Projeto: Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Francisco Henrique Ferreira Rodrigues
Entrevistado por Larissa Rangel
Rio de Janeiro, 27/06/2008
Realização do Instituto Museu da Pessoa.Net
Entrevista PETRO_CB447
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Boa tarde!
R – Boa tarde!
P/1 – Para começar nossa entrevista eu vou pedir que o senhor os diga seu nome completo, local e data de aniversário.
R – Meu nome completo é Francisco Henrique Ferreira Rodrigues, nasci em São Paulo, capital, em 27 de setembro de 1962.
P/1 – Qual a sua formação?
R – Eu sou engenheiro mecânico, formado em São Paulo, na Petrobras eu fiz o curso de engenharia de produção, que hoje é chamado engenheiro de petróleo.
P/1 – E como e quando ingressou na Petrobras?
R – Eu ingressei na Petrobras em 84. O meu caso foi um processo um pouco diferente, né, até o pessoal chama a gente às vezes de “biônico”, né? Era um período em que a Petrobras estava proibida de ficar fazendo concursos e, na verdade, eles foram em várias faculdades e foram selecionar as pessoas assim que tinham tido melhor aproveitamento, de preferência os primeiro colocados. E aí eu fui convidado então para ingressar na Petrobras e, lógico, que eu aceitei. (riso)
P/1 – Qual foi a sua primeira função?
R – Então, eu fui, o que a gente colocou era engenheiro de produção, a gente fez um ano de curso em Salvador e aí a minha função quando efetivamente depois do curso trabalhei, a gente tem uma função que era na área de poços, na época era uma divisão de completação. Então a gente trabalhava na completação dos poços e o nome do cargo que a gente tinha que era embarcado era fiscal da completação. Então era o engenheiro a bordo que cuidava da execução dos poços na Bacia de Campos e o nome que dava era fiscal de completação.
P/1 – E como é que era a dinâmica entre esses nomes e as várias regiões, essa diversidade, e como é que...
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Depoimento de Francisco Henrique Ferreira Rodrigues
Entrevistado por Larissa Rangel
Rio de Janeiro, 27/06/2008
Realização do Instituto Museu da Pessoa.Net
Entrevista PETRO_CB447
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Boa tarde!
R – Boa tarde!
P/1 – Para começar nossa entrevista eu vou pedir que o senhor os diga seu nome completo, local e data de aniversário.
R – Meu nome completo é Francisco Henrique Ferreira Rodrigues, nasci em São Paulo, capital, em 27 de setembro de 1962.
P/1 – Qual a sua formação?
R – Eu sou engenheiro mecânico, formado em São Paulo, na Petrobras eu fiz o curso de engenharia de produção, que hoje é chamado engenheiro de petróleo.
P/1 – E como e quando ingressou na Petrobras?
R – Eu ingressei na Petrobras em 84. O meu caso foi um processo um pouco diferente, né, até o pessoal chama a gente às vezes de “biônico”, né? Era um período em que a Petrobras estava proibida de ficar fazendo concursos e, na verdade, eles foram em várias faculdades e foram selecionar as pessoas assim que tinham tido melhor aproveitamento, de preferência os primeiro colocados. E aí eu fui convidado então para ingressar na Petrobras e, lógico, que eu aceitei. (riso)
P/1 – Qual foi a sua primeira função?
R – Então, eu fui, o que a gente colocou era engenheiro de produção, a gente fez um ano de curso em Salvador e aí a minha função quando efetivamente depois do curso trabalhei, a gente tem uma função que era na área de poços, na época era uma divisão de completação. Então a gente trabalhava na completação dos poços e o nome do cargo que a gente tinha que era embarcado era fiscal da completação. Então era o engenheiro a bordo que cuidava da execução dos poços na Bacia de Campos e o nome que dava era fiscal de completação.
P/1 – E como é que era a dinâmica entre esses nomes e as várias regiões, essa diversidade, e como é que foi esse primeiro momento?
R – Lá na Petrobras?
P/1 – É.
P/1 – Na verdade, a gente lá em São Paulo já tem um pouco de contato com uma diversidade assim de pessoas, né, (riso), tanto imigrantes quanto de outras regiões do país. E na plataforma isso é muito parecido, porque a gente tinha na verdade, em alguns, casos plataformas com muitos estrangeiros, e aí americanos, franceses, ingleses, como também muita gente aqui do próprio país, tanto do sul, quanto do nordeste.(riso) Então, na verdade se tem uma riqueza de contatos com várias pessoas, de várias regiões diferentes.
P/1 – Você comentou que no primeiro momento foi para Salvador...
R – Um ano em Salvador.
P/1 – Aí embarcado foi quando?
