EU JÁ TENHO SETE ANOS, PAPAI
Ao amado Levico
Eu, menino, filho de quem sou, não sei o que é discórdia. Somente tenho olhos para o amor. Não sei de política e economia; desconheço as preocupações dos adultos. Eles deveriam ser mais amigos.
- Papai, quando você vem me ver? Em janeiro, será o meu aniversário, faça o convite. O tema será Pacman.
- Eu sei, filho, papai irá. Papai te ama. E outra coisa: eis o relatório que a sua escolinha me pediu:
Impressões acerca do desenvolvimento cognitivo do meu filho amado.
Tenho quase 7 anos e muito o que contar. Não me chamem mais de criança, sou um jovem menino. Sobre o meu comportamento, tenho a dizer que sou instável, é certo. Sei que sou respondão e às vezes crio histórias fantasiosas. Imito demais os meus heróis - os mais incisivos (ou violentos ou assombrados). Imito os sons que produzem, os gestos que fazem, os bordões. Tenho muita energia e ninguém me segura em um parque ou área de lazer, sei que corro demais. Ainda não escrevo bem, mas chego lá. Enquanto isso, desenho... e como desenho! Até já consigo representar figuras humanas de perfil. É que vejo as pinturas do meu pai.
Tenho o meu melhor amigo e não consigo me enturmar facilmente. Detesto recreadores.
Prestem atenção às minhas opiniões. Os meus argumentos são sólidos. Tenho um vocabulário em constante expansão e já brinco com as palavres. Tento me adaptar as novidades e aos adultos estranhos que me são apresentados. Não é fácil. Gosto de desobedecer a ordens e sou esquentado. Não estranhem se eu me irritar com uma coisa aparentemente sem importância... os adultos ficam enlouquecidos com isso. Eu sei. Quero testá-los. Às vezes sinto raiva e frustração com a mamãe, o papai, as vovós... bobagem.
Ainda confundo o real com o imaginário e então acho difícil administrar a \\\"minha vida\\\". Não se preocupem: aprenderei a escrever em breve e passarei a ler os gibis e livrinhos adequados à...
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EU JÁ TENHO SETE ANOS, PAPAI
Ao amado Levico
Eu, menino, filho de quem sou, não sei o que é discórdia. Somente tenho olhos para o amor. Não sei de política e economia; desconheço as preocupações dos adultos. Eles deveriam ser mais amigos.
- Papai, quando você vem me ver? Em janeiro, será o meu aniversário, faça o convite. O tema será Pacman.
- Eu sei, filho, papai irá. Papai te ama. E outra coisa: eis o relatório que a sua escolinha me pediu:
Impressões acerca do desenvolvimento cognitivo do meu filho amado.
Tenho quase 7 anos e muito o que contar. Não me chamem mais de criança, sou um jovem menino. Sobre o meu comportamento, tenho a dizer que sou instável, é certo. Sei que sou respondão e às vezes crio histórias fantasiosas. Imito demais os meus heróis - os mais incisivos (ou violentos ou assombrados). Imito os sons que produzem, os gestos que fazem, os bordões. Tenho muita energia e ninguém me segura em um parque ou área de lazer, sei que corro demais. Ainda não escrevo bem, mas chego lá. Enquanto isso, desenho... e como desenho! Até já consigo representar figuras humanas de perfil. É que vejo as pinturas do meu pai.
Tenho o meu melhor amigo e não consigo me enturmar facilmente. Detesto recreadores.
Prestem atenção às minhas opiniões. Os meus argumentos são sólidos. Tenho um vocabulário em constante expansão e já brinco com as palavres. Tento me adaptar as novidades e aos adultos estranhos que me são apresentados. Não é fácil. Gosto de desobedecer a ordens e sou esquentado. Não estranhem se eu me irritar com uma coisa aparentemente sem importância... os adultos ficam enlouquecidos com isso. Eu sei. Quero testá-los. Às vezes sinto raiva e frustração com a mamãe, o papai, as vovós... bobagem.
Ainda confundo o real com o imaginário e então acho difícil administrar a \\\"minha vida\\\". Não se preocupem: aprenderei a escrever em breve e passarei a ler os gibis e livrinhos adequados à minha idade. No momento, concentro-me completamente em atividades lúdicas. Por outro lado, tenho raciocínio lógico e sou, por vezes, sério. Sou dado a pensar e refletir. Sou capaz de fazer comparações e de apresentar soluções para alguns desafios. Sou crítico, Posso ser assim. Se sou tratado com amor, aceito os comandos que recebo (se são para o meu bem). Às vezes sinto vergonha e culpa. Mas sou amável e tenho quase sempre um sorriso nos meus finos lábios. Sou curioso. É divertido tudo descobrir. Mas isso cansa, assim, preciso dormir bastante para compensar o esforço.
Sei que faço muitas perguntas. Tenham paciência comigo. E tem uma coisa importante: não comparem o meu desenvolvimento com o dos meus coleguinhas. Sou único (somos!).
(João Pessoa, 13 de dezembro de 2022).
Ricardo Duarte.
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