Avenida Tucuruvi, Hospital Santo Antonio (que hoje já nem existe mais). Foi lá que eu nasci, diríamos que numa mistura de “tutu à mineira” com “caldo verde”, um autêntico “virado a paulista”, oriundo da fusão de sangue português (do meu pai) e mineiro (da minha mãe). Paulista da gema, mas paulistano de certidão (afinal, meus pais moravam em Guarulhos e acabei então sendo registrado como guarulhense). Ficamos em Guarulhos até final de 1969, quando então meu pai, como bom português, montou uma padaria no bairro, não menos português, da Vila Maria; na antiga Estrada da Conceição (hoje, Avenida da Conceição), altura do numero 2400. Lá vivi meus primeiros momentos de infância. Nossa casa era bem em frente à padaria (o prédio ainda existe, mas hoje meu pai o alugou para uma pizzaria), e sempre que eu azucrinava minha mãe, ela me mandava buscar alguma coisa na padaria, com um bilhetinho para meu pai, no qual pedia a ele que me segurasse por lá. Como eu ainda não sabia ler, a obedecia, mas sempre na dúvida sobre porque meu pai não mandava o que ela pedia... Até o dia em que aprendi a ler e trouxe para casa o que minha mãe disse ter pedido no bilhete (rs). Estudei na Escola Estadual de 1º e 2º grau Maria Montessori até a 5ª série, quando então nos mudamos para o bairro do Jardim S.Paulo, em 1975; e a partir daí passei a estudar no Colégio Jardim S.Paulo até concluir o segundo grau. Como eu fazia muita bagunça em casa, minha mãe sempre pedia para que meu pai me levasse aos jogos de futebol da nossa Lusa do Canindé. Eu, pequeno, detestava futebol e, muitas vezes, só era convencido a ir com as histórias que minha mãe ou meu pai criavam para aumentar meu interesse. Uma vez, me convenceram a ir com a alegação de que o Nacional Kid desceria de helicóptero no Estádio do Pacaembu. Eu fiquei empolgado, nunca tinha visto um helicóptero de perto, e nem o Nacional Kid, meu herói de...
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Avenida Tucuruvi, Hospital Santo Antonio (que hoje já nem existe mais). Foi lá que eu nasci, diríamos que numa mistura de “tutu à mineira” com “caldo verde”, um autêntico “virado a paulista”, oriundo da fusão de sangue português (do meu pai) e mineiro (da minha mãe). Paulista da gema, mas paulistano de certidão (afinal, meus pais moravam em Guarulhos e acabei então sendo registrado como guarulhense). Ficamos em Guarulhos até final de 1969, quando então meu pai, como bom português, montou uma padaria no bairro, não menos português, da Vila Maria; na antiga Estrada da Conceição (hoje, Avenida da Conceição), altura do numero 2400. Lá vivi meus primeiros momentos de infância. Nossa casa era bem em frente à padaria (o prédio ainda existe, mas hoje meu pai o alugou para uma pizzaria), e sempre que eu azucrinava minha mãe, ela me mandava buscar alguma coisa na padaria, com um bilhetinho para meu pai, no qual pedia a ele que me segurasse por lá. Como eu ainda não sabia ler, a obedecia, mas sempre na dúvida sobre porque meu pai não mandava o que ela pedia... Até o dia em que aprendi a ler e trouxe para casa o que minha mãe disse ter pedido no bilhete (rs). Estudei na Escola Estadual de 1º e 2º grau Maria Montessori até a 5ª série, quando então nos mudamos para o bairro do Jardim S.Paulo, em 1975; e a partir daí passei a estudar no Colégio Jardim S.Paulo até concluir o segundo grau. Como eu fazia muita bagunça em casa, minha mãe sempre pedia para que meu pai me levasse aos jogos de futebol da nossa Lusa do Canindé. Eu, pequeno, detestava futebol e, muitas vezes, só era convencido a ir com as histórias que minha mãe ou meu pai criavam para aumentar meu interesse. Uma vez, me convenceram a ir com a alegação de que o Nacional Kid desceria de helicóptero no Estádio do Pacaembu. Eu fiquei empolgado, nunca tinha visto um helicóptero de perto, e nem o Nacional Kid, meu herói de infância, que eu assistia no Zás-Trás, que a Globo transmitia com uma antiga apresentadora chamada Márcia. Só que as constantes presenças nos jogos da nossa amada Lusa me transformaram num amante das coisas e causas, não só da Portuguesa, mas de Portugal em geral (tanto que até cidadania portuguesa eu consegui). Concluído o segundo grau, passei no vestibular para medicina na Universidade de Mogi das Cruzes. Felizmente, existia um ônibus de carreira que passava no meu bairro, levando os alunos para aquela Universidade, subindo pela Av.Leôncio de Magalhães (onde eu entrava, duas quadras abaixo da minha rua); depois Nova Cantareira, com destino ao Jaçanã, pela Av.Cabuçu, e dali até a Guapira, Fernão Dias, Dutra (em 82 ainda não existia a Rodovia Airton Senna) e finalmente Mogi. Formei-me em 87 e optei por ser oftalmologista, fazendo a residência médica num hospital de Guarulhos; onde me casei e voltei a morar por 12 anos, até descasar e então voltar a morar com meus pais no bairro do Jardim S.Paulo. O amor pela Lusa do Canindé, a “namoradinha do Brasil” (apelido carinhoso criado em 96, quando a Portuguesa chegou as oitavas de final do brasileirão, eliminando os