R – Depois a gente foi para o que era a região de produção do sudeste, RPS, na Bacia de Campos, a gente foi em março de 85, eu fique embarcado até abril de 88 quando eu fui trabalhar em Macaé.
P/1 – Qual foi a primeira plataforma que você embarcou?
R – A primeira plataforma que eu embarquei mesmo era a, que foi quando eu cheguei na Bacia de Campos, tinha um estágio pequeno que a gente fazia, foi na que era SS20, era uma sonda de completação e o nome da Petrobras era P13. Ela naquela época trabalhava na completação de poços.
P/1 – Qual foi a sua primeira impressão sobre esse primeiro dia?
R – É, até contando um caso antes, né, o que foi mais assim, vamos dizer, que a gente voltou do curso, a gente teve férias, cada um foi para o lugar, né, a minha turma também era assim de pessoas de todas as regiões do Brasil, eu na verdade fiz em São Paulo depois a gente foi para Macaé. Esse primeiro dia de ir para Macaé, me lembro que era perto de um feriadão, acho que era uma páscoa, e a gente tinha que estar segunda-feira no escritório. E, no domingo, a viagem, eu e mais alguns colegas, foi longa, a gente chegou assim com um congestionamento enorme, a gente chegou à noite em Macaé e praticamente não tinha lugar nenhum para dormir, a gente pegou um hotelzinho horroroso no centro, e a gente passou aquela noite lá. E aí no dia seguinte foi o primeiro dia realmente de trabalho lá na região, né? E, lógico, para mim que era recém-formado, realmente ainda novo até, realmente é tudo, vamos dizer assim, só surpresa boa, porque tudo é novidade e é o que a gente espera. A gente, depois de um período longo de estudo, você está doido para começar a trabalhar mesmo. (riso) E fora o que sempre se mostrou para gente, que era a Bacia de Campos que era um desafio, aquela questão de trabalhar no mar, trabalhar offshore, né, então realmente a gente ia com muita expectativa, doido para começar o mais cedo possível.
P/1 – O que você sabia da Petrobras antes da sua entrada e quando você realmente começou a trabalhar lá, o que você percebeu em termos de estrutura da empresa, qual a dimensão da empresa?
R - A imagem que a gente tinha fora, principalmente na época que eu entrei, lógico que ela sempre foi assim uma empresa muito bem vista, né, só que para nessa área que a gente trabalha, que área de exploração e produção, não é a imagem que a gente tem quando está fora. Quando está fora a gente vê muito a questão dos postos, refinarias, né, tanto que quando eu olhava a Petrobras, na minha área eu pensava assim mais em refinaria, a gente não conhecia essa área de E&P. E quando entra você conhece uma coisa que é muito diferente, desafiadora, mas ao mesmo tempo muito motivadora. Então os desafios são enormes, o trabalho realmente é muito diferenciado, né, então, quando a gente conversa com algumas pessoas assim que já não estão na área a gente já se acostuma, mas realmente é uma coisa diferente porque você vai para o meio do mar, você só vê água, que era o nosso caso lá, uma profundidade até o fundo do mar enorme. E na verdade você está lá buscando, achando e produzindo petróleo de lá, né? Então até muita coisa que às vezes o pessoal vê assim filmes, que são aqueles robozinhos, você trabalha realmente com uma tecnologia que é de ponta e isso para quem está nessa área realmente é muito motivador. Então a gente tinha uma imagem boa da companhia fora, mas você, eu acho que no meu caso inclusive, você melhora e acha ela inclusive muito maior quando você está dentro dela, né?
P/1 – E como foi ficar longe da família?
R – É, então, mesmo a parte do curso de fazer fora realmente é um primeiro impacto, né, você ficar longe da família. Mesmo depois quando eu estava embarcado eu já também casei, realmente não é muito bom ficar longe da família, né? Então são duas coisas diferentes, no meu caso particular, eu acho assim você ficar embarcado a vida toda eu acho que é um peso grande, apesar de um período curto você está fora, no outro você está dentro, mas o fato de ficar longe eu não acho que é uma coisa normal, mas quando você está lá no trabalho realmente você se envolve, né, então você só vai parar às vezes para pensar quando está num horinha de folga ali, realmente o resto você é absorvido e você acaba se envolvendo no trabalho, então isso reduz. Mas de qualquer maneira, no meu caso, eu imaginava um tempo, nunca determinei de realmente ter um trabalho mais regular e realmente ter um equilíbrio entre o trabalho e ter a família também.
P/1 – E nesse primeiro momento como é que era a comunicação?
