu tinha uma divisão entre geologia e jornalismo gostava muito de jornalismo. Mas, o País estava num regime militar e a profissão não era das mais promissoras. O jornalismo, naquela época, era ficar numa delegacia anotando ocorrência, não tinha muito o quê fazer. Meu pai era um geólogo pratico. Não era formado, mas exercia a atividade de prospector. Ele tinha muita vontade de ter um filho formado, em Geologia. Eu gostava. Desde de criança, acompanhava ele nas viagens de campo, gostava, também, do contato com a natureza e da própria atividade da geologia. Então optei pela geologia. INGRESSO NA PETROBRAS Ingressei na Petrobras em 1980. Na minha família, já existiam algumas pessoas que trabalhavam na Petrobras. Eu tinha dois tios que trabalhavam lá e que, não por acaso, eram os dois, que estavam melhor de vida na família. Então, entre as opções que existiam na época, a Petrobras se mostrava a mais interessante. Além disso, eu tinha uma curiosidade muito grande, com essa área de petróleo, porque, até então, o meu contato tinha sido mais com mineração. Vim logo para a Petrobras, antes de concluir o curso de geologia, em 1977. Nesse período, até fazer o concurso, tive outras atividades. Fiz mestrado em Geologia Econômica e trabalhei em empresa de mineração. Mas, tinha, no fundo, uma vontade de conhecer melhor a área de petróleo. Minha intenção era mais temporária, passar um tempo, mais para conhecer esse mundo do petróleo, uma coisa, que eu achava fascinante. Aquela crise do petróleo, exatamente nessa época, foi um assunto que me despertou muito interesse. Quando você presta concurso para a Petrobras, a gente sabe que pode ir para qualquer lugar, não tem garantia que vai ficar na Bahia. Inclusive, tive interesse em trabalhar em vários lugares, quando soube que tinha passado no concurso: “vou passar uns 2 anos, em cada lugar, para conhecer o Brasil, conhecer a Petrobras”. O que não aconteceu. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Vim para Natal. Entrei na Petrobras pela Bahia. Fiz o concurso lá, fiz o curso de treinamento de 3 ou 4 meses, na Bahia e, no término do curso, foi feita a destinação de todo mundo que tinha passado. Eu vim para Natal. Fui designado para trabalhar no antigo Debar, Distrito de Exploração da Bacia Potiguar, que tinha sido recém-criado, era um órgão bastante novo, estava começando. Cheguei aqui, isso estava, ainda, na fase bem inicial mesmo. Vim trabalhar aqui nessa área, nessa sede, quando tinha acabado de ser construída. A Petrobras tinha acabado de se mudar para cá. Antes disso, ela ocupava um prédio alugado, lá no centro da cidade. Aqui, era muito árido. Você, hoje, anda por aqui e vê tudo gramado, tudo verdinho, bonitinho. Naquela época não era assim. Era o solo mesmo, exposto, apenas tinha quatro blocos onde tudo era concentrado. A atividade de perfuração, exploração e produção, tudo funcionava ali, mas era muito gostoso. Era uma equipe pequena, uma família, todo mundo se conhecia logo. Era todo mundo recém-chegado, tinha pouca gente antiga, muita gente nova na empresa. Foi todo mundo procurando formar suas amizades. Foi uma época muito gostosa, tenho boas lembranças. Nos primeiros 3, 4 anos aqui, eu trabalhava no campo. Eu trabalhava como geólogo de campo, de poço. Então eu embarcava, trabalhava em plataformas e nas sondas terrestres. Aí vim para cá, mas eu tinha um vínculo muito forte ainda com a Bahia. Passava muito pouco tempo aqui, vinha para cá e embarcava. Quando eu desembarcava, estava de folga, ia para Salvador. Quase 2 anos depois, que eu estava aqui, foi que vim ter a minha primeira casa em Natal. Não tinha nem uma residência fixa aqui. Quando, às vezes, precisava ficar no escritório alguns dias, fazendo relatório, ficava na casa de colega ou hotel. Só depois de algum tempo, que eu comecei a me fixar por aqui, me enraizar e, aos poucos ir cortando o cordão umbilical lá, com a Bahia. Algumas coisas interessantes aconteceram, por exemplo, quando começou a perfuração interna. As primeiras descobertas. Foi uma felicidade muito grande para mim, o primeiro poço que fui acompanhar como estagiário, ainda. A primeira vez que fui ao campo, foi um poço descobridor, um poço que foi o primeiro campo importante descoberto na bacia. Já existiam alguns campos menores, mais antigos, mas esse primeiro embarque coincidiu com a descoberta do poço Alto do Rodrigues 1. Descobridor do Alto do Rodrigues, que hoje é um dos campos mais