grandes favoritos - Cruzeiro e Atlético - e depois à finalissima com o Grêmio do Felipão e do Milton Jung, conseguindo a torcida de todo o Brasil e mais metade do Rio Grande do Sul) fez com que um grande radialista (já falecido), e que cobria todos os jogos da Portuguesa, me prometesse um dia arrendar uma rádio para transformá-la numa emissora luso-brasileira, e nela me dar um horário para criar um programa voltado a nossa comunidade, com cultura, folclore, turismo, gastronomia e futebol, tudinho da pátria mãe. E assim nasceu o “Navegar é Preciso”, a 10 de junho de 2000, exatamente no dia da comunidade portuguesa e de Camões; programa esse que em 2009 completou 10 anos. Aliás, graças a ele foi que ganhei estimulo para fazer o curso de radialista, tirar meu DRT, e me aprimorar mais ainda na arte que é “fazer rádio”; e até ser aceito como membro efetivo da ACEESP (Associação de Cronistas Esportivos do Estado de S.Paulo). Num belo final de semana, pelos quiosques do Canindé, conversávamos numa roda de amigos sobre as diversas homenagens que foram feitas para algumas comunidades e alguns clubes, que deram seus nomes a estações do metrô. A pioneira foi a antiga Estação Ponte Pequena, que virou Estação Armênia em homenagem ao povo daquela região. Depois veio a Estação Corinthians-Itaquera; Palmeiras-Barra Funda etc. Surgiu então a pergunta: “Por que não se homenagear também a nossa comunidade portuguesa com uma estação metroviária recebendo seu nome?” Aquele foi o pontapé de partida à “caça” de políticos e pessoas influentes que pudessem nos ajudar a viabilizar nossa homenagem a comunidade e por tabela a Lusa do Canindé; rebatizando uma das mais movimentadas estações de metrô do mundo, a Estação Tiete, como o nome de Estação Portuguesa-Tietê. Divulgamos no clube, no boca-a-boca, na rádio, mas nada de aparecer alguém que se interessasse ou abraçasse a ideia; nem mesmo os políticos ligados a nossa comunidade, chamados “representantes do povo luso-brasileiro” se dignaram a isso... Porém, numa tarde de 5ª feira, me liga um colega (que também acabou virando meu paciente), jornalista afamado de jornal, rádio e TV (hoje radicado em S. José do Rio Preto) perguntando se já tínhamos conseguido efetivar o projeto; e após informamos o quão difícil estava, ele nos deu a grata notícia de que após ter divulgado a ideia também no seu programa de rádio, outro famoso radialista e deputado há vários mandatos, com programa logo a seguir ao dele, o procurou dizendo que queria viabilizar a homenagem, mesmo não tendo nenhum vínculo com a comunidade. E assim um sonho começou a ganhar forma. A 10 de abril de 2006, o nosso padrinho-deputado dava entrada, na Assembléia Legislativa do Estado, a um projeto-lei de numero 201/2006, solicitando a incorporação do nome “Portuguesa” à Estação Tiete do metropolitano de S.Paulo, a fim de homenagear não só a nossa Lusa, mas principalmente a comunidade portuguesa, tão sofrida e tão trabalhadora. Como a 10 de junho comemoraríamos, junto com o dia da comunidade portuguesa e de Camões, o aniversário do nosso programa, questionamos o deputado se até a referida data o projeto já teria sido votado e efetivado, explicando a ele o porquê da ansiedade quanto à data. Aí, mais uma vez ele mostrou sua simpatia a nossa comunidade, e politicamente pediu ao então governador interino (que era de seu partido) a transformação do projeto em decreto-lei. E para nossa alegria e surpresa geral, a 12 de maio daquele ano, no Diário Oficial do Estado, o decreto-lei numero 50790 transformou o nome da Estação Tietê para Estação Portuguesa-Tietê. Quem diria que uma simples e despretenciosa ideia, de não menos simples e humildes torcedores lusos, pudesse um dia se transformar em realidade. Naquele mesmo dia, voltando do trabalho, fiquei arrepiado ao ouvir em duas rádios a seguinte notícia: “O governo do Estado oficializou neste sábado, a mudança do nome da Estação Tietê do metrô, para Portuguesa-Tietê, por estar situada próxima à sede do clube. É a segunda estação do metrô que troca de nome este ano. Há dois meses, a Barra Funda, da linha três, passou a se chamar Palmeiras– Barra Funda. Assim que acabarem as obras da linha quatro, a estação próxima ao Morumbi ganhara o nome de S.Paulo – Morumbi”. Um mês depois, na data das nossas raízes e solenidade de oficialização do decreto, o cidadão português, nascido no Tucuruvi, registrado em Guarulhos, o típico "virado a paulista", na mistura do "caldo verde" com o "tutu à mineira", chorou ao sair de casa; mas principalmente ao avistar, já de longe, na Av.Cruzeiro do Sul, o novo nome estampado naquela estação, agora “Estação Portuguesa-Tietê”; e não resistiu à tentação de entrar no metrô, para andar apenas uma estação, e voltar para a mesma de entrada, só para ouvir aquele sinal sonoro, agora eternizado para milhões de pessoas que por ali transitam diariamente: "Estação Portuguesa-Tietê, acesso ao terminal rodoviário”. (História enviada em janeiro de 2010)
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