R – (riso) Isso é um caso interessante que eu estava até pensando nisso, porque afinal são tantos anos, eu acho que são 20 anos, né, mas é uma coisa que mudou muito. Nessa época, perto de 85 a 88, a comunicação era muito difícil, dependendo da onde você estava localizado era só via rádio, né, então é aquela comunicação que um fala o outro escuta, depois o outro fala, você escuta, era difícil, cara, muitas vezes a ligação era via satélite para poder falar tanto com terra, quanto com os familiares. Às vezes quando tinha telefone, a linha era muito ruim e era assim tempos curtos e com várias quedas constantes, né? Hoje em dia quando o acesso é fácil, internet, tudo, tem um aparelho lá que eu gravei porque aquilo era uma desgraça (riso), que era um aparelho de faz que era uma folha por vez, que se chamava E-Fax 3000 e quando você precisava passar alguma informação era um inferno porque começava a rodar a linha às vezes estava no meio da folha caía, e aquilo levava uns três minutos para passar. Então a comunicação era muito difícil. Então a comunicação que o pessoal mais tinha era via rádio-operador e ele passando para terra verbalmente os relatórios e para conversar com as pessoas também, ou era via rádio ou com telefone precário.(riso)
P/1 – E em termos de segurança, como é que era a segurança?
R – Olha, lógico que hoje a gente evoluiu bastante, mas sempre foi uma preocupação, principalmente na minha área, né, que a gente trabalhava com poço em que na verdade você muitas vezes está com alguma área desconhecida de reservatório, está com alguns dados desconhecidos ali, então sempre teve uma preocupação grande com a questão da segurança, né? Sempre se teve essa preocupação assim com a questão da segurança por causa da atividade porque realmente era uma atividade de risco, né? Então, naturalmente a preocupação era grande, né? Eu particularmente sempre me senti seguro, graças a Deus nunca teve assim um grande acidente, nem acidentes assim graves com pessoas quando eu estava trabalhando, mas de qualquer maneira hoje a gente conseguiu evoluir também bastante, o que é importante porque eu também acho que é fundamental aí a gente preservar principalmente a saúde aí dos trabalhadores, das pessoas.(riso)
P/1 – Dentro dessa evolução tecnológica, comunicação, segurança, qual seria assim o momento marcante dessa mudança?
R – Mudança?
P/1 – É.
P/1 – Olha, praticamente para que eu já estava em terra; vou tentar aqui, eu acho que o marco mesmo acho que foi entre 94 e 95 na Petrobras, realmente ela fez questão de aderir às normas de meio-ambiente, que era a ISO 14 mil, a BS 8 mil e 800 que era de segurança, né, então ali houve realmente um, vamos dizer assim, uma incorporação grande dessa questão. Eu acho que aquilo foi um marco, eu achei importante a Petrobras declarar que ela estava comprometida realmente com a segurança, com a preservação do meio-ambiente, então acho que nessa época, eu estou em dúvida se entre 94, 95, pelo menos lá na Bacia de Campos foi quando isso realmente virou marco e é um processo que a gente vê que continua até hoje com SMS. Hoje todo mundo fala em SMS.
P/1 – E nesse percurso qual foi o momento que o senhor achou que a Bacia de Campos deu certo?
R – Olha (riso), eu sou suspeito para falar, mas nesse período todo e até hoje o que a gente vê, desde o primeiro momento que eu comecei a trabalhar lá, eu percebia que dava certo porque as pessoas realmente estavam muito comprometidas. Então, naquela época com os recursos, com as coisas que tinham se conseguia realizar o que estava, digamos assim, o que era necessário, o que era de meta, né? Então desde 84, por exemplo, foi uma coisa assim, uma coincidência o meu primeiro embarque, eu te falei, nessa plataforma era justamente quando a Petrobras estava com um poço que era record mundial de completação submarina, no campo de Marimbá, isso ainda perto lá dos seus 300 metros. Então naquela época já era um grande feito, isso era reconhecido naquela época. E aí você vem ao longo desses anos todos, né, quase todos os anos aí a Petrobras vêm superando desafios, veio aumentando a produção. Eu lembro da gente comemorar os 500 mil barris na Bacia de Campos, que hoje é um numero bem menor, mas na época era um marco enorme para a companhia e para o país e fora a questão de desenvolver a tecnologia e reconhecimento que a Petrobras vem tendo em 90, com prêmios da OTC, 91 águas profundas e até hoje ela é reconhecida. Eu já cheguei lá acho que talvez com o negócio dando certo e continuou, né?
P/1 – E para você qual momento que você poderia tirar que foi um enorme desafio na trajetória de trabalho, na sua trajetória de trabalho?
R – O maior desafio?
P/1 – Isso.
