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História
Por: Museu da Pessoa, 3 de junho de 2014

Eu sou filha da mata e nada vai me acontecer

Esta história contém:

Eu sou filha da mata e nada vai me acontecer

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Sou Raimunda Rodrigues Teixeira e nasci em 24 de novembro de 1944, no município de Caucaia-CE. Sou Pajé dos índios Tapeba que vivem na margem do rio Ceará, também no município de Caucaia. Sou bisneta do nosso antigo Cacique que já morreu, o Zé Isabel Alves dos Reis, conhecido por Perna de Pau. O meu pai era Francisco Alves dos Reis e morreu há cinco anos. A minha mãe, Julieta Pereira da Silva, não era índia.

Eu nasci e me criei na comunidade do Trilho, Capuã, que fica próximo à aldeia onde mora o (Cacique) Dourado, meu ex-marido. La só era mata - aqueles paus brancos, com aquelas ocas dentro da mata. Era uma aldeia com as ocas redondas de palha, só com uma portinha para entrar e sair. Não existia a rede naquela época. Eles faziam uma esteira da palha da bananeira que estendiam para que todos os índios dormissem. Roupa não existia, eram só os penachos. Eu me criei nessa cultura, nessa tradição, mas os meus filhos não. Quando eu ia pescar, o Cacique Perna de Pau, que era o meu bisavô - o nome dele era Zé Isabel Alves dos Reis, mas como ele fez uma fogueira no São João e colocou uma bomba dentro duma lata e, quando a bomba explodiu, a lata estourou o joelho dele. Ele mesmo colocou remédio e se cuidou. Fez uma perna de pau e andava por todos os canto com essa perna. Por causa dessa perna ele ficou como Cacique Perna de Pau. Ele levava adultos e crianças para pescar. Iam todos juntos pescar e caçar com aqueles embornais nas costa. As índias dentro de uma rede, com uma tipoia atrás. Ele levava nas costas. Passávamos o dia na mata caçando, pescando, tirando as raízes de pau e pegando passarinhos para vender. Aqueles bichos verdes, os camaleões - ele vendia novinho para uns viveiros. Passávamos o dia da mata e, quando era noite, de cinco para seis horas, retornávamos às aldeias, às ocas, para colocar aquelas caças no fogo para comer. Eles faziam um buraco fundo no chão e colocava as lenhas lá dentro. Ele pegava uma lata,...

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Projeto CSP

Depoimento de Raimunda Rodrigues Teixeira

Entrevistada por Luiz Gustavo Lima

Caucaia, 3 de junho de 2014

CSP_HV_020_ Raimunda Rodrigues Teixeira

Realização Museu da Pessoa

P/1 – Dona Raimunda, bom dia.

R – Bom dia.

P/1 – Muito obrigado. Queria agradecê-la por deixar-nos entrar na sua casa para essa conversa. Para começar, eu queria que a senhora falasse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.

R – O meu nome completo é Raimunda Rodrigues Teixeira, sou bisneta do nosso antigo Cacique que já morreu, o Zé Isabel Alves dos Reis, conhecido por Perna de Pau. Sou do dia 24 de novembro de 1944, vou fazer 70 anos. Eu também quero agradecê-los. São bem-vindo na nossa comunidade.

P/1 – A senhora falou do seu avô mas, primeiro, vamos falar dos seus pais. Quem foram eles?

R – Meu pai era Francisco Alves dos Reis e morreu há cinco anos. Ele era neto do Cacique Perna-de-pau. A minha mãe, Julieta Pereira da Silva, não era índia. Ela era do pessoal de um lugar que chamava Aracati, que eu não sei nem onde fica. Deus levou a minha mãe e ela nunca nos levou para conhecer a família da parte dela. Da parte do meu pai eu sei que é o povo Tapeba, os índios. Mas da parte da minha mãe, que não era índia, eu nunca conheci ninguém da família dela. Vai fazer 40 anos que Deus levou ela. Ela morreu muito jovem.

P/1 – A senhora tem irmãos?

R – Minha mãe teve 15 filhos, mas morreram vários. Ficamos só eu e um irmão que mora aqui nesta casa. Ele tem 62 anos.

P/1 – Como é o nome dele?

R – Francisco.

P/1 – A senhora falou que a sua mãe não era índia.

R – Não.

P/1 – Seu pai era Tapeba.

R – Meu pai era índio.

P/1 – A senhora escutou histórias de como é que eles se conheceram?

R – O que eu ouvi o meu pai dizer era que ele morou em Caucaia - não sei se ela trabalhava na casa de alguém. Naquela época, o pessoal saía procurando trabalho e não sei por qual motivo ela veio esbarrar aqui em Caucaia....

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