importantes, aqui da bacia da parte terrestre. Foi uma coisa muito interessante para mim, a experiência de ver o petróleo, saindo do poço. Naquela época, os métodos de trabalho eram bastante diferentes dos de hoje. Se um ambientalista de hoje chegasse lá e visse a maneira de como o poço estava sendo testado... você enchia um tonel de óleo, por exemplo, para calcular a vazão do poço. Enchendo os tonéis e derramando no dick (não é dique?) do lado. Terminava, enchia outro, para ver o quanto aquele poço estava produzindo. Hoje, isso aí, já é uma coisa inadmissível mas, naquele tempo, era a maneira que a gente trabalhava. Não tinha todo esse rigor, essa coisa ambiental. Depois que acabava o poço, você removia aquilo ali tudo, aterrava direitinho e ia embora. Então, foi a coisa, talvez, mais marcante, essa descoberta no primeiro contato com o campo, uma descoberta importante. Vi muito óleo assim logo, não imaginava tão cedo já ter um contato, com um poço descobridor. Quando cheguei na Petrobras, eu gostava da atividade de campo, principalmente do regime de trabalho. Aquela coisa, das folgas, a remuneração, que era mais reforçada para quem estava no campo. Mas, eu tinha um interesse muito grande, sempre tive, em trabalhar em interpretação. Na época, existia uma Divisão de Interpretação, a Dinter, que era, vamos dizer, considerada a elite, a top. Você trabalhar na Dinter era o máximo. Na primeira entrevista que fiz, aqui, o chefe perguntou o que é que eu pretendia, o que eu queria, e eu disse “eu quero trabalhar na Dinter. Assim que eu puder, que eu cumprir a minha etapa, sei que tenho de passar um tempo no campo, vou ter que complementar o meu treinamento, mas o meu objetivo é trabalhar na Dinter.” Acabei de lembrar um episódio interessante, quando vim para Natal. A primeira vez, eu vim de Salvador para cá, não conhecia Natal. Não conhecia nada aqui e tinha uma data certa, para me apresentar. Eu vim, exatamente, no dia que era para me apresentar. Saí logo de manhã cedo e pretendia me apresentar à tarde, só que houve uma série de percalços. O vôo atrasou, tinha uma conexão em Recife que atrasou. Sei que, quando cheguei em Natal, já era mais de 3h da tarde. Ainda fui para o hotel, deixar as coisas, mas com aquela intenção e aquela preocupação... Eu sabia, que a Petrobras, naquela época, tinha uma coisa muito rígida, principalmente, na geologia, na exploração, na época do diretor Carlos Walter. Houve uma série de episódios, que deixava o pessoal meio estressado, tinha umas provas que se você se desse mal, era demitido. No próprio treinamento, me lembro, na sala de aula, todo mundo ali, entrou o Carlos Walter e sua comitiva e falou: “olha, vocês não pensem que todos estão garantidos, em ficar na Petrobras. Não se iludam com essa idéia, porque vocês estão aqui, ainda, sendo avaliados, observados. Tratem de andar na linha, porque o negócio é...” Era esse o clima, então eu falando: “Puxa, no meu primeiro dia, vou me apresentar, tenho que chegar lá, hoje, de qualquer jeito”. Só que, assim que cheguei no hotel, desabou um temporal, uma chuva grande como as chuvas que ocorrem nessa época do ano aqui. Estamos em maio, cheguei em abril. Eu não tinha como vir para cá, não sabia onde era a Petrobras. O endereço que eu tinha, era lá no centro da cidade, pertinho do hotel onde fiquei. Procurei um hotel bem perto, só que a Petrobras não era mais lá, vi o prédio vazio. Resultado, só no outro dia é que consegui chegar aqui e assim que cheguei, a primeira pergunta: “por que só chegou hoje? Por que, que não veio ontem?” Eu me expliquei e tal, tudo bem. Foi exatamente, nessa ocasião, que me foi feita aquela pergunta, onde eu queria trabalhar e eu disse: “quero ir para a interpretação”. Como de fato aconteceu, uns 4 anos depois. Fui para a interpretação e lá fiquei muito tempo, até 99. Na interpretação, uma coisa para mim muito gratificante, foi ter participado da descoberta do maior campo terrestre do Brasil, que fica aqui na bacia, o campo do Canto do Amaro, junto com o colega Paulo Roberto de Melo, um geofisico. Era uma área que tiramos do contrato de risco. Nós estávamos trabalhando nela. Foi meu primeiro trabalho como intérprete. Tínhamos a visão, que essa área tinha um potencial bem maior do que se imaginava. A referência nessa época, para os campos de petróleo na área, era o campo de Mossoró, um campo de baixa produtividade, raso, com óleo de uma qualidade não muito boa. Então, quando se falava em furar um poço, nessa área, normalmente a gente escutava. “Mas furar para quê? Descobrir outro campo de Mossoró?”