R – Olha, são vários realmente porque a Petrobras tem muitos desafios, mas eu podia pegar cada um que eu falei dessas questões do trabalho lá na completação. A gente teve várias reestruturações na companhia, mas acho que para mim, pessoalmente, né, foi uma coisa assim que envolveu vários desafios juntos, acho que foi quando teve a criação da UN-Rio, porque quase todo mundo tinha uma base estabelecida, Macaé tinha a sua base, da RPC gerou a UNBC, aqui na sede sempre teve as suas estruturas e a UN-Rio ela foi uma unidade de negócios, uma unidade operacional a ser colocada aqui na UN-Rio, né, e uma coisa que foi começada do zero, inclusive com poucos recursos, principalmente de pessoas. Então, as pessoas que começaram aqui a UN-Rio era uma comunidade pequena e já comum desafio enorme que eram os campos mais profundos, mais desafiadores, os maiores investimentos para a gente colocar em produção. Então isso foi em 2001 e hoje a gente já está com uma produção muito próxima aí da Bacia de Campos e isso tudo em sete anos. Então quando a gente olha que nem era a RPC que eu comecei lá, até ter essa produção foram mais tempo, 20 anos. Então num espaço curto, né, com uma estrutura de pessoas aí começando do zero realmente foi um desafio aí que acho que também, como os outros, acho que estão dando certo e deram certo.
P/1 – E dentro desses desafios qual foi a sua maior dificuldade?
R – Desse?
P/1 – Na sua trajetória de trabalho .... Qual foi a maior dificuldade enfrentada?
R – Olha... (pausa) É difícil dizer assim, né, porque a...
P/1 – Você falou de ficar longe da família... Era uma dificuldade?
R – (pausa) É, talvez o... Um momento muito difícil? (pausa) É difícil, porque a gente vive numa trajetória a gente vai sempre tentando superar ali, fica difícil eu lembrar. Realmente, você fala assim da família, né, mas na verdade a gente se acostuma. Lógico, estar afastado dos meus pais, né, isso causa uma dificuldade, apesar do que eu acho que é o caminho, né? Na verdade eu casei, tenho meus filhos, né, a gente acaba sempre convivendo mais com eles. Em termos de empresa, eu acho que a gente tem, lógico, tem muitos desafios, mas que nem eu falei assim talvez as coisas que não deram tão certo ficaram superadas pelas outras assim, não sei, não teria assim uma coisa que eu lembrasse assim de imediato não.
P/1 – Dentro dos anos que o senhor viveu embarcado, né, foram quatro anos?
R – Quatro anos.
P/1 – Quais foram as outras plataformas e experiências?
R – Ixe !(riso) A gente rodava muito. Ò, aquela função a gente não tinha uma plataforma específica, né, a gente tanto embarcava nas plataformas fixas que tinham, então, por exemplo, embarquei Enchova, na plataforma de Pampo, Garoupa, Namorado 1, 2, Cherne 1, Cherne 2, do Pólo Nordeste que são as fixas, porque todas elas têm poços. A gente embarcava em Pargo, Carapeba e nas flutuantes, né, então foram vários navios. Embarquei num navio que acho que foi um dos primeiros da Petrobras, que era o Petrobras 2, que era o NS3,embarcou no NS5, NS7 e plataformas também tinha a S1, que era uma sonda de completação, S27, S20, 32, então...
P/1 – Em termos de estrutura, em qual era mais difícil, tinha algumas que era mais...?
R – As mais difíceis pela peculiaridade que tinha, que eu trabalhei que eu acho que pelas condições mais adversas, foi em Garoupa, porque Garoupa tinha uma plataforma fixa, foi retirada, né, depois ficou com uma sondinha menor, era uma plataforma meio que central, com muitos processos da produção e a operação nossa que era de poço lá era muito dificultado, digamos assim, dificultado, porque eram operações em paralelo, então nessas plataformas era dificuldade de alojamento, dificuldade até de arranjar um quarto (riso), uma cama e a própria área era restrita, né, e sempre mais perigoso, porque além de a gente trabalhar no poço, tinha o trabalho da produção. Então, de todas essas se eu fosse pegar uma que era mais complicada, acho que foi Garoupa mesmo. As outras, você trabalhava exclusivamente no poço, tinham as dificuldades, mas você estava só naquele trabalho focado só naquele poço.
P/1 – E dessas plataformas qual era a que você tinha um carinho maior ou......
R - (riso) Olha, eu acho que todas assim, mas tem uma que servia para gente que era meio que escola assim para quem entrava lá no poço, que era a S1, a SS1 era uma sonda contratada da Petrobras, era de estrangeiros, mas eles já estavam tanto tempo aqui que os próprios americanos, a própria tripulação já conhecia tão bem o trabalho, então, quando você chegava novo era um lugar que você podia colocar (riso) lá, né, você aprendia e o serviço e saía, né? E meio que ela junto com a S20, que também era uma sonda da própria Petrobras, com eu cheguei pelo menos eram aquelas sondas que eram praticamente exclusivas ali da completação e onde você iniciou você acaba sempre olhando um pouco mais para elas, apesar de não serem tão modernas que nem hoje, mas talvez eu colocaria a S1 como uma especial.(riso)
P/1 – Como é que era o trabalho com os estrangeiros, como é que era a diversidade, como é que era o movimento, era a diversidade?
