Desde os tempos que eu era criança, o meu avô materno me levava ao cemitério da minha cidade Bom Sucesso-MG. Eu andava entre os túmulos, alguns do século XIX que são tombados pelo Patrimônio Público. Eu tinha uma sensação estranha de perceber uma certa opulência com a beleza das esculturas. Na medida que fui crescendo passei a evitar o contato com essa instituição, quando morria um conhecido ou parentes de amigos, eu ia ao velório mas não seguia o cortejo que levava o corpo para dentro do cemitério. Quando comecei a estudar sobre cultura africana, descobri que o meu orixá era omulu ou abaluaê, que é o orixá da vida e da morte e têm como espaço justamente o cemitério. A partir de então comecei a olhar o cemitério de maneira diferente, até mandei arrumar o túmulo da minha mãe que estava destruído. Hoje quando passo perto do cemitério ou entro dentro dele, tenho uma sensação diferente, de conformismo, de que é só uma questão de tempo para eu me conectar com a terra.