. Não era uma coisa atraente: risco elevado e prêmio pequeno. Praticamente, toda a bacia foi colocada, na época, na licitação para os contratos de risco e, a muito custo, conseguimos convencer a gerência, que essa área era interessante, que devia ser retomada para exploração direta. Fui ao Rio de Janeiro para defender isso. perante uma comissão e conseguimos resgatar a área para exploração direta. Desse trabalho então, resultou a descoberta do campo do Amaro. Só que nós não saibamos o que tínhamos descoberto. O que tínhamos, de fato, era uma estrutura de 2 km² que, embora o poço tenha tido uma produtividade boa até para o padrão da área, se achava que era uma estruturazinha de 2 km². Começamos, então, a procurar estruturas parecidas nas imediações. Encontramos algumas, demos novas locações e com resultado: sempre furava óleo. Depois, com a continuação dos estudos, já começando a época do desenvolvimento, desses campos, e perfuração dos poços de produção, se constatou que na realidade era tudo um campo só. Um campo enorme, um campo que, hoje, tem cerca de 100 km², com várias ondas produtoras, inclusive, outras ondas mais profundas. Na época, como nosso objetivo era a parte superior da formação Açu, a continuidade dos estudos mostrou que poderia haver zonas mais profundas. Alguns poços foram aprofundados e se constatou essas acumulações. Hoje, estamos aí, o campo que colocou a bacia no segundo lugar. Éramos o terceiro produtor nacional, atrás da Bahia. Era o Rio de Janeiro, a Bahia e depois o Rio Grande do Norte. Com essa descoberta e as conseqüências, logo a bacia, daqui, passou a ser o segundo maior produtor nacional. Ela é tão grande, que não coube no município de Mossoró. Uma parte do campo pertence ao município de Mossoró e uma parte pertence à Areia Branca. A gente trabalha em Mossoró, a sede é em Mossoró, e tem os campos que são distribuídos. Depois disso, outras descobertas foram feitas. Já existiam campos, que tinham sido descobertos pela Azevedo Travassos, em Areia Branca, num campo de redonda. Inclusive, esse campo foi que despertou o nosso interesse, para o Canto do Amaro. Uma coisa interessante é que, em parte por pura sorte, esse campo não pertence a Azevedo Travassos. Ninguém acreditava, que a Bacia Potiguar tinha óleo na terra. Como o forte da produção aqui era o campo de Ubarana, campo marítimo, se achava que, se houvesse óleo na parte emersa da bacia, no máximo ele estaria próximo à costa. Então, quando foi feita a primeira licitação, o interesse das duas empresas - que vieram para cá na época, a Azevedo Travassos e a Camargo Corrêa - ficou concentrado unicamente nos blocos que estavam no litoral. Esses blocos interiores, essa área interior, que depois nós retiramos, nessa área não houve interesse. Se na época alguém tivesse uma visão... havia elementos suficientes, para algum exploracionista enxergar um grande prospecto ali. Se a Camargo Corrêa tivesse requisitado esses blocos, fatalmente, hoje, ela seria uma grande empresa de petróleo, a dona do maior campo de petróleo brasileiro. Ia ser um desgosto muito grande para a Petrobras. Então tenho muito orgulho de ter participado disso, ter dado essa contribuição para a companhia. Depois dessa fase, eu trabalhei ainda bastante tempo na exploração, na interpretação, com vários outros parceiros geofísicos. Não existe reconhecimento formal por parte da empresa, um tapinha nas costas, “muito bem Parabéns”. Nada. Hoje isso é diferente. Acho que se alguém descobrir um campo desse, talvez tenha um reconhecimento maior. Mas, também, você fazia uma descoberta dessa e já estava pensando na próxima. A exploração era num ritmo tão frenético, era sempre querendo descobrir. A turma não ficava atrás de louro, procurando os louros, não tinha isso, não. Fazia, descobria e dava mais três ou quatro poços da limitação e passava a bola para o desenvolvimento, para furar os poços. Aquilo ali, já não era mais nosso, era do desenvolvimento. Aí já ia para outra área. Trabalhei nessa área durante muito tempo. PROCEDIMENTOS DE TRABALHO Na área da interpretação, desenvolvimento, prospecção, eu não diria que havia disputa entre elas. Cada uma tinha seu território bem definido, poço 1 e poço 3, ou seja, poços pioneiros e poços de extensão. Poços 4, que eram os pioneiros adjacentes, era da