R – O interessante que depois quando você entra na área, ali, na verdade, apesar de ter, lógico, a comunicação tem que ser em outra língua, né, mas havia o esforço de alguns em saber alguma coisa em português, mas depois aquilo passa a ser a linguagem do trabalho, no caso ali da área de poço, né, então ela passa a ser uma coisa comum. Então não só com eles como com brasileiros, né, a gente é muito... o que a gente chamava de pushers, ou encarregados também brasileiros, então, na verdade, você começa a entrar na linguagem do trabalho, vamos dizer, da tecnologia e você acaba aprendendo ali com quem tem mais experiência, não só com os estrangeiros, mais também com os brasileiro, pelo menos eu aprendi muito, né, e aquilo depois passa a ser meio que natural, nem a questão às vezes da linguagem atrapalha porque você está focado no trabalho e aquilo meio que passa a ser uma coisa normal depois que você tem algum tempo ali de embarque.
P/1 – Com toda essa diversidade que vem de fora, né, brasileiros, de várias regiões do Brasil, como eram essas características...
R – É.
P/1 – Na plataforma existia alguma rivalidade, ou brincadeiras, pessoas que vieram do nordeste, do sul, do norte, como é que é?
R – É evidente, (riso) tem a brincadeira, né? No meu caso, até porque eu acho são pouco talvez assim de São Paulo, né, o pessoal até marcava muito. Aliás, até hoje, eu acho que eu estou aqui há 20 anos no Rio, o pessoal acha que eu tenho sotaque (riso), é difícil disfarçar, né, então é natural que o pessoal, cada um pega aquele estereotipo de cada região e logicamente fazer as brincadeiras ali, né, mas normalmente o pessoal aceita bem, né, muita gente do nordeste, é normal, né? Existe aquela questão de Rio/São Paulo, de falar às vezes do pessoal da Bahia, da Paraíba, mas isso depois vamos dizer assim, é o que acaba acontecendo, né, apesar dessa diversidade, está todo mundo ligado por uma questão só, né, e eu imagino como eu a maior parte também gosta, se envolve com o trabalho, então aquilo é um ingrediente a mais, mas está todo mundo também ali unidos por uma coisa comum. Então existe, apesar da diversidade, uma identidade com cada um ali especificamente. Mas tem isso, tem o pessoal de Campos lá, que é de Macaé, sabe da fama dos campistas, né? (riso) Então esse tipo de coisa acaba acontecendo, mas...
P/1 – O senhor lembra de alguma história engraçada, interessante vivida na plataforma?
R – Na plataforma?
P/1 – Na plataforma ou na sua trajetoria.
R – Olha, bom, tem uma que já é conhecida aí do pessoal, né, que quem trabalha em poço tem uma operação que a gente chama de “pescaria”, né, que é quando você está tentando tirar algum equipamento de dentro do poço e uma vez o pessoal estava com problema lá no poço, tentando pegar, alguém falou o seguinte “que era peixe” e a gente fazendo que era algum equipamento, ele falou “Não, é peixe mesmo.” , “- Mas que peixe?”, “Peixe, peixe do mar mesmo.” E depois quando conseguiu tirar era um peixe mesmo, né? (riso) Então é engraçado porque na verdade você não imagina que um peixe ia se alojar lá. Então isso, vamos dizer assim, virou meio que folclórico essa questão. Uma história que eu também hoje eu acho engraçada assim, né, que a gente acha gozado, que é do setor da comunicação, não só lá no mar era difícil como, por exemplo em Macaé a gente foi morar lá, né? A dificuldade de linha era grande, era aquela restrição até para comprar uma linha, estava em São Paulo esperando isso, era uma coisa engraçada , você tinha que ir na telefônica, e se fazia uma fila grande, e você pedia para a telefonista para ligar, no meu caso lá para São Paulo, ela é que fazia a ligação, falava: “Ó, você vai na cabine tal” e lá é que você conseguia fazer a ligação, né, então era um retrocesso, para quem vivia numa cidade, digamos assim, que nem São Paulo que, vamos dizer assim, já estava numa outra etapa, você parece que volta ao passado, aquilo que era história que você via, na verdade você passa a vivenciar lá no dia-a-dia. (riso)
P/1 – Qual foi a fase da produção da Bacia mais marcante?
R – Produção?
P/1 – Isso.
