Sonhei que em algum momento estava em um Hospital de Porto Alegre, não sei se o Cristo Redentor, Fêmina ou Hospital de Clínicas, mas lembro de estar perdido e procurar uma máscara nas diferentes alas hospitalares e passando por vários doentes. O hospital tinha uma infraestrutura precária e lembro de, em algum momento, ir abrindo as cortinas separatórias dos acamados e vendo que todos ou usavam respiradores ou usavam máscaras. Alguns colegas trabalhadores da saúde me encaravam curiosos e lembro de seguir procurando minha máscara entre aquelas pessoas, mas sem sucesso, sabendo do risco que eu corria. Saio pelos corredores amplos e outra vez vejo aquele cenário desolador, o hospital vazio e ao mesmo tempo amplo, como se uma bomba ou algo de catástrofe de imensas proporções tivesse passado por ali. Ao mesmo tempo, percebo que o hospital parace mais antigo que o normal: talvez dos anos 30 ou 40, as paredes azuis desbotadas, tudo parecia desbotado e abandonado. Em algum armário de uma enfermaria, encontro um saco grande de mascaras, pegando uma delas. Desço para o pátio interno do hospital, onde uma fila de trabalhadores se amontoava. Tento passar por uma catraca, ao lado da fila, mas à medida que vou entrando na catraca, ela vai aparecendo com mais divisórias e logo estou preso de corpo inteiro dentro de uma catraca monstruosa. Quando consigo sair dali, pergunto onde fica o refeitório, e um colega médico mascarado que passava pelo pátio aponta para a fila gigante ao meu lado.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Agora só consigo pensar que isso pode ter a ver com uma imagem pós-pandêmica de certo fim de mundo. Também meu cotidiano no hospital como trabalhador da saúde, cheio de temores, favorece essa imagem labiríntica de estar procurando por segurança no meio da exposição de tantos riscos.