interpretação, da Dinter. Poços 7, que eram poços de alimentação, era do desenvolvimento. Cada um fazia a sua parte. Existia o geofisico, vamos dizer, de divisão mais ampla, que trabalhava em escalas maiores, e existia o geofisico de detalhe, que trabalhava dentro de um campo, detalhando zonas, reservatórios. Essas duas áreas eram subordinadas a uma mesma gerência. Nessa época, era diferente de hoje, tanto a interpretação quanto o desenvolvimento. Ambos ficavam debaixo de uma mesma gerência, que era a Divisão de Interpretação. O que mudou é que essa atividade, hoje, é mais ligada à produção. Foi uma época de muito trabalho, muita satisfação, muita alegria. Embora, reconhecimento, vamos dizer, não houve, não havia. Mas aquela coisa, aquele idealismo de auto-suficiência, “estou contribuindo para o Brasil ficar auto-suficiente em petróleo e tal”. Isso, é uma recompensa que não tem preço. A gente sabia que estava nessa luta e contribuía para isso. Em 89, a produção começou a se interessar muito, pela parte dos poços de desenvolvimento. Nós tínhamos, na época aqui, três superintendências independentes. Tinha a Superintendência de Produção, a Superintendência de Exploração e a Superintendência de Perfuração. O superintendente de Produção era um camarada mais ativo, vamos dizer, tinha uma personalidade, se impunha de certa forma. Inclusive, porque a produção sempre foi dona do dinheiro, sempre quem teve mais recurso e tal. Chegou um ponto que a produção, começou a haver muita ingerência na exploração. O gerente de exploração, acho que devia ser um pouco acanhado, um pouco omisso. Chegou um ponto, que nós estávamos dando poços à produção, dizendo onde furar. Quer dizer, você tinha geólogos trabalhando, geofisicos trabalhando, interpretando, gerando e vinha um camarada, lá da produção, que entendia muito de produção, geologia não era a formação dele, era um engenheiro, e dizia: “eu quero que fure aqui, porque acho que aqui que tem óleo”. Eu tinha o Canto do Amaro para mim, como se fosse uma cria, eu tinha um ciúme, eu morria. Não admitia que ninguém metesse a mão, e isso dá problema. Poços produzindo, com vazão acima do que era para produzir, produzindo com problema de produção de água é um problema sério, que nós temos aqui, na bacia. Essa maneira de prospectar sem muito critério, querendo produzir muito, gerava esse problema e danificava, reduzia a vida útil do campo. Eu comecei a me posicionar contra isso e a conseqüência natural foi que eu me indispus, na época, com a gerência da exploração e fui contemplado com mais uma temporada no campo. Fui mandado para a operação. Foi aquela época de Collor, 90 e quase a metade do ano de 91, que eu passei no campo, de castigo. Surgiu uma oportunidade lá na exploração, o clima estava muito ruim para mim, aqui, na interpretação e eu mesmo pedi, aceitei. Eu não achei ruim, porque foi a época de um dos maiores arrochos salariais, que os empregados da Petrobras conheceram. E os adicionais de campo, me fizeram ter uma vida um pouco melhor do que meus colegas que ficaram aí na interpretação. Então passei mais um tempo lá no campo. Era o mesmo que jogar uma rã dentro d’água, porque eu gostava do campo, eu gostava do regime de trabalho, não foi nenhum demérito para mim, voltar a trabalhar em poço. Trabalhei mais 1 ano e meio lá, depois voltei para a interpretação. Quando voltei, levei uma advertência do atual superintendente. A primeira vez na vida, que eu vejo uma advertência verbal ser escrita. Mas ficou escrita... lá. Voltei para a interpretação. Trabalhei lá mais algum tempo e até participei de mais descobertas, outros campos, outras acumulações importantes. Foi a época que a exploração passou a usar o método da sísmica 3D, uma evolução grande na sísmica. A sísmica 3D é uma sísmica tridimensional. A sísmica tradicional, a 2D, trabalha em linha, os dados são adquiridos ao longo de linhas, então no final você dispõe de uma seção. Em papel, é como se eu marcasse uma linha no terreno e cortasse, então é aquela fatia, aquela seção ao longo de uma linha. Eu fazia várias linhas paralelas, mas essas linhas, não tinham conexão uma com a outra, eu trabalhava separadamente. A sísmica 3D permite que você integre esses dados em um volume tridimensional. Qual a vantagem disso? Eu obtinha meu dado sísmico ao longo de linhas, da mesma forma da sísmica 2D. Mas, entre uma linha e outra, que eu não tinha obtido dado nenhum, podia - usando o