R – Olha, (pausa) É sempre mais difícil assim você falar a mais marcante (riso), a gente tem várias evoluções. Mas uma que eu lembro que acho que ficou muito marcado, eu estava lá em Macaé, é até porque o Brasil sempre vinha com uma dificuldade de crescer e depois que a gente passou para as águas profundas aí conseguiu encontrar campos maiores, o que eu lembro muito era da questão dos 500 mil barris, que realmente foi um evento, tão grande talvez quanto o pessoal fez hoje da auto-suficiência, né? Mas para mim até por estar naquele momento, talvez até com mais dificuldade naquela época quando a Petrobras conseguiu os 500 mil barris acho que foi assim um dos fatos marcantes aí.
P/1 – E em termo de águas profundas, seria Pólo Nordeste...
R – Águas profundas? Não, águas profundas eu acho que, particularmente para mim que estava trabalhando, fora essa que eu cheguei, acho que foi quando a gente teve uma completação em Marlin que era além dos 1000 metros. Naquela época, havia uma barreira enorme, os 1000 metros, e a gente precisava entrar em produção com o poço antes da OTC. Era uma meta que a Petrobras queria conseguir com Marlim 4. E, praticamente, no último dia ali, às vésperas do evento, a gente conseguiu colocar o poço em produção e isso foi na década de 90. Foi um recorde mundial e também um motivo para a Petrobras poder ganhar o prêmio. Em termos de águas profundas, apesar de que eu acho que a Petrobras conseguiu outros recordes, mas isso daí foi realmente marcante, porque era uma barreira muito grande, que foi conseguida, as outras depois a Petrobras foi numa continuidade ali batendo outros recordes.
P/1 – E depois dessa vivência de quatro anos dentro da Bacia de Campos você trabalhou em terra, né? Conta um pouco dessa história...
R – Isso. Esse período de embarcado, né, depois eu fui para o trabalho em terra, lógico que o trabalho era lá em Macaé, foi uma época aí que várias pessoas também foram nessa época lá para Macaé e para mim, foi mais uma mudança, né, muita gente tem assim às vezes aquela dificuldade da mudança, então ela seria uma cidade que nem morava em São Paulo, uma cidade menor, interior do Rio, Macaé, mas que eu acho que também é uma etapa e sempre você tem como tirar o lado bom disso, né? Então, lógico, era cidade que era pequena, tinha as dificuldades, mas tinha as vantagens. Quem conhece a região dos lagos, então são as praias, né, a oportunidade de morar numa praia, morar em casa, que nem foi o meu caso que eu fui morar em casa com; hoje em dia nem sei tanto, as informações de lá são ruins, mas com segurança, né, era muito tranqüilo viver lá próximo a outras cidades dali, Rio das Ostras, Búzios, Cabo Frio e então em termos assim de vida pessoal, apesar de ser uma cidade assim às vezes menor, mas uma fase boa em termos de qualidade de vida, em que você pode ir para casa almoçar, você pode até tirar um cochilo na hora do almoço, fim de tarde você já está em casa, horário de verão você está na praia, sem trânsito, então...
P/1 – Uma qualidade de vida...
R – Uma qualidade de vida boa. E o que eu acho importante lá, né, que nem eu te falei, como vêm muitas pessoas de outras regiões acaba você cria até um vínculo maior com as pessoas, né, tem mais tempo, você acaba tendo uma convivência maior, não só com as pessoas da Petrobras, como com as pessoas que são lá da cidade mesmo. E isso às vezes aqui no corre-corre aqui de uma cidade maior você fica com menos tempo pra isso e isso você perde um pouquinho.
P/1 - E nesse período como é que foi o crescimento físico da Petrobras?
R – Ah, cresceu muito, né? Ela já era grande, né, que nem eu falei, mas esse período que eu estou afastado aqui, que volta e meia que eu volto a Macaé, lá a gente tem, antes que era praticamente um prédio que era Imbetiba e Parque de Tubos, que era uma região mais de estoque de materiais. Hoje em dia ela tem vários prédios, cada vez que você vai lá: “Ah, esse prédio também é da Petrobras”, né, e a mesma coisa aconteceu aqui no Rio, em que praticamente o ícone sempre era o Edise e o prédio aqui da Canabarro. Hoje eu brinco com o pessoal que eu tenho que ir para o Banco do Brasil porque tem pessoas lá, no Citibank, no Edita, que é o Torre Almirante, tem o Teleporto também aqui perto e mais salas espalhadas, Avenida Central, Pronto-Escritório. Então é uma infinidade de lugares, né, realmente houve um crescimento assim, ele foi muito, realmente muito grande nesse período todo. No caso outras áreas, né, que sempre houve alguma possibilidade de trabalhar, que nem Santos, que não tinha o escritório, hoje tem uma unidade, Vitória, né, então, a gente se for ver ali da Bacia de Campos e mesmo essas outras regiões ali, né, houve um crescimento muito grande, físico inclusive, de locais, né?
