TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Me recordo como se hoje fosse, a ânsia pela aprendizagem da leitura e da escrita, o sonho de ser professora, desde tão cedo me vêm à mente com muita clareza.
Foi por volta dos seis anos de idade que, ao ver minha irmã indo à escola, já ansiava por isto também, porém, ao adquirir o pré requisito, ter sete anos completos para iniciar a primeira série do ensino fundamental, não havia vaga nas escolas das imediações onde eu morava. Fiquei tão arrasada e me sentindo rejeitada que resolvi por conta própria estudar. Meu pai comprou um caderno de 50 folhas e na mesma semana enchi-o de lições que ele passava e ou eu copiava do caderno de minha irmã.
O descontentamento perdurou até que finalmente, completei 8 anos e então, pude frequentar a escola, mas veio a comparação entre as demais crianças que eram mais novas do que eu. Mudei de classe por 3 vezes, até que finalmente parecia estar no agrupamento adequado à minha necessidade, creio eu, ser o mais adiantado.
A cartilha Caminho Suave, para mim foi um caminho muito suave e demorado, pois enquanto os demais estudantes estavam na lição da babá eu queria fazer a lição do macaco e a professora me freava sempre.
Nesta época, já tinha uma lousa e giz em casa e procurava ensinar as primeiras letras para o meu avô que era analfabeto e minha avó vivia o humilhando, dizendo que ele era “burro”.
Minha relação com meu avô era muito boa, com ele aprendi muitas coisas que até hoje são importantes em minha vida.
Minha mãe também era analfabeta e iniciou o mobral no salão paroquial da igreja Santo Antônio, na V. Brasilândia e por não ter com quem deixar suas filhas para estudar, nos levava para a sala de aula. Infelizmente foi por pouco tempo que ela estudou, pois logo tirou sua própria vida, tomando gardenal em excesso, uma medicação calmante. Deixou duas filhas: eu, com 04 anos de idade e minha irmã com 06.
Minha vida não foi nada fácil, mas me...
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TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Me recordo como se hoje fosse, a ânsia pela aprendizagem da leitura e da escrita, o sonho de ser professora, desde tão cedo me vêm à mente com muita clareza.
Foi por volta dos seis anos de idade que, ao ver minha irmã indo à escola, já ansiava por isto também, porém, ao adquirir o pré requisito, ter sete anos completos para iniciar a primeira série do ensino fundamental, não havia vaga nas escolas das imediações onde eu morava. Fiquei tão arrasada e me sentindo rejeitada que resolvi por conta própria estudar. Meu pai comprou um caderno de 50 folhas e na mesma semana enchi-o de lições que ele passava e ou eu copiava do caderno de minha irmã.
O descontentamento perdurou até que finalmente, completei 8 anos e então, pude frequentar a escola, mas veio a comparação entre as demais crianças que eram mais novas do que eu. Mudei de classe por 3 vezes, até que finalmente parecia estar no agrupamento adequado à minha necessidade, creio eu, ser o mais adiantado.
A cartilha Caminho Suave, para mim foi um caminho muito suave e demorado, pois enquanto os demais estudantes estavam na lição da babá eu queria fazer a lição do macaco e a professora me freava sempre.
Nesta época, já tinha uma lousa e giz em casa e procurava ensinar as primeiras letras para o meu avô que era analfabeto e minha avó vivia o humilhando, dizendo que ele era “burro”.
Minha relação com meu avô era muito boa, com ele aprendi muitas coisas que até hoje são importantes em minha vida.
Minha mãe também era analfabeta e iniciou o mobral no salão paroquial da igreja Santo Antônio, na V. Brasilândia e por não ter com quem deixar suas filhas para estudar, nos levava para a sala de aula. Infelizmente foi por pouco tempo que ela estudou, pois logo tirou sua própria vida, tomando gardenal em excesso, uma medicação calmante. Deixou duas filhas: eu, com 04 anos de idade e minha irmã com 06.
Minha vida não foi nada fácil, mas me dediquei aos estudos e a cuidar das pessoas que necessitam, seja de uma palavra, um colo, ouvidos, cuidados ou de alimentos.
Meu sonho de ser professora foi barrado por um período, pois me casei aos dezessete anos e meu marido não me deixou mais estudar, até porque o pensamento na época era “ dona de casa e mãe não precisa estudar ”. Mesmo assim, por teimosia quando minha primeira filha fez 1 ano, deixava ela com sua madrinha e ia estudar. Assim, completei o segundo grau, hoje denominado Ensino Médio.
No último ano do Ensino Médio, nasceu meu segundo filho, justamente no momento em que consegui meu diploma de Magistério, que m e daria o direito de realizar meu sonho.
Muito trabalho com filhos e afazeres domésticos, mas o sonho só estava começando, o diploma de Magistério era apenas uma sementinha que germinou nos meus planos de ser professora. Fiz a inscrição para o vestibular e se passasse na prova estaria apta a fazer a faculdade, mas no dia desta prova, meu marido simplesmente disse: “Está proibida de fazer o vestibular e faculdade”. Não exitei, virei as costas e fui fazer a prova. Passei com uma boa classificação e com muita luta, sofrimento e muitas necessidades, consegui concluir o curso de Pedagogia.
A seguir, queria fazer pós graduação em Psicopedagogia e já estava grávida do terceiro filho e assumi 2 cargos de professora em duas escolas da prefeitura, pois havia passado em 2 concursos públicos.
Muito trabalho entre os afazeres domésticos, cuidar de 3 filhos, trabalhar em duas escolas e ainda estudar, mas consegui concluir meu curso.
Não muito satisfeita com a qualidade deste curso, resolvi fazer outro da mesma especialização em Psicopedagogia, mas por uma Faculdade muito boa, a PUC de SP.
Nesta ocasião, estava me separando, após 15 anos de convivência, pois não partilhava as responsabilidades de uma família e meus sonhos eram desconsiderados por ele. Resolvi seguir em frente cuidando e educando e sustentando meus filhos sozinha.
Iniciei o curso de Mestrado em Educação pela UNICID, porém, no último ano não tive condições financeiras para concluir.
Poderia hoje estar lecionando numa Faculdade, mas minha causa e luta sempre foi combater o analfabetismo. Leciono para estudantes da EJA há mais de 25 anos. Me dedico para que eles consigam sair desta condição de analfabetismo e possam reescrever suas histórias. Em dezembro de 2023, finalizarei minha carreira de Magistério. Em minhas memórias terei experiências riquíssimas de todo tempo que trabalhei com a alfabetização de jovens e adultos.
A Diversidade sempre foi vista como possibilidade de enriquecimento das aprendizagens, como troca de conhecimento, valorizando o saber do outro e a escuta ativa.
Creio que deixarei uma sementinha na vida de cada um dos estudantes que passaram por minha vida.
Me recordarei com alegria de cada momento que partilhamos a construção do saber juntos. Muito aprendi com meus estudantes. Só tenho a agradecer a Deus por esta partilha amorosa com a sensação de realização, muito mais pessoal do que profissional.
Margarete Lopes
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