recurso da computação simular, dentro daquela área, onde foi feito o 3D - traçar uma linha sísmica e imediatamente ver exibido na tela, como era na sub-superfície naquela linha. Ou seja, ela integra todas as linhas num volume tridimensional. Isso aí, foi um recurso que alavancou a atividade de exploração, permitiu que se visse muitas coisas. Eu tinha uma linha aqui e outra aqui, tinha uma estrutura no meio e não tinha como saber se tinha essa estrutura, ali. Com o método 3D, você já tem como saber. Com o uso do 3D, tive também a felicidade, junto com os meus colegas geofisicos, a gente sempre trabalhava em pares- um geólogo e um geofísico - de fazer várias outras descobertas importantes. Campo de Varginha, campo de Leste de PX, uma quantidade grande, não vou nem me lembrar, aqui, todos eles. Então foi mais um período interessante, mas parece que ao longo de todo esse tempo, mesmo atuando como geólogo, a comunicação continuava no sangue. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu sempre tive uma vontade grande de trabalhar com comunicação. Como é que eu matava essa vontade? Eu sempre estava metido em alguma coisa de comunicação. Eu estava na faculdade de Geologia, na Bahia, era do diretório acadêmico, secretário de comunicação. Aqui, secretário de comunicação, diretor de comunicação de entidades como Associação de Geólogos, do Estado, que faço parte até hoje. Tive outros cargos, já fui até presidente, mas apenas um mandato, o resto do tempo, sempre comunicação. Na AEPET, secretário de comunicação, vice-diretor de Comunicação, sempre tinha alguma coisa ligada à comunicação. Então aquela idéia de “ah, uma hora dessas vou fazer vestibular, vou fazer jornalismo”. Mas, nunca conseguia fazer isso. Entrava ano, saía ano, eu não me inscrevia, quando ia ver, já tinha passado a época de inscrição do vestibular. Até que, em 92, eu consegui. Consegui me matricular, em tempo, no vestibular. Fiz e tive a sorte de passar. Cursei, então, Jornalismo, com um pouco de dificuldade. Às vezes, tinha que trancar um semestre, porque fazia uma viagem, tinha que passar um tempo maior fora e, quando voltava, não conseguia mais retomar o conteúdo. Acabava trancando o semestre, alguns até levei pau mesmo. Mas, consegui concluir, em 99, o curso de Comunicação. Coincidentemente nessa época, a empresa precisava de uma pessoa que tivesse esse perfil. Uma formação em Comunicação e, ao mesmo tempo, um conhecimento da atividade operacional, para poder fazer essa intermediação. Essa tradução da coisa técnica para uma linguagem mais jornalística. Uma linguagem, que permitisse uma compreensão melhor, para quem não era especificamente da área técnica. Então vim para a comunicação, em princípio, cedido, transferido. Depois de algum tempo, fui efetivado.Essa concentração de pessoas, com formação em Comunicação, é somente na sede, na assessoria de imprensa. Nos órgãos de comunicação da sede existem jornalistas, pessoas com formação específica. Nas unidades, não tenho conhecimento, por exemplo, de nenhum jornalista lotado. Pode ser até que exista, mas eu não tenho conhecimento. Geralmente, são pessoas que vêm de outras áreas, e desenvolvem atividade de comunicação. Essa é uma pratica bastante normal na empresa. ENTREVISTA Acho bom, acho isso uma coisa muito positiva. Inclusive, no dia que foi para fazer aqui o corpo a corpo com os empregados, eu estava disposto a ir junto com o Eduardo. Quando vi, estava aqui o Divanildo, o presidente do sindicato, pronto para ir. Eu falei: “o que é que eu vou fazer lá?”. É muito melhor que vá o sindicato. Porque um empregado, quando vê uma atividade dessa, patrocinada pela companhia, não digo todos os empregados, mas existe uma boa parte, que é meio pé atrás. Acha que aquilo é chapa branca, uma coisa muito institucional. Uma pessoa que poderia participar, dar uma contribuição importante, pode, por isso, até deixar de participar, por achar uma coisa muito oficial. A participação de uma entidade, que tenha credibilidade, que tenha uma outra leitura, dá uma boa credibilidade ao projeto. Amplia bastante a participação, acho muito positivo. Nos novos tempos, uma tendência que deve ser seguida em alguns outros projetos. É muito saudável. Acho, que já passou o tempo, da gente ver o sindicato como um adversário. O sindicato tem que ser realmente um aliado, ele está aí, os interesses são os mesmos que os nossos.
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