P/1 – Essa vivência lá em Macaé ela durou quanto tempo?
R – Foram 13 anos, de 88 a 2000, que eu já te falei, 2000 foi criada aqui a UN-Rio, houve o convite e eu saí de Macaé e vim para cá, né?
P/1 – Agora o Senhor está aqui no Rio de Janeiro?
R – Isso.
P/1 – E a sua função aqui qual é?
R – A minha função hoje eu sou coordenador do Módulo 3, de Roncador, que nem eu te falei daquelas plataformas antigas, né, a UN-Rio tem vivido muito esse ciclo de novos projetos, né, então ao invés de ser uma unidade muito só de produção, hoje também ela já é de produção, mas ela iniciou muito com projetos e esse é mais um projeto de Roncador, né, já tiveram dois projetos de Roncador a 52, e a 54, né? E esse é o Módulo 3, que á a P-55. Então hoje ela já está saindo do papel e vai ser mais uma plataforma que vai entrar em operação aí depois de 2010 aí. Então minha função hoje é cuidar desse projeto aqui na UN-Rio.
P/1 – Qual é a dificuldade, quais as características desse projeto?
R – Roncador?
P/1 – É.
R – É, o Roncador ele tem sido o projeto da Petrobras nas águas mais profundas hoje em desenvolvimento...
P/1 – Qual a profundidade?
R – Chega até 2 mil metros, né, de 1 mil e 500 a 2 mil metros, então as primeiras plataformas foram mais difíceis porque eram um desenvolvimento, hoje a gente tem a 52 já a 1 mil 800 metros, a 55 também vai ficar nessa lâmina d’água de 1 mil e 800, então, quer dizer, já houve um aprendizado e isso facilita, né? Mas de qualquer maneira, continua sendo o, vamos dizer assim, o limite aí em termos de tecnologia e pelo porte que foram crescendo, a gente tinha antigamente unidades aí de até 100 mil barris, né, de planta de processo, para 150, hoje nós temos 180. Então são realmente as plataformas assim de maior capacidade em termos de produção. Então as dificuldades é conseguir fazer essas plantas e unidades grandes, os poços em água mais profundas e tentar fazer tudo isso aí com que o custo não seja caro e ele seja viável. (riso)
P/1 - Dentro desse projeto é uma tecnologia essencialmente brasileira, é um projeto que está ligado a um know- how que era da Petrobras?
R – É, no caso, lógico, a Petrobras tem empresas de serviços estrangeiros e tudo, mas é um crescimento da Petrobras, né, é lógico que muito do que ela colocou tão nesses projetos, né, e no caso desses, no caso da P55, né, a própria plataforma vai ser praticamente toda construída aqui no Brasil, né? Então em termos de outras plataformas isso é realmente um avanço. Então é um desenvolvimento e, vamos dizer, uma consolidação da nossa tecnologia aqui no Brasil.
P/1 – Qual é a diferença em termos de equipamentos nessas plataformas? Quais são as técnicas que tem de equipamentos, em termos de tecnologia dessas plataformas?
R – É, é que nem eu falei, a diferença, no caso da plataforma, o porte dela é maior, então, vamos dizer assim, em termos de tamanho da unidade, elas são maiores, então uma plataforma que a gente tem usado aí ela tem que ser maior do que..., é maior do que uma que está numa lâmina d’água menor. E com relação aos equipamentos submarinos, a dificuldade é maior também, porque na verdade a perfuração é com uma lâmina d’água maior, então, é que nem às vezes eu comento, coisa de 300 metros, uma coisa de dois quilômetros só de água, né? Eu costumo comparar aqui com o Pão de Açúcar, são três Pães de Açúcar sobrepostos para dar a idéia da profundidade. Então são os equipamentos para você instalar nessa profundidade, né, porque eles têm uma condição de pressão, temperatura mais adversa, né, e eles têm que funcionar como se fosse numa lâmina d’água menor e toda tubulação para chegar até a plataforma, que são os mesmos dois quilômetros aí para subir até a plataforma. Então as questões das dimensões assim elas, lógico?, foram superadas, mas quando se compara uma com a outra são bem mais rigorosas aí nessa área.
P/1 – Em termos de produção, né?
R – É.
P/1 – Essas plataformas de águas profundas quais são as expectativas, estimativas de produção?
R – Aí, então, que nem eu te falei, as plantas já são para 180 mil barris, né, são projetados para isso porque isso em determinado período no início esse é o pico de produção. Então a expectativa é que elas, uma vez entrando em produção, um ano, no máximo um ano e meio depois elas estão atingindo 180 mil barris, né? O que é uma característica depois dos reservatórios é que essa produção declina, né, e ela vem decaindo, mas a expectativa delas é de cada uma atingir o pico da sua capacidade, que nesse caso é 180 mil barris por dia, de produção.
P/1 – Essas 180 mil já foram atingidos?
R – Aqui na Un-Rio sim, né, já tiveram. A própria P50, que é de 180 mil, né, 43, 48 que são menores, tem a P52 agora está a caminho disso, ainda não chegou lá, mas vai chegar, a própria 54, né, então todas elas acabam... Já são várias aí, né?
P/1 – E para sintetizar aí essa história da Petrobras, o que mudou dentro da Bacia de Campos desde a sua entrada, você poderia dizer em síntese, qual foi a grande mudança?
R – Na Bacia de Campos? Você fala do início para agora, a grande mudança? (pausa) É, o que eu acho que houve a grande mudança aí que quando se descobriu a Bacia de Campos, aqueles vários campos que já eram muita coisa, né? Eu acho que não se imaginava o quanto ainda tinha mais para a frente, né? Então eu acho que o que aconteceu é que foi que continuou se descobrindo, quer dizer, muito mais, cada vez se chamava água profunda, profundidades maiores, mais isso já chegou a dois mil, né, e chegamos a esse ponto de na verdade precisar dividir a Bacia de Campos em duas grandes unidades aí, que é a UNBC e a UN-Rio, né? Então acho que essa é que foi a grande... Realmente é o desconhecido lá da frente, sempre acha que esgotou muita coisa, mas sempre aparece mais coisas que você, difícil de imaginar anos atrás.
P/1 - E hoje como você imagina essa Bacia no futuro?
R – Essa Bacia no futuro? Eu acho que eu vou continuar imaginando isso, que a gente imagina que ela pode de repente ficar nisso, diminuir, reduzir a produção, mas de repente ainda vai encontrar mais coisas nelas ali e o que eu acho que sempre vai ter é sempre pessoas ali, motivadas para trabalhar nela, né, que dependendo do estágio dela acho que sempre vai ser um local, digamos assim, desafiador ali para se trabalhar.
P/1 – O que é ser petroleiro?
R – Oi?
P/1 – O que é ser petroleiro?
R – Ah, é que nem eu falei do início para você: é um trabalho assim que normalmente, que hoje em dia não, hoje em dia é mais divulgado, né, mas era um trabalho assim desconhecido, né, na área de engenharia, né, e depois que você entra você descobre um mundo realmente ali grande, desafiador e que acaba te envolvendo, né? Então acho que ser petroleiro é como igual a outras profissões, né, na verdade acho que é uma área que dá retorno pessoal em termos gratificantes assim, ou seja, é um trabalho que gratifica e que, vamos dizer assim, motiva muito quem está dentro dele ali, que é o petroleiro.(riso)
P/1 – Você teria alguma história, alguma coisa que você gostaria de falar, que eu não tenha perguntado?
R – Mas alguma...(pausa) Mais história? Tem tantas aqui, mas é...(pausa) Não, acho que não... Eu só acho que... é.... Não, não, acho que não, não teria não.
P/1 – E o que o senhor achou de ter participado dessa entrevista e contribuído para o Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos?
R – Ó, eu gostei, eu acho que é importante, porque a gente acaba se envolvendo e acaba passando o tempo, né, estava até falando assim com as pessoas, né, o tempo passa hoje para todo mundo, passa para a gente, né, mas isso às vezes na nossa cabeça não é no mesmo tempo. Então, para mim todos os momentos são ainda muito vivos e presentes, então parece que o tempo não passou nem você acumula isso, mas quando você tem o contado com outras pessoas que estão entrando hoje – e hoje estão entrando muitas pessoas na Petrobras – eles já vêm dentro de uma outra realidade, então acho que é importante o pessoal conhecer o que aconteceu, porque a pessoa hoje chega num estágio, não tem noção de como é que foi construído ou como é que se chegou nesse ponto, então acho que sempre é importante escutar as histórias, né? Eu gostava de escutar as histórias dos meus avós, dos meus pais, coisas bem mais antigas e que eu achava que era muito interessante. Então acho que é importante aqui, espero que o meu depoimento tenha ajudado. Vocês vão conhecer um pouco da história, né, que apesar de recente com a nossa evolução ela realmente muda muito. Então o quê que era a Bacia, quem teve a oportunidade há 30 anos atrás, há 20, há 10 e o que ela é hoje, né? Então, gostei de ter participado e eu acho que é interessante mesmo.(riso)
P/1 – Obrigada.
R – Tá bom, obrigado vocês.
(Fim da fita CB_MBAC_133)
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